Damned escrita por IS Maria


Capítulo 12
Caius


Notas iniciais do capítulo

"Não somos cadáveres,
Ainda sim, apodrecemos."
- Desconhecido.



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— Vai me olhar trocar de roupa? — Ele tinha a convencido mais uma vez.

— Eu não me importaria. — Viu a sombra de um sorriso no rosto dele. — Te espero do lado de fora. — E sumiu.

Ele não tinha nem a dado ideia do que vestir. Lembrou-se, pelo menos, das lentes de contato.

Vestido? Calça? Por quê parecia ter mais vestidos do que calças? E por quê estava tão nervosa? O que deveria vestir para mostrar que não se importava? Se é que não se importava.

Botas curtas de salto grosso, pretas, saia de veludo, vermelha e uma blusa de mangas, preta. Penteou o cabelo.

Teria de levar mais algumas lentes de contato consigo, no caso de o veneno derreter as que ela usava.

“Carlisle, quis tentar caçar mais uma vez, por favor, eu preciso tentar.” Escreveu em um bilhete.

Kate não sentia que mentia. Ela realmente precisava tentar mais uma vez. “Ver o outro lado da história,” ele havia dito. No entanto, havia algo que a intrigava. Ela não o conhecia direito, mas pelo o que tinha visto, não esperava que ele viesse atrás e, certamente, não esperava que fosse tão rápido.

Ele tinha a deixado ir embora. “O que tinha o feito mudar de ideia?” Era o que se perguntava.

Ela correu para o Diabo e ele a esperava.

Caius, ao vê-la, pensou em todas as mulheres de seu passado que, torceriam seus narizes ao ver a pouca quantidade de tecido que ela trazia no corpo. Conseguia também, lembrar de alguns nomes que teriam dado toda a sua fortuna para a ter por alguns minutos.

O olhar ao rosto dele, era furtivo.

— Quero saber onde vamos desta vez. — Ela não queria ser levada para um lugar que não estava preparada, novamente.

— Para um lugar onde eu não normalmente iria.

Não fazia ideia de que tipo de lugar seria e a sua intuição lhe dizia que só saberia quando ele desejasse. Ela desconfiava de que ele não costumava ouvir muitos nãos.

— Sem cobrir meus olhos desta vez.

— Corra comigo...se puder.

Caius a pressionava contra a borda, desafiando-a. Kate não fazia ideia do quanto era competitiva, até o conhecer. Nunca tinha sentido que precisava..nunca pôde correr daquela maneira.

Ela correu na frente, mesmo que não soubesse o caminho e logo o ouviu atrás a alcançando com facilidade. Agora, podia ter uma visão clara de seus movimentos. Era tão gracioso quanto havia imaginado, realmente parecendo flutuar enquanto se movia.

Kate lhe parecia ainda mais livre durante a noite. Caius tinha de admitir não encontrar um espírito como o de Kate, fazia muito tempo. Na verdade, não se lembrava de ter visto um parecido.

Ele ainda procurava nela, o que tinha ido até ali para encontrar, mas, a tendência dela de escapar por entre seus dedos sempre que ele sente perto de tocar a verdade, começava a o deixar impaciente.

Não podia estar errado. Nunca estava errado. Tinha dito aos outros e para Aro que encontraria alguma coisa e não voltaria de mãos vazias.

“Elijah tem razão, a imortalidade cai muito bem nela.” Caius pensou consigo.

A levou até um bar específico em uma das vielas de Port Angeles. Se misturavam bem na noite, juntos.

Mal tinham chegado na entrada e a música já era alta o suficiente para incomodar os ouvidos de Caius. Aquela mistura de pop, rock e heavy metal, não era o tipo de música de sua preferência.

Ficou surpreso ao notar o quão curiosa ela parecia.

(Welcome to the jungle - Fleurie era o que tocava)

Você também pode sentir...alguém está te observando.” Os lábios dela se moveram juntos à canção e ele os assistiu.

Ele se perguntou se ela realmente ouvia aquele tipo de música.

Não tiveram que se juntar à fila que havia se formado ao redor do local e parecia se estender até a próxima esquina. Uma troca de olhares com os caras da portaria e estavam dentro.

Kate pode jurar ter visto um cara,  de, provavelmente, dois metros de altura, abaixar a cabeça para não o olhar nos olhos. Ela só podia ter se enganado.

Quando passou por ele, ela entendeu.

