Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 56
Ciúme, Bromance e Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Olá gente, como estão? Esperamos que tudo esteja em ordem com vocês.
Compromisso marcado é compromisso cumprido e chego aqui para trazer mais um capítulo da nossa fic, esse tem momentos legais, esperamos que gostem.
Queremos agradecer a todos os comentários do capítulo passado, aos novos leitores, às indicações de leitura... Vocês são demais, obrigada!

Desejamos uma ótima leitura, e não deixem de comentar dizendo o que acharam.

:*



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Shin saiu da mansão depois do café da manhã querendo descobrir por que Ha Jin não estava entre os empregados, e perto dos seus olhos, para que ele pudesse aquietar sua saudade. A melhora do pai nas últimas duas semanas deu à mansão um ar menos denso, e aos seus moradores, um pouco de alívio, mesmo que momentâneo tanto em relação ao senhor da casa como às problemáticas enfrentadas pela família.

O herdeiro se esgueirou sutilmente pelas dependências externas da propriedade na chance de vislumbrar a garota nem que fosse de longe e, nos jardins, parou ao lado de uns arbustos quase da sua altura, contemplando a paisagem ampla ao mesmo tempo que coçava a nuca e remexia no cascalho com o bico do sapato.

Uma olhadela para a direita, na direção da piscina externa e da lavanderia e nenhum ser humano foi avistado. Outra espiada para a esquerda, aonde ficava o alojamento dos funcionários e a sauna, e ninguém parecia habitar aquele ponto também.

Era ridículo, ele pensou, que tivesse se comportando como um espião condenado dentro de sua própria casa. Antes, se ele quisesse, poderia caminhar por qualquer lugar dali e perguntar a qualquer um, onde diabos havia se enfiado a governanta da casa. Afinal ele era o patrão e não havia nada mais natural do que um patrão precisar conversar com a empregada chefe da residência de vez em quando, ou havia?

Shin estava prestes a sair da moita e fazer exatamente isso, quando o som de pés atritando contra o cascalho o fez paralisar. Descendo o percurso de pedras no sentido do alojamento, dois homens desconhecidos vinham conversando:

— Estou te dizendo, Woo… Ela é a coisinha mais linda que meus olhos já tiveram o prazer de ver…

— Aishh… Você fica parecendo um bobo quando gosta de uma garota. Pare com isso, homem! Esse negócio de você ficar apaixonado sempre me assusta. Da última vez que gostou de uma mulher assim, ela acabou com seu limite no banco, não se lembra?

— Pare de ser implicante, aquilo foi um erro e está no passado. Com essa é diferente, estou te dizendo, e ela parece uma integrante do Girls’ Generation. É pequena, delicada, linda, graciosa… Ah, e tem um sorriso tão único…

— Como sabe do sorriso dela, oras?

— Ela já sorriu para mim.

Curioso para descobrir quem eram os portadores daquela conversa boboca, Shin inclinou o corpo para frente e, semicerrando os olhos, observou entre as folhas do arbusto, dois rapazes mais ou menos da idade de Eujin, vestindo bonés e uniformes do Serviço Expresso de Entregas, encaminhando-se para o prédio do alojamento.

De repente, um deles parou estarrecido e apontou para a frente, alertando o outro. Shin acompanhou a mão do rapaz e olhou para o mesmo ponto:

— Ah, olha ela lá! Minha garota! — o entregador mais baixo indicou e, para o horror de Shin, era ninguém mais, ninguém menos, que Ha Jin saindo do prédio dos funcionários e andando concentrada, uma sacola nas mãos, para a sauna.

Ele se deu meio segundo para entender o que seus ouvidos escutaram. Era possível que estivesse ouvindo direito? Aquele petulante acabara de chamar a sua namorada de “minha garota?”.

— Uou! Ela parece bonita, mesmo! — o outro imbecil, que precisava de uma bela dieta, parabenizou o colega com uma palmadinha no ombro — Vá lá. É sua chance. Ela está indo sozinha para aquele lugar… Fale de uma vez que quer sair com ela, Ho.

— Se-será?

— Claro…

— Que não — completou Shin, saindo de trás dos arbustos para encerrar aquela conversinha fiada com tanta determinação que assustou os dois homens.

Shin pouco se importou em ver olhos arregalados e rostos pálidos, ele não estava no lugar daqueles dois, que viam a face agressiva do herdeiro Wang se aproximar do nada e cortar a conversa como uma katana afiada. Ao contrário, Shin manteve seu semblante ameaçador e repetiu para o caso deles sofrerem de surdez aguda:

— Claro que não, eu disse. O que você está achando, rapaz? — se virou para o mais baixo, o que dormiu numa bela noite e acordou ainda sonhando que Ha Jin era a “garota dele” — Aqui não é lugar para namoricos e muito menos para ficar perseguindo e cantando funcionários da casa.

— De-desculpe, senhor — o jovem se encolheu, rosto ruborizado. Seu amigo, entretanto, era mais linguarudo.

— Entendemos senhor — disse, após uma pequena vênia na direção do Wang — mas é que meu amigo está muito a fim de uma garota que foi para lá… — apontou para onde Ha Jin havia entrado e Shin realmente teve vontade de ser samurai numa época livre de leis rigorosas para inutilizar aquele dedo intrometido — Você deve ser o patrão pela roupa chique e, então, deve conhecê-la. O senhor poderia nos dizer, seria de grande ajuda, a que horas ela sai do serviço para que o meu amigo possa encontrá-la e ter uma chance de se confessar…?

— Ela não sai — ele atirou as palavras.

— Ela não sai?

— Não. Ela mora aqui vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana — rebateu, ríspido.

— Mas como isso é possível? Senhor, as classes mais baixas precisam de folga de vez em quando também… Não estou aqui para dizer como os senhores devem cuidar de seus funcionários, mas…

— Você quer morrer? — Shin o interrompeu.

— Co-co-como?

— Eu perguntei se vocês querem morrer? — voltou a rosnar, olhando mais para o pobre rapaz que havia confessado sua paixão secreta por Ha Jin e não sabia aonde enfiar seu rosto vermelho, do que para o outro, que persistia em sua petulância.

