Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 57
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Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos!!!

Passado o frenesi dos acontecimentos do último arco, que deixou todo mundo muito animado e participativo, ficamos felizes em ver que os comentários continuam constantes assim como novos leitores sempre chegando. Obrigadinha ♥ ♥

Nesta semana, mais um capítulo que segue a métrica do anterior: casais, amizade, irmãos Wang lerdos e um momento que alguns achavam que não iria acontecer... enfim... Espero que gostem!

Ótima leitura para todos. Beijos! o/



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Aquele novo ano não iniciou da forma como Ha Jin esperava. Imaginou que poderia passar os quatro dias que recebeu de folga com o namorado, em alguma cabana no topo de uma serra, sozinhos, aproveitando tudo o que perderam em duas vidas, mas sabia que, diante da atual situação que todos vivenciavam, aquilo era apenas algo concretizado em seus mais profundos sonhos.

Em contrapartida, os dias de folga foram gastos na pequena cidade onde sua família residia, sob os olhos dos pais, irmão - e também cunhada, tios, primos e demais pessoas que se achavam no direito de dar palpites sobre sua péssima vida jogada pela janela, sua falta de sorte sobre tudo, inclusive a incapacidade de encontrar um bom partido, e o seu futuro incerto. Sua salvação fora Na Na, obrigada a dividir com ela aqueles infortúnios familiares, mesmo que em bem menor quantidade.

Na mansão, quando retornou do “descanso merecido” mencionado por Taeyang, Ha Jin percebeu que mais de um mês se passou desde que Shin fugira de diante de seus olhos, que o trágico diagnóstico do senhor Hansol fora revelado e que sua amiga, Nyeo Hin Hee, saíra da casa. Fazia aquele mesmo tempo que os herdeiros, cada um ao seu modo, tentavam seguir suas vidas evitando os pensamentos fúnebres sobre o patriarca e pareciam ignorar, ou realmente não se importavam, sobre as origens de Shin.

Faltavam algumas horas para os preparativos do jantar e a jovem governanta estava apoiada sobre o balcão da pia, dentro da cozinha da mansão, aproveitando a calmaria do horário para informar à governanta Nyeo sobre os últimos acontecimentos. A mulher continuava firme em sua opinião de não se importar a cerca dos fatos envolvendo os Wang, mas nunca se cansava de perguntar à sua jovem amiga como andava a vida do filho.

Entristecida pela impotência da mais velha, Ha Jin respondia com os dedos tocando rapidamente as letras, que tudo ia bem na medida do possível, e que se sentia mal por fazer um péssimo trabalho em convencer o herdeiro a dar uma chance a sua verdadeira mãe.

Aguardava a resposta de Nyeo, digitando para ela a quilômetros de distância de Busan, contudo se sobressaltou com a voz dele tão perto:

— Com quem está tão entretida nesse celular? É aquela sua amiga doida…?

Ha Jin parou de prestar atenção na tela e ergueu a cabeça do telefone, apreensiva. Shin já estava praticamente em cima dela, os braços posicionados cada um de um lado de seu corpo, cercavam-na na altura da cintura e a mantinha naquela posição. O olhar desconfiado do rapaz desceu para o celular.

— Particular — ela desligou a tela e acomodou o objeto no bolso da frente de seu avental.

— Vai bancar a misteriosa, é?

— Que tal uma distância segura? — retorquiu incisiva — Algum funcionário pode surgir…

— Estou nem aí — ele deu de ombros, a encurralando ainda mais. Ha Jin sentiu o cheiro de perfume masculino exalando do pescoço dele e teve cócegas na espinha quando o olfato foi estimulado pela presença avassaladora dele.

— Eu sim, melhor conversarmos mais longe — tentou se livrar daquela tentação poderosa chamada Wang Shin — Para falar a verdade, com quem eu estava conversando é do seu interesse, sim. Era a sua mãe.

— Quem…? — ele perguntou para, em seguida, revirar os olhos. Se afastar, que era a ideia original de Ha Jin, ele não o fez.

— Não se faça de rogado. A senhora Nyeo não para de me mandar mensagens, quer saber como está o seu dia, se está se alimentando bem, dormindo bem. Procura saber se está feliz, se está…

— Conformado?

— É… por assim dizer — a moça respondeu hesitante — Quando você vai…

— Não sei, não sei, não sei — ele a interrompeu resistente a todo aquele interrogatório sufocante. Conseguir segurar Shin no delicado assunto sobre sua mãe biológica era mais difícil do que reter uma gota de mercúrio entre os dedos — Podemos mudar de assunto?

— Ela está aflita, Shin… — se ele sabia ser escorregadio, a jovem governanta sabia ser insistente — Por favor, pare de ser teimoso… Já se passou quase um mês e a coitada está a cada dia mais ansiosa por notícias suas. Ela é uma boa pessoa…

— Eu sei que Hin Hee é uma boa pessoa.

— Então, chega de ser tão resis…

— O que é isso aqui perto da sua boca? — ele atropelou as palavras dela novamente, apontando-lhe no rosto.

— E se… O que? Isso, o quê? — ela retorquiu irritada pela interrupção e começou a tocar na direção em que ele indicava, esfregando com os dedos.

— Não saiu — ele informou calmamente.

Ha Jin esfregou o local mais forte, mas ele continuava balançando a cabeça em negativa, a olhando de um modo misterioso.

— Deixe-me ver em algum espelho…

— Não. Eu tiro — o rapaz se ofereceu e, antes que ela percebesse qual era sua intenção real, Shin já estava sobre a região, em sua bochecha, a poucos centímetros de sua boca, a tocando com os lábios.

A governanta tentou se livrar no instante que percebeu a tática batida, mas ele continuou pressionando-a contra a pia ao passo que galgava com a boca, de modo irresistível, até os lábios dela.

De repente, lá estava Ha Jin beijando docemente os lábios dele, rendida. Beijar Shin era como estar numa tormenta ao mar e, deliberadamente, decidir se desligar de todo o caos e perigo, mas nem por isso deixar de ficar exposta a eles, mergulhando em suas águas. Ela esquecia dos riscos, das consequências, de quem poderia chegar e interpretar aquilo justamente como era: patrão e empregada apaixonados.

