A Long Fall escrita por Kiara


Capítulo 4
III — Freedom




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Os minutos se arrastaram pelo resto do dia até se tornarem horas, e quando dei-me conta, as aulas já haviam acabado. Sabia que o fato do tempo ter passado tão depressão fora por conta do dois novos amigos, que conseguiram me envolver em conversas até o sino bater e nos separarmos para cada um ir para sua própria casa, porque depois, quando cheguei a mesma, demorou bastante para as horas passarem.

Fiz o que pude para me manter distraída até o horário chegar; estudei, almocei, mexi na internet de meu celular e fiz revisões para futuras provas. Essa casa não possui tv a cabo, nem qualquer coisa que possa ser usado para entretenimento. Pretendo começar a personaliza-la com o tempo, mas é necessário dinheiro e não vou usar o que tenho com isso. Quero comprar as coisas com o meu dinheiro, um que trabalhei para conseguir e não que Jocelyn é forçada a me dar.

Estava tão envolvida pelo tédio que quando o relógio da cozinha mostrou que faltava apenas meia hora para as duas, não hesitei em deixar um dos muitos livros de literatura infanto-juvenil que possuo de lado para poder ir me arrumar. Sabia que por ser um ambiente de trabalho, não seria apropriado usar nada extravagante e nem despojado, então optei pelo que meu armário ofereceu; uma calça justa escura, mas que na área das coxas é mais clara, com uma blusa xadrez por cima, as mangas dobradas até o pulso. Coloquei mocassim nos pés, tanto por achar confortável e ótimo caso precise ficar em pé, tanto por achar serem mais básicos. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo alto, sabendo que caso o deixasse solto, poderia atrapalhar. Feito isso, coloquei meu celular e os documentos nos bolsos da calça, por precaução.

Estava descendo as escadas, indo para a cozinha, quando uma buzina rompeu o silêncio da casa, atiçando até mesmo o cachorro da vizinha.

— Já vou! — gritei, apanhando o molho de chaves na mesa de centro da sala e saindo de casa, trancando a mesma.

Quando me virei, encontrei Scott encima de uma moto, o visor do capacete erguido e uma perna apoiada na calçada, evitando a moto de cair. A calça preta, a jaqueta de aviador preta com uma blusa branca por debaixo, contrastando com a pele achocolatada, lhe dá uma postura intimidante controversa a sua personalidade.

— Obrigada por vir. — agradeci ao me aproximar, aceitando o capacete estendido na minha direção.

Enquanto colocava o capacete e afivelava-o, Scott retirou o pé da calçada e colocou novamente junto da moto.

— Sem problemas, é até melhor, assim Alan não fica me importunando para chegar mais cedo. — deu de ombros sutilmente, abaixando o viso de seu capacete e girando a chave na ignição, ligando a moto. — Suba, há muito o que fazer na clínica e estamos quase atrasados.

Comprimi os lábios com a possibilidade de chegar atrasada, o que poderia muito bem afetar na escolha de Alan para me tornar uma funcionária fixa. Por conta disso, quando terminei de ajustar o capacete sobre minha cabeça, subi na garupa da moto e enlacei de leve meus braços um pouco acima da cintura de McCall, as bochechas rubras sendo escondidas pelo capacete. 

— É melhor segurar mais forte, mais para cima também, não costumo pilotar devagar. — sibilou, virando o rosto na minha direção, uma das mãos saindo do guidão da moto para ficar por cima das minhas. — Assim. — murmurou, puxando-me pela mão para mais perto e a erguendo para a área do seu torço.

Como ele havia instruído, o apertei mais forte, tendo o corpo tão colado ao dele que meu queixo ficou apoiado em seu ombro.

— Não está se aproveitando da situação, certo? — brinquei, divertida, escutando sua risada abafada pelo capacete e o som do motor.

— Talvez. — respondeu, no mesmo tom divertido que eu usará, soando um tanto quanto sugestivo.

Não tive como retrucar, tampouco perguntar se ele realmente falará sério, pois Scott acelerou a moto, começando a dirigir em uma velocidade demasiadamente alta pelas ruas.

[•••]

Havia descobrindo a melhor sensação do mundo ao saltar da moto, devolvendo o capacete a Scott; a de quando o vento bate contra o corpo, jogando os cabelos para trás e forçando os olhos a se fecharem, trazendo junto da brisa a momentânea liberdade. De fato, tudo que eu mais precisava no momento era me sentir livre, pois mesmo estando emancipada, ainda me sentia presa a Jocelyn. E nos minutos que fiquei encima da moto, não pensando em nada mais do que o quanto a cidade pequena é linda e na sensação boa que estar ali causava, me senti realmente livre.