— Não nos…

Sem nenhuma delicadeza, Shin puxou a caixa que o rapaz mais baixo trazia nas mãos e observou em busca da identificação.

— Isso aqui é encomenda nossa? — perguntou num tom de voz tão seco que poderia facilmente transformar o Oceano Pacífico em um deserto. Olhando o remetente, viu o nome de Sun impresso na etiqueta — Onde eu assino?

— Quê?

— ONDE EU ASSINO? — refez a pergunta, a voz mais alta e homicida.

— Ah… é aqui senhor… — o infeliz entregador lutou com seu indicador direito para que ele parasse de tremer e indicasse a linha correta que Shin deveria rubricar. O rapaz rabiscou sua assinatura com tanta força que quase rasgou o papel. A seguir, devolveu a prancheta, nada delicado, contra o peito do jovem, e informou:

— A partir de amanhã vocês podem deixar as encomendas na portaria, lá embaixo.

— Mas aqui… — o companheiro mais destemido tentou argumentar.

— Mas o quê? Podem ir, vão — enxotou os dois com movimentos de mão. Os entregadores já haviam percorrido alguns metros, o mais avantajado deles praguejando sobre abuso de poder e a falta de educação dos ricos, quando Shin se lembrou de um último aviso — Quanto a moça, ela é linda sim, mas você pode começar a investir em outra garota. Essa já tem namorado…

Ha Jin reabastecia os sabonetes, sais de banho, óleos e demais cosméticos nos armários, próximo à sauna, e pensava na grande perda de tempo que fora sua manhã ao ter de intermediar a briga de duas funcionárias encrenqueiras. O motivo da discussão fora banal, normalmente ela não se intrometeria, odiava esse tipo de coisa, mas os demais empregados a abordaram na metade do caminho para a cozinha, para que ela pudesse colocar aquelas duas em seus devidos lugares.

Ser a governanta da casa não estava sendo nada fácil. Nyeo fazia uma falta absurda, além dela não se sentir nenhum pouco à vontade em ser a “capitã do barco” na ausência da mulher mais velha. Isso sem contar que… Não, este era o motivo principal, a garota nem conseguira encontrar Shin no café da manhã.

Um barulho às suas costas despertou-lhe a atenção e magicamente, como se seus pensamentos pudessem se materializar, era justamente ele quem estava na frente dela, apoiado na parede, próximo à porta da sauna, com uma caixa na mão.

— Está aqui? — Ha Jin perguntou, olhando rapidamente na direção da entrada para ver se não havia mais ninguém com eles.

— Por que não foi me ver no café da manhã?

Mais relaxada ao perceber que apenas os dois compartilhavam aquele recinto, a moça largou os frascos vazios dentro da sacola e disse:

— Está se arriscando assim somente por que queria uma satisfação do meu paradeiro? — o provocou, segurando um sorriso envaidecido. Será que ele sabia que ela estava lamentando a mesma coisa?

— Desculpe te interromper, senhorita, mas eu preciso saber em que ponto estamos.

— Em que ponto estamos com o quê? — ela ergueu uma sobrancelha, notando, pela primeira vez, haver algo estranho nos modos dele — Eu sou a governanta principal da casa, não consigo estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Na manhã de hoje precisei ter uma pequena reunião com duas funcionárias que estavam se desentendendo nos turnos.

— Isso é uma reclamação oficial ao seu patrão? — ele desencostou da parede e começou a aproximar-se dela.

— Quer que eu te jogue nessa piscina, senhor Wang? — ela o ameaçou, o coração eufórico por saber que aquela tensão entre eles não era mais irreal ou produto de sua imaginação. Haviam se beijado, haviam se declarado e Ha Jin tinha todo o direito de beijá-lo do nada sem que parecesse uma louca ensandecida como quando o reencontrou meses antes.

Enquanto isso, o estômago de Shin sofria de calafrios. A trança bonita, jogada por cima do ombro esquerdo, e os lábios corados, eram elementos no visual dela que o herdeiro não estava preparado para lidar naquela manhã. Como se a jovem governanta exercesse um poder misterioso sobre seus sentidos, quase esqueceu de perturbá-la com a história do carteiro apaixonado, tamanha a vontade de beijá-la naquele instante.

— Eu quero que você me explique isso aqui — retorquiu, estendendo a caixa com a encomenda de Sun na direção dela.

Ha Jin, desconcertada, pegou o objeto com as duas mãos e analisou a embalagem atentamente.

— Uma encomenda para o seu irmão?

— Acabei de tirar das mãos de um famigerado que estava contando aos quatro ventos que está apaixonado por você — ele finalmente desabafou. Tentou fazer uma pose de gravidade, mas perto dela tudo se tornava mais difícil.

— Ah, o Gong Ho? — ela comentou, rindo ao entender de quem Shin falava.

— Você sabe até o nome dele? — a indagou, chocado.

— O que você fez com o rapaz? — Ha Jin encarou o namorado, juntando as peças daquele quebra-cabeça.

— Coloquei ele no no seu devido lugar — o Wang deu de ombros — A partir de agora, vai entregar apenas para a portaria. Não vejo nenhuma necessidade desse cara ficar subindo para a mansão.

— Ah! Que ótimo! — Ha Jin bufou, jogando a caixa de volta para ele, todo o romantismo do momento se quebrou em centenas de caquinhos de vidro. Shin piscou os olhos, receoso, enquanto a garota levava as duas mãos a cintura e ralhava — Agora temos de descer lá longe para buscar as encomendas e trazer para cá, no conforto dos seus aposentos, toda vez que algo chegar.

— P-peça para os funcionários lá de baixo deixarem aqui. Eles não sobem para comer no alojamento? — argumentou, inseguro.

— Os funcionários da portaria são de uma empresa de segurança terceirizada. Não temos muito contato com eles e eles não costumam subir aqui… Então obrigada, senhor Shin. Muito obrigada, mesmo. Já não tenho tarefas demais para lidar sozinha ultimamente — e se virou para o armário, carrancuda, terminando de trocar os produtos.

