Entre Dois Mundos escrita por Benihime


Capítulo 9
Evento, beijo e paquera




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Zoey

Terminei de me arrumar e praticamente pulei dentro do carro, louca para ir. Em minutos chegamos no evento, que era no campo de rodeio. Sorri, imediatamente vendo várias possibilidades de lugares para passear.

Como Adaline ainda não havia chegado, decidi passar o tempo trabalhando em uma história que começara. Só larguei meu celular quando alguém me deu um tapinha no ombro.

— Oi, cabeça de vento. — Ada disse quando ergui os olhos, abrindo um sorriso para mim. — Te chamei umas mil vezes. Estava na Lua?

— Desculpa. — Retribuí seu sorriso, um gesto de desculpas. — Eu me distraí.

— Percebi. — A loira espiou curiosamente por cima do meu ombro. — História nova? Posso ler?

— Claro que pode, mas só depois que eu terminar.

— Ah, qual é, Zo! — Ela bufou. — Você é perfeccionista demais. Suas histórias são ótimas de qualquer jeito.

— Obrigada. — Respondi. — Mas, mesmo assim, nada de ler até eu terminar.

— Agora não. — Ada declarou, agarrando minha mão livre. — Anda, vamos fazer alguma coisa idiota. E nem tente discutir comigo.

Não tentei, simplesmente deixei que ela me conduzisse até a beira do lago. Ali, protegidas pelas árvores, estávamos quase invisíveis. Adaline me deu um tapinha no ombro e saiu correndo.

— Vem me pegar, Zoey! — Ela gritou por sobre o ombro. — Aposto que você não consegue!

Saí correndo atrás dela, ziguezagueando em seu encalço por entre os troncos. Antes que eu percebesse havia esquecido todo e qualquer problema, perseguindo minha melhor amiga e rindo como uma criancinha travessa. Depois de algum tempo finalmente consegui alcança-la, agarrando sua cintura e a prendendo contra uma árvore.

— Boa, Zoey. — Ela sorriu. — Você é rápida. 

— Não sou a Zoey. — Provoquei. — Sou uma vampira e vou sugar seu sangue!

Ela soltou um gritinho de pavor enquanto eu fingia morder seu pescoço, e nós duas caímos na gargalhada. Passamos a tarde assim, entre brincadeiras bobas e conversas. Adaline nem sequer me deu tempo para pensar na história que eu estava escrevendo, e logo percebi que toda a minha tensão havia evaporado.

Com o cair da noite, o pessoal do nosso grupo fez churrasco. Nós duas nos empanturramos de carne e sorvete, depois fomos sentar nos degraus da grande passarela de madeira suspensa que atravessava o lago.

— Ei, Ada. — Chamei. — Eu te desafio a ir até o fim da passarela comigo.

Ela imediatamente se pôs de pé, num consentimento silencioso, sua expressão solenemente séria. Eu ri e a acompanhei. Não havia luzes naquela parte, e mais ou menos na metade da passarela já estava tão escuro que mal dava para ver onde estávamos pisando. Meu pé bateu sem querer na grade de proteção, produzindo um barulho metálico que fez Ada pular de susto.

— Relaxa, Ada, foi só o meu pé. — Estendi uma das mãos, que ela segurou imediatamente. — Anda, sua medrosa.

— Não dá. — Ela respondeu, sua voz tremendo. — Vamos voltar.

— Ok, mas você perdeu.

Voltamos a nos sentar nos primeiros degraus, que estavam iluminados pelas lâmpadas das barracas do evento. Não muito depois, alguns garotos passaram. Um deles se separou do grupo e veio até nós. 

— Oi, priminha. — Ele disse. — E aí, Zozo.

Adaline não respondeu, obviamente irritada por ver o primo. Eu, por outro lado, sorri para ele. Foi nesse momento que ouvi a voz, um grito abafado vindo do outro lado do lago.

— Preciso ver uma coisa. — Falei, já de pé e subindo os degraus aos pulos. — Volto num minuto.

— Espera! — Mateus chamou. — Eu vou com você.

Não fiz objeção alguma, simplesmente continuei andando. Chegamos ao final da passarela, aos degraus que levavam à margem oposta do lago. Estava tão escuro que eu não conseguia ver nada, apenas silhuetas vagas e a água refletindo a luz da lua.

— Ali. — Apontei. — Bem no meio daquelas árvores. O grito que ouvi veio dali.

