Kingdom Come — Interactive escrita por Ártemis


Capítulo 3
Capítulo 2 ▬ A Regra do Jogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. . . . . . .
Tudo bem?
Em minha legitima defesa, eu estava muito preocupada com as provas finais.
Tudo o que tenho a dizer é:

F - É - R - I - A - S



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07/07, 08:00 Residência Winthrop, Angeles.

O despertador tocou, irritando a jovem.

Cordelia pegou um travesseiro e jogou na direção do aparelho, que se partiu em mil pedacinhos. Não se deu ao trabalho de conferir o estrago, era o quarto despertador que quebrava na semana. Suspirou e simplesmente voltou a dormir. Estava sonhando com um jardim feito de doces, deitada em uma cama de algodão doce, o aroma de chocolate quente era delicioso; seu reino encantado era magnífico.

— Senhorita? — perguntou, uma voz suave.

De repente, tudo ficou escuro. Havia uma pequena luz, parecia estar muito distante. Ela não gostava de ficar no escuro, decidiu seguir a luz.

— Senhorita, por favor…

Cordelia acordou assustada, sua governanta estava parada na porta de seu quarto.

— O que aconteceu, Maggie? perguntou, ainda um pouco alarmada.

Nunca mais comeria tanto chocolate antes de dormir. Seu belo sonho havia se transformado em um pesadelo, odiava ficar sozinha no escuro.

— Seu avô está aqui.

A garota arregalou os olhos, surpresa. Levantou-se depressa, calçou as pantufas de coelhinhos, vestiu um roupão que estava por perto e saiu do quarto apressada, descendo as escadas correndo . Não era para vovô Nete estar em casa, pois, segundo ele mesmo, ficaria uma semana fora resolvendo assuntos do país. Contudo, lá estava ele, em pé na sala de estar, vestindo um terno listrado e sua tradicional gravata borboleta.

— Bom dia, Cordelia. — comprimentou, cordial como sempre. — Vejo que a acordei, sinto muito.

— Sem problemas, vovô! Eu já estava acordada mesmo. — disse, enquanto tentava ajeitar o cabelo desgrenhado.

— Vamos conversar na biblioteca, tenho assuntos importantes a tratar.

— Claro.

A jovem tentou imaginar os motivos que levaram seu avô a retornar antes do previsto. Talvez ele estivesse aqui para informar que viajaria para o exterior ou que ela mesma teria que viajar. Não seria uma surpresa, com os ataques recentes, vovô Nete devia estar muito preocupado; ele prezava por sua segurança.

A biblioteca dos Winthrop não era muito grande, havia apenas duas estantes de livros, uma mesa e algumas poltronas. Biblioteca, era como que o avô de Cordelia se referia ao escritório.

—Sente-se, querida. — disse e indicou uma poltrona.

A garota deu um sorriso amarelo e se sentou, um pouco desajeitada. Estava horrível, seu avô havia escolhido o pior momento para encontrá-la.

— Então, vovô. — começou, sorrindo animada. — O que faz em casa tão cedo?

— Haverá uma Seleção.

Levou cerca de um minuto, para a garota compreender as palavras do mais velho. Cordelia abriu e fechou a boca três vezes, sem conseguir dizer nada. Seus olhos verdes encararam o avô, ele não transmitia emoção alguma.

— Certo. Uma Seleção. E daí? — perguntou, voltando a sorrir. O senhor suspirou, parecendo cansado.

— Os jovens de hoje são todos iguais. — resmungou, para si mesmo. — Quero que se inscreva. Você é famosa, será aceita com toda a certeza.

— O quê? — perguntou, com uma voz fina.

— Sei que está fugindo da proposta de voltar a atuar novamente, Cordelia. Você não está conseguindo lidar com isso, a senhora Maggie me contou sobre os despertadores.

Ele havia acertado o alvo. O sorriso alegre e divertido se transformou em uma expressão de olhos e bocas arregalados.

— Vovô, o que a Seleção tem a ver com isso? — perguntou, desesperada. Não era para a governanta ter contado sobre os despertadores quebrados, ela havia pedido segredo.

Há quase um ano, Caramelo Encantado chegara ao fim. Há quase um ano, Cordelia não atuava.

— Será bom para você, é uma oportunidade única…

— Como você sabe que haverá uma Seleção? — interrompeu.

Vovô Nete nada respondeu.