Deslocado, Shin coçou a cabeça e olhou para os lados. Não tinha muita experiência em namoros, porque toda sua vida sentimental se resumia em atrações rápidas e passageiras, mas achava que estava tendo uma briga de casal.

— Como eu ia saber? — resmungou. Ela continuou batendo os frascos de loção pós sauna, comprados por Ah Ra, para abafar os lamentos dele — Ah, pare de me ignorar… — o herdeiro Wang se impacientou, pegando-a pelo pulso e trazendo seu corpo para junto do dele — Sinto muito, eu não sabia…

— Você tem que parar de fazer isso também, Shin. Se não tiver confiança em mim, fica difícil a gente prosseguir em qualquer coisa… O garoto é só um garoto, não significa nada para mim, eu nunca gostei dele. E essa foi a última vez que eu me justifiquei para você.

— Vai me fazer ir lá embaixo e autorizar a entrada deles novamente, não é?

Ha Jin se desmanchou com o olhar de garoto apaixonado e amoleceu por dentro. Por fora, tentou manter a pose durona, sustentando o fitar intenso dos olhos dele e maneou a cabeça positivamente.

— O que você viu em mim? Por que começou a gostar de um cara tão complicado como eu?

Porque você é o meu passado, minhas lembranças mais incríveis e também as mais dolorosas. Porque, há mil anos, nós nos amamos mais do que um dia poderá imaginar e eu não quero perder essa chance de novo, ainda que o caminho seja igualmente complicado.

Em vez de trazer todas as respostas que passavam por sua cabeça, Ha Jin ficou na ponta dos pés e aplicou um selinho nele. Depois, se soltou do abraço viciante de Wang Shin e retornou para seu trabalho. Sentindo o toque dela nos lábios, ele sentiu-se obrigado a fazer o mesmo.

***

Eujin não conseguia entender como tudo em sua vida chegou àquele extremo. O pai, mesmo com sua melhora, estava debilitado com um câncer terminal, o irmão mais velho descobrindo que praticamente nada em sua vida era como ele imaginava que fosse, a empresa a qual o pai deu o sangue ruindo com acusações falsas, a irmã sendo obrigada a casar com um homem que mal conhecia e seu grande amor, a mulher com quem imaginou viver um bom tempo de sua vida, prestes a casar e abandoná-lo para sempre.

O que o mantinha firme era a necessidade de descobrir o que aconteceu com a empresa desde que Taeyang tinha sido vítima do ataque, o desejo de manter o patrimônio erguido por seu pai firme e livre de acusações juntamente com a obrigação de provar que Shin não tinha parte com nada do que era acusado. Esses eram os principais pontos que faziam com que ele, e seus irmãos, à exceção de Gun, se apoiassem e trabalhassem, finalmente, unidos em prol de um foco comum.

Foi até o computador e o ligou. Olhou as últimas fotos de Gun enviadas por Sun e não percebeu nada demais. Desde que o irmão saíra de casa que Sun, tentando ajudar a empresa e desconfiado do mais velho, assumiu o posto de detetive e o seguia, fotografando tudo o que achava pertinente e pudesse ajudar nas investigações. O caçula estava se saindo bem, mas ainda não lhes enviara nada realmente relevante. Olhou também um novo relatório enviado por Yun Mi que havia passado o dia na fábrica em busca de informações que pudessem ajudar. Ela era técnica demais e Eujin não estava com cabeça para aquele relatório agora.

Abriu o navegador e viu, na aba inicial, a foto de Taeyang, que ainda estava na empresa, acima do título “Wang Taeyang, quarto filho de Wang Hansol assume a liderança da Wang S.A. temporariamente.” — Não quero nem pensar na raiva que papai vai ter quando vir a foto de Taeyang na internet — comentou consigo mesmo e leu a matéria que especulava o estado de saúde de Hansol, assim como por que Taeyang, e não Gun, que era mais velho, assumira a liderança provisória da empresa.

A matéria ainda falava sobre a possível culpa de Shin e que o filho mais velho, Sook, abrira mão de toda a confusão e tomara para si sua própria empresa — Sensacionalistas… Como esse pessoal descobriu os nossos nomes? Realmente, não brincam em serviço... Será que algum dos acionistas que debandaram estava faturando um extra levando esses fatos tão íntimos a público...?

Voltou para a tela inicial do navegador e finalmente reparou o layout natalino. Se deu conta que aquela época de reunião e comemoração familiar se aproximava e que, mais uma vez, não seria comemorada por sua família.

Afastou os sentimentalismos e continuou sua pesquisa digitando Wang S.A. As várias notícias sobre a queda das ações da empresa, sobre os investidores que abandonaram e pediam seus lucros, sobre o estado de saúde de Wang Hansol assim como uma matéria falando sobre o processo da Busan Yong Motors contra a Wang S.A. não foram capazes de lhes chamar a atenção como uma que fez seu peito gelar. O título era “Nahm Gong diz não acreditar nas acusações levantadas contra a Wang S.A.”

— Nahm Gong? — Eujin reconheceu o nome apresentado na notícia e, com um clique incerto, abriu o link para ler sobre o que se tratava.

Em suma, a notícia era uma rápida entrevista com o dono da Nahm Auto e sua opinião sobre o suposto crime cometido pela Wang S.A. Nela, o senhor afirmava que maiores investigações deveriam ser feitas, que a empresa de Wang Hansol era antiga e bem fundada, com boas referências e que uma acusação daquele nível era, no mínimo, estranha.

Porém, o que mais chamou a atenção do jovem foi o final da matéria. Nela, uma foto de Nahm Gong, ao lado de sua esposa e sua filha, sua Hye, sorridentes. Abaixo, um breve comentário sobre o casamento da herdeira com o filho de Kim Woo, Kim Pyo, para dalí a seis meses, em vinte de junho.

