Bulletproof Wings escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 28
Não me deixe para trás


Notas iniciais do capítulo

Agora é a hora de implantar a treta.



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— Tem alguma coisa errada — disse Jungkook, no corredor que levava à saída da casa do Juízo.

— Tem mesmo — disse Namjoon. — Onde estão V e Jin Hyung?

— Jin Hyung não está mais aqui — disse Jimin. Yoongi olhou para ele imediatamente, pois sabia que algo havia dado errado. Notou a tinta verde que lhe escorria dos olhos como lágrimas.

— Chim Chim — disse Yoongi, se aproximando dele. — O que aconteceu?

— Ele descobriu a verdade.

— Você contou?

— Não. Só consegui me livrar da fita quando ele já estava partindo.

— O que vocês estão dizendo? — Perguntou Hoseok sem entender nada.

— Vamos embora — decidiu, Yoongi, ainda nervoso, se encaminhando para a saída. — Agora!

— Não! — Protestou Jungkook. Yoongi olhou pra ele e voltou, colocando as mãos em seus ombros.

— Kookie, olha pra mim. Nós temos que sair daqui agora, ou tudo vai dar errado!

— Eu sei disso tanto quanto você — disse Jungkook. — Mas não podemos deixar Taetae Hyung pra trás.

— Ele está certo — disse Hoseok. — Não adianta conseguirmos fugir, se não estivermos todos juntos. Pelo que disseram, Jin Hyung já descobriu que não está aqui. Tudo o que temos que fazer é salvar Tae.

— Salvar do quê? — Perguntou Namjoon a Hoseok.

— Não — disse Yoongi, de cabeça e voz baixas. — Não dá mais. Se o Juízo o pegou de volta...

— O Juízo nunca o deixou sair — disse Hoseok. Todos olharam para ele. — Aquele que estava conosco não era nosso amigo de verdade.

— Por que não disse antes? — Perguntou Namjoon.

— Eu não tinha certeza. Ele parecia muito real.

— Como descobriu? — Perguntou Jimin.

— O espectro. Sempre disse “O julgamento terminou; ele foi salvo”. E ele nunca disse que Taehyung foi salvo.

— Ah, não — disse Jimin. — Significa que cortaram as asas dele?

— Antes fosse só isso — disse Namjoon. Ele olhou para Jungkook, lembrando-se do que havia falado. — Se Tae está em posse do Juízo, eles podem fazer qualquer coisa. Até matá-lo.

— Mas nós já estamos mortos! — Disse Jimin.

— Sim, mas ainda estamos aqui — disse Namjoon. — Eu li alguma coisa sobre isso no meu quarto. Se morrermos de novo, deixaremos de existir completamente.

Os meninos ficaram olhando uns para os outros, tentando decidir o que fazer.

— Não podemos ir contra o Juízo — concluiu Yoongi. — Ele é forte demais.

— Eu não vou deixar o V Hyung pra trás — disse Jungkook, já recuando para o hall. — Façam o que quiserem.

Jungkook se virou para o outro lado do corredor e abriu suas asas brancas. Voou pelos corredores da casa do Juízo, seguindo sua intuição e desviando dos espectros, até alcançar um salão quase completamente escuro, no segundo piso. A única luz se projetava de algum lugar no teto, e iluminava Taehyung. Ele estava de joelhos no chão. O mesmo roupão que usava antes estava meio retirado, mostrando as cicatrizes que estavam onde um dia estiveram as asas cortadas. Da escuridão à frente dele, Jungkook ouviu o som de máquinas se mexendo. As estruturas refletiam um pouco da luz, e o deixaram perceber que aquilo eram armas. Mas não de qualquer tipo. Eram várias e várias armas potentes e carregadas, dispostas na parede como se ela fosse feita delas. Taehyung abaixou a cabeça. Aquilo era sua punição. Jungkook não sabia o motivo da punição, mas não podia deixar aquilo acontecer.