— Vovô! — gritou, levantando-se da poltrona. Começou a andar em círculos, nervosa. Cruzou os braços, parou e encarou o avô fazendo bico. Atitude muito infantil, mas o senhor decidiu não comentar sobre o gesto.

— Escute-me, Cordelia. — disse, com a voz firme. — Ninguém poderá lhe propor nada no palácio, estará a salva por lá. A Seleção é sua chance, oportunidade única na vida.

Sentou-se novamente na poltrona, era muito informação para uma manhã. Ela sabia o que era uma Seleção, conhecia a história do show, ou melhor, conhecia todas as histórias do show. Há dois anos atrás, ela aceitaria sem pensar duas vez. Porém hoje ela era alguém totalmente diferente. E vovô Nete sabia disso.

— Se haverá uma Seleção, quero dizer, Daniel Ryeo está desesperado para encontrar uma esposa. É isso? — perguntou, tentando fazer graça. Era típico dela, contar uma piada depois de aparentar estar muito, muito, muito desesperada. — Vovô, o senhor não quer que eu me inscreva para ser uma das opções do princípe! Ou quer?

— Sei que é difícil para você, mas pense bem. Acho que você seria uma ótima rainha! — dito isto, retirou-se da biblioteca, deixando Cordelia sozinha com seus pensamentos.

A Seleção era a chance de uma vida.

Ela não queria mudar de vida, não queria voltar a ser o centro das atenções. Possuía tudo do bom e do melhor, estava em uma casta excelente e tinha uma casa com vários empregados só para si. Por que diabos ela iria se inscrever num concurso idiota? Não era mais segredo que estava fugindo da atenção da mídia, seria horrível, talvez mil vezes pior, se fosse realmente Selecionada.

Eles, os monstros chamados jornalistas, não se cansariam de fofocar sobre Cordelia Winthrop, A Selecionada.

11/07, 21:00 Palácio de Illéa, Angeles.

O estúdio estava mais agitado que o normal, pessoas corriam de um lado para o outro, testes com as câmeras eram feitos e o diretor gritava para alguém colocar o trono do rei no lugar correto. Em dias normais, toda aquela agitação, teria feito o rei chamar alguém e mandar colocar todas aquelas pessoas na linha. Linha reta, pois odiava curvas.

O grande dia havia chegado e Henry queria que tudo acabasse logo. Confessara ao pai estar ansioso para o início da Seleção, talvez esse tenha sido o erro. O rei mandara ele cobrir o irmão, dando ênfase à sua animação em conhecer trinta e cinco garotas. Ele não era um suporte de Daniel, não era alguém que fazia favores à pessoas ignorantes como ele. Todavia, como o próprio pai havia lhe dito, era pelo bem de todos.

Olhou disfarçadamente para o lado, onde uma mulher tirava o brilho do rosto de Daniel. O irmão mantinha uma expressão fechada, típico dele, enquanto a mulher tentava puxar assunto. Henry suspirou, sua missão começaria agora.

Girou sua cadeira, de forma que ficasse de frente para Daniel.

— Está ansioso? — perguntou, notando a surpresa do irmão ao ouvir sua voz. Ele apenas o encarou e levantou uma sobrancelha, como se não acreditasse em sua pergunta. — Bem, eu estou um pouco.

— Oh, querido, você está nervoso? — questionou a mulher. Henry tentou ler o seu crachá e descobriu que seu nome era Lisander. — Estou curiosa para saber o grande anúncio do pai de vocês, soube que é algo mega, blaster, ultra mega blaster….

Hein?

— … Mas eu não esperava que estivesse nervoso, afinal você deve saber do que se trata…

Ele olhava a mulher tagarelar e passar mais pó do que necessário no rosto de Daniel. O irmão o encarava com uma expressão de você me paga, idiota.

— Hã, Lisander… — interrompeu.

— Oh, Criador! — gritou e quase derrubou os pincéis que segurava em Daniel. — Você sabe o meu nome!

Estava escrito no seu crachá e ele sabia ler.

— Senhorita, acho que alguém está lhe chamando no estúdio. — O irmão havia tomado as rédeas da situação. Lisander se despediu com vários pedidos de desculpas, alegando que voltaria em breve.

Um homem, da equipe de produção, surgiu e disse que estava na hora de irem se sentar no estúdio. O Jornal Oficial de Illéa começaria em breve.

