Fallen Between The Cracks escrita por fairyfuckintale


Capítulo 11
Capitulo 10; Flashback 3 - The ones we left behind


Notas iniciais do capítulo

Oi gente bonita!

Perdoem o um dia de atraso, mas é porque esse final de semana foi meu aniversário (!!!) e não tive muito tempo pra postar aqui, embora o capitulo já estivesse prontíssimo.
Na verdade, o flashback de hoje é bem curtinho mas foi o primeiro capitulo que eu escrevi, antes até mesmo do prólogo. Então ele é bem importante pra mim e pro enredo da história, vocês vão entender porque mais pra frente.

Enfim, como sempre, peço que deixe seu comentário e me diga o que mais gostou, suas opiniões, teorias... tudo é válido na hora de me motivar a escrever sempre mais pra vocês ♥
Espero que gostem, boa leitura e até a próxima!



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Era a manhã do. Haymitch tateou os lençóis sem abrir os olhos mas não encontrou Effie do lado da cama. Ele imaginou que ela tivesse saído no meio da madrugada e voltado de fininho para o seu quarto durante a noite, como fazia sempre quando eles dormiam juntos no trem. Ele deu de ombros mesmo considerando o fato de que não havia mais ninguém no andar do distrito 12. Só mais uma frescura da Trinket, pensou consigo antes de levantar e vestir a cueca boxer que estava jogada no chão.

Ele não se lembrava de ter ficado ansioso para algum evento em nenhum momento da vida. Então como poderia saber que sua inquietação ao escovar os dentes no banheiro -algo que ele quase não se dava o trabalho de fazer- era exatamente isso? Ele riu de si mesmo e seu sorriso pareceu sinistro demais no espelho. Parecia até um adolescente feliz porque ia para um encontro mas, na verdade, estava prestes a testemunhar o começo de uma revolução e estava ansiosíssimo para ver o corpo de Snow perder a vida lentamente diante de seus olhos.

Ele saiu do chuveiro quente aproveitando até a última gota. Se secou, vestiu um jeans rasgado e um moletom cinza que não estivesse tão amassado. Penteou o cabelo, vestiu os sapatos e saiu porta a fora, planejando tomar uma boa caneca de café quente, enquanto assistiria os últimos acontecimentos dos meninos na arena. Mas não foi o que aconteceu.

A TV da sala de estar já estava ligada e ele podia ouvir o som logo do corredor. Ceazer Flickmann relembrava a morte de Wiress que morrera na cornucópia há dois dias e sua voz ecoava sinistramente pelo andar. Quando finalmente chegou na sala, Effie estava sentada no sofá de costas pra ele, assistindo a Tv. Ela ainda vestia seu robe de dormir e os cabelos loiros não foram amarrados numa touca nem enfiados dentro de uma peruca. Ela abraçava os joelhos enquanto respirava devagar e Haymitch simplesmente soube que ela estava sem maquiagem e com os olhos inchados de tanto chorar. Não que ele realmente se importasse, claro.  

“Começou a retrospectiva sem mim?” ele comentou, indo despreocupado até a mesa do café e pegando um pãozinho recheado. Devolveu-o a mesa assim que o som da voz de Ceazar sumiu.
“Porque você não me contou?” ele se virou e Effie agora estava de pé, bem atrás dele.
“Como assim?”
“Porque não me contou, Haymitch?”
“Contei o que?” ele disse impaciente e, como resposta, recebeu dúzias de papéis impressos jogados na cara. Eram cópias de cartas via e-mail, vários deles anônimos, que ele havia trocado com Coin e Plutarch nos últimos meses.

“Onde você conseguiu isso? Quem te deu permissão pra mexer nas minhas coisas?”
“Não interessa como eu consegui, o que interessa é que você mentiu pra mim descaradamente. Eu perguntei pra você o que estava acontecendo e se você estava envolvido com toda essa gente fazendo revolução e você jurou. VOCÊ JUROU, HAYMITCH”

O corpo magro e miúdo de Effie tremia enquanto tentava não chorar de raiva. Ela desviou o olhar dele para o chão, onde os e-mails estavam jogados. Pegou um deles na mão e estendeu pra ele.
“Quem é este C. com quem você troca mensagens? Você sabe que se você for pego, os pacificadores vão te prender, eles podem... eles vão…”
“Ninguém vai fazer nada comigo. Fica calma”

O silêncio caiu de repente como uma pedra entre os dois. Haymitch achou por um segundo que ela estava se acalmando e tentou se aproximar para conforta-la. Ela se afastou de seu toque.”
Você com certeza vai ficar bem. Não é?” Effie disse no tom mais frio e amargo que Haymitch já ouviu alguém pronunciar. Agora foi ele quem começou a tremer.