Aquela informação caiu como uma pedra de gelo sobre o coração de Eujin. Seus olhos, entristecidos, embaçaram com as lágrimas que se formaram, e levaram para seu cérebro a certeza daquele sonho terrível. Mas ele prometeu a si mesmo que não choraria mais, não por ela, não por aquele sentimento mentiroso que ela falsamente alimentou.

Fechando o notebook com brutalidade, Eujin saiu de seu quarto em direção aos jardins. O peito doía demais naquele momento, sentia-se sufocado. Queria esquecer de tudo o que viveu, queria sumir, mas o que ele fez foi parar no meio do corredor, desviando seu caminho de volta, se aproximando da última porta que seus olhos alcançavam.

— Shin? — chamou enquanto batia de leve na porta — Por favor, irmão, não me abandone também.

— O que foi agora, moleque? — o mais velho e sua expressão de poucos amigos abriu a porta segundos depois — Quanto drama. Deveria repensar seu apreço pela música e tentar o teatro.

— Eu estou mal, irmão, não começa — Eujin, bem mais alto que Shin, se aproximou dele e curvou-se, escondendo a cabeça no ombro do mais velho, liberando o corpo e o peso que carregava nos ombros ao se apoiar no irmão — Eu sinto que tudo dentro de mim está sem rumo. Eu não sei mais o que fazer…

— Está chorando? — Shin perguntou compadecido em resposta a voz embaçada do irmão, levantando as mãos para abraçá-lo.

— Claro que não! Não tenho motivos para chorar — o mais novo negou, os olhos úmidos, entrando de uma vez e se jogando na poltrona no irmão, Shin com os braços levemente levantados do abraço não dado virou-se para ele — Só estou preocupado com as coisas que têm acontecido com nossa família.

— Sei… — Shin fingiu não perceber o irmão enxugar os olhos, caminhando até a cama — E no que eu posso te ajudar? Eu nem mesmo sei nada de mim.

— Não fale essas coisas. Já falamos várias vezes que nada muda.

— Você diz isso porque nada dessas coisas aconteceu com você. Estou afastado da empresa, sendo acusado de algo que eu não fiz e minha vida toda, o que acreditei que era minha vida, não me pertence… Isso tudo é bem simples. Nada muda.

— Tudo bem. Desculpe. Eu sei que aconteceu muita coisa e não deve ser nada fácil viver tudo isso, mas quando eu digo que nada muda é que, para mim, e para nossos irmãos, realmente nada mudou. Eu sei que você foi afastado injustamente, tenho certeza mais que absoluta que não foi o culpado pelo roubo do nosso carro e, de verdade, me desculpa o comentário, mas muita coisa se explica agora que sabemos que você não é filho da senhora Min-joo.

— Olha lá o jeito como fala — Shin jogou um dos travesseiros contra o mais novo que o agarrou para si, apoiando a cabeça sobre ele — Eu não sei o que pensar sobre tudo isso. Acordei acreditando em algo e fui dormir sabendo que nada daquilo era verdade. É tudo muito confuso e ainda tem papai nesse estado.

— Você já conversou com a governanta Nyeo? Já faz muitos dias que ela saiu da mansão. Não que Ha Jin não dê conta, mas tenho medo que ela não volte.

— E por que tanto medo? Ela é só a governanta.

— A melhor de todas. Gosto dela. Aquele jeito grosseiro dela é tão legal… Tão charmoso…

— Como se atreve a falar dela assim? Respeite Hin Hee, seu moleque…

— Não estou desrespeitando, mas… Essa sua grosseria… — colocou a mão no queixo, pensativo — É aquela grosseria que a gente sabe ser cheia de carinho e boas intenções… Agora sei a quem você saiu.

— Pare de falar sobre esse assunto.

— Onde ela está?

— Acho que ela foi para a casa dos pais, no interior… — respondeu acanhado, pensando que esses senhores eram seus avós.

— E você não vai procurá-la? Falar com ela?

— Não — foi enfático — Ela me escondeu a verdade por anos. Ela, papai e minha mãe… A senhora Min-joo. Todos me enganaram. Não tenho por que procurá-la.

— Você sabe que está sendo injusto, não sabe?

— Quem é você para falar assim comigo, seu fedelho? Sou seu irmão mais velho e você me deve respeito.

— Eu te respeito, irmão, mas não posso ficar calado quando vejo você agindo como um idiota.

— Moleque…

— Pode me bater, se quiser, você tem seu direito, mas isso não vai mudar o fato de que está agindo como um idiota. A governanta Nyeo sempre te tratou com estima e carinho. Ela pode não ter assumido o papel publicamente, mas ela sempre te tratou como filho. Se ela escondeu tudo isso, conhecendo papai como conheço, tenho certeza que ela foi obrigada…

— Não quero ouvir sobre isso…

— Não quer porque sabe que eu tenho razão. Eu acho que você deveria dar uma chance para a governanta e ouvir a versão dela. Tenho certeza que tem o dedo podre do papai e, talvez, do vovô, nessa história.

— Era isso o que você queria quando veio me perturbar no meu quarto? Se for, pode sair ou vou embora de uma vez.

— Não me ameace. Pare de ser tão insensível. Você é meu irmão mais velho, tem que cuidar de mim e me proteger. Não percebe que não estou bem?

— O que você quer?

— A Hye… Ela vai se casar daqui a seis meses.

— E o que você vai fazer sobre isso?

— O que você quer que eu faça? Ou melhor, o que eu posso fazer?

— Algumas semanas atrás eu te vi revoltado porque papai e a senhora Ah Ra decidiram casar Yun Mi e agora está aí, aceitando o mesmo destino que deram para a Nahm Hye.

— Ela aceitou casar porque quis. Ela poderia simplesmente dizer não.

— Da mesma forma que Yun Mi poderia dizer não? O caso delas é idêntico. Será que não percebe?

— Eu só queria que ela tivesse me contado desde o início. Eu não sei o que fazer.

— Só faça alguma coisa — uma terceira voz adentrou na conversa chamando a atenção dos dois — Não fique parado observando tudo o que acontece enquanto permite que a mulher dos seus sonhos seja levada por outro.