Aiden Walker, o apresentador do Jornal Oficial de Illléa, chegou ao local, vestindo um terno roxo brilhante e uma gravata de bolinhas amarelas. Henry achava divertido o jeito carismático do apresentador e suas roupas bregas. Ainda não fazia ideia de como um homem, que tinha um péssimo gosto para escolher gravatas e não sabia se vestir bem, havia conseguido ser um apresentador renomado.

Arthur Ryeo adentrou o estúdio, sendo seguido por seus três fiéis ministros. Acomodou-se em seu trono, enquanto os outros homens se sentaram em luxuosas poltronas à direita dos príncipes.

— Não. — disse Daniel, enquanto se sentavam na frente do trono do rei, tirando-lhe de seus devaneios. Henry nada entendeu, ouviu um suspiro do irmão e percebeu que seu tom de voz não fora tão… Ranzinza. — É você quem está nervoso.

O diretor pediu silêncio, o programa começaria em breve.

11/07, 21:25 Residência Satoroi, Summer.

O clima quente da província de Summer era um problema. De acordo com o aplicativo de previsão do tempo, fazia quase 38ºC e não havia sinais de que choveria em breve. A família de Yoki estava reunida em frente ao aparelho de televisão, era tradição assistir o Jornal Oficial de Illéa, abanando-se uns aos outros com leques.

A casa era feita de um material que a deixava abafada, o ar condicionado havia quebrado. A jovem desejou estar em seu quarto, ensaiando uma nova coreografia, tentando esquecer o inferno que estava vivendo.

Sua mãe havia preparado uma deliciosa limonada, bem gelada, que seria servida durante o programa. Talvez esse fosse o motivo da menina estar naquela sala, rodeada por familiares conversando em japonês. O pai de Yoki prometera que, no dia seguinte, iria comprar um novo ar condicionado. Apenas pessoas das castas mais altas sobreviviam ao Verão Infernal de Summer.

Todos ficaram em silêncio, quando o brasão do país apareceu na tela. O hino nacional começou a tocar e todos cantaram juntos, em perfeita sincronia.

Das cinzas nosso mundo será reconstruído,

Com lágrimas inocentes de sangue,

Não há vitória, sem perseverança,

Estaremos salvos, se cantarmos esta canção,

Para que nossas crianças não chorem,

Deveremos nos manter em união,

O pecado, o mal, a iniquidade há de serem destruídos,

E que esse seja nosso lema: “Em Deus está nossa confiança.”

O sorriso de Aiden Walker surgiu na tela e, pelo Criador, que roupa era aquela?

— Yoki, pegue as bebidas e os aperitivos na cozinha. — ordenou a mãe.

A garota se levantou do sofá imediatamente, não estava aguentando aquele calor na sala. Foi até a cozinha, abriu a geladeira e pegou a jarra de limonada, como também a bandeja de queijos. Chegando à sala, deixou tudo na mesinha de centro e voltou para pegar os copos. Somente ouvia a voz rápida e animada de Walker, dizendo alguma coisa sobre mudança de vida.

Distribuiu os copos e começou servindo os avós, pois os mais velhos sempre deveriam receber atenção especial, tudo sob o olhar atento da mãe. Yoki sabia que a mulher apenas se preocupava com sua boa educação, mas, às vezes, a garota desejava que Keiko Satoroi conseguisse enxergar além da Yoki que conhecia.

— … Ela estava muito animada, queria logo conhecer a sogra!

— Não é uma grande surpresa, Majestade. A senhorita Ryeo deve estar muito apaixonada.

— Acredite, ela está.

As risadas do rei e Walker contagiaram a todos, nem mesmo o pai de Yoki conseguiu conter o sorriso.

Larine Ryeo, a Princesa, havia viajado à França para conhecer a família do noivo.

— Não sabia que ela estava noiva. — comentou, em japonês para que os avós entendessem.

— Ninguém sabia, era algo muito pessoal. Eu acho.

A câmera focava, algumas vezes, nos príncipes. Ambos usavam ternos cinza e gravata preta, até mesmo o penteado era parecido. Eram raras, as ocasiões, em que os irmão Ryeo usavam algo idêntico. Apenas no velório da Princesa Anastiny Ryeo, onde todos utilizaram preto. O programa continuou sem muitas novidades, o apresentador informou o número de mortos do Atentado de Atlin, informações sobre o alistamento obrigatório e outras coisas que Yoki não prestou atenção.

O calor estava insuportável, enrolou os cabelos em um coque alto e se encostou no sofá. Teve a decência de cobrir a boca, ao bocejar de tanto sono. Ela contava os minutos para o fim do Jornal Oficial de Illéa, deseja tomar outro banho, pois o suor lhe escorria pela testa.

