Damned escrita por IS Maria


Capítulo 11
Mais uma chance




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Na primeira manhã depois de seu último encontro, Kate o procurou pela floresta. Não o encontrou.

Na segunda, ela o esperou no lago, ele não veio.

Na terceira, ela tinha tentado o chamar, mas, terminou falando sozinha.

Precisou de alguns dias, para finalmente entender, que, ou ele tinha sumido mais uma vez, ou, queria a fazer esperar.

Mentir era errado e se Kate precisava mentir, aquele não era o caminho certo. Ela tinha tentado o caminho certo e não tinha chegado a lugar algum. Esperava que o errado pudesse a ajudar.

Ele tinha a dado alguns conselhos e ela queria mais. Sentia que ele podia lhe dar exatamente o que procurava.

Se decepcionar era uma possibilidade, entretanto, ela não tinha nada a perder.

“Fugir da fonte de sua fraqueza, não vai a deixar mais forte. A deixará mais vulnerável.” A voz dele ainda se mantinha intacta em seus pensamentos.

Não sabia quando se encontrariam de novo e Kate estava ansiosa. Sabia ter a eternidade diante de si, só que seu tempo parecia ser menor a cada dia.

Nem a floresta lhe parecia convidativa no momento.

Sentada ao piano, descansou seu queixo à mão e seus olhos encararam o vazio. Não estava apenas entediada, estava impaciente.

Sentiu o cheiro de lobo.

Seth.

A realidade a atingiu como um elástico esticado contra o rosto. Sua culpa era esmagadora. Não conseguiu o olhar nos olhos.

Ele se sentou ao lado dela e Kate se levantou.

— Você...está melhor? — De costas para ele, ela encarou a parede de vidro.

— Eu disse que não tinha sido nada. — Ele se aproximou novamente e mais uma vez, ela se afastou.

— Claro que foi. — Ela correu as mãos pelos cabelos perfeitamente penteados.

Sua voz tinha soado mais fria do que ela esperava.

Ela sentiu as mãos dele contra seus braços, forçou-se a permanecer no lugar. O calor repentino a preencheu, mas ela não permitiu que suas emoções fossem expostas.

Seth a virou com cuidado até que um estivesse de frente ao outro. O rosto dele, tranquilo e relaxado, o cabelo solto emoldurava o rosto que, parecia ainda mais bronzeado.

Porém, Kate assistiu cada um de seus movimentos. Sentia-se presa em uma jaula frágil e teria que ter cuidado para não a partir em pedaços. Se ela o machucasse mais uma vez, não se perdoaria.

Ele acariciou a bochecha dela com o polegar e ela se encolheu diante ao contato íntimo. Seu polegar então, alcançou seus lábios e estes, deram permissão para que ele continuasse.

Ele a beijou e ela o deixou fazer.

O calor de Seth era estranho e ela tinha demorado a se acostumar. Era como estar aos braços de alguém que nunca sara de uma febre alta.

No entanto, seu beijo era terno e confortável.

Kate abriu os olhos e parou o beijo.

— O que foi? — Seth disse, Kate não prestou atenção, procurava algo do lado de fora.

— Eu...preciso caçar. — Mentiu. — Vou começar a estudar em pouco tempo e to tentando...— ele entendeu.

— Posso ir com você.

— Não é uma parte de mim que eu quero que veja.

— Eu quero cada parte de você. — Ela congelou, ainda que a temperatura de seu corpo não pudesse mudar.

— Depois! Tudo bem? — Ela tentou amenizar com um sorriso.

Ele não insistiu. Não queria fazer algo de errado de novo.

Quando ele sorriu, ela teve certeza de que não o merecia.

Ele era tudo o que uma garota poderia querer, mas, agora, ela precisava o deixar. Tinha sentindo a presença do outro. Ele os assistia.

No momento em que se viu fora da casa, as correntes invisíveis que prendiam seu corpo, a libertaram. Fechou os olhos por alguns segundos procurando pelo cheiro dele e quando o encontrou, seguiu a trilha.

Ele estava fugindo.

Ele queria que ela o caçasse.

Livrou-se da camisa que usava por cima de seu vestido. Ela queria se sentir o mais livre que podia.

Permitiu que todos os seus sentidos a comandassem.

A presença dele corria dentro dela, como uma vez o sangue havia corrido em suas veias.

