Entre Dois Mundos escrita por Benihime


Capítulo 6
13 anos




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Adaline

Eu esperava por ela, cada vez mais impaciente. Não via a hora de ver Zoey chegar. Quando a vi descendo do carro, corri e me joguei em seus braços.

 Calminha aí, aniversariante. Vai quebrar seu presente.

Eu me afastei, mas continuei segurando sua mão. Havia algo em Zoey que tornava impossível para mim ficar longe dela quando estávamos juntas. Levei-a para a área onde minha família estava reunida.

 Gente, essa é Zoey, minha melhor amiga.

 Oi. Prazer conhecer vocês.

Zoey acenou com a mão livre, esboçando um sorriso. Notei a maioria retribuindo o gesto, exceto minha mãe, que olhava para Zoey como se ela fosse um inseto a ser removido. Olhei para aquela mulher esnobe com raiva, e acho que ela percebeu, pois desviou o olhar rapidamente.

Conduzi a morena para meu quarto sob o pretexto de guardar o presente que ela trouxera. Assim que entramos, Zoey olhou em volta e riu consigo mesma. Eu a encarei, sem conseguir imaginar qual era a graça.

Meu quarto era simples, com paredes cor de areia na qual eu colara alguns pôsteres de bandas e filmes dos quais gostava. Os móveis eram de madeira clara, em sua maioria cerejeira, todos de design antigo, porém simples e funcional. Escolha dos meus pais, claro. A cama era grande, arrumada com um edredom cor de rosa e, na prateleira ao lado empilhavam-se livros e bichos de pelúcia.

— Gostei da decoração. — Ela disse enfim, largando a sacola grande que trouxera em cima de minha cama.

— Dá uma animada no lugar. — Comentei. — Detesto essas paredes. Parece coisa de hospital.

— Posso entender. — Zoey sorriu. — E aí, gata, vai abrir meu presente ou não?

Foi o que fiz, encontrando um gracioso vidro de perfume cor de rosa com um lacinho de seda branca perto da tampa. Reconheci instantaneamente o nome e abri um sorriso enorme.

— Caramba, Zo, você acertou em cheio! — Exclamei. — Esse é o meu preferido.

Ela abriu um sorriso satisfeito e deu uma piscadela para mim antes de voltarmos para a festa. Mateus, meu primo idiota, não tirava os olhos de Zoey, e o vi sentar ao lado dela assim que a deixei sozinha.

Ele disse algo. Zoey a princípio não pareceu que ia responder, mas depois acabou rindo. Tive vontade de quebrar a cara daquele garoto babaca. Fui até lá com os dois copos de Coca que tinha ido buscar, e Zoey sorriu quando me viu chegar.

— Fora, seu babaca. — Ordenei. — Essa aí já está ocupada.

— Quanto ciúme, priminha. — Ele rebateu. — Tem que aprender a dividir, sabia? 

— Vai se ferrar. 

Ele riu enquanto se afastava. Para minha surpresa, Zoey também estava rindo ao aceitar o copo que eu lhe estendi.

— E aí — Fingi indiferença, não querendo revelar o quão curiosa realmente estava. — O que o idiota queria?

— Ficar comigo. — Minha amiga obviamente estava achando graça daquilo. — Mas eu respondi que preferiria beijar um rato morto.

— Boa escolha. — Dessa eu tive que rir. — Você tem bom gosto, Zo.

Liguei a câmera semi profissional que acabara de ganhar de presente de um de meus tios, liguei e foquei em minha melhor amiga. Ela imediatamente escondeu o rosto entre as mãos.

— Ah, qual é, Zo! — Protestei. — Preciso testar meu presente.

— Teste com outra pessoa, vai. — Ela rebateu. — Eu odeio tirar foto.

— Mas eu quero uma foto sua. Vai, Zo, por favor!

Lutamos de brincadeira por alguns segundos até Zoey virar o copo de Coca que ainda estava segurando. O líquido escuro caiu em cima dela, encharcando sua blusa verde-água e fazendo-a soltar um palavrão.