“Effie, eu não…”
“Você vai me deixar aqui para morrer, era seu plano desde o começo desse quarter quell. Salvar quem é realmente importante. Lembrar-se de quem é o inimigo.”
“Você não é o inimigo, Effie”
“Sabe, eu realmente achei que éramos um time. Mas a verdade é que ninguém se importa. Nem Katniss, nem Peeta, muito menos você”
“Olha só, você pode pelo menos me escutar...?”

Ela agora andava de volta pro sofá, ignorando-o completamente e dando brecha pra ele continuar.
“Presta atenção, Trinket. Sim, eu menti. Mas porque você não precisa essa revolução. Pessoas vão morrer, vão sofrer e você não…” ele se impediu antes que revelasse que tinha medo de vê-la sofrendo como sofria agora.
“Eu não sou forte o suficiente, é isso?”

“O que eu quis dizer...” ele suspirou antes de continuar “é que você não merece estar nessa guerra. Você deveria estar em casa, com sua família grande e barulhenta e esquecer disso tudo. Ser feliz com suas centenas de perucas e sapatos de grife porque é como você deve viver a sua vida."

“Você não determina como eu vivo a minha vida, Haymitch. E eu quero participar! Eu quero estar com vocês e vencer essa luta por vocês.” Ela disse e o plural da frase tocou Haymitch. Não era só por ele, era pelo coletivo.
“Não, Effie! E mesmo que eu quisesse te levar eu não… eu não posso…”
“Não pode porque?”
“Porque…” Haymitch respirou fundo antes de continuar, escolhendo bem o que queria dizer “...não permitiriam.” disse enfatizando a última palavra.

A loira arregalou os olhos azuis e cheios d'água. Ele desviou de seu olhar e franziu a testa, mostrando desconforto. Foi só o que preciso para que Effie entendesse o que esta acontecendo. Ela era a princesinha da capital, quase um símbolo vivo do domínio de Snow sobre a população. Ela quem sorteava os nomes das crianças para serem assassinadas cruelmente na arena. Jamais iriam permitir que alguém como ela fizesse parte de uma revolução ou uma guerra, mesmo que fosse para lutar contra seu próprio povo.

“Ok, então eu estou por conta própria nessa.”
“Não, olha, assim que der nós vamos dar um jeito de te buscar” Haymitch respondeu, visivelmente perdendo o controle das suas emoções. Ele não queria que ela descobrisse tudo assim, mas também não planejava contar.
“Talvez 'assim que der' já seja tarde demais” Effie disse desviando o olhar.

“Effie, eu não vou deixar que nada aconteça com você”
“Não precisa se incomodar em fazer promessas, Haymitch. Eu serei o meu próprio Mockingjay, agora.”  ela respondeu num tom sarcástico que o apunhalou como uma faca.

Effie fez então o que sabia fazer melhor. O que repetiu durante tantos anos vivendo na capital, pois era único jeito que a ensinaram. Ela mascarou os sentimentos. Respirou fundo, engoliu o choro, ajeitou os cabelos e colocou um sorrisinho esnobe no canto da boca. Mas se prestasse atenção, poderia ouvir o coração dela se partindo em mil pedacinhos.  

Haymitch só pôde ter certeza que a discussão havia acontecido porque as bochechas dela ainda estavam rosadas. Ele apenas observou enquanto Effie levantava-se, pegava sua xícara de chá e partia rumo ao seu dormitório com a postura impecável. Ele queria desmoronar ali, gritar a plenos pulmões, colocar pra fora tudo o que estava sentindo e culpar o universo pelos seus erros. Queria ir atrás dela, beija-la, pega-la pelo braço e fugir para longe de tudo. Num lugar onde não houvesse distritos ou capital, revoluções ou ditadores, Coin, Snow, Katniss, Peeta...

Mas ele não fez. Ficou apenas sentado, observando enquanto ela se virava pra trás e dizia calmamente “ah! antes de sair, arrume a bagunça que você deixou, sim querido?”

Como ele poderia saber que esta seria a última vez que veria Effie Trinket?  


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