Como vinha acontecendo nas outras vezes, eles pareciam pular as diversas etapas do pudor, comum aos casais novos, e avançavam para carinhos amorosos intensos. O beijo, que era gentil, não demorou a se transformar em algo mais profundo. A garota passou os dois braços ao redor do pescoço do rapaz, um suspiro prazeroso escapando de seus lábios, enquanto ele ia descendo a boca para o queixo dela. Quando Shin estava chegando ao pescoço, o celular vibrou no avental da governanta – Meu Deus, a mãe dele está respondendo – e Ha Jin interrompeu toda a carícia.

— Isso anda ficando cada vez mais perigoso — ela martelou suas inseguranças outra vez em voz alta e afastou-se da boca dele.

— Não precisamos parar… — ele falou baixinho, os olhos embotados tentando se aproximar para barganhar mais beijos.

— Alguém vai nos ver.

— Eu não ligo…

— Eu sim.

— Você é cruel — ele tentou mais um selinho desavisado.

Ha Jin esticou o braço para trás e pegou a mangueira acoplada à torneira. A seguir, sem que ele tivesse tempo de recuar, ela apertou o dispositivo de jato e mirou contra o herdeiro.

— Ei! Ei! Sua… — Shin finalmente se afastou após se dar conta do banho gratuito, os cabelos e a parte da frente da camisa molhados como resultado do plano nada gentil de sua namorada.

Ha Jin balançava a mangueira na sua frente, rindo com gosto e o ameaçando:

— Não ouse se aproximar de novo — ordenou buscando parecer ameaçadora sob a posse daquela arma.

— Está brincando com o perigo — ele ousou se aproximar novamente, segurando o riso e fingindo revolta, enquanto ela se preparava para lançar mais água em sua direção.

— Ha Jin? Você está por aí?

A voz familiar chamando pela garota fez os dois paralisarem. Em poucos segundos, o dono daquelas indagações surgiu onde o casal estava e Ha Jin levou um susto, não pela figura de Eujin surgindo repentinamente, mas pelo estrépito violento produzido por Shin, à sua direita.

Tanto a governanta quanto o Wang mais novo olharam na direção do outro que travava uma luta, no mínimo cativante, contra algo invisível aos seus espectadores, utilizando-se de uma frigideira limpa, que antes estava sobre o balcão, batendo-a contra o chão aqui e acolá. Ha Jin piscava a cada nova pancada, confusa.

— O que está acontecendo aqui? — Eujin perguntou, perplexo… ou, ao menos, emulando muito bem esse sentimento.

— Ufa! É isso, Go Ha Jin — Shin levantou-se com um salto jovial, porém ofegante, e colocou a frigideira, agora apenas um pedaço de sucata amassada, de volta no mesmo lugar — Eu acho que esse bicho se assustou comigo e foi embora… Pela janela talvez… Não sei bem… Mas não está aqui, não. Pode se sentir segura!

— Ainda não estou entendendo nada — o irmão sonorizou, os braços cruzados e a tez curiosa encarando o trágico fim do utensílio doméstico.

— Hã? — Ha Jin também fazia uma expressão aparvalhada de desentendimento — O que…

— O inseto que você viu! Está sofrendo de amnésia, é, governanta? — Shin deu uma palmadinha no ombro da jovem para fazê-la pegar no tranco. Demorou dois segundos inteiros, mas ela finalmente entendeu o circo todo.

— AAAAAH TÁ… Obrigada, senhor Shin — curvou-se com exagero na direção dele — Agora estou muito mais aliviada. Obrigada.

— De nada — Shin deu um sorriso cínico de triunfo, mas por dentro gritava desesperado se perguntando o que exatamente o irmão conseguiu ver ao chegar de supetão.

— Vocês são assustadores — Eujin balançou a cabeça, ainda intrigado, e caminhou para a geladeira onde pegou um pedaço recém-cortado de pêssego — Aliás, por que você está molhado, Shin?

— Hã?

— Eita, de repente todo mundo ficou surdo — riu para si — Andou tomando chuva? — apontou para a roupa do irmão que se olhou, fingindo perceber sua situação naquele momento.

— Ah é… Devo ter me molhado enquanto salvava a governanta do perigoso inseto mortal — falou em tom de zombaria. Ha Jin fechou a cara e semicerrou os olhos para ele — Bom, vou tomar um banho. Minha missão acabou por aqui.

Os outros dois acompanharam o terceiro deixar a cozinha em silêncio e quando ele partiu de vez, Eujin comentou:

— Que doido.

— Pois é… Queria falar comigo?

— Sim, queria — ele anuiu se sentando em um dos banquinhos ao redor do balcão-ilha — Hoje ouvi casualmente no rádio do carro sobre problemas cardíacos e lembrei de você. Na hora bateu um estalo e eu precisava saber por que você não me disse do seu problema de saúde?

— Porque não é relevante — ela desconversou olhando para a frigideira assassinada que encontraria seu destino no lixo nos próximos minutos. Seu maior medo era ver piedade nos olhos das pessoas ao saberem de sua condição — Fique tranquilo, não sei quem, ou o que te disseram, mas estou bem.

— É assim que você trata um amigo? Mentindo? — Eujin fez um muxoxo e se debruçou sobre a bancada apoiando a mão no queixo — Se eu já estava preocupado quando soube, imagina agora que meu pai anda passando por tudo isso. Preciso ouvir da sua boca, quão grave é seu problema do coração?

— Não é nada, não estou mentindo. Apenas uma falha no meu coração que foi descoberta há pouco tempo… Estou me tratando, sério, não há motivos.

— Mesmo assim…

— Olha, Eujin, estou bem — a moça aproximou-se dele e depositou a mão sobre a mão do rapaz, que estava espalmada na superfície. A seguir abriu um sorriso confiante, um sorriso que alguém que estava com o pé na cova não poderia exibir e prosseguiu — Não há por que se preocupar comigo quando há muito o que se preocupar com sua própria vida. Como vão as coisas no seu coração? Soube do que houve entre você e a Hye….

