Rise escrita por Lua Chan


Capítulo 17
Os peculiares da srta. P




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O salão de jantar, ou o que a senhorita Peregrine chamava aquilo, não era tão arejado como pensava. Uma mesa de madeira enorme e antiga tomava lugar de quase todo o salão. Pelo que eu contei, tinham pelo menos umas 6 ou 7 pessoas que sentavam devidamente, como se fossem programadas para isso.

— Crianças! - A ave bateu um talher contra uma taça de cristal, como as pessoas elegantes faziam nos filmes. Todos voltaram seus olhares para a mentora - Temos novos amigos aqui. Estes são da fenda da senhorita Jay.

— Sua irmã? - um garoto de cabelos loiros que portava um casaco extremamente elegante perguntou para Alma, os olhos da mulher estavam marejados.

— Quase isso, senhor Somnusson. - Replicou com tranquilidade e o olhar perdido - Pearl foi uma pessoa importante na minha vida. Éramos tão próximas que fingíamos ser irmãs gêmeas.

— Pelo que vi nas ilustrações que a senhora nos mostrou, ela era o oposto, se me permite informar. - A segunda voz foi difícil de ser encontrada. Pertencia a um menino, isso pude dizer, mas não sabia de onde vinha de jeito algum.

— Quem disse isso? - Marie questionou, seus olhos estavam arregalados.

— Eu! - O mesmo garoto falou, continuamos a procurá-lo. Algumas risadas abafadas surgiram, o que me deixou irritado - Sou Millard Nullings. Minha peculiaridade é a invisibilidade.

— E ficar sem roupas durante o jantar, não é mesmo? - Alma rebateu, as risadas agora aumentaram. Uma garota de cachos dourados parecia rir por dois. Literalmente - Vá se trocar, senhor Nullings. Discutiremos sobre essa sua atitude posteriormente.

Ouvimos o barulho de passos, quando a porta se abriu sozinha, notamos que era apenas Millard indo trocar de roupa - bem... indo colocar uma roupa.

— Quais são seus nomes? - Uma garota loira, de olhos castanho claro perguntou. Sua expressão era séria e suas bochechas rosadas me faziam sentir uma vontade de...

— Enoch! - Marie sussurrou para mim. Merda! Quantas vezes eu tenho que lembrar que ela é uma telepata? - Seu pervertido!

— O que disse? - A garota que fez a pergunta nos encarava com um certo nojo.

— N-nada. - Respondi, com medo da Marie pensar em alguma vingança - Sou Enoch O'Connor.

— Emma Bloom. - Ela respondeu, sorrindo pela primeira vez. Meu coração deu um leve salto, mas me contive. Eu já tinha uma garota na minha cola.

— Sou Caleb Wander e essa é minha irmã, Marie. - Caleb tomou o lugar de Marie, apontando para a garota. Sobrou apenas Richard.

— Richard Brown, ao seu dispor. - o menino curvou a cabeça numa breve reverência.

Todas as apresentações haviam sido feitas e nós ainda estávamos em pé, enquanto os outros jantavam. Isso era estranho para mim, pois nunca comíamos separadamente. Alma pediu que sentássemos em qualquer lugar.

— Enoch, não é? - Um garoto levemente musculoso chamou a atenção. Seu cabelo era colocado de lado e lambido. Ele sentava ao lado de uma garota igualmente forte, com uma postura máscula - Senta aqui. - Victor Bruntley apontou para a cadeira vazia ao seu lado. Agradeci e me sentei lá.

Ficamos distribuídos de maneira igual: Marie sentou-se ao lado de Claire e Hugh; Caleb, ao lado de Emma e Fiona. Richard, por fim, se acomodou perto de mim e de Millard. Os dois se tornaram amigos por causa dos seus gostos tão próximos.

— Ei! É verdade que vocês tódos viver na guerra? - Abe Portman, o garoto que via os monstros assim como Nigel, interveio. Seu sotaque polonês era firme e impactante. Ele se desculpou pelos erros gramaticais após Emma, sua namorada, ter corrigido.

— Você quer dizer a guerra de 1917? Pois é... saímos de lá quase mortos por gás mostarda! - Richard exaltou-se, tornando nosso feito algo heroico. Infelizmente, "heroico" era a palavra que menos se qualificava nessa situação.

— Mas quem faria algo tão ruim? - A menininha de nome Claire perguntou com toda sua inocência. Ela agarrava um urso de pelúcia, enquanto bebericava sua sopa.

— Não se faça de sonsa, Claire. - Hugh rebateu, remexendo o nariz com astúcia - Os nazistas estão nos atacando. Qual é o problema deles serem atacados também?

— Não precisa ser rude, senhor Apiston. - Peregrine reprovou, todos silenciaram - Acho que já está na hora de irem aos seus dormitórios.

— Não iremos assistir ao show de fogos? - Claire voltou a falar. Na mesma hora, percebi que Hugh revirou os olhos com impaciência.

