Ha Jin estava entrando em sua quarta semana de trabalho e, até agora, nenhuma notícia sobre o que teria acontecido com So tinha vindo até ela. A angústia maltratava seu coração.

Havia aceitado trabalhar na casa dos Wang pelas coincidências, por ter imaginado que, em algum lugar do universo, So ainda a procurasse, mas agora, e cada dia a mais, ela se conscientizava de que havia trocado os pés pelas mãos, que suas atitudes impensadas a impulsionaram, novamente, a um grau de tristeza que ela não gostava de sentir.

A falta que sentia do quarto príncipe lhe despedaçava a alma. Relembrar que havia quebrado a promessa de não deixá-lo só corroía sua sanidade e trazia lágrimas aos olhos, coisa que ela havia prometido não fazer mais.  O coração doía tanto que, às vezes, ela confundia se a dor era relacionada às válvulas que trabalhavam mal ou se era seu corpo lhe castigando por ter abandonado o homem que havia amado e que a amou mais do que a qualquer outra pessoa.

Quando entrou na lavanderia, levou um susto momentâneo ao encontrar a governanta Nyeo esperando por ela. Olhou o relógio automaticamente e se conscientizou de que não estava atrasada. Deixou a bolsa em um pequeno armário próximo às máquinas de lavar e seguiu até a mulher, curvando-se para ela enquanto lhe desejava bom dia.

— Bom dia, Ha Jin – a mulher retribuiu — Vou precisar de você logo mais, para os serviços do almoço e vistoria de limpeza da casa. Quero que dê às devidas ordens aos funcionários da lavanderia e atente para a tapeçaria da senhorita Yun Mi. Da última vez que foram lavados, tivemos uma indisposição com ela – a garota apenas confirmava com movimentos de cabeça e indicava positividade para que a governanta continuasse —  Em breve, no próximo final de semana, teremos uma reunião muito importante aqui na mansão…

— Reunião…? – a garota a interrompeu, o pensamento verbalizado — Desculpe.

— Tudo bem – a governanta continuou — Será uma reunião, por se tratar também de negócios, mas na mansão haverá cerca de cinquenta convidados, entre eles os amigos do senhor Wang, acionistas e familiares, todos os filhos Wang, parentes mais próximos e um jantar será servido. Precisamos que a mansão esteja impecável para o sábado à noite.

— Mas hoje é segunda – Ha Jin se viu pensando para quê tantos preparativos.

— Sim, Ha Jin, e por isso mesmo precisamos nos adiantar. Estamos atrasados com os preparativos – a boca da garota se abriu em o — O senhor Wang decidiu de última hora e me informou há poucos instantes, antes de ir para a empresa!

A governanta respondeu com leve angústia. Era uma profissional de extrema eficiência que detestava ver procrastinação em suas funções, todos comentavam.

— Tudo bem… Eu vou iniciar tudo por aqui.

— Ainda vou preparar algumas coisas, preciso de você daqui a aproximadamente duas ou três horas. Me espere na cozinha, caso eu não a esteja esperando.

— Sim, senhora – ela concordou com o usual e escandaloso gesto da cabeça.

— Alguma dúvida?

— Bem… – Ha Jin ponderou se seria o melhor momento, mas preferiu perguntar de uma vez — Tenho uma dúvida sim.

— Diga – a governanta incentivou, impaciente.

— Sobre os herdeiros Wang… – a mulher mais velha arqueou uma das sobrancelhas — Como eles são? Como devo me portar?

— Por que o interesse?

— Gostaria de saber mais sobre eles, sobre o que devo ou não fazer…

— A única coisa que você precisa é fazer o seu trabalho e se manter o mais distanciada possível.

— Mas, caso precise, digo…

— Qual o seu real interesse, Ha Jin? – a senhorita Nyeo perguntou novamente.

— Gostaria de saber mais sobre eles… Mal os vejo. Só estou curiosa sobre os herdeiros…

A governanta observou a garota e ponderou sobre o que havia perguntado. Não era algo incomum, afinal, eram muitos filhos e alguns deles continuavam perseguindo a garota pelos arredores da casa, o que era curioso, pois Nyeo não entendia o interesse dos Wang em uma das empregadas.

— Temos muito trabalho para fazer, Ha Jin. Me encontre na cozinha dentro de três horas.

— Sim senhora – a garota concordou sentindo uma ponta de decepção por não ter conseguido saber nada sobre So.

Um mês!

Um longo e estressante mês e nenhum vislumbre, nenhuma palavra sobre ele. Ela já estava se entregando ao desespero por ter quase certeza que o quarto príncipe não vivia na mansão da lua.

Perambulou por entre as máquinas de lavar e separou alguns tipos de roupas enquanto ordenava afazeres ao corpo de funcionários. Se sentia curiosa e irritada, ainda mais agora que tinha certeza que seria obrigada a presenciar aquela reunião.