— Como?

— Um passarinho me contou. Como soube do meu problema do coração?

— Suspeito que temos um passarinho em comum.

— Talvez… E isso importa?

— Um passarinho barulhento, péssimo ator, eu diria, e que disfarça as coisas pateticamente mal…

— Que seja — Ha Jin procurou desconversar novamente. Eujin era terrível, captava tudo numa velocidade desconcertante e ela estava quase corando ao pensar nisso — Você conseguiu se resolver com ela?

— Não consegui, mas tentei ligar muitas vezes.

— Essas coisas precisam ser resolvidas cara a cara.

— Pode ser, mas… de repente me tornei um covarde e não quero saber dos motivos. Estou com medo do que vou ouvir.

— Pois não faça isso. Não deixe ela partir sem mais nem menos. Vá descobrir o que houve. Se as coisas eram verdadeiras como você sentia, sempre tem um motivo. Uma explicação.

— Estou empenhado em limpar o nome do Shin no momento — Eujin suspirou com pesar — Eu e meus irmãos queremos que papai tenha uma… uma partida em paz… Que a imagem da empresa seja restaurada antes que ele descanse. Não tenho tempo para pensar nisso agora. Não sei separar as coisas, posso acabar colocando energia demais numa coisa, quando preciso focar em outra.

— Então faça logo o que tem de fazer e não demore — a governanta respondeu com praticidade. Sua vida amorosa já havia sido tão complicada, não queria ver seus amigos tomando o mesmo caminho tortuoso — O tempo nem sempre é o melhor remédio para esse tipo de coisa…

— Pare de falar como se fosse uma anciã sabichona — ele resmungou entediado — Você sempre me assusta quando vem com esses discursos cheios de conhecimentos de causa. Nem tem trinta anos…

— Não quer meus conselhos? — Ha Jin se fez de ofendida.

— Quero, mas não vim aqui para isso. Na verdade, o assunto é a senhorita. Se você precisar fazer a tal cirurgia cardíaca, posso falar com Taeyang e nós damos um jeito de liberar um seguro-saúde extra. Tudo de acordo com seu contrato empregatício.

— Depois falamos disso, vamos esperar a poeira assentar. Sério. Estou muito bem com os remédios, faço exames periódicos.

— Vou acreditar, então — falou rendido.

— Claro que vai — a moça sorriu marota e encaminhou-se para a frigideira, pegando o objeto pelo cabo e se decidindo em qual lixo da cozinha ela caberia melhor.

— Afinal, você é uma péssima mentirosa.

— Lá vem… Como assim?

— “Como assim? Como assim?” — Eujin imitou fazendo careta — Meus irmãos mais velhos e suas namoradas secretas que acham que eu tenho dez anos. Pelo amor, Ha Jin, precisavam destruir um utensílio doméstico para…

— Fica quieto — Ha Jin venceu os passos que a separavam do herdeiro e se lançou sobre ele lhe tapando a boca, os olhos arregalados — Cuidado com o que fala.

— Sou eu… que tenho… de ser cuidadoso? Sério? — falava em pausas, se desvencilhando da mão da amiga e rindo a valer.

Aquilo durou por algum tempo, pelo menos até que Ha Jin conseguisse que Eujin concordasse fingir não saber de nada, afinal, talvez Shin criasse coragem sozinho para admitir a ele, argumentou.   

***

As duas primeiras semanas de Janeiro passaram tão rápidas quanto a preparação daquele novo evento familiar e, naquele momento, o clima estava frio demais para que qualquer um dos Wang ou convidados estivessem do lado de fora da mansão, ainda que a decoração externa estivesse bonita o suficiente para encher os olhos de qualquer ser humano normal.

Uma imensa passarela de vidro com flores sob ela havia sido colocada no caminho que levava até a porta principal da mansão Wang. Toda ela estava coberta por arcos ornados, uma maneira elegante de proteger os convidados dos possíveis flocos de neve que poderiam cair naquela tarde.

As árvores, congeladas e esbranquiçadas graças ao inverno intenso, foram adornadas com pontos de luzes brancos que se estendiam pela passarela até a porta principal, aberta para receber os quase cem convidados daquela recepção familiar, realizada ali para que Hansol não precisasse se locomover.

No interior da mansão, as salas de visitas e jantar haviam sido tomadas por uma extensão da decoração matrimonial. Mesas redondas dispostas com cadeiras ao redor e os respectivos nomes das famílias que as tomariam como suas para prestigiarem as três ou quatro horas seguintes. O tom prateado imperava naquele local.

À porta, fazendo as honras para os convidados, Woo Ah Ra e Son Yoo Na em suas vestimentas tradicionais, a primeira em um hanbok¹ tradicional vermelho e azul, os cabelos presos em um coque baixo e cheio, com broches, lembrando à governanta da casa a cada instante que se encontrava que ela que, na verdade, aquela mulher fora a Imperatriz Hwangbo. A segunda, em um traje rosa e verde, parecia bem mais discreta em sua maquiagem simples e coque alto, totalmente elegante. Ambas com sorrisos que iam de orelha a orelha.

Perto delas, sentado e ainda debilitado, o senhor Wang conversava displicentemente com Choi Ryul Doo, Nahm Gong e Doh Yoseob sobre a mansão, a empresa, os filhos e o casamento. Assuntos amenos que impedissem que o senhor da casa se exaltasse mais do que o necessário.

Distante dali, Eujin, frustrado demais ao saber que - ele ainda não sabia como se referir a Hye - havia articulado uma viagem urgente para não encará-lo depois de todas as mentiras que criou, prestava total atenção nos movimentos dos pais da moça, em especial, nos do senhor Nahm.

A taça de vinho em sua mão era apenas um disfarce enquanto ele esperava o melhor momento para abordar o homem e tomar satisfações sobre aquela palhaçada que era ele ter permitido que a sua namorada noivasse com outro homem. Foi interrompido depois de dois ou três passo por Shin que, observando o mais novo desde o momento que o casal entrara na mansão, imaginava que não aconteceria algo realmente agradável caso o mais novo conseguisse confrontar o convidado.