Taeyang afrouxava o nó da gravata enquanto sentava ao lado de Shin, sobre a cama. Parecia exausto, mas resolveu participar daquela pequena reunião ao ouvir vozes e perceber a porta do quarto do irmão aberta. Se existia alguém que poderia falar aquelas palavras com certeza de causa, esse era Wang Taeyang.

— Muito me admira você, o Wang que planejou me mandar com Na Na para Seul para que ficássemos a sós, assim, desconsolado sem saber o que fazer da vida.

— Mas eu não fiz nada… Foi tudo uma feliz coincidência… — o mais novo tentou brincar, mas seu semblante abatido o trapaceava.

— Não tente ludibriar minha inteligência, pivete…

— Vocês tiraram o dia para me insultarem? — Eujin perguntou irritado — O fato de serem mais velhos não lhes dá o direito de…

— Pare de ficar se lamentando da vida e faça alguma coisa por vocês. Já tentou, ao menos, conversar com Nahm Hye e saber como ela se sente sobre tudo isso? — Taeyang foi objetivo, interrompendo a fala do outro.

— Não — a expressão desolada tomando conta dele. O corpo desmanchando sobre a poltrona.

— Muito bonito… — Shin continuou — Era mesmo você que estava aqui segundos atrás me falando para procurar Hin Hee?

— Bem…

— Não há desculpas — Taeyang continuou — Procure a garota e pergunte como ela está. Procure saber o que ela pensa sobre isso tudo. Veja o que está acontecendo com Yun Mi. Como você sabe se ela não está passando pelo mesmo? E você — voltou-se para o mais velho enquanto Eujin apoiava a cabeça nos joelhos, os pés sobre a poltrona — Realmente precisa falar com a governanta Nyeo.

— Não vamos mudar o foco da conversa — Shin desconversou — Você, entenda, ela pode estar sendo forçada a isso.

— Quem pode estar sendo forçada a o que? — Jung perguntou, ao lado de Sun. Ambos entrando no quarto também. Suas expressões igualmente abatidas, os olhos do mais novo inchados e avermelhados.

— Seu quarto parece um ponto de encontros, Shin — Eujin comentou tentando ser engraçado e falhando miseravelmente mais uma vez.

— Não estamos para gracinhas — Sun se jogou sobre o tapete no chão, Jung o seguindo, pegando um dos travesseiros antes.

Shin não pôde evitar se surpreender. Havia um tempo que percebera o distanciamento de Jung. Ele pensou, embora não tenha comprovado, que a rejeição que sofrera de Ha Jin tenha feito com que Jung negasse os laços sanguíneos como uma retaliação por ter sido ele a roubar o seu primeiro amor, mas talvez, todos os problemas que enfrentavam ultimamente tivesse lhe dado uma nova percepção da vida. Ficou feliz ao perceber que presenciava seu amadurecimento.

— O que você tem? — Taeyang se rendeu ao colchão do irmão e se deitou olhando para o teto — Problemas com Doh Hea?

— Por que vocês sempre falam dela quando estou por perto? — Sun perguntou irritado, o peito disparando por ela ter sido citada.

— Porque sabemos o que sente por ela — Jung respondeu a pergunta — Soubemos antes mesmo de você.

— Fico feliz em ter tantos irmãos com poderes paranormais. Acho que podem seguir carreira caso nada em suas vidas dê certo.

— Viu só… Já temos como te manter até você ter vergonha na cara e conseguir um emprego — Eujin soltou e os outros riram em uníssono. Era bom que pudessem viver algo assim em meio a tantas tristezas.

— Você tem sorte que estou sem paciência para perder meu tempo com você agora… — Sun soltou carrancudo e Eujin se aproximou dele, lhe roubando um beijo na bochecha.

— Deixe de ser tão ranzinza… Parece um velho. Você está no auge da idade, vivendo os prazeres da paixão recém descoberta e só faz reclamar…

— Quem te ouve falando assim pensa que você é o velho da história — Taeyang se moveu até o irmão, que havia escorregado da poltrona até o chão, ao lado dos outros dois, com as costas encostadas na cama, e esfregou sua cabeça em um cafuné carinhoso — Procure a garota. Não desista tão fácil.

— Não vou desistir… Vou seguir o exemplo dos meus irmãos… — olhou para cada um dos irmãos diante de si — Que exemplo eu tenho para seguir de vocês? São todos um bando de frouxos.

— Hey, garoto. Nos respeite! — Shin foi o primeiro a se manifestar ao insulto, lhe dando um peteleco.

— Somos mais velhos. Não deveria falar conosco assim — Tayang continuou a fala do irmão.

— Peça desculpas agora mesmo ou vou te dar uns socos — Jung, de pé, em posição de ataque, ameaçou.

— Que soco, que nada… — Eujin rebateu e levantou, correndo para longe do irmão, tropeçando no pé propositalmente colocado diante de si por Sun — Querem que eu respeite vocês, mas não posso… Você — começou se direcionando a Taeyang. O tom era levemente acusador — passou anos desejando algo que só conseguiu graças à minha intervenção…

— Do que estão falando? — Sun perguntou, Jung igualmente curioso. As bochechas de Taeyang vermelhas, os ombros tensos.

— Você — aproveitou que Sun havia feito a pergunta e o alfinetou — É apaixonado pela Hea desde que se entende por gente, mas insiste em dizer o contrário porque não tem coragem de assumir que gosta dela.

— Isso não é verdade…

— Claro que é — ele confirmou, voltando-se para Jung — Você passou meses perdidos da sua vida apaixonado por uma mulher que só te via como garoto e a decepção foi tão grande que resolveu se vingar em nosso irmão… — se interrompeu olhando para Shin, voltando para Jung novamente — Não tem tato para ver uma garota legal diante de seus olhos… E você, nem vou comentar… Espero que perceba logo o que está acontecendo, porque acho que todo mundo já se tocou sobre isso, menos você.

— O que você está falando, garoto? Ficou louco de vez? — Taeyang comentou depois do susto inicial.

