Hugo escrita por Rossetti


Capítulo 7
Sete


Notas iniciais do capítulo

Oi! Estou aqui novamente!
E postando esse capítulo na velocidade da luz, gotta go fast, porque tenho que ir trabalhar daqui a pouco. (já atrasada, precisamente)
Então se tiver algum erro, e provavelmente tem, me avise por favor e mais tarde corrigirei



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Eu consegui sair alguns dias. Meus amigos eram divertidos e segurar vela de Dressa e Paulo era menos esquisito uma vez que a paixão dos dois tinha diminuído e eles não ficavam se atracando em público. Mas nada disso chegava aos pés de como era quando eu tinha Hugo por perto; me pegava sentindo sua falta sempre que fazia algo que ele gostava ou imaginando como seria experimentar algo com ele, a cada coisa nova. Um exemplo foi quando percebi que nós dois nunca fomos pra um barzinho juntos e comecei a criar uma lista mental de quais lugares Hugo gostaria, levando em consideração cada detalhe.

Acabava sempre com alguém estalando os dedos na minha frente, perguntando em que mundo eu estava.

Estava em meu mundo castanho-esverdeado.

 

CAPÍTULO SETE

 

 

E foi o meu mundo que senti ruir quando, em uma ligação pelo Skype, Hugo me contou que estava namorando uma garota. Os dias que se seguiram foram mais um período que não consigo lembrar o bastante para descrever, já que foi como estar no inferno. Foram pelo menos três semanas, pelo menos, até que eu me sentisse um pouco melhor.

Um pouco, só um pouco, porque não existia a menor chance de que um dia parasse de doer. Eu dormia e acordava pensando nele, pensando que outra pessoa estava com ele, alguém que não era eu. E remoendo, a única vez que algo a mais aconteceu entre nós dois, ele não quis, mas tinha escolhido outra pessoa aleatória, alguém que ele conhecia há pouco tempo, para permitir que ela tivesse o direito de toca-lo e ama-lo. Eu me sentia tão trocado que a dor parecia física; eu nem tinha mais um motivo para estar vivo. De que adiantava? Eu poderia conquistar tudo, mas nunca teria o que mais amava, esse é o retrato de uma vida vazia.

Muitas vezes me pensei pegando nela, a namorada dele. Não era raiva, o que eu sentia. Talvez um pouco de desprezo pelo que aquela desconhecida representava. Ela não tinha como entender, assimilar ou ter noção do tamanho de sua sorte. Ela tinha a obrigação de se sentir a pessoa mais completa e feliz do mundo, porque o namorado dela era... O Hugo.

Pela primeira vez imaginei se alguém de fora veria Hugo como um cara normal, questionei se ele parecia perfeito para mais alguém ou se eu o via assim simplesmente por ama-lo tanto. Dei uma risada histérica quando esse pensamento me ocorreu. Eu conhecia cada defeito dele, cada lembrança embaraçosa e cada má escolha já feita por Hugo e ainda assim ele era meu centro de gravidade. Ninguém nunca amaria Hugo como eu amava.

Saber disso me entristeceu mais.

— Greg. – Meu pai me chamou e eu acordei dos devaneios.

Estava sentado no sofá, supostamente vendo um filme. Mas tinha acabado me perdendo entre ideias e, sem perceber, estava chorando.

Já faziam cinco meses desde o dia que Hugo havia me ligado e falado sobre estar namorando. Ainda doía como uma ferida recente. E ele não tinha vindo mais nos ver, as ligações diminuíram porque era doloroso demais ouvir sua voz, chamado no Skype nem pensar.

— Filho, você tá chorando de novo. – Ele falou, em voz baixa. É claro que estava. Eu passava quase o tempo todo segurando o choro.

— Ah. Não conta pras meninas, por favor. E nem... – Sequei o rosto de qualquer jeito e dei um sorriso falso. – Estava vendo o final da temporada, é emocionante.