Os funcionários da mansão, em uma coreografia que parecia ensaiada, deslizavam por entre as mesas com bandejas nas mãos, servindo um cardápio saboroso e refinado, escolhido por Yun Mi e contratado em um dos melhores restaurantes da cidade. Ela alegava não confiar nos dotes da governanta e preferia que fosse dessa forma, por isso, na cozinha, uma equipe do restaurante preparava os mais variados pratos e aperitivos da culinária coreana para impressionar os convidados.

Ha Jin, feliz que não tivesse funções a delegar, imaginou que seria dispensada daquela noite, mas fora solicitada pelo senhor Hansol para direcionar os funcionários da casa e ficar responsável pela supervisão da cozinha, o que ela fazia nesse exato momento.

A sala onde aconteciam as reuniões familiares também fora modificada. A decoração havia chegado até aquele local e, naquele momento, servia de cenário para Yun Mi, deslumbrante em seu vestido de noiva caríssimo todo em zibeline e seda pura, com detalhes em guipure e cristais, posar para as várias fotos que preencheriam seu álbum de casamento.

A maquiagem leve dava um ar jovial e sexy ao olhar da noiva. Os lábios contornados em um tom vinho, opaco, discreto, pareciam desenhados a dedo naquele conjunto de beleza. Uma tiara arrematava seus cabelos, amarrados para trás, em um semi rabo de cavalo, com cachos delicadamente decorados com pontos de luz que desciam em cascatas por suas costas, cobertas apenas pela transparência rebordada com cristais, contornando também seus braços em mangas delicadas, encobrindo toda a parte frontal do vestido, o forro branco, um discreto decote em v.

— Já temos muitas fotos apenas da senhorita — o jovem fotógrafo falou um tempo depois — Seria bom começar as fotos com o noivo antes da cerimônia?

— Como quiser… — a jovem respondeu sem muita animação, movendo automaticamente a calda do vestido.

— Vou chamá-lo.

Instantes depois, Choi Jin In adentrou a sala onde a noiva estava sentada sobre um grande sofá cor de gelo. Linda, como ele já percebera que ela era, mas com o semblante desgostoso, era mais que evidente que Wang Yun Mi não se casava porque queria, mesmo que aquele tenha sido o seu discurso nos últimos quinze dias.

— Você está linda, Yun Mi — o homem vestido em um smoking fino cor de chumbo, elegante e bonito demais até aos olhos da irritada Yun Mi.

— Obrigada — ela respondeu, novamente arrumando um ponto qualquer da saia do vestido.

— Poderia nos deixar a sós por um momento? — Jin In pediu ao fotógrafo que, fazendo uma vênia breve, se retirou.

— O que quer falar comigo em particular? — o tom de voz seco da jovem não lhe passou despercebido.

— Quero saber como está se sentindo com isso tudo…

— Como você acha que eu estou? Estou sendo coagida por meus pais a me casar quando não queria, com um homem que mal conheço e que se acha no direito de controlar a minha vida como minha família sempre fez.

— Concordo que as coisas não estejam bem e te entendo perfeitamente, mas eu não quero controlar a sua vida. Não tivemos tempo para conversarmos devido à doença do seu pai e logo em seguida começaram os preparativos do casamento, mas quero deixar claro que não estou de acordo com o que estão fazendo com você.

— Se não está de acordo, por que não cancela essa bobagem de casamento de uma vez?

— Porque meus pais também me coagiram a ceder. Isso não vem ao caso agora, mas quero que saiba que nada do que está acontecendo é do meu agrado. Você não é a única que está aqui por obrigação.

— Palavras… Simples palavras que não vão mudar em absolutamente nada o destino que traçaram para mim. Quero que fique bem claro que esse casamento é uma grande mentira apenas para satisfazer meus pais. Eu nunca vou aceitá-lo como meu marido, nunca serei sua esposa. Nunca farei nada que faça com que se orgulhe de me ter como sua esposa.Tudo isso é apenas aparência e nunca passará disso, entendeu?

— Perfeitamente! Não se preocupe com isso. Eu estou de acordo com o que fala.

— Ótimo! Se tudo sair como planejado, iremos nos separar em breve. Não vou passar o resto da minha vida ao lado de um homem como você.

— Como eu? O que eu tenho, afinal?

— Nada. Exatamente isso. O que você não tem. Você não me interessa em nada… sequer faz o meu tipo. Além do fato de também não querer casar, não temos mais nada em comum.

— E o que você planejou para o futuro do nosso casamento?

— Daqui a um ano nos separaremos.

— Certo. Se as coisas correrem como você planejou, nos separaremos em um ano. Temos um acordo? — Jin In lhe propôs oferecendo a mão direita.

— Temos um acordo — ela selou o trato apertando a mão do noivo.

— Então vamos terminar com isso de uma vez. Vou chamar o fotógrafo e nossos pais. Vamos com isso até o fim.

***

Mesmo que estivesse consciente sobre aquele casamento e que nada do que acontecia ali envolvia sentimentos reais, Sun havia decidido, e em definitivo, conversar com Doh Hea naquela tarde, ou quando tivesse oportunidade de estar a sós com ela. O fato era que ele não perderia aquela chance.

Estava mais do que convencido sobre seus sentimentos. Às vezes cogitava dar créditos a Jung e concordar que era apaixonado por ela há muito tempo, talvez mais tempo do que ele mesmo poderia imaginar, mas repensava e imaginar a cara do irmão lhe fazendo gracinhas o estimulava a não contar a ninguém.

Hea vinha se mostrando uma garota diferente do que ele sempre pensou. Assim como Shin havia lhe dito, acreditava ter criado uma concepção errada dela por causa de suas birras e infantilidades. Não que fosse, agora, um adulto modelo, mas conseguia enxergar e, finalmente, aceitar seus sentimentos por aquela garota.

Vestido em seu traje festivo, um terno azul marinho escolhido a dedo por sua mãe, os cabelos sem o seu usual tom de vermelho agora exibiam seu tom castanho escuro normal, penteados para trás e fixos com um produto que Eujin lhe aplicara em excesso.

