Entre Dois Mundos escrita por Benihime


Capítulo 4
Rock, pedra da lua, interrompidas...




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Adaline

— E que essa seja a última vez que isso acontece, entendeu?

Eu já nem prestava atenção no discurso sem fim da minha mãe, mas por sorte ouvi o final a tempo de dizer um "sim, senhora." Eu tentava ser uma boa menina, ficar sempre nas boas graças de meus pais.

De repente Zoey chegou e se sentou ao meu lado no canto da mesa grande onde o pessoal do grupo de motos estava colocando os capacetes. Trocamos um sorriso e fiz sinal para que ela esperasse um segundo.

— Mãe, o papai tá me chamando. Preciso ir. Beijos.

— Certo. Vou voltar a trabalhar. Beijos.

Desliguei o telefone, pulei da mesa e o guardei em meu bolso, sorrindo para minha melhor amiga. Fazia mais de um mês que eu não a via, já estava morrendo de saudades.

A parte que mais me chamou atenção foi seu cabelo. Suas longas mechas negras estavam cortadas acima dos ombros e agora ostentavam luzes roxas.

— E aí, doidinha, o que contas?

— Tudo na mesma. — Respondi — Cabelo legal.

— Valeu. Todo mundo acha que fiquei louca de vez por fazer isso.

— Que nada! Ei, já viu as lojinhas daqui? Tem umas coisas bem maneiras.

Eu peguei a mão dela e a levei comigo. Caminhamos juntas por entre as lojinhas, rindo e conversando, até o avô dela nos dizer que o churrasco estava pronto.

Era regra do moto grupo que todos precisavam estar usando uma camiseta com o símbolo deles para as fotos nesses eventos, então acompanhei Zoey para ela trocar de camiseta.

Fomos ao banheiro feminino, que estava vazio, e minha amiga imediatamente trocou a camiseta do Evanescence pela do moto grupo. Fiquei surpresa ao vê-la só de jeans, com um sutiã preto escondendo os seios. Seu corpo era mais curvilíneo do que aparentava, muito mais bonito do que eu imaginara.

 

Me repreendi imediatamente por aqueles pensamentos. Zoey era minha amiga. Minha melhor amiga. Aquilo não era certo.

Ela deve ter notado meu desconforto, pois seus lábios se abriram em um sorriso zombeteiro e uma das sobrancelhas se ergueu. Dei de ombros, indicando que não falaria sobre aquilo, e Zoey apenas sorriu. Voltamos para a área do nosso grupo e aproveitamos o churrasco.

— Quer ir pegar um doce de sobremesa? — Meu pai ofereceu.

— Eu quero.

— Também quero doce. — Zoey declarou. — Ei, vó!

A avó dela riu, mas não só deu o dinheiro como foi com a gente comprar o doce. Na barraquinha, escolhi um de prestígio e Zoey pegou de menta. A avó dela também decidiu escolher um.

— Aposto que ela escolhe o de prestígio. — Zoey sussurrou para mim.

— Feito.

Um segundo depois ela escolheu um doce de prestígio e nós duas rimos. Voltamos para a área do moto grupo e comemos nossos doces com muita Coca-Cola.

— Vem cá, Ada, vamos tirar uma foto. — A morena disse de repente.

Fui para seu lado e ela passou um braço por meus ombros, puxando-me para bem perto de si. Fiz a mesma coisa nela, estendendo meu braço direito à nossa frente. Nós duas fizemos caretas e, no último segundo, reparei que ela fez chifres em mim. Eu a empurrei sem muita força, brincando.

— Sua chata. — Falei, tentando soar zangada.

Zoey apenas riu. Eu não a enganara nem por um segundo, é claro.

Ouvimos o comecinho do show de rock oferecido pela organização do encontro de motos. Todos do grupo se animaram a ir. Zoey e eu ficamos para trás por um momento, bebericando nossos refrigerantes.

— Quer ir? — Ela convidou.

Pensei por um segundo. Eu sabia que Zoey gostava de rock, embora eu mesma não curtisse muito.

— Pode ser. — Respondi enfim.

Zoey pegou minha mão, entrelaçando firme nossos dedos, e me levou para onde nosso grupo estava. No meio do caminho, reparei em um colar que ela estava usando. Era prateado, com um pingente em forma de cupcake. Peguei o colar entre os dedos e vi que obviamente era um colar da amizade.

— Ouch. Eu não ganhei a outra metade.

— Uma amiga minha me deu, ok? — Zoey explicou, soando um tanto irritada. — Vou arrumar uns pra nós também.

Apenas assenti, mas já estava planejando o que fazer a respeito daquela situação.

Chegamos perto de nosso grupo, que estava todo envolvido em uma dança maluca. Zoey nem hesitou e se junto a eles, pulando e gritando. Fiquei parada, apenas assistindo. Aquilo para mim era um comportamento alienígena.

Minha melhor amiga percebeu meu desconforto e veio até mim, rindo alto. A alegria em seu rosto era contagiante, e me peguei sorrindo para ela.

— Anda, Ada, vem dançar comigo.

— Nem pensar, Zo. Eu não ... Nunca dancei antes.

— É fácil. — Ela estendeu uma das mãos para mim. — Vem, eu te ensino. Confia em mim.

O apelo naqueles olhos verdes era demais para mim e acabei deixando que Zoey me arrastasse para dançar. Pulamos, gritamos, rimos demais, giramos e, para minha surpresa, eu estava mesmo me divertindo.