A prima já havia avisado que as coisas geralmente não corriam muito bem quando todos os filhos Wang se reuniam e ela fomentou que tipo de desculpa poderia usar para não estar presente na mansão no próximo sábado.

— Senhorita Ha Jin, já abasteci todos os armários com toalhas e tapetes.

Era Sung Ryung, a mesma que lhe dera conselhos para se afastar dos herdeiros semanas atrás e que, depois de perceber e perguntar sobre os frequentes remédios que administrava, com muita preocupação, em determinados horários, zelava para que Ha Jin não os esquecesse como fizera alguns dias pontuados com muito serviço.

Ela vinha se afeiçoando à garota, e por bons motivos. O principal deles era que, com a sua aproximação, os outros empregados, aos poucos, vinham tratando a nova governanta com menos indiferença. Se fosse otimista, poderia apostar que esperando mais umas semanas, eles se disporiam a deixar um pedaço da sobremesa do almoço para ela.

O outro motivo era que Ryung lhe lembrava a amiga de mil anos atrás, além de carregar o mesmo nome. Aquela amiga que foi brutalmente morta porque havia amado demais e que sempre fora tão prestativa e preocupada, não se importando com os comentários dos demais, apenas disposta a ajudar Hae Soo, tal qual essa do presente, sempre pronta para auxiliar Ha Jin.

— Obrigada, Ryung - agradeceu com sinceridade.

— O que mais a senhorita quer que eu faça?

— Primeiro, que pare de me chamar de senhorita Go Ha Jin. Não sou um dos patrões, e mesmo que fosse… Já estamos trabalhando juntas há um mês e acredito que podemos nos chamar por nossos nomes, não concorda?

— Tudo bem, Ha Jin – Ryung sorriu acenando com a cabeça.

— Obrigada… Tem mais uma coisa – ela avaliou se seria prudente retomar o assunto daquela forma.

— O que? – Ryung pareceu curiosa. Ela também estava sempre disposta a conversar nos momentos mais livres.

— O que você sabe sobre os herdeiros Wang? – soltou de uma única vez, pedindo aos céus que não se arrependesse depois.

— O que todos sabem…

— E o que todos sabem? – ela continuou, ainda mais curiosa.

— Esqueço que ainda é nova por aqui, e que os outros empregados não te contam nada.

Ryung olhou para trás e foi até a porta da lavanderia, olhando pelas janelas enquanto se aproximava novamente de Ha Jin.

— Por que tudo isso? – Ha Jin parecia perturbada com a atitude da outra.

— A governanta Nyeo não gosta que a gente fale sobre os patrões… Mas vou te falar – e assumiu aquele conhecido tom de sussurro, como quem fala algo importantíssimo — São sete herdeiros, como você sabe, e são bem diferentes entre si, embora não se estranhem com frequência.

Ha Jin se aproximou ainda mais da amiga. A sensação era de que saberia coisas que já conhecia do passado, mas ansiosa para que, de Ryung, ela finalmente soubesse algo sobre So.

— O filho mais velho é o senhor Sook. Ele é casado com a senhora Sun Hee e tem uma filha, que você já deve ter visto brincando por aí, a senhorita Ha Na. Ele mal vem na mansão porque tem a sua própria empresa, por isso acredito que você ainda não o viu. Quase ninguém o vê. Ele só vem de noite. A empresa dele produz produtos de beleza. Você deve conhecer, a ISOI. Parece que que ele deu a empresa de presente para a esposa. Eu não sei ao certo, é o que dizem… mas ele é um homem muito bondoso, como metade dos herdeiros Wang, muito generoso. A maioria dos empregados falam muito bem dele e dizem que ele não tem interesse ao posto de líder da empresa do pai.

Ha Jin piscou algumas muitas vezes ao ouvir ISOI da boca de Ryung. Uma confusão se alastrou na mente dela. Não sabia se Wang Sook era o seu Wang So… Casado, longe dos interesses da família. Também não sabia se estava feliz ou indignada por esse Wang ser o dono da ISOI, por ter sido demitida. A única coisa certa para ela, naquele momento, era que contaria isso o mais rapidamente possível para Mi Ok.

— O senhor Gun você já conheceu. Ele, juntamente com o senhor Taeyang, são os que ficam mais à frente da empresa. Porém, o senhor Taeyang parece ser um pouco forçado, entende? Ele é muito mais calmo e também gentil. Esse papel de poder é bem mais aceito pelo senhor Gun que, aparentemente, nasceu para liderar. Ele é responsável pelo setor financeiro da empresa e o senhor Taeyang é responsável pela área de marketing. Mas o senhor Gun não é tão gentil como os outros dois. Ele é – Ryung fez uma caretinha — Melhor não falar…

— Ah, não… Tem que falar – Ha Jin se ouviu, obstinada, aos cochichos também.