Ele era um vampiro.

“Será que teriam mais por ali?” Ela não podia deixar de se perguntar.

— O que vamos fazer aqui? — Kate não via como entender o “outro lado,” em um lugar como aquele.

Ele a ignorou e começou a andar ao meio da multidão.

Kate se deu conta.

Ele só podia estar de brincadeira. O lugar estava lotado, tanto que não havia espaço para mais um corpo. Pescoços contra pescoços. Ela prendeu a respiração. Será que adiantaria? Quando ela começasse a andar e os outros se chocassem contra ela, com certeza, tudo estaria perdido.

Será que essa era a intenção dele? Colocá-la sob mais dor?

Ele a puxou para a única ala vazia de todo o lugar. Separada por faixas vermelhas de veludo, com sofás e mesas, pequenas o suficiente para não caberem mais do que três pessoas.

Caius se sentou e a trouxe para o seu lado.

Ela não precisava estar perto, mesmo com a música alta, os dois poderiam se ouvir com clareza, diferente dos humanos, mas, levantar suspeitas não era uma boa ideia.

— Como está a sede? — Ele a provocou de novo. Ela tinha de começar a contar suas provocações e começar a revidar-las.

— Sob controle. — Ela mentiu. Tinha caçado e prendia a respiração, mas podia sentir seu corpo se agitar. Seus dedos seguravam o couro do sofá, com força. Podia sentir o tecido se partir sob seu toque.

— Você mente muito mal.

— Mentir não é uma qualidade.

— Claro que não. — Ele deu de ombros. — É um talento.

Kate se perguntou o quão bem ele conseguia mentir.

— E então? Como eu devo entender o outro lado da história?

— Eu não te trouxe aqui para entender o outro lado da história. — Ele revirou os olhos. — Te trouxe para que dê mais uma chance ao outro lado.

Ela não podia acreditar. Justo quando acreditava não poder se surpreender mais.

— Eu não vou…

— Não precisa matar ninguém. — Ele a cortou. — Ali...ali e….ali. — Ele apontou para um cara próximo ao balcão, outros dois próximos ao que ela acreditava ser a entrada dos banheiros e para uma mulher que dançava perto onde eles estavam.

— Vampiros. — Ela reconheceu.

— Uhum. Tem outros.

— Não entendo.

— Aqui é o único lugar que, se você perder o controle, nada de ruim vai acontecer. — Ele a olhou nos olhos. — Só para a sua consciência, claro.

— E você quer que eu…?

— Seja quem você é, sem preocupações, por uma noite. — O que ele lhe ofereceu, parecia ilusão.

— Sem preocupações?— Repetir em voz alta parecia ser ainda mais loucura.

— Somos leões em um mundo de cordeiros. —  Sua voz era baixa, porém grave e intensa. —  Somos os predadores...nunca a presa… e me deixa bravo ver que eles tentam a convencer do contrário. O mundo é seu Katerina.

As palavras dele a atingiam como pedras.

“Era só uma noite, certo?” Ela pensou.

Mais uma péssima decisão. Kate parecia perder sua capacidade de pensar sempre que estava perto dele.

Ele a convencia fácil demais.

A tentava com facilidade, como se tal fosse o seu poder.

Sentia despertar nela, algo que sempre esteve ali e que nunca foi explorado.  

— Você dança?

— Não esse tipo de música. — Caius era um dançarino maravilhoso e conhecia as melhores valsas clássicas que ganharam os séculos, mas descer ao nível daquelas canções, era pedir demais.

— Claro que dança.

Kate usou sua força de recém-criada para o tirar do lugar.

— Se quer jogar sujo...vamos jogar sujo. — Ele passou as mãos dele contra a cintura dela e a girou, trazendo-a para perto.

“I saw you come in from across the room

With that look in your eye”

Os olhos dela pareciam pegar fogo. Ele podia ver suas lentes derreterem, sendo consumidas pelo carmesim. Não acreditou que alguém fosse perceber.

Era isso o que Caius desejava libertar. Todo o calor que ele jurava existir dentro dela. Katerina não era uma Cullen, estava escrito em seus olhos carmesim.

“Imagination running wild, I'm doomed”

Ela fazia com que ele se sentisse no controle e em seguida, tomava o controle de suas mãos com facilidade. Caius não gostava daquela instabilidade.

Ele a girou mais uma vez e a prendeu contra seus braços.