Caminhava por entre as mesas e se sentia sufocado. Não entendia qual motivo seria suficientemente forte para fazer uma mãe obrigar a única a filha a se casar sem amor e não entendia o que fizera Yun Mi aceitar aquilo como se fosse algo que ela realmente queria.

Se direcionou a um dos bancos à entrada da mansão, o local vazio devido à concentração de convidados na sala, cumprimentando e brindando à felicidade dos noivos. Ele sentia como se tivesse uma parte da culpa por ver a irmã estar ali sorrindo quando ele sabia que a única coisa que ela queria era gritar e sair correndo daquele lugar. Mas o casamento já tinha sido realizado e ele, incompetente como sempre fora, não fez nada pelo bem dela.

— Sua irmã está muito bonita vestida de noiva — Doh Hea comentou sentando-se ao seu lado.

— Sim, ela está… Você também — Sun respondeu abalado pela presença da jovem tão repentinamente. Não viu de onde ela viera.

Hea usava um vestido azul aveludado na altura das coxas, ajustado ao corpo, sem alças. Tinha uma gargantilha com algumas estrelas em seu pescoço. A maquiagem leve chamava à atenção para seus lábios rosados e estranhamente atraentes aos olhos do rapaz.

— Seu cabelo está um pouco estranho — ela continuou tocando o cabelo de Sun que, involuntariamente, sentiu o corpo arrepiar — Acho que estava acostumada com aquele tom vermelho.

— É… Resolvi parar de pintar. Vou voltar a usar o natural.

— Por que? — ela perguntou olhando-o nos olhos.

— Não sei… Acho que já deu… Mas assim fica bom, não fica?

— Hmm… Fica sim. Acho até que ficou melhor assim…

Os dois trocaram olhares novamente. A noite chegava e algumas estrelas começavam a pontuar o céu. Sun, tocado por aquele momento e não mais conseguindo esconder o que sentia, decidiu que aquele seria o momento ideal para falar sobre seus sentimentos.

— Hea…

— Hmm?

— Eu… tenho algo muito importante para falar com você.

A jovem, virando-se completamente para Sun, lhe deu total atenção diante daquelas palavras. O rapaz, envergonhado, porém decidido, começou seu pequeno discurso sem encarar os olhos da jovem.

— Pode falar… — ela incentivou percebendo que ele não falaria.

— Eu… quero te pedir desculpas por todas as vezes que te tratei mal e fui um completo idiota com você. Eu não deveria ter agido daquela forma, mas eu acho que, no final, eu tinha medo…

— Medo de que? — Hea perguntou após um novo silêncio.

— Medo de que pudesse me apaixonar por você — resolveu ser direto — Eu tinha medo de me apaixonar por você, de acabar pagando pelas coisas que te disse. Eu nunca fui um bom amigo e você sempre esteve ao meu lado. Eu nunca fiz nada por você, mas você sempre me apoiou, sempre teve um sorriso e um incentivo para mim. Mesmo agora, com o estado de saúde de papai, você esteve do meu lado, me ouviu, me apoiou e me ajudou. Sempre esteve presente, me confortou e me permitiu chorar em seu ombro… Eu… Me sinto envergonhado por não ter sido bom com você.

— Não precisa se sentir envergonhado por isso, Sun. Somos amigos. Não tem que se desculpar. É normal na nossa idade agirmos como bobocas, e eu jamais te abandonaria em um momento como esse…

— Não. Não há justificativas para mim. A verdade é que… Eu sempre quis me afastar de você porque… Porque eu… Você é tão especial e eu… Eu acho que sempre gostei de você.

Um silêncio constrangedor se instaurou entre os dois. Sun, olhando para as mãos, os cotovelos apoiados nas pernas, sentia como se mil toneladas começassem, enfim, a sair de suas costas.

— Eu sei que você sempre gostou de mim e eu sei, eu tenho consciência de que fui um babaca com você, mas… Eu realmente quero namorar com você. Eu quero ter um compromisso com você. Eu assumo que gosto de você, sempre gostei. O que acha?

Sun finalmente a olhou. Sua expressão era de ansiedade e Hea tinha os olhos cheios de lágrimas. Eles brilhavam como as estrelas daquela noite até que um sorriso discreto e cansado tomou forma no rosto da jovem.

— O que eu acho? — ela o olhou intensamente, uma lágrima caindo de seus olhos. Sun nervoso por vê-la chorar — Eu acho que você foi um grande babaca sempre.

— Hea…

— Eu sempre te ofereci o meu melhor. Eu sempre fiz o que podia. Até mesmo o que não podia eu fiz por você, mas você nunca me notou ou, como falou agora, se esforçou para não me notar, então aceitei ser sua amiga e ficar por perto de você como podia ou quando fosse necessário.

“E isso… é muito estranho que esteja falando isso agora, que esteja realmente interessado em me namorar. Estamos saindo a, o que? Um mês? É… É isso! Será que, finalmente, consegui conquistar o difícil Wang Sun? Acho que sim, de fato. O que acontece, Sun, é que, agora, quem não quer mais sou eu.

“Eu não sou capaz de ter um relacionamento com uma pessoa que acha que eu sou uma insuportável. Uma garota chata e irritante que pega no seu pé desde a infância. Eu não quero estar com uma pessoa que me vê como um peso… como um encosto… ”

— Hea… Quem te falou isso?

— Você mesmo — ela continuou — Lembra quando você disse para a Midori que não suportava mais ter que conviver comigo? Lembra quando você falou para ela que eu era uma insuportável e que nada em mim era agradável? Lembra quando você disse para ela que iria sair comigo? Forçado? Que essa seria a sua pior experiência de vida e que desejava que fosse a Midori e não eu a se encontrar com você? Lembra que você só saiu comigo por que fez uma aposta com o seu irmão?

— Você… Conhece a… Midori? — os olhos arregalados de espanto por aquela revelação.

— Sim… Eu conheço. E foi realmente terrível saber que eu era um estorvo na sua vida.