 — Então vamos checar. — Ele disse. — Só cuidado pra não cair, linda.

Como se suas palavras fossem uma espécie de mágica, imediatamente tropecei em um galho. Mateus passou um braço por minha cintura para me firmar, tão rápido que quase não acreditei.

— Obrigada. — Falei. — Bom reflexo.

— De nada ... — Seu sorriso foi visível mesmo na escuridão. — Princesa.

— Pare com os apelidos, ok? — Empurrei de leve seu peito para afastá-lo. — Me chame apenas de Zoey.

— Ok ... ZoZo

Revirei os olhos, fingindo irritação mesmo que não me importasse tanto assim com o apelido bobo. Finalmente atingimos as árvores, um agrupamento de pinheiros. Em pouco tempo vistoriamos o local com as lanternas de nossos celulares, sem encontrar nada de anormal.

— Eu devo ter imaginado. — Admiti, envergonhada de minha tolice. — Ou confundido, sei lá. Me desculpe.

— Isso acontece. — Mateus deu de ombros. — Vem, vamos voltar.

Tropecei de novo pouco depois, mas dessa vez Mateus não foi rápido o bastante para me amparar. Acabei caindo por cima dele, que estava logo à minha frente, o que fez nós dois cairmos um sobre o outro na grama úmida.

— Droga! — Apesar da situação, não consegui deixar de rir. — Me desculpe por isso. Eu sou um desastre.

— Por mim tudo bem. — O sorriso que ele deu foi claro mesmo na escuridão. — Pode ficar aí o tempo que quiser. Eu não ligo.

— Seu bobo.

— É sério, Zo. — Um de seus braços envolveu minha cintura, prendendo ainda mais nossos corpos um ao outro, enquanto sua mão livre se estendia para tocar meu rosto. — Eu gostei do nosso beijo. Fiquei pensando em você desde então.

— Já chega!

Ele me envolveu com mais força. Eu agora estava deitada sobre seu peito, nossos rostos a centímetros de distância. Eu sabia que poderia, deveria, afastá-lo, mas parte de mim não queria.

— Me diz, então. — Seu tom foi desafiador. — Diz pra mim que aquilo não foi nada e que não pensou em mim nem sequer uma vez.

Houve um longo momento de silêncio, a tensão palpável entre nós.

— Está bem. — Admiti enfim, com um suspiro de derrota. — Pensei em você, sim. E ... Eu também gostei daquele beijo.

Mateus soltou um ruído gutural do fundo da garganta, um som de puro júbilo, e de repente sua mão livre estava em minha nuca, seus dedos entrelaçando-se em meus cabelos enquanto sua boca encontrava a minha.

Foi tudo puro instinto. O cheiro dele era de colônia, e o cheiro de sua jaqueta de couro se misturou com o da natureza à nossa volta, criando um perfume estranhamente sensual. Sua pegada era firme, possessiva, mas de um jeito que me fazia sentir bem. Eu nunca havia me sentido tão viva, com todos os meus sentidos despertos e à flor da pele ... Até o toque de meu celular quebrar o silêncio como um balde de água fria.

 Eu me afastei e me pus de pé, estendendo a mão para ajudar Mateus antes de checar meu telefone. O toque havia sido por uma mensagem.

Ada: Anda logo. Tua vó tá te procurando. Falei pra ela q tu foi no banheiro.

Eu: Valeu, Ada. Estamos indo.

Sem dizer nada, Mateus e eu corremos juntos de volta ao outro lado do lago, onde Ada já nos esperava.

— Até que enfim. — Seu tom deixava claro que, se ela não sabia, suspeitava do que havia acontecido. — Vamos logo, Zoey.

— Pode ir na frente, priminha. Eu cuido da Zozo.

— Pare de me chamar assim, seu bobão!

Adaline olhou de um para outro, bufou em contrariedade e nos deu as costas, caminhando rápido para longe de nós. Mateus e eu a seguimos, nossos passos muito mais lentos.

— Ada está morrendo de ciúmes. — Eu disse baixinho. — Acho que ela sabe o que fizemos.

— Duvido. — O rapaz ao meu lado riu. — Ela é uma louca ciumenta, mesmo. Yandere total.

Tive que rir desse comentário. Surpresa, percebi o quanto era fácil ficar com Mateus. Fácil, agradável e familiar. Não tanto quanto com Adaline, mas mesmo assim era uma sensação boa.


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