“Your breath against my neck, it grabs a hold of me

I lost control I feel it in my bones

There's something telling me to stop but I just can't say no

No, I just can't say no”

Os olhos dele a penetravam como se pudessem a dilacerar em pedaços. Kate podia sentir-se derreter sempre que o corpo dele se encontrava contra o dela. Teve sorte de seu sangue não correr mais em suas bochechas, ou agora já teria sido pega.

Ela se soltou por alguns segundos dos braços dele, mas o espaço era pequeno demais para que se separassem.

Suas correntes as soltaram e ela teve uma pequena amostra do qual era o sabor de se estar livre de preocupações.

Ela só dançava, com ele por perto, ainda sim, a realidade parecia outra.

“You got something

Worth exploring

I must be crazy

You got me feelin' like I'm dancing on nails”

Ela cantou. Seus lábios dançando mais uma vez, como faziam sempre que ela conhecia alguma canção. Kate manteve seus olhos presos aos dele. Não porque queria, mas por não conseguir se libertar da influência dele.

“I've lost control, I feel it in my bones”

A essa altura, nenhum dos dois dançava mais.

Ele segurou o rosto dela em uma de suas mãos, o polegar contra sua bochecha e a trouxe mais para perto. O toque dele não era quente ou frio demais, era exatamente a mesma temperatura que a dela.

Kate não podia acreditar que um coração morto e gelado poderia bater, mas o dela parecia que podia. E se realmente podia, acelerava.

“Um coração morto, gelado, podia bater de novo? Parecia que o meu podia.”

                                                                      — Edward Cullen.


Ele era desconfortável, inconveniente e incômodo. Nada de doce e salgado, no mínimo picante.

— Não pense, por um segundo, que pode jogar contra mim. Você vai perder. — Ele sussurrou e ela pode o ouvir com clareza.

— Vá em frente. — Ela sorriu. — Me subestime.

O canto da boca dele se curvou. Mais do que ela já tinha o feito fazer. Não era a sombra de um sorriso ou a metade de um. Era um sorriso.

De repente, Kate foi tomada por uma agitação súbita, conhecida. Assim que sentiu seu estômago pesar, procurou por um banheiro.

Mal conseguiu chegar até o limite de azulejos.

Colocou para fora, na pia, tudo o que tinha caçado. Manchou o espelho e boa parte de si mesma.

Ela estava vivendo tudo de novo. A tontura veio com mais força. Ela se apoiou contra a parede e sentiu uma nova onda de náusea subir. Ele a observava da porta do banheiro. Braços cruzados. Nenhuma expressão no rosto.

— Será que foi alguma coisa que você comeu? — Ela o ouviu caçoar.

Kate sabia o que vinha em seguida. Sede incontrolável devido à desidratação.

— Me tira daqui! — Ela o pediu. Com sangue no rosto e nas mãos. Cabelos bagunçados e olhos pesados.

Normalmente ela teria alguma coisa a dizer quanto a ser carregada contra a sua vontade, mas agora, tinha medo do que faria se ele a deixasse voltar para a multidão com suas próprias pernas.

Fechou os olhos por alguns minutos, ainda que não pudesse dormir. Não se preocupou em observar o caminho. Ela tinha falhado, mais uma vez, em ser como os outros.

Quando Kate tornou a abrir os olhos, tinham chegado a uma casa.

Mas, não era a casa dela.

— Eu consigo andar. — Fez com que ele a soltasse. — Imagino que seja aqui que mora.

— Por enquanto.

Sendo completamente diferente da maneira como os Cullen viviam, ainda que fosse uma bela construção, não haviam paredes de vidro, janelas enormes, varandas e sacadas. Era escuro e fechado. Assim como quem morava ali.

Perguntou-se se ele moraria sozinho naquele lugar daquele tamanho, ou se alguém moraria com ele.

— O que vou encontrar? Pessoas com os pulsos cortados, prontas para me receber?

— Não! Mas, é uma ideia interessante para decoração.

Ao abrir a porta, teve acesso ao hall de entrada. O prédio era escuro por fora, mas as paredes eram claras por dentro e contrastavam com os móveis escuros.

Notou duas escadarias. Uma delas subia e a outra descia. O andar de baixo parecia ser o da sala, cozinha e restante da casa, enquanto o de cima parecia se limitar aos quartos.