— Como vocês… Se conhecem — ele engoliu em seco — Faz muito tempo que não falo com ela, eu…

— Eu sempre joguei e nenhum dos esportes que eu fiz foi com a intenção de te conquistar. Pelo contrário, eu sempre fiz o que gostava independente do que os outros iriam falar ou pensar de mim. E sabe o que aconteceu comigo? Eu fui feliz. Aproveitei cada momento da minha vida da melhor forma, de forma completa. Não tenho arrependimento. E… respondendo sua pergunta, eu conheço a Midori desde que ela entrou no universo dos jogos on-line. Na verdade, assim como você, Midori só surgiu porque eu fiz isso.

— Hea… Você é a Midori? — Sun estava surpreso demais com tudo o que ouvia.

— Muito prazer, Sunatic — ela lhe estendeu a mão — Como você sempre desejou, finalmente nos conhecemos. É uma pena que as coisas não tenham sido como esperávamos.

— Mas… Faz muito tempo que falei sobre essas coisas para ela… Nós saímos, você nunca falou sobre nada, nunca sequer pareceu triste…

— Eu fiquei triste, sim. Não é legal descobrir que a pessoa da qual você gosta pensa essas coisas de você, mas eu resolvi deixar para lá. Decidi fazer de conta que não sabia de nada e seguir com nossa amizade… Isso, até agora. Não vou esconder mais nada de você. Também não posso dizer que não sinto nada por você, que todo o sentimento acabou de uma vez, mas também não posso mentir dizendo que vou passar por cima de tudo, de toda essa situação, esquecer e namorar com você. Seria falso da minha parte.

— Hea… Eu… Sinto muito.

— Eu sei que sente. E sei como se sente. Mas, me desculpe… Eu não posso aceitar o seu pedido…

Não agora...

Ao falar isso, Hea levantou-se de onde estava e, lhe oferecendo um sorriso discreto, caminhou em direção aos convidados deixando Sun desacreditado com o que acabara de descobrir.

Nunca imaginou que Hea soubesse sobre Midori, ou melhor, jamais passou por sua mente imbecil que as duas pudessem ser a mesma pessoa. Mas era claro que seria assim: Midori sempre fora tão gentil e atenciosa, tanto quanto Hea era com ele pessoalmente. Sempre presente, disposta a ouvir e aconselhar. Disposta a fazer o que pudesse para lhe ver feliz.

Como pôde ser tão idiota e por tanto tempo? Como pôde falar tantas coisas estúpidas sobre Hea para Midori. Como pôde ser tão imaturo, tão infantil ao ponto de fazer uma garota tão especial como Doh Hea sofrer.

Olhando ao redor, percebeu que a jovem entre os convidados, sorrindo ao lado do pai, lhe dedicando olhares discretos, entristecidos. Revoltado por tudo o que fizera, Sun levantou-se da solidão daquele banco vazio, adentrou a sala, passou entre os convidados e, desejando não ser mais incomodado naquela noite, rumou para os corredores da mansão, em direção ao seu quarto. A noite já tinha passado dos limites para ele.

***

O casamento finalmente acabou, mas o desgosto da filha de Hansol e Ah Ra não. Yun Mi acompanhou os convidados acenarem, sorridentes, para a limusine se afastar da propriedade Wang e sentiu uma raiva tão grande que cerrou os punho da mão esquerda, a mão que ostentava um anel caríssimo de compromisso, até que os nós de seus dedos ficassem brancos.

Não conhecia um terço daquelas pessoas, a grande maioria convidados da família Choi, já que a sua estava completamente em pedaços. Aquele bando de rostos que ela nunca vira, felizes em vê-la afundar sua vida em uma amarga mentira.

Conseguiu ver Taeyang ao lado da mãe, que ela nunca perdoaria, sem esboçar nenhum prazer no rosto enquanto os demais acenavam. A seguir, o irmão mostrou um leve aceno de cabeça, pateticamente desejando que ela encontrasse uma forma de enfrentar tudo aquilo.

De todos seus irmãos, Taeyang foi o único que lutou até o último momento para ajudá-la. Ele, apesar de ter tantos problemas relativos à empresa, se trancou com sua mãe por quase duas horas no escritório e a bombardeou com sua indignação por aquilo que ele chamava de “ato medieval”.

Yun Mi e ele também tiveram uma conversa definitiva naquela manhã, o irmão entrando pela porta entreaberta do quarto dela e a avistando observar o lindo vestido escolhido por sua mãe para a fatídica cerimônia em cima da cama.

— Nunca pensei que diria isso, mas mamãe está ficando maluca…

— O que está feito, está feito — ela respondeu num sussurro entristecido.

Taeyang caminhou até onde a irmã estava e pegou-a pelas duas mãos. Carinhoso e atencioso como sempre fora com ela, fez sua última oferta:

— Não sei como pode ficar a saúde de papai, porém posso pensar num modo de esconder isso dele enquanto está fraco… Yun Mi, se quiser fugir ainda dá tempo. Eu te apoio, empresto meu dinheiro para que não tenha de usar o cartão de crédito. Você pode pegar um voo para os Estados Unidos ou algum país da Europa e ficar algumas semanas por lá. Quando eu mudar a cabeça da nossa mãe, você volta.

Taeyang nunca saberia sobre o nó na garganta seguido de uma onda terna que percorreu o corpo de Yun Mi por aquele gesto do irmão. Soltando-se do toque dele, tratou logo de responder:

— Não se preocupe demais comigo… e eu não vou fugir.

Choi Jin In, dividindo o banco de trás com a sua recém-esposa, enquanto o motorista particular atravessava a portaria da Mansão da Lua e ganhava a avenida principal, desceu o olhar para mão de Yun Mi e perguntou calmamente:

— Algum problema?

Yun Mi virou-se para ele de prontidão. Seus olhos faiscando de ira anunciaram o teor de suas palavras antes mesmo delas chegarem:

— Tivemos uma conversa civilizada mais cedo e isso não significa que eu estou te dando alguma liberdade. Faça o favor de não me dirigir a palavra, a menos que seja muito importante.

Com isso ela concluiu, aquele sonso finalmente se calou e ela voltou a se concentrar na sua revolta, internalizando tudo para si e imaginando se um dia poderia, ou descobriria uma forma realmente cruel de se vingar de todos que a colocaram naquela situação.