Ele correu um pouco, pegando impulso. Abriu as asas e voou por cima de Taehyung. Não tinha muita experiência com as recentes asas, mas sua coragem foi suficiente para encorajá-las a se articularem. Elas o levaram por um perigoso salto que lhe lembrou os tornados que Jimin fazia. Parou do outro lado, de frente para Taehyung. Abriu suas asas completamente no momento em que as armas começaram a disparar uma chuva de balas. Elas ricocheteavam em suas asas e caíam no chão. Taehyung, que estava esperando por sua aparentemente inevitável inexistência, ao ouvir o som dos disparos sem sentir nenhuma dor, levantou lentamente sua cabeça, encontrando o maknae que o protegia de sua punição. Ficou boquiaberto.

— Kookie — murmurou ele.

Jungkook estendeu a mão para ele o ergueu.

— Jeon Jungkook — disse uma voz tenebrosa atrás dele. Taehyung deu um passo para trás, temeroso, enquanto Jungkook se virava para encarar a figura que saiu das sombras aos poucos. Sua roupa era metade branca e metade preta. Seu rosto era coberto por um capuz. Também tinha uma asa de cada cor. Estava acompanhado por vários homens vestidos de cor única, fosse branco ou preto. — Achei que tivesse te libertado.

Jungkook teve um pouco de medo, mas incrivelmente não deixou transparecer.

— Quem é você? — Perguntou ele com segurança.

— Eu? Ah, desculpe, não nos apresentamos. Eu sou o líder do Juízo. Meu nome é Abraxas.

— Abraxas? — Perguntou Namjoon, elevando a voz, enquanto entrava no salão escuro sendo acompanhado pelos outros. — Como o do livro?

— Ah, Kim Namjoon. Um leitor de Hesse, um homem de qualidade. Também veio para a nossa festinha?

— Festinha? — Perguntou Jungkook, incrédulo, enquanto os meninos se posicionavam ao redor de Taehyung. — Você tá brincando? Você quase acabou com o hyung!

— E você impediu. Não tinha nem que estar aqui, como ousa interferir nos assuntos do Juízo?

— Olha só, cara, eu não sei qual é a sua, mas se quiser destruir o Tae vai ter que me explicar muita coisa.

— Mas que atrevido! — Disse Abraxas, rindo para os que estavam ao seu redor. — Quem você pensa que é pra falar assim com o líder do Juízo?

— Eu sou um cara que gosta de justiça, que é o que vocês deveriam prezar.

— Nós prezamos! — Disse Abraxas, abrindo os braços, como se fosse bastante visível.

— Então não terão nenhum problema em me provar. Pra começar, eu quero saber por que vocês nos enganaram.

Abraxas virou a cabeça para os outros, como se não soubesse do que Jungkook estava falando.

— Enganamos, é?

Jungkook virou a cabeça de lado, sentindo a ironia e a dificuldade que teria para conseguir as respostas.

— Vocês nos fizeram acreditar que Tae estava vindo conosco, enquanto tentavam destruí-lo.

— Pelo visto, não adiantou nada — disse Abraxas. — Eu fiz isso porque sabia que vocês não aceitariam a punição de Kim Taehyung. Você pede por justiça, mas na verdade só quer que seus amigos sejam livres, não importa o que eles tenham feito. Acaso sabe o motivo da condenação?

— É uma das coisas que quero que me diga.

— Aaah, você QUER que eu diga. Entendi. Você perdeu mesmo a noção do ridículo. Você não tem o direito de exigir nada ao Juízo. Namjoon, você é um líder tão bom que não ensinou seu maknae a respeitar os mais velhos. — Namjoon abriu a boca para responder, mas Abraxas não deu chance. — Mas, como eu sou um cara muito legal, vou abrir uma exceção. Nunca fizemos isso antes, mas hoje vou fazer uma revisão do julgamento de Kim Taehyung. Pra começar, sua morte é fruto de um suicídio, e isso não é bem visto pelo Juízo.