Um…

Dois…

Três minutos….

Um ventinho gostoso entrou pela janela e a garota sentiu os olhos pesarem. Não se sabe por quanto tempo cochilou, ao certo. Dez minutos, talvez?

— Oh! — Despertou com o grito da mãe, e percebeu que todos olhavam para ela.

— Sim, uma Seleção. — disse o rei, muito animado. — Repetindo, à todas as jovens de Illéa, Daniel e Dalgliesh decidiram organizar uma Seleção. Eu, como um bom pai, concordei com suas escolhas.

Os jovens sorriam para o pai, talvez, contagiados com sua alegria. Yoki não entendia, exatamente, o que estava acontecendo.

— ...Mas Majestade, como as belas moças de Illéa poderão se inscrever, neste grandioso evento? — perguntou Aiden Walker, como se não soubesse de nada.

— Ora, Aiden! Amanhã mesmo todas as jovens solteiras, entre dezesseis e vinte e quatro anos, receberão uma carta, convidando-as a participar da Seleção.

O coração de Yoki estava acelerado, eles não realizavam uma Seleção há anos.

— Será algo magnífico, Majestade.

— Sim, é claro que será! — o rei deu uma risadinha, que foi acompanhada por todos no estúdio — Há algo a mais.

Toda a família se aproximou mais um pouquinho da televisão, até mesmo os avós de Yoki, que não entendiam uma palavra do que estava sendo dito.

— Elas disputarão o coração dos meus filhos ao mesmo tempo. Será uma Seleção dupla, ou melhor, única.

Yoki percebeu quando seus pais arregalaram os olhos e se encararam, por questão de segundos.

Oh, não….

O Jornal Oficial encerrou-se com o anúncio de uma Seleção, trazendo esperanças de um futuro melhor à trinta e cinco garotas.

Angeles não ficava muito distante de Summer e Yoki pensou, quem sabe, talvez, no palácio houvessem muitos ar condicionados para combater o calor.

11/07, 23:45 Tulip Fever, Dakota.

O lugar estava lotado, a música alta incomodava um pouco, mas as pessoas fingiam não ligar, apenas dançavam conforme o ritmo da música. Era a sexta-feira mais agitada do mês, a boate nunca havia recebido tanta atenção desde que os proprietários decidiram acabar com o show de stripers.

Migma andava de um lado para o outro, carregando bandejas de bebidas. Sexta, era dia de sucos naturais. Todavia, todos estavam mais interessados em pedir bebidas alcoólicas. Sua amiga, Anges, não estava se sentindo muito bem, então ela tinha que cobrir seu turno.

— Ei, gracinha. — disse um rapaz, quando se aproximou do balcão de bebidas. — Me vê mais uma Splik!

Sua voz era arrastada, seus olhos estavam avermelhados e estava sentado em um banco, tentando se equilibrar para não cair. Migma fez seus cálculos, aquela era a oitava vez que ele bebia o drink mais forte do lugar.

Algumas pessoas iam à Tulip Fever apenas para se divertirem e dançarem com os amigos, a maioria era jovem, como ela. Outras pessoas, como o rapaz, estavam ali para beber como se não houvesse amanhã. Ela não se preocupava com esse tipo de pessoa, se quisessem morrer de cirrose, que morressem.

— Minha Splik….

Com um suspiro, começou a preparar o drink e, sem que ninguém percebesse, colocou água no lugar da bebida alcoólica. Ele nem notaria a diferença, de tão bêbado que estava.

E havia outro grupo de pessoas, na visão de Migma, que mereceriam uma nova chance.

— Aqui. E não beba tudo de uma vez.

Era isso, ela tinha um ponto fraco, quando se trata deste grupo de pessoas.

Circulou o lugar, atendendo clientes, anotando e entregando pedidos. A garota estava exausta, seu dia havia sido muito cansativo. Tocara em quatro festas de aniversário infantis, tendo que aturar as crianças pedindo que cantasse músicas de Caramelo Encantado.

Pelo Criador! Já havia passado da idade em que cantava esse tipo de música, mas quase ninguém lhe contratava para ouvir canções de sua autoria.

Já passava da meia noite quando Migma decidiu procurar Mallo, o gerente. Ele estava em seu escritório, no fundo da casa noturna. Bateu na porta e esperou, entrou quando ouviu o homem gritar entre. Mallo, um homem alto e gordo, fumava enquanto fazia contas na calculadora, a mesa estava uma bagunça, cheia de papéis.

