I Can Feel escrita por Cihh


Capítulo 33
Capítulo 33 - Não Me Acorde




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Não me acorde

Querida, eu estou apaixonado

E eu estou sonhando tanto

Mas eu nunca quero parar

Não me acorde

    (Don’t Wake Me Up)

 

POV Thomas  

Jogo a mochila no sofá da sala de estar da casa do meu pai assim que chego da escola. Não há ninguém em casa agora, mas Marissa chegará daqui a pouco do escritório. Ontem eu e Isa acabamos dormindo juntos, mas sem a parte de transar. Não fiquei muito surpreso, nem muito chateado. Só queria que ela confiasse mais em mim. Atravesso a sala de jantar, mas paro em frente à fruteira em cima da mesa para pegar uma maçã verde. Entro no meu quarto e respiro fundo. Ainda tem cheiro de novo. O quarto é completamente mobiliado, apesar de eu nunca ter ficado ali mais de quinze minutos. Além disso, tem roupas no armário que ninguém nunca usou, toalhas coloridas e utensílios de banheiro nunca antes tocados. Deslizo a porta do armário e passo os dedos pelas camisetas estampadas, calças jeans novinhas e conjuntos sociais. Quando estou observando os diferentes sabonetes coloridos no banheiro, ouço barulho de porta se abrindo. Alguns instantes depois, Marissa aparece em meu quarto. 

—Boa tarde, Thomas. –Ela diz com um sorriso. Não respondo. –Que bom que já chegou. Já almoçou? Podemos almoçar juntos. 

Franzo a testa de descontentamento, mas aceito. Já que estou aqui e vou ter que continuar por uma semana, o melhor seria estabelecer uma relação agradável entre os moradores da casa. Se isso for possível. Sigo ela até a cozinha, mas ela me diz para eu esperar na sala que ela iria levar a comida. Marissa exerce o papel de dona de casa também. Ela e meu pai dividem as tarefas domésticas quando possível, mas ele é um homem ocupado e ela acaba fazendo a maioria das coisas da casa. No almoço, Marissa me explica que meu pai não confia muito em empregadas e diaristas, então ela teve que assumir essa ocupação também. Ela trabalha como uma espécie de secretaria-chefe na empresa do meu pai, e trabalha para ele em casa também. Que martírio. Não deve estar fazendo isso só pelo dinheiro, ou já teria caído fora há tempos. 

—Que horas ele chega em casa normalmente? –Pergunto enquanto observo ela servir a gelatina colorida. Dessa vez, aceito de bom grado a sobremesa, pensando no tempo que ela deve ter perdido para fazê-la. 

—Lá pelas cinco, mas pode variar. –Ela faz uma pausa para nós comermos. –Quais são seus planos para hoje?  

—Vou trabalhar daqui a pouco. Chego por volta das cinco também. Depois vou estudar um pouco para as provas finais. 

Ela coloca os pratos e talheres sujos em uma vasilha e a deixa separada enquanto terminamos de comer. 

—Bem, bom trabalho para você. Você e seu pai vão chegar em horários parecidos, então vou recompensar o dia de trabalho de vocês com um jantar especial.  

Ela sorri para mim e eu me levanto, pegando a vasilha de louça suja. Ela balança a cabeça e pega-a de volta. 

—Deixe isso comigo. Vá se aprontar para o trabalho que eu vou assumir o meu. 

Pisco uma vez e ela leva a louça para a cozinha cantarolando. Olho para a mesa de jantar e passo um pano úmido para tirar as migalhas que restaram. É o que eu posso fazer.

 

Depois do trabalho realmente acabo encontrando meu pai na portaria do prédio. Ele está com um terno e segura uma maleta que aparenta estar pesada. Ele sorri para mim assim que me vê. 

—Boa noite, filho. –Ele dá batidinhas em meu ombro e eu controlo o impulso de me afastar. 

—Boa noite. –Eu falo apertando o botão para chamar o elevador. Entramos juntos.  

—Notícias de sua mãe? –Ele pergunta. 

—Ela está resolvendo tudo o que precisa no Rio. Parece que está tudo bem. 

—Que bom. –Ele sorri novamente e saímos do elevador quando este chega ao andar do apartamento. Ele assobia uma canção animada quando abre a porta de casa. Um cheiro familiar enche minhas narinas assim que ponho o pé para dentro. Cheiro de gordura . Hambúrguer.  