— Quer morrer? O que você está querendo dizer com isso? Como assim não tenho tato?

— E você tem? — Eujin se virou para Jung, punhos cerrados para o irmão mais velho — Você percebeu a garota que saiu com a gente para o karaoke?

— O que tem Mi Ok?

— Hmmm… “O que tem Mi Ok?” — Eujin se aproximou, um sorriso zombeteiro na face. A sobrancelha levantada. Parecia ter esquecido dos problemas por aquele momento — Mi Ok… Estão assim tão próximos, agora?

— Nós… — Jung, altamente envergonhado, coçando a nuca, se perdeu nas palavras — A gente se viu… Quer dizer, ela está na academia…

— E ele está todo nervosinho — Eujin vibrou. Os outros atentos ao diálogo — Finalmente — gritou — Finalmente um de vocês vai me dar um pouco de orgulho. E então… O que vocês fazem quando estão juntos?

— Que pergunta idiota… Nós somos amigos…

— Amigos… Claro… Do mesmo jeito que Sun e Hea são… — se reprimiu a falar dos outros dois irmão — Vamos, Jung, conte tudo sobre Mi Ok.

— Também fiquei curioso… — Taeyang comentou também, vendo naquela conversa a oportunidade de escapar das possíveis perguntas ou acusações que poderiam surgir em seguida. Shin permanecia estranhamente mudo.

— Eu vou para a academia. Já estou atrasado…

— Não antes de nos contar tudo — Eujin agarrado à cintura do irmão.

— Me solta, seu louco…

— Fala de uma vez. Se é para ser zoado, que eu seja em conjunto com você — Sun falou e os outros sorriram juntos.

Era estranho para Shin que os irmãos estivessem ali, agora também Taeyang, e que sua aproximação tenha se estreitado daquela forma em tão pouco tempo. Era inimaginável para ele que algum dia em sua vida pudesse vivenciar momentos de interação como vinha tendo ao longo daqueles meses, desde que voltara para a mansão, ainda mais agora que todos sabiam sobre sua origem, mesmo com todas as acusações.

As vozes masculinas, gargalhando em seu quarto, mostravam para o herdeiro rebelde que, talvez, ele não devesse ter sido tão rebelde em sua vida e que, de alguma forma, não deveria ter se afastado como se afastou dos irmãos.

Eram todos irmãos, independentes de suas mães, independente de seus problemas, independente de suas manias ou convicções. Estavam mais unidos que nunca agora, tinham objetivos em comum, e ele tinha a certeza de que poderia contar com cada um deles e que não importava o passado, pois como Eujin falara a pouco, “nada muda”.

...

Sentada sobre a cama, em seu quarto, Yun Mi pensava no rumo que sua vida ia tomando e no que poderia fazer para barrar as novas decisões que os pais haviam tomado para o seu futuro, cogitando que a doença do pai amolecesse os pensamentos de ambos em relação àquele casamento inútil.

Estava cansada de ser sempre vista como um enfeite para aquela família, uma boneca sem sentimentos ou necessidades. Estava cansada de ser subjugada por aqueles que deveriam protegê-la e fazer o possível e impossível para que ela estivesse sempre bem. Era essa a ideia que ela tinha de família e que sempre esperou da sua. Esperou em vão.

Sabia que o casamento arranjado fora uma alternativa da sua mãe para que ela parasse com suas histerias, uma tentativa de poupar a família e seu nome, mas o choque em descobrir que o pai estava com uma doença terminal foi um motivador para que ela se decidisse em lutar por sua liberdade. Não queria morrer sem conquistar seus sonhos, sem se provar e mostrar o quanto poderia alcançar se tivesse a devida oportunidade. Estava cansada de ser controlada pela família.

Decidida em dar um basta em toda aquela situação e cancelar o casamento que seria marcado em breve, a jovem levantou e seguiu pelos corredores parando breves instantes ao ouvir as vozes dos irmãos no último quarto.

Mesmo que não admitisse, ela se sentia feliz em vê-los tão próximos, apoiando Shin e, ao mesmo tempo, sentia-se irritada por saber que não poderia fazer parte daquela diversão, que não poderia sorrir com eles, que aquela não era a realidade ofertada para ela. Enquanto eles se divertiam, ela tentava, mais uma vez, conquistar a sua liberdade.

Deu três toques discretos na porta da mãe antes de receber permissão para adentrar no cômodo. Do outro lado da porta, a senhora claramente abatida, os cabelos ainda úmidos do banho recente, a recebeu com um semblante apático. O pai, sedado sobre a cama, dormia profundamente.

— Algum problema, minha filha? — Yun Mi foi saudada tão logo foi vista pela senhora. Como sempre soube, sua presença era prenúncio de problemas.

— Não, mamãe. Não tenho nenhum problema. Como está papai?

— Está dormindo. A enfermeira disse que ele tem tido melhoras significativas. Em breve poderá sair da cama.

— A senhora está bem dormindo no quarto de hóspedes? Isso tudo parece uma loucura…

— Estou bem. Não se preocupe. O importante é que seu pai se recupere logo.

— Aproveite que ele está dormindo e descanse um pouco. Não parece estar tão bem.

— Você também não parece bem, minha filha — após um breve instante de silêncio, a senhora continuou — Eu sei que não fui a mãe exemplar que você e seu irmão mereciam. Errei muito durante a criação de vocês, errei muito como mãe enquanto permitia que outras pessoas fossem mais próximos de vocês do que eu. Errei. Horas e horas trancafiados em escolas, com dias exaustivos… Muito mais você, que seu irmão, sofreu com tudo isso. Entendo agora que não fui sua amiga nem te deixei viver a sua vida. Sei que fui muito má com você. Me desculpe, minha filha.

— Não se desculpe, mamãe — viu naquele discurso a oportunidade ideal para colocar seu ponto de vista — Basta que a senhora me permita escolher o que fazer da minha vida e seguir o caminho que eu quiser…

— Eu sei que está se referindo ao seu casamento. Eu sei que fui precipitada ao organizar tudo isso e sei, muito mais, que te falei coisas terríveis essas últimas semanas, mas se eu posso te pedir algo, minha filha, um último favor…

— Fale logo, mamãe. Por favor… — interrompeu, o pingo de esperança que alimentou se esvaindo.