Saí de fininho num momento em que Zoey estava mais distraída, dançando no centro da rodinha formada por nosso grupo, aproveitando para ir até a barraca que vendia cristais. Quase imediatamente escolhi um quartzo cor de rosa para mim, e então parei, me perguntando qual daquelas pedras coloridas Zoey gostaria mais.

Após alguns segundos, me lembrei de quando passáramos ali mais cedo. Minha amiga parara para admirar os cristais, mas sua atenção se focara em um deles em especial. Foi aquele que escolhi, juntamente com cordões nas cores preto, azul e rosa.

Depois das compras, voltei para a barraca que nosso grupo havia armado e comecei a trançar os cordões. Alguém se juntou a mim de repente, me fazendo pular de susto. 

— Sua demônia loira! — Zoey exclamou. — Você sumiu. Quase me matou de susto, sabia?

—Desculpa, Zo. Eu só fui comprar uma coisa.

— Tudo bem. — Ela se deitou ao meu lado no colchão inflável. — E aí, conseguiu o que queria?

 

Como resposta mostrei a ela o primeiro colar, com o cordão já trançado em estilo macramê, nas cores preto e azul. Os olhos dela brilharam ao reconhecer a pedra azul pálida no pingente.

— Pedra da lua! — A morena exclamou. — É a minha preferida!

— Eu sei. Vi você de olho nela hoje mais cedo. 

— E pelo jeito também reparou que azul é a minha cor preferida.

—Claro. — Eu ri. — E aí, gostou?

— Eu amei! Obrigada!

Ajudei Zoey a colocar o colar e fiquei observando por um momento, hipnotizada pelo modo como a pedra da lua refletia a luz em nuances de laranja, rosa, roxo ou azul. Era bonita, diferente, de um jeito meio misterioso. Quase como a própria Zoey.

— Quer que eu faça o seu? — Ela perguntou, vendo a outra pedra e o cordão ainda não feito que estava ao meu lado. — Seria bem legal se fizéssemos assim.

— Tudo bem, se souber fazer.

— Qual é. — Zoey bufou ironicamente. — É macramê, não é assim tão difícil.

Ela pegou os dois cordões, rosa e preto, e começou a trança-los com dedos surpreendentemente ágeis. Fiquei surpresa, pois não tinha esperado aquele nível de prática, e minha amiga simplesmente riu alto de minha reação. Dez minutos depois o colar ficou pronto e Zoey me ajudou a colocá-lo. Depois disso, nos deitamos no colchão inflável e ficamos ali conversando.

— Já namorou alguma menina? — Perguntei, estranhamente curiosa para saber sua resposta.

— Na verdade ... — Zoey hesitou por um momento. — Sim. Por que a pergunta?

— Curiosidade. — Dei de ombros. — Queria saber como é.

— Foram só umas ficadas, e ninguém ficou sabendo, então acho que não conta como namoro. — Minha amiga disse. — E não foi tão diferente assim. Diz aí, tu namoraria uma menina para saber como é?

— Talvez. Minha família ia surtar, então ... — Parei de falar e caí na risada com o pensamento que me ocorrera. — Imagina nós duas namorando. Ia ser uma loucura!

— É, ia mesmo. Posso até nos ver discutindo pra ver quem tem mais livros.

— Mas pra isso não precisamos namorar. Ambas sabemos que quem tem mais livros sou eu.

— Até parece. — Zoey bufou, contrariada. — Sua babaca.

— Débil mental.

Nós duas rimos. Peguei meu Ebook (tipo um mp5, só que menos moderno) e ela colocou um dos fones. Eu coloquei o outro e escolhi Stuck In The Moment, do Justin. Fiquei cantando junto com a música. Zoey só me olhava, com um sorrisinho no rosto.

— Sei que eu sou desafinada. Para de rir. — Falei, parando de cantar.

— Não é não. Adoro tua voz.

Nós duas nos deitamos no colchão de ar, e fiquei o mais no canto possível. Ela apoiou a cabeça na mão e ficou me olhando enquanto ouvíamos música.

— É esquisito? — Perguntei, sem conseguir me conter.

— O que, Ada?

— Beijar outra menina.

Sei lá. Depende do ponto de vista, acho. Pra mim, foi a mesma coisa, tirando que o beijo da Mi tinha gosto de gloss de morango.

E beijaria uma menina de novo?

— Talvez. — Ela deu de ombros. — Depende de quem. E você?

Zoey se aproximou um centímetro mais, sorrindo como se me desafiasse, e meu coração disparou. De repente, alguém pegou no meu pé e dei um gritinho de susto. Meu pai riu.

— Sou eu. — Ele disse — Tá na hora de ir pra casa.

Não pude evitar minha decepção ao me levantar e sair da barraca. Eu não entendia bem o que, mas tinha a sensação de que perdera uma oportunidade.

— Tchau, Zo. — Falei, me inclinando para beijar sua bochecha.

— Até a próxima.

Eu dirigi-lhe uma piscadela escondida de todos, antes de colocar o capacete e subir na moto com meu pai.

Ele acelerou pela cidade e, enquanto o ar frio da noite passava por nós, sorri como uma idiota, sem conseguir evitar imaginar que teria beijado Zoey se meu pai não tivesse nos interrompido.

Tudo bem, falei para mim mesma, teremos outra chance em breve.

Cheguei em casa, fui direto para meu quarto e enfim olhei meu relógio. Uma e meia da manhã. Tentei dormir, mas estava animada demais, então peguei A Esperança, o terceiro livro de Jogos Vorazes, e acendi a luz para ler.

Eu havia parado na parte da Turnê da Vitória, e mal consegui ler até o Desfile dos Tributos antes de me distrair, pensando no que poderia ter acontecido se meu pai não tivesse impedido.


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