Ele desceu na frente e ela o acompanhou. A sala era enorme. Quadros decoravam grande parte das paredes e em alguns cantos ela pôde notar peças de cerâmica semelhantes às que tinha visto no museu. Ele era mesmo um amante da arte.

Tinha um sofá que cobria grande parte de seu comprimento, em camurça escura, talvez preta, repleto de almofadas de mesma cor, algumas em vermelho escuro. Uma televisão que ocupava muito espaço e uma mesa ao centro, com alguns livros e peças de jornal, espalhadas.

Próximo, havia a entrada da cozinha, uma mesa comprida com vários lugares e, na parede oposta, pode notar enormes portas de vidro que davam acesso ao que ela acreditava ser uma espécie de quintal coberto.

— Aqui. — Ele apareceu atrás de Kate. Ela nem tinha notado ele sumir. — Tem um banheiro perto da escada. — Entregou-a o que lhe parecia ser uma toalha e...uma camisa.

Não discutiu, nem disse nada. Sua boca ainda estava suja de sangue.

Notou que aquele deveria ser o banheiro de visitas.

Tomou uma ducha rápida. O suficiente para se livrar de qualquer traço do que havia acontecido.

Não queria ter de vestir a camisa dele, mas, não acreditava que suas roupas pudessem ser usadas outras vez...nunca mais. Pelo menos era comprida o suficiente para a cobrir.

Ele estava sentado à mesa. Tinha abandonado a jaqueta de couro e sua camisa parecia fazer mais sentido agora c0m calças sociais. Ela pôde ver a taça com o líquido vermelho sobre a madeira escura.

— Eu imaginei que precise disso. — Ele indicou a cadeira a sua frente. Ela se sentou e tomou a taça nas mãos. Hesitou por alguns instantes. — Ninguém precisou morrer para que eu enchesse a taça, não se preocupe.

— Obrigada. — Ela provou.

Ele tinha aquecido o líquido. O sabor estava melhor do que o de uma bolsa em temperatura ambiente.

— Eu prefiro quando a minha comida grita, mas cada um com o seu tempero de preferência.

— Eu...não consigo me alimentar de animais.

Ele já deveria ter percebido mesmo. Ele analisou o que ela tinha acabado de dizer.

— E não precisa.

— Eu precisava.

— Existem outras maneiras.

Foi a primeira vez que ele pareceu ser flexível.

— E você? De onde tira a sua comida?

— Você não vai gostar da resposta e sabe disso.

— Me diga cada coisa terrível que você já tenha feito.

O rosto dele se tornou ainda mais sombrio. Ela nem tinha imaginado ser possível.

— Eu disse que lhe daria o direito a uma pergunta. É o que realmente quer saber?  A ignorância é uma benção, às vezes.

— Existe certa beleza na angústia do saber. — Kate olhou-o por mais alguns segundos. — Seu nome?

— É um prazer, Katerina. — Ele fez a imitação de uma reverência. — Me chamo Caius Volturi.

Kate sentiu seus pés criando raízes ao chão.

— Volturi? Caius Volturi? — Por isso o rosto era familiar.

Carlisle tinha uma imagem com seu rosto em algum lugar e ela tinha ouvido histórias. Tinha sido alertada das leis quando foi transformada.

— O próprio.

Engoliu o veneno que se acumulava em sua boca.

Em meio segundo, ele se aproximou. O rosto dele estando a menos de cinco centímetros do dela. O olhar dele havia mudado, ela o viu queimar. Ele podia sentir a postura dela mudar e seu poder aumentando sobre ela. Ele jamais se cansaria da sensação.

Kate se viu incapaz de falar por um instante.

— Eu não vou te machucar, Katerina. — Sussurrou. Seu hálito quente e doce, chocando-se contra seu rosto.

Ela abaixou a cabeça, contudo, ele a segurou pelo queixo, forçando-a a continuar a o olhar nos olhos.

— O que você quer? — Ela tinha sido ousada. Muitas pessoas não conseguiriam perguntar aquilo se o encontrassem daquela maneira. Tão perto.

— Eu? Eu estou lhe dando o que me pediu. — Ele fingiu confusão. — Estou lhe oferecendo a ajuda pela qual implorou.

— Por quê eu?

— Porque você estava na hora certa, no lugar certo.


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Notas finais do capítulo

Eu iria mudar algumas coisas, mas sinto que uma gripe muito forte me pegou, então, talvez eu faça isso mais tarde ou fique dessa maneira mesmo.



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