Não deixou que seus ouvidos escutassem nada que não fossem seu alvo, não permitiu que suas narinas sentissem o cheiro de nada que não fosse o cheiro dele, não se permitiu ver nada que não fosse seu rastro.

Porém, ela ainda não estava ao nível dele.

Ela sentiu seu corpo ser atingido e foi ao chão ao perder o equilíbrio. Ele tinha a encontrado primeiro. O corpo dele cobria o dela e os dedos dele a envolviam pelo pescoço.

— Você estava perto da casa. — Ela o olhava nos olhos, em uma acusação.

— Pensei que quisesse minha ajuda. — Ele a soltou. Ela podia sentir a terra em seu corpo. Sua sorte foi ter escolhido roupas escuras.

Deu-lhe as costas e se levantou, deixando-a sozinha ao chão.

— Eu estou aqui.

Ele pareceu pensar por alguns segundos e quando voltou a encará-la, tinha um olhar diferente no rosto.

— Então feche os olhos.

Parecia ser algo dele. Querer a levar para lugares que ela não conhecia, sem saber como chegaram lá, sem a deixar ver o caminho. Ela sentia que flutuava em meio aos braços dele, nem ela, em sua melhor corrida, conseguia provocar o mesmo efeito.

Não tinha sido um caminho longo ou ele tinha o feito rápido demais. Será que ele era mais rápido do que Edward?

Muitas vozes.

Corações que batiam.

Ela se segurou ainda mais contra ele.

O que ele estava fazendo?

“Não deixe a fraqueza aparecer, não deixei o descontrole tingir seu rosto ainda que você o sinta. ” Ele sussurrou contra seu ouvido.

“E se eu não conseguir?” Ela sussurrou de volta, sua voz sendo abafada pelo contato com o corpo dele.

—Eles são a presa, você é a predadora. —  A voz dele pareceu mais alta.

Sem aviso, ele a soltou e forçou-a a abrir os olhos. Estavam em um beco fechado, as pessoas caminhavam na rua à frente. Estavam escondidos por hora.

Ele cobriu os olhos dela com óculos escuros semelhantes aos dele.

Claro, os olhos.

— Quem você escolherá ser para sobreviver, é o que definirá quem você é. — Ele caminhou e sem hesitar, ela o seguiu.

Prendeu a respiração quando as pessoas se aproximaram. Tudo era tão ensurdecedor. A dor retornou a apontar.

— Solte a respiração. — Ele comandou e ela o obedeceu sem perceber.

Ela rangeu os dentes, suas mãos alcançaram seu próprio pescoço, mordeu os lábios e um gemido seco deixou sua garganta.

— Por favor...— Ela segurou o braço dele, com força.

— Você precisa deixar que o cheiro entre dentro de você! Você precisa parar de lutar e aceitar quem você é. — Aquilo parecia loucura, cada palavra parecia loucura.

— Eu vou machucar alguém. — Ele pode a ver fechar os olhos sob os óculos escuros.

— Respire, ainda que não precise.

Ela tentou.

Seus pulmões pegaram fogo.

— O que eu faço? — Ela mal conseguiu continuar a andar. Seu corpo endureceu, dificultando cada passo.

— Você continua.

E ele andou, deixando-a para trás. Tinha também o incômodo de ter que diminuir sua velocidade.

Forçou-a a o alcançar.

Estavam em Forks. Ela tinha vivido ali por muito tempo, mas nunca tinha visto a cidade daquela maneira. Tinha mais movimentação do que ela esperava encontrar, o pronto socorro nunca foi tão movimentado.

Kate não queria que as pessoas percebessem o que ela sentia. Tentou fazer o que ele disse. Ela era pedra. Endireitou a postura e continuou, ainda que, alguns passos atrás dele.

— Onde vamos? —A voz de Kate se arrastava a cada palavra. Sua garganta parecia se fechar cada vez mais.

— Ao cinema.

Ele só poderia estar brincando. Ela queria que ele estivesse brincando.

Mas, não.

Sem mal saber onde era o cinema, sem conseguir olhar quem quer que fosse nos olhos ou parar para prestar atenção no caminho, ele a forçou a sentar em uma sala de cinema e passar duas horas, sentada ao meio de humanos. No fim, ela nem se lembrava qual filme tinha assistido.