Como exigido por ela, a única das suas exigências que foi escutada em meio ao circo armado por seus pais, não houve Lua de Mel. Os recém-casados deixaram a casa dos Wang e partiram direto para o apartamento comprado pelo pai de Choi Jin In, exclusivamente para seu amado filho único gozar a vida de casado. A localização do imóvel mostrava o requinte que ofertaria aos seus moradores. Era um apartamento milionário numa área extremamente sofisticada de Busan.

Yun Mi saiu do carro, ignorando a ajuda do noivo, que abriu a porta e lhe estendeu a mão, se oferecendo a ajudá-la em meio a sua locomoção desajeitada devido a cauda do vestido, ridiculamente espalhafatoso, que Ah Ra havia escolhido. Carrancuda, a mulher deixou Jin In com a mão estendida para o vazio e caminhou sozinha, erguendo a barra da saia como podia, para os elevadores.

Nada do noivo carregando a noiva. Nada de beijos ou gentilezas, carinho ou olhares apaixonados. Yun Mi não sabia ao certo o que se passava na cabeça do homem com quem dividiria uma casa, nem sua cor, comida ou seu esporte preferido. Nem mesmo sua data de nascimento ela conhecia… E ela dava a mínima para qualquer uma dessas informações. Poderia matá-lo com o olhar se odiar tanto uma pessoa pudesse chegar a esse ponto.

Durante o restante da cerimônia ficou pensando no modo respeitoso como ele veio lhe falar na sessão de fotos e começou a acreditar que tudo deveria fazer parte de um plano para dobrá-la logo e levá-la a dizer o “sim” mais rápido. Pois ele que não cumprisse com a sua parte no acordo… Ele que não se separasse dela no período de um ano!

Sim, ela o odiava também. Tanto quanto odiava a mãe, os sogros, os irmãos, o pai… quanto tudo!

Contrariada pelo novo bloqueio, Yun Mi parou na frente do apartamento e ficou esperando Choi Jin In surgir no corredor. Não esperou por ele no elevador. Apesar de não conhecer o imóvel, sabia que cada andar era destinado a um apartamento e que o deles era o décimo quinto piso, logo aquela porta só poderia ser de sua nova casa.

Vendo-o caminhar para a sua direção, esperou que ele viesse reclamar. Estava ansiosa por isso, na verdade. Entretanto, o homem se aproximou dela, muito elegante em seu smoking escolhido para o casamento, disse numa voz que definitivamente não puxava briga:

— Nossa senha é 1212 — informou, digitando no painel para destravar a porta — É a data do meu aniversário… Mas pode mudar quando quiser — emendou sorrindo calmamente.

— Disso você pode ter certeza — ela retrucou, altiva, e chispou para dentro do apartamento logo que a tranca cedeu com um estalo.

Do lado de dentro, a herdeira Wang teve de se controlar para não soltar uma exclamação de surpresa. Embora tivesse lhe sido oferecido pela cretina da sogra, que ela jamais chamaria de mãe, conhecer o local, Yun Mi nunca pisara lá dentro antes.

Suas roupas foram trazidas pela mãe, do dia para noite muito amiga da senhora Son, e de resto nada fora planejado, montado ou pensado por ela, mas o resultado final ficara magnífico. Além da arquitetura ampla e moderna, era óbvio que os móveis eram importados, todas as peças únicas, e a decoração de muito bom gosto. Tons em cerejeira, lilás e vermelho, como ela gostava tanto.

— Você ainda não havia conhecido o apartamento, não é? — Jin In aproximou-se dela, perguntando no seu tom manso e odiosamente paciente — Não sabíamos bem como você gostava das coisas, mas fizemos o melhor que conseguimos. Tive uns dias de folga do trabalho e decorei o local com a ajuda de nossas mães.

— Hum…

— As cores, acho que estão do seu agrado. Pelo menos no seu quarto você usa muito do lilás e vermelho…

— O quê? Você esteve no meu quarto? Quando? — Yun Mi virou-se para ele, indagando-o, chocada.

— Ah, foi um dia desses de semana que você estava trabalhando — ele respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Isso ferveu o restante do sangue que ainda não tinha entrado em processo de ebulição dentro dela.

— Regras de convivência, escute aqui, porque vou falar uma vez só. Sua primeira lição é: não sou uma pessoa que repete ordens, então muita atenção — virou-se para ele lhe apontando o dedo, a voz para lá de agressiva — Estamos casados por motivos de negócios, como bem sabemos. Minha família está falindo, meu pai morrendo e eu sou apenas a filha mulher no meio de um bando de homens imbecis e egocêntricos.

“Esses são os motivos de eu estar aqui, vestida de noiva, na sua frente, com um papel me unindo legalmente a você. Nossa relação de casados começa e termina aí. Não sou sua esposa, não gosto de você, não agradarei você, não chamarei sua mãe de “mãe” e seu pai de “pai”… E …. E se quiser me ter de alguma outra forma, saiba que… Que eu desejarei sua morte ao mesmo tempo que terminarei de ser despedaçada por dentro… Em outras palavras, fique o mais longe possível de mim , se quiser que eu tenha alguma empatia por você”.

E falando isso, partiu, desorientada, para o quarto (que ela errou a porta três vezes até descobrir onde ficava).

Choi Jin In encarou a porta fechada, imaginando que tipo de vida teria dali em diante. Ele também não conhecia aquela garota, mas tinha certeza que ela o conhecia ainda menos por achar que ele, em algum dia, encostaria a mão numa mulher sem seu consentimento.

Yun Mi acordou atordoada, sentindo o rosto quente e marcado pelo vinco da colcha na cama. Um barulho irritante a havia despertado e ela logo identificou o som como sendo o de toques insistentemente pontuados contra a madeira da porta.

Enquanto se levantava da cama tropegamente, viu sua imagem através do espelho amplo que fora instalado na parede à direita da cama. Seguiu odiando seu reflexo. Ainda estava com o vestido de noiva, a seda totalmente desgrenhada agora, assim como o penteado que demorara quatro horas para ser feito e a maquiagem, borrada.