Porém, isso dissipou-se ao ter os pés novamente no chão, de frente para o mesmo prédio grande e bem cuidado do outro dia. Scott foi quem começou a caminhar na direção dele, deixando a moto estacionada, comigo logo o seguindo.

— Espero que goste de animais, vai conviver bastante com eles. — o garoto comentou, empurrando a porta de entrada, segurando-a para que eu passasse.

Quando ela fechou-se, o som suave do sino ecoou por todo estabelecimento, com a figura de Deaton aparecendo atrás do balcão segundos depois.

— Chegando no horário, Scott? — indagou, divertido, exibindo um sorriso simpático na minha direção.

McCall riu, acenando com a cabeça como cumprimento. Depois pegou as caixas sobre o balcão, indo para o fundo da clinica, olhando na minha direção em um pedido mudo. Tratei de segui-lo, abrindo a a porta da qual ele ficou de frente, as mãos ocupadas demais para girar a maçaneta.

Adentrei o cômodo depois dele, fechando a porta atrás de mim. Trata-se de uma sala de atendimento, uma mesa grande metal no centro e outra menor ao lado, tendo encima equipamentos médicos e remédios, do que os armários encostados nas paredes também estão cheios.

— Abra as caixas e coloque os remédios nos armários, perto dos que possuem a mesma função. — instruiu, deixando as caixas pequenas sobre uma mesa de suporte de madeira do lado direto da sala. — Já volto.

Anui prontamente com a cabeça, indo em direção as caixas e as abrindo ao puxar para cima a fita. Fiquei vários instantes olhando o rótulo para saber qual a função, levando mais tempo ainda para saber o local exato para coloca-los nos armários. Estava colocando o último quando a porta se abriu, com Scott entrando com um poodle nos braços, de pelo preto e tamanho pequeno.

— Quer tocá-lo? — indagou, fazendo carinho na cabeça do cachorro, que ronronava. — O segredo para ganhar a confiança de um animal é a aproximação. Se você chegar afobada, ele fica desconfiado, mas se chegar com cuidado, ele saberá que não quer machucá-lo. — explicou, aproximando-se de mim a medida que falava, erguendo o olhar para mim ao finalizar. — Tente.

Engoli em seco ao dar o primeiro passo na direção do poodle, tendo não apenas o olhar dele em mim, mas também o de Scott. Saber lidar com animais seria uma tarefa fundamental que eu deveria aprender, pelo menos se quisesse continuar trabalhando ali, e fora isso que me levou a parar de frente para Scott, o olhar abaixado para o cachorro.

— Estenda a mão na direção dele, isso vai mostrar que você confia nele. — como instruído, ergui minha mão devagar na direção do poodle, um tanto quanto hesitante. — Se aproxime mais quando deixar de sentir medo.

Fiquei poucos segundos com a mão estendida no ar, pois o cachorro logo aproximou sua cabeça de meus dedos, um pedido de carinho. Espalmei minha mão em sua cabeça e o afaguei, sorrindo largo ao escutar suas ronronadas.

— Ele gostou de você. — comentou, sorrindo por ver o poodle balançar a cabeça, animado. — Isso é bom, os outros vão gostar de você também. — dito isso, colocou o cachorro nos meus braços, que eu quase deixei cair devido a surpresa.

Scott me guiou para fora da sala, abrindo a penúltima porta da direita e apontando brevemente com a cabeça, querendo que eu entrasse. Fora o que fiz, carregando ainda o cachorro agitado nos braços, encontrando, ironicamente, mais centenas de cachorros, estes estando presos em gaiolas.

— Vai ter que os soltar e alimentar. — avisou, tendo que aumentar o tom de voz para sobrepor-se aos latidos dos cachorros. — Há uma porta a direita, lá vai estar a ração. Depois disso, volte para a outra sala, vou lhe passar suas tarefas diárias.

McCall riu da minha expressão assustada, pousando uma mão em meu ombro e murmurando um boa sorte. Depois disso, saiu, deixando-me sozinha com dezenas de cachorros e seus latidos.

Passei o que pareceu cerca de duas horas alimentando os cachorros, supervisionando para saber se todos comeram e separando-os vez ou outra quando davam sinal que iriam brigar. Incrivelmente, no final, estava sorridente, rindo do modo que os animais começaram a latir quando sair da sala para ajudar Scott com as demais tarefas. Era algo simples, mas encantador.

— Scott, quais são minhas outras tar... — quando a abri a porta, interrompi-me pelo susto que tomei ao ver outra figura além de McCall ali.