— Se você está chorando por causa da série, porque não quer que eu conte para Sonia e suas irmãs? – Ele perguntou, encostando na lateral do sofá que eu estava. Como não respondi, meu pai deu um suspiro longo e colocou a mão no meu ombro, meio sem jeito. – Filho, você devia... Falar mais com ele. Faz tempo que vocês não se falam pela câmera, não é? As coisas sempre melhoram quando vocês passam um tempo se falando. Lembra aquela vez que vocês estavam brigados, antes dele ir?

Como se desse para esquecer.

— Pai... – Comecei a frase sem saber ao certo como iria acabar. – Estou feliz por você tentar achar uma solução. Mas nem tudo dá pra se resolver conversando.

Meu pai ficou quieto. Pude ver um monte de tristeza em seus olhos e me senti um filho terrível. Uma pessoa terrível.

Hugo finalmente marcou de nos visitar no fim do ano. Ele tinha terminado o segundo ano de faculdade. Minha família só consegui comentar como o tempo estava passando rápido. Para mim, era um eternidade.

Pensei o carro e viajar para a chácara de minha mãe, durante os dias que Hugo estivesse em casa. Pelo mais simples motivo: A chance dele trazer a garota era enorme. Eu não conseguiria ver Hugo com outra pessoa, mesmo que a parte racional da minha cabeça me lembrasse que eu teria que me acostumar com isso em algum momento, porque algum dia Hugo poderia se casar e eu não podia evita-lo para sempre.

Mas eu não podia ser tão covarde assim. Então fiquei em casa. Mais precisamente, na minha cama, dormindo, enquanto o resto da família foi busca-lo na rodoviária. Ninguém precisava saber que eu tinha tomado um remédio para dormir (e que vinha fazendo isso nos últimos dias), porque a minha ansiedade não me deixava descansar.

Quando acordei, me senti muito em paz durante os segundos em que eu não me lembrei da situação atual. E me lembrei aos poucos, mas ainda estava bem. Estava quente, me sentindo em casa e em paz. Só percebi que havia algo de diferente quando senti a respiração em minha nuca e alguém deitado atrás de mim.

— Desculpa te acordar, só precisava de um abraço. – Hugo sussurrou perto de minha orelha e eu me senti apenas bem. Estava meio dopado demais para sentir ou entender coisas complexas.

 

Mas o que importava era que Hugo estava em casa.

Quando acordei de vez, ele estava sentado do meu lado. Seu cabelo estava mais curto do que a última vez que eu tinha visto.

— Hey. – Falei, passando a mão no rosto.

— Caramba, nunca te vi dormir tão pesado. – Ele sorria e estava tão bonito que era quase doloroso olha-lo.

— Dormi tarde. – Menti. – Faz tempo que você chegou?

— Uns quinze minutos.

Eu quis perguntar se ele tinha trazido a namorada, mas não sabia como.

— Tem um bar que você vai amar. – Falei, de repente.

Ele riu mas não pareceu, de forma alguma, feliz.

— Você não tá bêbado, né?

— Não, Hugo. – Pronunciar seu nome parecia estranho. Tudo estava estranho.

— Estava com saudades. Você andou fugindo de mim. – Acusou, direto demais.

— Ahn... – Não consegui achar uma resposta adequada.

— Mas tudo bem. Te desculpo por isso se você parar de me ignorar. – Houve um pitada clara de ironia ali.

Respirei fundo e o ar era puramente o cheiro dele. Eu quis encostar a cabeça no ombro de Hugo, mas não sabia se tinha esse direito. Também não sabia se era certo ficar ali parado. Mas ele estava do meu lado e do outro lado a parede, eu não tinha para onde ir. Minha ansiedade foi aumentando, e mais e mais, quando dei por mim, estava prestes a chorar.

Hugo abriu a boca, sem conseguir falar nada. Então desviou o olhar, perdido, levantou e foi para perto da janela.