— O que é? — perguntou mal humorada, pouco se importando se ele a observava decomposta quando abriu a porta.

Jin In, que já estava mais à vontade, havia tirado o smoking e a gravata, falou  com aquela calma enervante:

— Já passam das onze da noite… Preciso dormir…

— Precisa, é? — ela arqueou uma das sobrancelhas, debochada.

— Sim, minhas coisas estão todas aí e… — ela começou a fechar a porta na cara dele, mas teve sua ação bloqueada pela mão do rapaz espalmando a porta.

— Tire essa mão daí já!

— Eu estou falando…

— E daí? Eu não disse que queria distância? Quer suas coisas? Pegue amanhã quando eu tiver ido para a empresa depois das sete.

— Sinto muito, Yun Mi, mas esse quarto também é meu — ele respondeu num tom diplomático, mas passou por ela, a empurrando de leve para o lado, entrando no ambiente.

— Então pegue suas porcarias logo e suma daqui!— ela exclamou a ponto de berrar.

— Você não comeu nada o dia todo… Eu fiz algo… Está na cozinha… — ele continuou, ignorando os chiliques dela e indo para as gavetas da cômoda à procura de peças de roupa mais confortáveis.

— Pare de tentar se preocupar comigo. Eu não disse que… O que está fazendo?

— Arrumando a cama — comentou, retirando as almofadas da cabeceira e depositando na poltrona ao lado da janela.

— Eu arrumo sozinha. Pegue suas coisas e suma daqui.

— Você não entendeu, eu vou dormir aqui. Essa cama também é minha.

— QUE? — ela arregalou os olhos — Só pode ser brincadeira…. — riu com nervosismo e rolou os olhos para o teto — Eu não vou dividir a cama com você.

— Tudo bem quanto a isso. Você não me deixou falar nada mais cedo — Jin In disse, desabotoando as mangas da camisa — mas eu concordo com você. Tivemos que casar por conveniência de nossos pais, porém apoio totalmente sua decisão de não me querer por perto… Somos meros desconhecidos afinal…

— O q-que você está fazendo agora? — ela perguntou, o rosto ficando quente ao vê-lo desabotoar a parte da frente da camisa e retirar a peça calmamente, tendo ela como plateia. Seu abdômen e seus braços atordoantemente definidos fizeram a moça piscar — Pare com isso…

— Estou colocando uma roupa mais confortável porque tive que aguentar o dia todo com esse smoking — ele replicou dando de ombros.

Ela quis estrangulá-lo por tamanha petulância, mas a seguir seu rosto se afogueou absurdamente quando ele começou a tirar a calça.

— PARE COM ISSO!!! — Yun Mi correu para a cama, ensandecida, e jogou duas almofadas que ainda não haviam sido retiradas da cabeceira na direção dele.

— Então saia daqui, oras — Jin In respondeu, desviando das almofadas enquanto ficava apenas de cueca boxe diante dela — Não estou te obrigando a me ver me trocando…

— Seu imundo! — ela esbravejou, mais envergonhada do que revoltada, e saiu às pressas do quarto vendo sua dignidade perdida no chão.

Uma vez no corredor, se apoiou contra a parede e esperou um minuto inteiro para que o afogueamento do rosto fosse embora. Então, novamente munida de ódio, começou a abrir as portas do apartamento, uma a uma, em busca do segundo quarto.

Um escritório. Um closet "Por que ele tinha que pegar roupas na gaveta se tinha tantas ali? Ah, cretino!". Uma sala de vídeo. Uma sala para exercícios. Uma sala inútil com duas poltronas esparsas e outra estante de livros… Que porcaria era aquela? Aonde estava o segundo quarto?

Bufando, retornou para a sala e quase tropeçou no vestido enquanto caminhava a passos duros pelo assoalho de madeira. Então, cega de ira, retornou para a cozinha, procurou uma tesoura e se pôs a cortar toda a barra do vestido de noiva sem nenhum remorso.

Yun Mi largou a parte destruída da roupa no piso frio perto daquele cômodo e retornou para o quarto, onde encontrou o cretino com quem tinha se casado, na cama, já debaixo das cobertas. Pensou em tirar satisfação sobre aquela disposição absurda dos cômodos, mas sabia que se fizesse isso iria entrar ainda mais no jogo dele.

Decidindo-se pelo contrário, angariou um dos travesseiros da poltrona e saiu batendo a porta com força e sem apagar a luz. Durante todo o tempo, ele permaneceu de olhos fechados, fingindo dormir.

Novamente na sala, a herdeira Wang descobriu que o sofá muito bonito era também muito desconfortável, provavelmente escolhido por sua mãe e, diga-se de passagem, ela nunca havia dormido em um sofá. Aquilo tudo já estava para lá de humilhante. Yun Mi realmente quitava alguma dívida séria com um ser celestial para merecer tal destino.

Ainda com o vestido de noiva, agora destruído, virou de lado no sofá e procurou uma posição melhor contra o estofado. Engoliu o choro diversas vezes e tentou dormir novamente. Já haviam se passado muitas horas e ela ainda não estava com sono, mas sim com uma baita dor nas costas.

Humilhada como nunca pensou na vida que seria desde que aquele casamento foi inventado, a mulher se arrastou para o quarto novamente. Desta vez, Choi Jin In não poderia fingir. Ele estava ressonando baixinho, debruçado sobre o colchão, o rosto virado para o outro lado.

Com cuidado para não acordá-lo, e não porque ela não queria atrapalhá-lo, mas porque não queria vê-lo espiando sua volta penosa para o quarto, Yun Mi deitou-se no outro extremo da cama, o mais longe possível dele e cobriu-se.

Olhando para a escuridão que rodeava o ambiente, prometeu a si mesma elaborar uma vingança à altura daquela que ele armara para ela naquela noite. Ela era boa em pensar nessas coisas, concluiu sorrindo para o vazio, mas na verdade querendo chorar.


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Notas finais do capítulo

¹Hanbok é um tradicional vestido coreano e é usado como roupa formal ou semi formal durante as festas e celebrações tradicionais.

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo



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