Contas.

— Algum problema, Anêmona? — perguntou, sem tirar os olhos da calculadora. Migma não conseguiu respirar fundo, por causa da fumaça do cigarro.

— Preciso sair mais cedo.

— Seu horário de saída é às três, é o combinado.

— Qual é, Mallo?! Anges passou mal de manhã, preciso ver como ela está.

O homem finalmente desviou o olhar da calculadora e encarou a garota. Seu semblante não era raivoso ou assustador, mas não era de alguém disposto a negociar. Migma retribuiu o olhar, intensamente.

— Se quiser receber seu salário, irá trabalhar até às três.

— Sobre isso… Preciso do meu pagamento adiantado.

— O quê? É alguma piada, Anêmona?

— Olha, eu não saio mais cedo. — começou. — Só me pague adiantado, está bem?

Ela ouviu Mallo murmurar alguma coisa e depois um está bem. Migma podia fazê-lo lhe pagar adiantado e conseguir sair mais cedo, mas havia prometido que nunca mais usaria seus antigos métodos. A garota só precisava do dinheiro para pagar dois meses de aluguel atrasado; caso contrário, amanhã mesmo, ela e Anges estariam na rua. Ajeitou o uniforme apertado e saiu, voltando ao trabalho.

Sua barriga roncou de fome, comeu um sanduíche na cozinha e voltou a circular com a bandeja de bebidas. Era ágil, ao deslizar pelo salão, sem trombar em ninguém.

Cansada, decidiu ficar atendendo no balcão. Para sua surpresa, ou nem tanto, o rapaz que atendera mais cedo estava no mesmo lugar. Falava com alguém no telefone, seu rosto estava molhado, assim como sua camisa listrada, não parecia estar muito bêbado. Talvez, pensou ela, poderia ter tomado um banho de água fria, na pia do banheiro.

— Então, ganhe A Seleção e seja feliz com seu Príncipe Encantado! — gritou. Por fim, ele desligou e notou que a garota o observava.

— Ei, garota de cabelo cacheado. — ele a chamou. — Quero a bebida mais forte que tiver!

E lá vamos nós, de novo.

[...]

Migma destrancou a porta, o mais silenciosamente possível para não acordar Anges. Trouxera, da Tulip Fever, um sanduíche de atum e alguns petiscos. Quase ninguém comia nada por lá, preparar comida era desperdício. Guardou o sanduíche na geladeira e foi comer os petiscos na sala. O apartamento, que dividia com Anges, era uma caixinha de fósforo, mas era o suficiente para duas garotas pobres.

Desamarrou o rabo de cavalo, deixando os cachos caírem por seus ombros. Não se deu ao trabalho de tirar o uniforme e vestir outra roupa, ela precisava apenas comer e dormir.

Mallo havia lhe pagado, então amanhã ela ainda teria um lugar para dormir. Pensou em como a sua vida acabara assim, sem propósito algum. Sentia saudades da vida no circo, saudades de estar em uma plateia de verdade e ser aplaudida; eram lembranças que nunca desejou esquecer.

Aquele pequeno apartamento, um dia fora seu, então veio a crise e ela precisou hipotecá-lo. O último ano foi bem difícil de lidar. Ganhava uma mixaria, tocando em eventos. Então, Anges lhe arranjou um emprego na boate. Nunca havia sido DJ, mas conseguiu lidar com a situação. Então, Mallo lhe ofereceu um emprego de garçonete. Era contra as leis, pois ela era uma Cinco. Contudo, ela precisava do dinheiro e não trabalhava com registro, as autoridades nunca descobririam.

Migma odiava trabalhar até tarde na boate, mas adorava os petiscos que podia levar para casa. Cansou de pensar em sua trágica vida de adulta. Tudo continuaria assim, do jeitinho que estava.

Um milagre não aconteceria.


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Notas finais do capítulo

Betado por Lizzie - PD

Como eu havia dito, fiz um sorteio para decidir quem apareceria.
Espero que tenham gostado, amores ♥
Comentem suas opiniões, teorias, sugestões...Tudinho hahaha.
Então, eu senti saudades de algumas leitoras. Espero que não tenham se tornado fantasminhas hahahaha.
Beijos, galera!

Ps: Kingdom Come entrou em clima de Natal. Gostaram da nova capa? hahaha.