Uma música alta está tocando na cozinha, e ocasionalmente Marissa cantarola alguns versos. Meu pai atravessa a sala e vai em direção ao corredor dos quartos, sumindo de minha vista. Decido ir até meu quarto também, mas dou uma parada na cozinha. Marissa está com um avental rendado enquanto vira hambúrgueres em uma panela no fogo. Toda a bancada está repleta de ingredientes, e ela vai de um lado para o outro montando os pães com outras coisas. Viro-me de costas e finalmente vou em direção ao meu quarto. Assim que fecho a porta ouço meu celular tocar no bolso da calça. Isa.  

—Alô? 

—Oi Thomas. Sobreviveu ao primeiro dia com seu pai? –Ela diz em tom de brincadeira. 

—Está tudo bem. Voltei do trabalho agora. Marissa está fazendo hambúrgueres. 

—Legal. Tente tratá-los bem durante essa semana. 

—Tá, tá. Ei, eu estou com saudade. 

Ela dá uma risadinha. –A gente vai ser ver amanhã de novo. Todas as garotas morreram de inveja do meu anel. 

Deito-me na cama com o celular na mão. –Do meu anel?  

—É. 

—Estão com inveja por você ter um anel ou por o anel ter sido dado por mim? 

—Provavelmente os dois. Agora o pessoal da escola realmente acredita que você está namorando sério comigo. 

—Não acreditavam até agora?  

—Parece que não. Você já deu um anel de compromisso para alguém?  

—Não. Nunca gostei tanto de alguém como gosto de você. –Falo francamente.  

—Eu também nunca gostei tanto de alguém como gosto de você. 

—Nem de Luke?  

—Nem de Luke. Obviamente. Senão eu estaria namorando ele ao invés de você. 

—Faz sentido. Mas eu sou muito melhor que ele. 

Ela estala a língua. –Em que quesito, exatamente?  

—Todos.  

—Ah tá. –Ela fica em silêncio por alguns instantes. –Desculpe por ontem à noite. 

—Tudo bem.  

—Eu fui estúpida. Eu estava insegura. 

—Eu sei, amor. Só queria que você confiasse um pouco mais em mim. 

—Eu confio. Você nunca deu nenhum sinal que eu não deveria confiar em você. Mas...  

—Mas você ainda não está pronta. 

—Eu estou. Estou de verdade. Quero fazer isso com você. 

Meu coração acelera. –Quer?  

—Acho que já está na hora. E você é meu namorado. Eu confio em você. 

—Certo. Tudo bem. Vamos... Marcar outro dia, então. 

—Ok. Eu tenho que desligar. Minha mãe tá enchendo meu saco. Beijo. 

—Tchau.  

Eu desligo o celular com um sorriso. Um sorriso idiota. Eu sou tão idiota. Estou prestes a explodir de felicidade por que uma única garota disse que está disposta a transar comigo. Mas não é simplesmente uma garota. É A garota. Amanhã é sexta feira, e precisarei dar um jeito de falar com Alex sobre a aposta sem que ninguém escute. Preciso acabar logo com essa aposta idiota. Ontem à noite, antes de dormir, ela disse que me amava. Eu não a respondi. Não tive a chance de responder. Quer dizer, eu ainda fico nervoso com esse tipo de coisa. O que eu sinto por Isa é diferente de qualquer outra coisa, e do mesmo jeito que ela é insegura com sexo, eu sou inseguro com amor. Mas ela vai ter uma resposta. No momento certo.

—Thomas! O jantar está pronto. –Marissa chama e eu passo a mão no cabelo. 

—Já vou! –Grito de volta. Tiro a camiseta que usei no trabalho e coloco uma limpa. Tiro também os sapatos dos pés e os jogo longe, depois me dirijo até a mesa de jantar. 

—Temos que te falar uma coisa. –Meu pai diz assim que me sento. Ele tirou a roupa social que usa no trabalho e colocou um pijama listrado. 

—O que é? –Pergunto enquanto pego o hambúrguer do meu prato e dou uma mordida. 

—Amanhã à noite nós não estaremos aqui. Temos um jantar importante em Curitiba. Sei que sua mãe deixou você conosco para não ficar sozinho, mas esse jantar foi marcado de última hora. 

Engulo o pedaço de hambúrguer na minha boca e olho para os dois. 

—Eu vou ficar sozinho de qualquer jeito então?  

—É, mas nós iremos voltar no sábado mesmo. Amanhã nós vamos, dormimos lá uma noite e voltamos logo depois. 

—Minha mãe sabe disso?  