— Eu também cometi suicídio — lembrou Yoongi, afiado. — E fui salvo.

— Está reclamando? — Perguntou Abraxas.

— Não, nervosinho, não precisa cortar minhas asas porque fiz uma pergunta. Eu só quero que você tenha uma boa explicação para eu ser salvo do suicídio e Taehyung não.

— Acontece — a voz de Abraxas era fria — que Kim Taehyung cometeu um erro muito grave no fim de sua vida.

— Não importa — disse Jungkook, imediatamente. — Eu conheço meu amigo, e o quer que ele tenha feito, eu sei que não é suficiente para…

— Ele assassinou uma pessoa. — Disse Abraxas, e Jungkook hesitou. Yoongi, Hoseok e Jimin olharam para Taehyung, como se sua expressão pudesse verificar a veracidade da informação, que parecia irreal. — O próprio pai.

Quando Abraxas completou a informação, Jungkook começou a rir, e todos olharam pra ele.

—  Não consigo compreender a graça — disse Abraxas.

— Uau. Eu tenho cada vez mais certeza de que vocês não sabem julgar as pessoas. Se eu não conhecesse o pai do hyung, eu teria ficado um pouco chocado. Mas, infelizmente, eu conheci o pai do hyung, e posso te dizer que ele fez um favor pra Yonseo… E pra humanidade.

— Kookie! — Sussurrou Taehyung, com reprovação.

— Ah, que foi Tae? Seu pai não era nenhum anjinho, convenhamos. Aqui, ô Abrassatas, se eu fosse você daria um jeito de verificar qual foi o motivo desse crime horrendo aí.

— Por quê? — Perguntou Taehyung. — Já está feito. Ele cortou minhas asas.

— Mas não deveriam — disse Namjoon. — Pelo pouco que conheço sobre você, assassinato não é suficiente para punir uma pessoa, na sua concepção.

— Você prestou atenção, Namjoon — disse Abraxas, admirado. — O que define se um crime é punível não é o que eu acredito, mas sim o que a pessoa que o cometeu acredita. Se ela acha que tem razão, não devo puni-la. Já que você sabe disso, sabe que o problema não é comigo.

Namjoon olhou diretamente para Taehyung, que estava a seu lado direito e encarava o chão desde o começo.

— Você não acha que teve razão? Você se acha culpado?

Taehyung olhou para ele.

— Eu matei meu pai, hyung. Eu seria um hipócrita se achasse que eu fiz certo.

— Hyung — disse Jungkook, colocando um pouco de ira na voz. — Seu pai batia na sua irmã. Ele era um criminoso!

— Meu crime não se justifica por isso!

— Conseguem ver? — Disse Abraxas, com um sorriso. — Eu não posso fazer nada por ele. Ele queria ser punido, e foi. Atendi a seu pedido!

— Tá — disse Jimin. — Tirou as asas dele. O puniu, e pronto. Por que isso, agora? Por que levá-lo à inexistência?

— Essa é uma segunda punição, por um novo crime, dessa vez cometido aqui. Kim Taehyung estava oculto, como determinou o Juízo, mas ele interferiu em nossos assuntos.

— De que maneira? — Perguntou Hoseok.

— Vocês sabem! — Disse Abraxas, como se fosse óbvio. — Ele revelou a verdade a Kim Seokjin.

— Mas ele fez um favor a vocês — disse Hoseok. — Tirou uma pessoa que não pertencia a este mundo. Ele não deveria estar aqui, e a verdade o levou a seu lugar.

— Entenda, Jung Hoseok: As coisas acontecem no momento certo. Acha que não sabiamos sobre Seokjin? Sempre soubemos que ele estava vivo. E quando acordou do coma? Também soubemos. Não tínhamos nenhum motivo para tirá-lo daqui. Sabem por que ele ficou entre os dois mundos? Ele ainda estava ligado a vocês. E essa ligação foi quebrada.

— Não compreendo — disse Yoongi, confuso.