— Ele é do mal… – Ryung fez uma nova careta ainda maior e a outra franziu a testa, respirando profundamente em seguida — É o que dizem — ela respirou e olhou para os lados antes de continuar — A senhora Yun Mi, assim como o senhor Gun, é difícil de lidar. Ela tem um temperamento muito forte e áspero e não se constrange em assumir aquilo que é e o posto no qual nasceu.

— Eu já percebi… – ela novamente não conseguiu manter os pensamentos dentro da cabeça.

— Ela trabalha com os Recursos Humanos…

— Logo ela...? – não conseguiu conter uma leve careta.

— Sim, ela… – as duas se olharam com expressões tristes, compactuando do sentimento que aquela informação trazia — Ela também é responsável por algumas coisas aqui na casa quando a mãe dela não está em dias bons. Ela é irritante, não gosto dela. Me sinto mal quando me aproximo dela ou tenho que lhe fazer algo. Ela nunca está satisfeita. Tudo sempre está errado… Realmente, não gosto dela — Ryung franziu o nariz irritada antes de prosseguir — O próximo filho é o senhor Eujin… Acho que não preciso falar muito sobre ele porque, acredito eu, já se conhecem muito bem…

Ha Jin sorriu sem graça em resposta ao sorriso da amiga, imaginando quantas pessoas já conheciam suas conversas "secretas" com o herdeiro, e incentivou a amiga a continuar com as explicações.

— Ele é responsável pela área de designer da empresa do pai e tentou ter uma banda há alguns anos, mas eu ainda não estava aqui quando isso aconteceu, então o que sei são apenas rumores – a jovem governanta concordou e a moça continuou — Depois tem os senhores Jung e Sun, e são tranquilos, ao menos é o pouco que sei deles. Eles têm quase a mesma idade e isso deu uma grande confusão na época em que nasceram.

— Por que?

— Soube que um tempo depois do nascimento do senhor Eujin, o senhor Wang teve – Ryung quase sussurrou — um caso com a senhora Min-joo.

— A mãe do senhor Gun? – Ha Jin pareceu confusa.

— Sim – a outra continuou — Dizem que a senhora Min-joo nunca se conformou em ter perdido o posto de "primeira dama" de todo esse império e, nesse tempo, ela engravidou do senhor Jung, só que, logo em seguida, a atual esposa engravidou do senhor Sun. Isso causou uma confusão daquelas. A mãe dos senhores Eujin e Sun se separou do senhor Wang assim que soube da senhora Min-joo, mesmo grávida, e esse foi o falatório: duas ex-esposas grávidas. Um tempo depois, o caso foi abafado e, aparentemente, tudo deu certo porque não se falou mais nada sobre.

— Deu "certo" – a garota repetiu fazendo sinais de aspas com os dedos ao pronunciar 'certo'.

— Exato. Eles são bem próximos e ambos ainda estudam, mas o senhor Jung já trabalha meio período na empresa com o senhor Taeyang, porque já está prestes a se formar, como você também já deve saber – novamente Ha Jin fez a expressão constrangida que Ryung não pareceu perceber — O senhor Sun ainda tem os privilégios de não trabalhar e tem a vida que eu pedi aos céus... Mas mesmo que sejam todos herdeiros, o senhor Wang sempre os fez trabalhar e eles cresceram com esse sentido de responsabilidade. Não conseguem nada muito fácil aqui na mansão apenas por serem podres de ricos.

— Entendo… E as mães…?

— A senhora Ah Ra é mãe do senhor Taeyang e da senhorita Yun Mi e atual esposa do senhor Wang. Eles haviam se separado quando a menina ainda era bebê, mas reataram há alguns anos.

Ha Jin permanecia atenta a tudo. Ela estava perplexa por descobrir como os empregados sabiam tantos detalhes da família, e também ansiosa por qualquer vestígio que lhe informasse algo sobre So.

— Todas as ex-esposas têm suas próprias casas, porém os filhos, por algum motivo, moram todos aqui. Acredito que você ainda verá a senhora Min-joo. Os comentários que escuto sobre a raiva que ela sente por ter perdido o amor do patrão… ou o posto, são muitos. A confusão com a mãe do senhor Sun é o mínimo do que sei...

— Sei… – ela cortou Ryung ficando impaciente por ouvir tantas intrigas familiares e nada sobre o motivo que a fez incitar aquela conversa   — E não há mais ninguém?

— Como assim "Mais ninguém"? - Ryung perguntou interessada.

— Nada – Ha Jin encerrou a conversa ao ver que um dos empregados do jardim se aproximava — Obrigada por sanar minhas dúvidas, Ryung. Você me ajudou muito.

— É um prazer… Vou separar as roupas de cores.

— Tudo bem.

A empregada saiu da presença de Ha Jin sem olhar para trás e começou seus afazeres assim que o jardineiro entrou na lavanderia. Enquanto os observava e pensava em tudo o que agora descobrira, sentiu um misto de sensações que nada mais eram que a tristeza em saber que, de todos os Wang, So, se não fosse o herdeiro casado, era o único que não havia revivido ali.