— Estive conversando com seu pai sobre o seu casamento. Ia sugerir que cancelássemos tudo, mas Hansol pareceu tão satisfeito ao falar do seu noivo, o quanto se sente melhor em saber que irá para uma família com estabilidade financeira… — duas lágrimas discretas desceram pelas bochechas da senhora  — Que te deixará amparada, com um bom marido.

— Mamãe, eu não preciso…

— Eu sei que não precisa e que não quer. Eu sei que você é forte o suficiente para fazer o que quiser, mas pense no seu pai. Ele já não tem muito tempo de vida. Só peço que pense bem sobre isso. Não dê esse desgosto para ele nesse momento, minha filha. Faça isso para ele melhorar logo, sim?

— Mamãe, não quero…

— Seu noivo é um bom homem, de boa família, bem educado. Tenho certeza que você conseguirá se adaptar muito bem ao casamento. Você é forte, Yun Mi, e seu pai está tão orgulhoso…

— Gostaria que ele se orgulhasse de mim pelas coisas que posso fazer, por tudo o que poderia conquistar na empresa, por minha inteligência e disposição. Estudei anos e anos para provar que sou capaz e a forma de fazer meu pai ser feliz e se orgulhar de mim é tendo um bom marido.

“Nada disso faz sentido para mim, mal conheço esse homem ou sua família. Me sinto na dinastia sendo forçada a casar para manter minha família bem. Isso tudo é muito pesado para mim, mamãe, sempre foi e eu nunca pude, sequer, rebater ou falar sobre o que achava. Vocês nunca deixaram.

“Sou como uma marionete nas mãos de cada um de vocês, como se eu fosse uma espécie de boneca que embeleza a casa e é levada para onde seus donos querem. A senhora entende como tudo isso é terrível? A senhora tem consciência que eu me esforcei toda a minha vida para mostrar a cada um de vocês que sou mais do que um simples objeto de decoração?”

— Yun Mi, não fale assim…

— Sim, eu falo, porque é exatamente assim que eu me sinto. Pensei que com a doença do papai vocês iriam começar a perceber que também sou um ser humano, que também posso adoecer e até morrer… Pensei que, com essa doença, vocês repensariam as prioridades que têm dado às nossas vidas, mas vi que me enganei.

— Minha filha, não estou te forçando a nada…

— Não… Claro que não. Está apenas usando a doença do papai e seu estado como moeda de troca para barganhar o meu destino, como sempre fez. A senhora sempre fez esse tipo de jogo comigo, sempre me deixou sem ter como escolher…

“Se não fizer aulas de ballet, mamãe não ficará feliz com você” “Se não se comportar bem, te mando para um colégio interno” “Sempre sorria e pareça feliz na frente dos convidados” “Se me desobedecer, farei seu pai enviar você para um internato”.

“A senhora nunca me forçou a nada, não é mesmo, mamãe? Da mesma forma que não está me forçando a casar com esse homem, afinal, se eu não aceitasse o noivado, seria internada em um hospital psiquiátrico… Agora, se não casar, o papai pode morrer mais rápido e isso será minha culpa.”

— Yun Mi, não é assim…

— Tudo bem, mamãe. Não serei eu a causadora da morte precipitada do papai. Se é isso o que realmente o fará feliz, eu me casarei. Farei o possível para que papai não tenha desgostos durante o resto da sua vida, mas assim que eu puder, irei me separar. Essa é a última vez que estou me submetendo aos seus caprichos. Eu cansei, mamãe. Cansei.

— Yun Mi… — o toque das mãos de sua mãe sobre a dela lhe surpreendendo — Me desculpe por ter te feito tanto mal…

— Não peça desculpas… Sabemos que a senhora não irá parar — retirou a mão do toque da mãe — Por favor, converse com a família Choi e resolva tudo. Informe sobre o estado de saúde de papai e que gostaria de adiantar o casamento assim que ele possa sair desse quarto.

— Eu sei que tudo dará certo, Yun Mi — um sorriso discreto da senhora para ela.

— Mamãe… Por favor, não tente deixar as coisas melhores do que são. Se vamos fazer isso, que seja feito de uma vez. Vou me casar com Choi Jin In assim que papai melhorar.

— Sim, minha filha. Vamos fazer isso. Seu pai vai ficar muito feliz, tenho certeza.

— Eu sei que sim. Agora descanse — Yun Mi falou em seu habitual tom teatral, se levantando do sofá onde conversava com a mãe — Vou para o meu quarto. Boa noite.

***

Mi Ok não sabia quando a relação dela com o professor de defesa pessoal havia se estreitado daquela forma. Era estranho pensar em como os dois se tornaram tão próximos nos últimos meses, como passaram a confiar um no outro ao ponto de contar problemas, tristezas e angústias sabendo que o outro compreenderia cada detalhe, cada palavra. Estavam cada dia mais confiantes e se apoiando mutuamente.

Jung deixava na porta da academia todos os problemas que vinha enfrentado e, enquanto ensinava, dedicava-se totalmente àquilo. Naquele momento o rapaz, exatos vinte e oito centímetros mais alto que ela, demonstrava algo que deveria ser uma chave de pescoço. Ele era tão delicado com a garota que os movimentos apresentados à turma ficavam estranhos e provocavam certa revolta nas demais, embora ele insistisse em não trocar de dupla.

As demais alunas que claramente não pareciam gostar daquela situação torciam o nariz para os dois e soltavam frases provocativas que não pareciam chegar aos seus ouvidos. O professor, cobiçado por algumas, embora atencioso com todas, demonstrava um interesse aparentemente diferenciado por aquela aluna em específico. E ela não se incomodava.

Mesmo que ele estivesse, naquele momento, com um short extremamente apertado que evidenciava mais do que deveria da parte inferior de seu corpo - e que ele insistia em usar depois que ela já o alertara, por ter sido presente de uma das alunas - era com ela que ele ficava e o sentimento de estar à frente das demais, mesmo que durante aquela aula, lhe deixava pomposa e satisfeita.