— Claire, quantas vezes vou ter que dizer? Não são fo-

— Chega, senhor Apiston. Vão para seus quartos. Agora! - A senhorita Peregrine estava mais do que estressada, acho que não seria uma ótima ideia desobedecê-la - Já está na hora de dormir.

— Mas nem são... - Olive tentou retrucar, mas Alma lançou um olhar que, creio eu, somente as ymbrynes podiam fazer. Era tão estranho que fazia meu estômago revirar de medo - T-tudo bem. Estamos indo.

— Ótimo. - Nossa mentora sorriu vitoriosamente - Emma, mostre os quartos aos nossos novatos.

Emma balançou a cabeça e puxou Abe para mais perto. Com os braços cruzados um no outro, como se fossem uma corrente, eles andaram pelos corredores. Estavam nos guiando aos quartos.

— Emma, o que a Claire quis dizer com fogos de artifício? - Arrisquei-me, sentindo um calafrio inexplicável. Ela e Abe se entreolharam e franziram os lábios.

— Não acho que falar sobre isso ser uma boa ideia. - Abe advertiu, nervoso. O ar parecia mais pesado, o silêncio piorou tudo.

— E por que não? - Richard cruzou os braços, curioso como sempre - O que não podemos saber?

— Pessoal, acho que não estamos sendo responsáveis. Se Alma sugeriu para irmos aos quartos, então é isso que vamos fazer agora. - Caleb rugiu. Falando assim, ele até parecia nosso tutor, apesar de ser apenas uns 2 anos mais velho que eu - Emma, por favor, mostre-nos os dormitórios. E vocês, prometam que não vão fazer nada de errado.

Não respondemos nada, apenas inclinamos nossas cabeças.

— Prometam! - Repetiu com mais necessidade e raiva.

— Prometemos. - Marie respondeu por nós, ou melhor, por ela e Richard. Eu não estava interessado em ouvir suas ordens.

Abe e Emma curvaram os ombros com indiferença e nos guiaram a 4 quartos vizinhos. Escolhi o mais escuro de todos. Não gostava de acordar por causa dos raios de sol irritantes de Londres, aqui não seria diferente.

— Boa noite. - Marie sussurrou para mim e empurrou um beijo frio contra minha bochecha esquerda. Ela não me olhou nos olhos, o que me fez pensar na provável resposta que ela me daria, depois de pedi-la em casamento.

Não respondi. Minha cabeça estava pulsando de dor e confusão. Ainda me culpava pela morte das várias crianças do orfanato da srta. Jay. Fechei a porta do meu novo lar e sentei na cama macia.

— Foi um longo dia. - Suspirei para mim mesmo. Do jeito que eu estava, repousei a cabeça num travesseiro de plumas que encontrei e cerrei os olhos, sem nenhuma vontade de dormir.

Bam!

Mal havia relaxado, um barulho fez meu coração saltar de susto. Nesse horário, todos deveriam estar dormindo em seus quartos. Quem seria, então?

Enoch!— Um sussurro. Era Victor, escondendo-se do outro lado da porta, tentando não ser pego - Está acordado?

É claro que deve estar!— Outra voz, desta vez, feminina, retrucou. O engraçado era que pude imaginar a careta que Emma teria dado para Victor nesse exato momento - Lembra que Marie falou que Enoch não dormia cedo na outra fenda?

Retirei os sapatos dos meus pés - Meu cansaço era tão grande ao ponto de ter esquecido de tirá-los - e fui até a porta para abri-la. Ao fazê-lo, Emma e Victor me encararam com surpresa.

— O que foi? Nunca viram um zumbi antes? - Disse, sarcasticamente. Emma parecia ter entendido no sentido literal.

— Não um em nossa fenda. - Respondeu ela com seriedade.

— O que vocês estão fazendo aqui?

— Viemos te chamar pra ver a fenda se fechar. - Victor ainda sussurrava, preocupado - Ou assistir à queima dos "fogos de artifício". - Arqueei as sobrancelhas. O menino parecia tão eufórico que mal o compreendi.

— Mas e o que a Peregrine falou? Ela não quer a gente perambulando pelo orfanato.

— Ah, entendi. - Emma falou, cabisbaixa com um sorriso perverso no rosto - Você quer ser o bebezão obediente da senhorita P. Vamos logo, Victor. Enoch não quer desobedecer às ordens do Caleb.

Os dois viraram as costas, o que me deixou chateado.

— Hey! Esperem. - Implorei. Eles olharam pra mim novamente - Eu vou com vocês.

— Ótima escolha, soldado. Sabia que viria conosco. - Emma riu - Vamos apenas esperar alguns minutos. São 20:40, a fenda se encerra apenas às 21:00.

Sentei na cama novamente, os dois se entreolharam pela 2° ou 3° vez. Sabia que ainda falariam mais alguma coisa.

— Só tenho uma pergunta a fazer, Enoch. - Victor lembrou, aproximando-se de Emma.

— Diga.

— Tem medo dos monstros?


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