— Eu não consegui, só não consegui. – Sussurrei.

— Eu sou seu irmão, Gregório! Você não pode deixar de ser meu irmão! – Hugo exclamou, virando em minha direção. Levei um segundo para perceber que ele parecia estar quase chorando também. – Pelo amor de deus, eu sinto sua falta, sinto saudades, sinto que poderia morrer de tristeza só de não poder falar com você!

— Me desculpa, me desculpa Hugo. – Sussurrei. Levantei e segurei suas mãos. Elas tremiam.

— Eu sei que você... Eu sei que você não tá legal, mas por favor, Greg. – Ele parecia tão angustiado e eu me quebrei ainda mais, porque era Hugo, meu irmãozinho, meu amor, e eu não podia nem protege-lo da tristeza, pior que isso, eu estava causando. – Se você começar a me odiar, eu não sei o que fazer.

— Eu nunca... – Gaguejei. Então o abracei com força, como se isso pudesse mostrar de alguma forma tudo o que passava na minha cabeça, no meu coração. – Eu só... Eu não conseguia. E você demorou tanto para vir, tanto, eu não...

— Você não falava direito comigo, para que eu ia vir? – Ele soluçou e eu me senti um pouco mais exaltado.

— Eu não conseguia. Eu estou doente, eu... – Apertei o rosto contra seu ombro. – Eu sei que você quer ser meu irmão, como qualquer irmão, mas eu não sei, eu não sei, Hugo.

Ele ficou imediatamente mais tenso e se afastou o bastante para me encarar. Não falávamos disso, não deveria ser algo a ser falado.

— Greg...

— Você tem mais duas irmãs, com as quais fala pouco, porque, vou te contar, irmãos nem se falam tanto assim, então se você quer ser normal... Se você quer que as coisas sejam comuns... Além disso, qualquer pessoa normal iria preferir ficar falando com a namorada, no tempo livre, já que você tem uma namorada, de fato. – Descarreguei tudo isso, antes que me desse conta. Hugo ficou me encarando, pasmo, com os olhos arregalados.

— E você quer o que, jogar na minha cara que não sou normal?! – De repente ele estava irritado, falando mais alto. – Você precisa fazer isso? Porque nós dois sabemos que...!

— Eu estou triste, estou destruído, Hugo! Você acha que posso só fingir que está tudo normal e que posso passar por cima do que sinto? – Falei, levantando a voz também. – Se você consegue fingir...

— Eu não consigo fingir! Ou você acha que também não fico...

— Arrumou uma namorada!

— Ao menos eu tento!

— E o que você faria se soubesse que ando pegando um cara aleatório só pra manter a aparência? Você dormiria a noite, sabendo que tem outro em seu lugar, vivendo, tocando, transando comigo? Você aguentaria isso sem enlouquecer, Hugo?

Ele parou por um momento e eu quase podia sentir a raiva emanando dele. Tive certeza que ele, de fato, imaginou aquilo.

— Não me peça para saber lidar com você ou com qualquer coisa, numa situação dessas, Hugo. – Falei, com a garganta já ardendo pelo esforço. – Nunca te impedi de ir e fazer o quisesse, nunca reclamei de ter sido deixado para trás, nunca implorei pra que ficasse, não importa o quanto eu quisesse. Mas querer que eu fique bem é além do limite. Eu tentei brincar de irmão perfeito com você, mas se você quer mesmo namorar seja lá quem for, não dá pra mim.

Quando terminei de falar, por um breve momento, achei que Hugo iria me bater, já que fez um movimento brusco e inesperado. Mas ele apenas bateu na lateral do guarda roupa, seguido de um chute na cadeira, que a fez parar do outro lado do quarto.

— Vai ficar com raiva de mim, agora? – Perguntei, abaixando minha voz. Mesmo se eu quisesse, não conseguiria mais gritar.