—Eu falei com ela agora. –Ele coça a parte de trás da cabeça, nervoso. –Ela não gostou da ideia, mas disse que é melhor você estar aqui de qualquer forma. Aqui tem mais segurança que a casa de vocês na rua. 

Marissa coloca batatas fritas no meu prato, e eu não a impeço. 

—Tá então. –De novo não posso fazer nada. Aliás, é até melhor que eu vou ficar menos tempo com eles. –Que horas vocês vão?  

—Às três. Logo que você chegar aqui em casa a gente sai. –Marissa responde e dá uma batata para meu pai. 

—Hum. –Termino o hambúrguer e levanto as sobrancelhas. –Isa pode dormir aqui amanhã então?  

Meu pai olha para Marissa, que dá de ombros. –Claro. Por que não?  

Sorrio. Por que não? 

Depois do jantar, eu insisto em lavar a louça. Em casa, estou acostumado a fazer as atividades domésticas, uma vez que minha mãe trabalha muito e chega cansada demais em casa à noite. Não gosto de associar Marissa a minha querida mãe, mas sei que a mulher do meu pai também trabalha duro no escritório. Fazer algumas coisas básicas como lavar a louça depois do jantar enquanto estou aqui é o mínimo que eu posso fazer.

—Deixe comigo. –Eu digo, equilibrando nos braços os pratos sujos. Meu pai se enfiou no escritório dele para resolver algumas coisas assim que terminou de comer.

—Thomas, deixe que eu faço isso. Vá descansar no seu quarto. –Marissa diz, se esticando para tentar pegar os pratos. Desvio dela e sorrio.

—Você devia arrumar sua mala. Não vai pra Curitiba amanhã? Eu sei que mulheres demoram um tempão para arrumar tudo, mesmo para uma viagem de um dia só.

Ela suspira, derrotada.

—Tudo bem. Eu deixo a louça com você, mas depois vamos nós três nos sentar no sofá da sala e tomar um pouco de sorvete. –Ela diz e eu franzo a testa. Do que essa mulher louca está falando? –São os momentos em família diários.

—Han... Certo. Tudo bem. Acho. –Falo sem entender muito bem. Ela sorri e anda em direção ao corredor. Pego o resto da louça e levo tudo para a cozinha. Coloco um álbum do Imagine Dragons para tocar e lavo, enxáguo, seco e guardo tudo em seu respectivo lugar (tive que fazer uma pesquisa na cozinha para saber onde ficava cada coisa, mas acho que me virei bem). Passo um pano na bancada da cozinha para tirar qualquer resto de comida e gordura e vou para a sala esfregando as mãos. Quando chego, meu pai e Marissa estão sentados no sofá, conversando e rindo. Ele levanta o pescoço para olhar para mim e indica que eu devo me aproximar. Vou até eles.

—E agora? –Eu pergunto quando chego perto dos dois.

—Agora você senta. –Marissa diz, indicando os sofás e poltronas de sala. Sento-me no tapete em frente à eles. –Vamos tomar sorvete?

—Hoje podíamos fazer algo diferente. –Meu pai diz. –Talvez um vinho? Acho que a situação pede um.

—Vinho? Thomas ainda é menor de idade. –Ela diz descontente.

—Faltam poucos meses para ele completar 18 anos. E duvido que nunca tenha tomado uns bons goles de álcool. –Ele diz piscando para mim.

Marissa faz um gesto de desdém, mas se levanta e vai para a cozinha. Volta com uma garrafa de vinho e três taças de vidro nas mãos.

—Vamos brindar? –Eu pergunto, enquanto vejo ela encher uma taça em minha mão.

—Por que não? É a primeira vez que você fica aqui em casa. –Meu pai diz e Marissa concorda.

—Sim, eu mesma decorei o seu quarto. –Ela diz com animação. Termina de encher as taças com vinho e o deixa em uma mesinha de centro. –Mas você nunca dormiu aqui.

Dou de ombros. –Nunca foi preciso.

—Bem, sendo preciso ou não, nossa casa estará sempre disponível para você. –Ele diz, erguendo a taça.  De novo estamos parecendo uma família de verdade.

Perturbador.

Mas não completamente ruim.


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Notas finais do capítulo

Duas coisas:
1. Capítulo para basicamente mostrar os laços que estão sendo criados entre Thomas e sua família. Promissor.
2. Sim, Isa e Thomas vão ter outro encontrinho no próximo capítulo. Esperem para ver.
Beijinhos.