— Eu vou explicar. Mesmo em coma, seu amigo continuava ligado a vocês seis. Por isso, ele estava aqui na casa, e no outro mundo ao mesmo tempo. Seu despertar não foi suficiente para que isso acabasse. Mesmo vivo e acordado, ele estava vendo vocês. — Taehyung levantou a cabeça e olhou para Namjoon. Os dois lembraram do período de ilusões que viveram depois do assassinato. — Ah, vocês dois sabem muito bem que a ilusão pode ser um excelente placebo para a perda. Mas nenhuma ilusão dura para sempre. Kim Taehyung cometeu suicídio justamente quando a ilusão começou a se desfazer. Já faz alguns minutos que Kim Seokjin acordou para a verdade. Vocês acham que ele está feliz por ser liberto? —  Abraxas estendeu a mão coberta pela luva negra. Uma esfera enevoada surgiu, e mostrou a imagem de Jin cravando as mãos na terra. Era possível ver seu rosto, suas lágrimas seu desespero. Alguns meninos arregalaram os olhos ou cobriram a boca com as mãos. — Este é Jin, como o chamam, no outro mundo, nesse exato momento. Ele está sentindo a dor mais profunda de sua vida, sentindo a perda de vocês. — Ele passou a mão pela esfera, desfazendo-a violentamente. — Ainda acham que Taehyung fez um favor pra alguém? Pouco me importa como ou onde está Kim Seokjin, mas me importa que Taehyung tenha burlado as regras do Juízo. Atravessou a determinação que o dizia para manter-se oculto, e inteferiu em assuntos do mundo dos vivos. Isso é extremamente grave, e um desrespeito às imagens superiores do mundo dos mortos. Uma segunda chance foi dada a você, Kim Taehyung, e você a desperdiçou, por ser um intrometido que acha que sabe o melhor pra todo mundo. Achava que sabia o melhor para seu Jin Hyung? Você o destruiu completamente, literalmente o quebrou. Esse é o motivo de sua punição. — Abraxas fez uma pausa, e baixou o tom de voz. — Está satisfeito agora, Jeon Jungkook?

— Na verdade não — disse ele, ainda com raiva, embora estivesse lacrimejando. — Como eu já disse, eu conheço meu amigo. Não importa o que ele tenha feito, eu sei que ele teve a melhor das intenções e merece perdão.

— Você não entendeu? Ele precisaria se perdoar para ser salvo, mas ele é incapaz.

— Não — disse Jungkook. — Ele não precisa de seu próprio perdão. Porque tem o meu. Alguém mais?

— Tem o meu perdão — disse Namjoon, imediatamente.

— E o meu — disse Hoseok.

— Eu o perdoo — disse Jimin.

— E eu, igualmente — disse Yoongi, com um sorrisinho.

— Não basta — insistiu Abraxas. — Ele ainda deve ser punido, pelas regras do Juízo. Não há nada que você possa fazer, criança.

— Você não entendeu? — Perguntou Jungkook, completamente atrevido. — Eu não vou deixar meu amigo para trás! Eu não vou deixar ele ser punido! Olha aqui, seu velho, eu não morri pra ver meu amigo deixar de existir.

— Não precisa ver. É só fechar os olhos!

— Engraçadão, você. Mas eu não tô brincando! A gente não vai deixar você fazer isso com o Tae, não importa o que diga.

— Então, tudo bem — disse Abraxas, tranquilamente. — Kim Taehyung traiu o Juízo, e vocês estão do lado dele. Portanto, também são traidores. O Juízo declara guerra a vocês. Que sejam punidos.


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Notas finais do capítulo

A treta foi implantada com sucesso.


Ah, terminei de escrever a fic durante a madrugada passada, incluindo os dois capítulos extras. Ela não passa dessa semana. A boa notícia é que, depois de mais ou menos uma semana de intervalo, teremos o primeiro capítulo da nossa parte 2. Vou soltar mais detalhes sobre o fechamento aos poucos.



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