— Isso não parece uma chave de pescoço, professor — uma das invejosas falou enquanto Jung demonstrava o movimento — Eu posso fazer com ela se tem medo de machucá-la.

A mulher olhou para Mi Ok de forma tão ameaçadora que ela, por um breve instante, temeu que o rapaz a liberasse e seu pescoço fosse esmagado por aquela criatura de olhos estranhos.

— Ah, não… Você continua com sua dupla. Como conheço Mi Ok, tenho mais liberdade para mostrar os movimentos com ela — respondeu, lembrando das palavras ditas pelo irmão horas atrás: “Está usando a desculpa da amizade para ficar perto dela...”

— Você nos conhece há mais tempo que ela — outra aluna falou — Iniciamos a aula semanas antes dela chegar aqui.

— Mas eu conheço Mi Ok de muito antes das aulas. Somos próximos — “Já até deu carona aos pais dela… Tem que ir visitar a família de uma vez. Essa coisa de serem ‘amigos próximos’ é desculpa”.

Embora Mi Ok acreditasse que o sentimento do rapaz por ela era pura amizade, ela não conseguia deixar de exultar de felicidade diante da expressão amargurada que as outras faziam para ela. Era como se aquele território de Jung tivesse sido demarcado por ela e nenhuma outra conseguiria transpor aquela cumplicidade.

— Você não tem medo das suas alunas se revoltarem contra você? — Mi Ok perguntou enquanto aplicava a chave de braço mais desmantelada que a dele, ainda devido à altura.

— Não mesmo! — ele respondeu perdido em um mar de lembranças, pensamentos e tentativas de constatações — Nós conhecemos muito antes de elas serem minhas alunas. Se posso fazer tudo isso com você, não tenho porque me aproximar delas além do contato de instrutor e aluno. Além do mais, o curso é gratuito. Se elas saírem, logo virão outras.

— Hmmm… Que confiante — ela sorriu afrouxando ainda mais o golpe.

— Confio no meu taco — rebateu animado, o estômago gelado pela aproximação — E aperte essa chave. É assim que vai esganar um assediador qualquer?

— Ah… Tenho dó de você — o tom de voz ameno, a mão estava relaxada sobre o ombro do rapaz — Não sabe que eu era conhecida na escola como “encrenqueira”? Aprendi a me defender daquelas chatas mais velhas — pareceu saudosista.

— Tenho medo de imaginar que tipo de coisa você fazia com essas pobres criaturas…

— Como assim? — ele sorria e ela estava indignada, apertando o golpe — Eu me defendia como podia.

— Não sei se consigo acreditar que seu apelido era realmente culpa de suas colegas…

— Ah, seu…

Mi Ok apertou o golpe e sentiu um comichão nas costas quando Jung segurou seu antebraço com as duas mãos. O que aconteceu em seguida foi muito rápido para que eles conseguissem compreender facilmente.

O rapaz, ágil em seus movimentos - e talvez esquecendo-se das demais alunas presentes naquela sala, defendeu-se do golpe da garota imobilizando seu braço e girando o corpo de frente para o dela ao mesmo tempo que, com o pé esquerdo lhe deu uma rasteira desestabilizando o equilíbrio da jovem que não imaginou que seria abordada daquela forma.

Tentando se proteger da queda iminente e da vergonha que passaria diante de todas as mulheres daquela sala, Mi Ok envolveu quase que completamente a cintura de Jung com os braços e tentou esquivar-se daquela humilhação apoiando-se no instrutor.

O que ela não esperava era que o rapaz, ainda no meio do movimento, desestabilizaria também e cairia, como em uma perfeita cena de drama, sobre o corpo da jovem.

— Você está bem — ele perguntou com o rosto tão perto do dela que, por um breve momento, ela pensou que não seria capaz de suportar aqueles lábios tão carnudos.

— Acho que sim — respondeu depois de sorver o hálito quente do rapaz por quem há tanto era apaixonada.

— Você ficou tonta? Eu te machuquei? — ele, ainda sobre ela, mantendo o corpo levemente suspenso pelos braços e pernas, assumiu uma expressão preocupada.

— Eu estou bem, de verdade. Só desequilibrei. Não foi nada de mais — respondeu quase perdendo a voz. O estômago gelou quando percebeu o rapaz, tão próximo, focar seus lábios mesmo que por um milésimo de segundo.

— Vou confiar que está realmente bem.

— Eu estou — ela sorriu e lhe tocou no braço chamando sua atenção para o resto da turma que os observava de perto — É melhor levantarmos.

Ela falou baixo e Jung pareceu acordar de um breve desconcerto. Levantou-se agilmente e, oferecendo a mão à jovem, lhe ajudou a levantar também. Olhou em volta, as alunas os olhando de um jeito estranho, fazendo com que ele se sentisse envergonhado por algo que começava a compreender.

Voltou para sua posição de instrutor e a demonstrar um novo golpe como se nada tivesse realmente acontecido. Em seu íntimo, seu estômago permanecia gelado por aquele momento, em sua cabeça, pensamentos aleatórios começavam a fazer sentido.

“Só pode ser isso! Não existe outro motivo capaz de explicar Mi Ok me desconcentrar dessa forma...”

Quase ao seu lado, novamente servindo de ajudante para demonstrações de golpes, Mi Ok ainda sentia os pelos dos braços arrepiados. Não era possível que ele não percebesse o que ela sentia, não era possível que ele não notasse o quanto ela se interessava.

Enquanto Jung lhe dava uma nova rasteira - dessa vez a segurando firmemente - e demonstrava o movimento para as outras alunas, Mi Ok pensava que, talvez, estivesse na hora de alargar a amizade dos dois e abandonar o posto de assistente. Aquilo não estava lhe fazendo bem. Já não conseguia dividir a amizade do que sentia. Talvez… Apenas talvez fosse melhor se afastar.

***


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee



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