— Relaxa. — Eu disse. — Vem, te empresto uma blusa e peço para Lila lavar essa daí.

 — Tem certeza? Posso dar um jeito eu mesma.

— Relaxa, Zo, vai estar pronta antes de você ir pra casa. Eu prometo.

— Tá bem. — Ela cedeu. — Valeu, Ada.

Eu a levei de novo para meu quarto e abri as portas do meu closet em estilo americano, dizendo a ela que escolhesse o que quisesse. Não tínhamos a mesma altura, é claro, mas eu escolhia algumas blusas em tamanho maior, e essas talvez lhe servissem.

Zoey procurou entre as roupas por alguns minutos, soltando enfim uma exclamação de triunfo ao encontrar uma bata frente-única roxa e prata. A morena virou de costas e pediu que eu a ajudasse. Obedeci, notando que sua blusa verde-água tinha laços na costas como um espartilho à moda antiga. Eu as desamarrei, sem conseguir evitar que as pontas de meus dedos roçassem a pele quente de suas costas.

Ela tirou a blusa num movimento rápido e me virei de costas de forma automática, porém não pude evitar um vislumbre. Sob o sutiã, seus seios eram firmes e fartos, muito bonitos. Balancei a cabeça para afastar essa imagem. 

— Pode olhar, sua bobinha. — Zoey riu momentos depois. — Estou decente. 

Obedeci e não pude evitar um sorriso. A bata lhe caía muito bem, destacando seus olhos verdes. Seus cabelos negros completavam o efeito, caindo em desalinho sobre seus ombros.

Um pouco depois disso e já era hora de cantar parabéns. A primeira fatia do bolo, é claro, foi para Zoey, o que não agradou minha mãe nem um pouco. Eu, obviamente, a ignorei.

— Hey. — Minha prima Kimberly disse, falando baixo para não ser ouvida pelos adultos. — Vamos fazer o jogo da garrafa. Vocês duas estão dentro?

Zoey imediatamente respondeu um animado "sim", o que não me deixou opção senão concordar também. Jamais cometeria o erro de deixar minha melhor amiga sozinha com meus primos malucos.

 Fomos para a praça que ficava ali perto e escolhemos um canto afastado para jogar, cercado por algumas árvores. Zoey acabou tendo que beijar o Mateus, para minha eterna frustração. A pior parte foi ver que minha amiga não fez objeção, deixando-se levar para o galpão abandonado onde costumávamos ir para ter privacidade. Os dois demoraram, e resolvi entrar atrás deles.

Zoey estava escorada contra Mateus, uma de suas mãos na nuca dele e a outra apoiada no ombro. Ele agarrava a cintura dela com um braço e a outra mão brincava entre seus cabelos. Cabelos, aliás, cuja desarrumação deixava claro que o beijo acontecera mesmo.

— Mas que merda, Mateus! — Gritei sem conseguir me conter — Eu te disse pra ficar longe dela!

— Disse, mas nunca disse a ela para ficar longe de mim. Além do mais, foi só um beijo.

— Sei como funciona. — Eu mal conseguia conter minha raiva. — Não vai fazer isso com ela, otário!

— Para com isso, Ada. Zoey é livre pra escolher. Se ela quiser ...

— Cala a boca!

O celular de Zoey tocou nesse momento, impedindo a briga que se instalava. Ela atendeu e disse alguma coisa rapidamente, depois desligou.

— Minha avó tá chegando. — A morena disse para mim. — Vamos?

Voltamos para minha casa para que Zoey pudesse pegar suas coisas e trocar de blusa. Como prometido, a dela já tinha sido lavada e seca. Quando ela saiu, minha mãe me puxou de lado.

— Você arruma cada companhia, Adaline.  Ela disse.  Francamente, minha filha! Não quero mais ver essa esquisitinha aqui em casa, entendeu?

— Sim, mamãe.

Sorri depois que ela se afastou. Uma das coisas que Zoey me ensinara era como quebrar as regras. E a diversão estava prestes a começar. 


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