— Estou com raiva da vida! – Gritou. Ao contrário de mim, a garganta de Hugo estava em ótimo estado, de forma que o prédio todo deve ter ouvido. – Queria que tudo se explodisse, que tudo acabasse, que tudo fosse se foder!

Sentei na beirada na cama e respirei fundo enquanto esperava o acesso de raiva dele passar. Levou alguns minutos para que Hugo se acalmasse, nos quais ficamos em silencio.

— Tenho uma proposta. – Ele disse, de repente. Levantei o rosto para encara-lo. Hugo se aproximou um pouco de mim, andando devagar. – Deixamos as coisas como estavam...

— Ótima proposta.

— ... Mas voltamos a nos falar. – Ele ignorou meu comentário. – E nada de namoradas.

— Hugo. – Eu suspirei.

— É sério, Greg. – Ele segurou meu rosto com as mãos e me encarou. – Eu termino com ela e nós continuamos tentando. Eu vou estar longe, mas nós ainda vamos... Ser nós mesmos. E nenhum de nós vai tocar em outra pessoa, nunca mais, não importa o que aconteça.

Senti meu coração amolecer um pouco.

— O que eu falei te incomodou mesmo, né? – Sussurrei. Hugo deu um sorriso triste, então fechou os olhos e encostou a testa na minha. Fechei os olhos também e fiquei sentindo sua respiração batendo em meu rosto, suas mãos quentes nas minhas bochechas.

— Me perdoa por ser um babaca, egoísta, insensível. – Ele pediu.

— Eu sempre vou te perdoar, Hugo. – Respondi. Coloquei uma mão em sua nuca e subi devagar, passando os dedos pelos cachos macios. –

Acho que ele sorriu. E estava tão perto, que eu poderia...

Nossos lábios se tocaram por um momento muito breve.

Então Hugo virou meu rosto e beijou minha bochecha.

— Vamos tentar, ok? – Ele disse, acho que mais para si mesmo do que para mim.

 

 

 

— Eu achei que vocês iam se matar. – Tati sussurrou para mim, minutos depois, na cozinha. Todo mundo estava fingindo que não tinha nos ouvido gritar. E Hugo estava colocando gelo na mão porque, aparentemente, bater em objetos sólidos de madeira pode te machucar. – Você tá ok?

Respondi que sim, apenas balançando a cabeça, porque minha garganta estava ardendo.

Eu tinha acabado de descobrir, da pior forma, que não conseguia gritar igual qualquer pessoa. Incrível.

— Acho que isso não vai melhorar tão já. – Hugo comentou, colocando o gelo no meio de um pano. Então olhou para mim. – Quer deitar na grama?

Balancei a cabeça de novo e fui com ele lá para fora.

 

A noite, dormimos separados. Mas antes de deitar, Hugo me deu um beijo demorado na testa. Foi bom.

 

Como sempre, a estadia de Hugo pareceu mais curta do que realmente foi. Num piscar de olhos estávamos indo para a rodoviária leva-lo.

Enquanto o ônibus não chegava, sentamos num banco perto da plataforma. Hugo sentou do meu lado e encostou a cabeça no meu ombro. Eu quase já podia sentir saudades do seu cheiro, seu calor.

— Você vai me ligar todos os dias, não vai? – Ele perguntou baixinho, de uma forma quase infantil. Me lembrei de nós dois pequenos, de como era simples a vida. Dormir juntos, andar de mãos dadas, declarar abertamente a nossa carência um pelo outro. Fui invadido por uma lembrança doce, de um dia que carreguei Hugo nas costas até o parquinho perto de casa. – Greg?

Eu sorri e segurei sua mão.

— Claro, Hugo.


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Notas finais do capítulo

Se você chegou aqui, saiba que já te amo!
Mesmo assim, quero comentários, pldds. Eles são meu combustível, eu ja disse isso, né?
comenta nem que seja pra ser o famoso "gostei, continua"
Um abreijo pra cada um que se arriscou até aqui! ♥



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