Stiles estava ali, parecendo exasperado e com uma expressão assustada dominando seu rosto. Bem ao lado dele, encostado na mesa de metal grande e retangular, está um rapaz desconhecido para mim, que mirou o olhar na minha direção quando minha voz preencheu o silêncio da sala. É alto, bem mais que qualquer um ali presente, de cabelos negros curtos e olhos verdes, brilhando ameaçadoramente em meio a escuridão que encontra-se o cômodo, de musculatura forte e musculosa, trajado roupas escuras.

Não sei ao certo o que me fez recuar, talvez seja o certo receio que ele me causava ou os olhares dos três estarem sobre mim, mas quando dei-me conta, já estava do lado de fora da sala, com a mão na porta que eu havia acabado de fechar.

Sentia algo estranho inflar gradativamente em meu peito, como se pudesse saber que algo estava estranho, que aquele homem, seja lá quem for, não parece ser uma boa pessoa. Porém, ignorei ao máximo tal sentimento e comecei a caminhar para longe, repreendendo a mim mesma por julgar alguém com base em sua aparência e postura. Não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você, lembrei-me das palavras de minha mãe, da época que ela era atenciosa e vivia dando-me conselhos. De fato, não gostaria que me julgassem de fraca ou superficial por conta de minha aparência.

— Charlotte! — escutei Scott me chamar, saindo da sala afobado, no mesmo instante que eu colocava a mão na maçaneta da porta em que estava minutos atrás, que continha as dezenas de animais de estimação. — Desculpe por isso, não sabia que eles iriam vir aqui. — pediu, passando a mão sobre a nuca, encabulado.

— Eu que peço desculpas pela minha intromissão, deveria ter batido na porta. — respondi, balançando a cabeça negativamente, sabendo que a culpa era inteiramente minha.

Era um dos meus defeitos; ao alcançar certa intimidade, ficava expansiva, deixando de lado a educação. Aquilo serviu como um aviso, que eu não esqueceria tão cedo, para sempre bater na porta antes de adentrar tão lugar.

— Está ficando tarde, não vai haver clientes por aqui, pode ir se quiser. — murmurou, tão baixo que quase não escutei as palavras ditas, desviando o olhar para seus pés.

Pisquei, levemente atônica. Ele estava me expulsando dali, de forma subjetiva, mas estava. Não sabia ao certo que havia feito de errado, pois do meu ver havia apenas entrado sem pedir licença na sala, algo que qualquer um faria. Tal erro não deveria ser grande o suficiente para me expulsar da clínica, mas pelo jeito, Scott não pensava da mesma forma que eu.

— Tudo bem, obrigada pela gentileza e desculpe-me novamente pela intromissão. — sibilei, acenando brevemente com a cabeça e me dirigindo para a parte da frente da clínica, indo pegar minhas coisas que deixei dentro de um armário do balcão.

Percebi, enquanto passava pelo moreno, que ele pareceu finalmente dar-se conta da certa rispidez que suas palavras continham. Quando ele abriu a boca para se pronunciar, muito provavelmente tentar soar mais agradável, apressei o passo e sai de seu campo de visão, não querendo escutar o que quer que ele queira dizer.

Apanhei minhas coisas no balcão, indo em seguida para a saída do estabelecimento, levemente incomodada com a situação. E estar do lado da fora da clinica, a mercê do vento frio e brisa gélida da noite só me fez ficar ainda mais irritada, com um suspiro saindo de meus lábios antes de começar a caminhar para minha casa.


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Notas finais do capítulo

To escutando um aleluia? ALELUIA, MEU POVO LINDO.

Entoeces, eu não ia demorar a postar, mas acabou que a escola puxou bastante meu tempo e a inspiração também faltou. Mas agora que to de ferias, com a inspiração em alta, pode haver postagens de três em três dias (se houver colaboração com os comentários, obviamente). Falando neles, tenho três agradecimentos a fazer:
Um grande, gigante e cheio de carinho para Mrs Claflin por ter pensando um nome de Shipp para os dois, que agora é Scarlotte (super fofo, neh?) ❤
Um cheio de nutella e purpurina para America Jackson Potter pelo comentário irrevogavelmente fofo e animador ❤
E um com muito carinho mesmo a Miss Clark, por ter me dado a idéia de dar signos aos personagens e por estar me apoiando muito nessa fic, você é um amor ❤
A Charlotte nasceu em 08/02, por conta disso, é aquariana. E o Scott, que eu achei a data de nascimento em um site por ai, é leonino (leão) por ter nascido em 30/7.

E a calmaria acabou, meu povo, vai vir muita treta nos próximos caps e também romance kjaksjksks E todo mundo sabe quem é que tava na sala que intimidou a Char, certo? O Derek, meu amô ❤

Enfim, calei a boca, espero que tenham gostado tanto quanto eu, beijocas e um feliz natal e ano novo! Obrigada pelos comentários, favoritos e acompanhamentos ❤



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