Entre Dois Mundos escrita por Benihime


Capítulo 20
Falar a verdade e nada mais que a verdade




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Zoey

Meu coração palpitava de ansiedade, quase parando em meu peito enquanto eu pegava o celular para discar o número que já sabia de cor. Eu meio que esperava que ela não atendesse mas, para minha decepção, Addie atendeu no primeiro toque.

— Oi, Z. — O tom animado de sua voz me fez sentir uma pontada quente e dolorosa de culpa. — Como vão as coisas?

— Na boa. — Menti, esperando que ela não percebesse nada, pelo menos por enquanto. — Com saudades. A gente pode sair pra dar uma volta?

— Claro! — A loira concordou de imediato. — Te encontro naquele parque com as roseiras perto da sorveteria. Não demore muito, ok?

Concordei, encerrei a ligação e respirei fundo para recuperar o prumo. Aquele parque com as roseiras era meu lugar preferido na cidade, onde eu costumava ir quando queria fotografar e pensar na vida.

Não, pensei. Eu não posso fazer isso. Não tem como.

— Deixe de ser covarde. — Falei para meu reflexo no espelho. — Você precisa ser honesta e contar a ela, sua duas caras.

Adaline

Sentei no meu banco favorito, fora do caminho e meio escondido pelos arbustos altos em volta. Ali eu teria privacidade, mas sabia que Zoey me encontraria facilmente.

Para minha surpresa, ela demorou quase vinte minutos para aparecer, mesmo morando bem perto.

— Oi, Z. — Me levantei para abraçá-la. — Caramba, é bom te ver!

Ela retribuiu brevemente o meu abraço, um gesto tímido que em nada lembrava o habitual. Quando se afastou, me lançou um sorriso fraco, apenas uma sombra do que normalmente seria. Comecei a me preocupar. Alguma coisa estava errada, muito errada.

— Adaline ... — Se sua reação anterior me preocupou, o tom monocórdio de sua voz me deixou absolutamente em pânico. — Eu te chamei aqui porque tem uma coisa que preciso te contar.

—Não, Zo. — Eu quase supliquei. — Eu não quero saber. Seja lá o que aconteceu, não me importo. Não me conte.

Zoey balançou de leve a cabeça, fazendo as mechas escuras de seu cabelo esconderem sua expressão. Em seus lábios, porém, eu ainda podia ver a sombra de um sorriso de auto condenação.

— Não, Ada, não é justo que você faça essa escolha sem saber. E, se alguém tem que contar, essa pessoa sou eu. Não suportaria que você soubesse por mais ninguém. — Seus olhos se ergueram, capturando os meus com sua expressão torturada. — No Ano-Novo, minha mão insistiu que comemorássemos com uns amigos dela.

— Eu sei. — Interrompi. — Minha mãe também estava lá. Ela disse que você parecia uma vadia naquele vestido vermelho. Discutimos bem feio por causa disso.

— Queria que você não tivesse feito isso. — A morena disse com um suspiro. — Porque é verdade, eu fui mesmo uma grande vadia. Bebi demais e ... Mateus e eu ...

Zoey fechou os olhos, respirando fundo, então se levantou e foi até as roseiras, encarando-as por um longo momento antes de finalmente estender uma das mãos para tocar um dos botões escarlates.

— Mateus andou aprontando de novo. — Concluí, quebrando o silêncio tenso. — Aquele garoto não vai aprender nunca.

— Não, Adaline. — Zoey sequer se virou para me olhar. — A culpa não foi dele. Ou, pelo menos, não só dele. Eu ... — Ela respirou fundo e finalmente se virou para me encarar. — É preciso duas pessoas para que acabem na cama.

Ouvir aquilo foi como cair do alto de uma árvore. Eu paralisei, sem conseguir me mexer, mal conseguindo respirar ... Tudo o que eu conseguia fazer era encará-la, boquiaberta.

— Vocês ...

Não consegui completar, mas ela obviamente entendeu. Por mais estranho que pudesse parecer, ela sempre entendia.

— Não, não desse jeito. — Zoey declarou. — Admito que gosto dele, mesmo que não seja nem perto do que sinto por você. O problema, Adaline, é que sua mãe tem razão sobre mim. E você merece coisa melhor.

— Pare com essa besteira, Z. — Protestei. — Nós podemos fazer dar certo. Eu não quero coisa melhor, quero você!

— Não, Addie. — Ela rebateu com tristeza. — Acredite, vai perceber e me agradecer por isso um dia.

Após dizer isso, Zoey se inclinou e me beijou. Foi apenas um selinho, breve e amargo. Uma despedida. Em seguida ela girou nos calcanhares e saiu correndo. Paralisada de dor e traição, não consegui reunir forças para segui-la.


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