Passou metade de tempo com as mãos cobrindo suas narinas e seus lábios. Não respirava mais, como ele pediu, mas foi como se o cheiro não pudesse mais ser ignorado.

Era um filme de terror e a pulsação de cada um ali, era tão alta que ela mal podia suportar.

Ele não a deixou sair.

Certamente, a pior ideia de sua vida.

Faria questão de o agradecer pela pior experiência que já tinha tido em toda a sua existência.

Nunca tinha ido ao cinema antes e aquela não era a primeira vez que esperava. Tinha sido ruim, mas, sem as pessoas por perto, ela se sentia mais confortável.

Acreditava serem os últimos ali.

— Você sobreviveu. — Ele sempre parecia se divertir às suas custas.

— Ainda não saímos daqui.

— Não tem outra maneira de aprender a controlar, sem ser controlando. Eu achava que era óbvio. — O rosto dele não entregava o que sentia.

— Não é tão fácil assim. — Ela se encolheu.

— Eu já fui um recém-criado, um que não tinha medo do que era. — Suas palavras a fizeram estremecer.

— Espera…

— Eu posso te ensinar a caçar! Caçar de verdade, sem ser notada. — A determinação em sua voz, era asssustadora. — E uma vez que aprender, controlar seus impulsos vai ser fácil.

— O que eu devo fazer? Matar pessoas? — Ela disse, baixo o suficiente para que apenas ele ouvisse.

— Não pergunte se não deseja ouvir a resposta. — Ele deu de ombros.

 

— Você não tem coração.

— E você é ingênua.

 

— É assim que pode me ajudar?  — Ela não sabia a qual emoção se render primeiro.

— Esperava que eu a ensinasse a matar coelhos, como a sua família?

— Eu...— Ela não tinha o direito de o cobrar nada. — Preciso ir.

— Todos querem ser jóia, mas nem todos estão dispostos a serem lapidados...Katerina.

Ele não a parou, não a impediu.

E ela foi embora.

 

***

 

Agora ela sabia a ajuda que ele estava disposto a oferecer. Será que ele não possuía qualquer respeito pela vida humana? Ele provavelmente, nunca teve que valorizar cada dia de sua vida, como ela teve de o fazer.

Kate sabia que haviam outros vampiros por aí e que, poucos deles viviam como os Cullen. Carlisle mesmo, disse que muitos amigos da família não seguiam a mesma dieta.

Mas, a diferença da maneira de se pensar, era impressionante. Duas espécies diferentes, mesmo que, se tratassem da mesma criatura.

Teria de haver outra maneira de sobreviver.

Deveria haver um caminho que não se afastasse de tudo o que ela acreditava ou que envolvesse machucar alguém.

“Quem você escolherá ser para sobreviver, é o que definirá quem você é.”

Ele tinha razão!

Ela tinha que tentar caçar mais uma vez. Fazia tempo desde a última vez, talvez tivesse passado da conta da última vez, ou o animal estivesse doente. Talvez...

Se ele a visse agora, arregaçando as mangas para caçar um animal, ele riria. Talvez assim, ela o visse sorrir de verdade.

O cheiro não era mais tão apelativo, não agora que ela tinha provado do que seu corpo queria.

Arranjar concentração não era, também, mais tão fácil.

Mesmo assim, ela decidiu encarar.

Matar animais também não era fácil. Mesmo que ela fosse pelos maiores e procurasse pelos mais perigosos.

Se ela conseguisse mais de um, deveria dar-se por satisfeita. Naquele momento, não havia muitos por ali. Talvez, o aumento de movimento na floresta, viesse os espantando.

Encontrou um cervo.

O gosto era...muito diferente.

Pelo menos, daquela maneira, ela não se sentia como a vilã prestes a devorar qualquer pessoa, viva. Era uma questão de sobrevivência.

Caçou até que o dia ficasse escuro e a noite chegasse. Havia terra em suas unhas e em seu vestido, havia uma parte em que o tecido tinha cedido e rasgado. Ela sabia que também tinha terra em seus cabelos - às vezes longos demais -  e talvez até um pouco de carne. Não era o melhor visual que ela já teve.

Alice e Jasper, Carlisle e Esme não pareciam estar em casa.

Edward e Bella ainda não havia voltado.

Rosalie e Emmett, se não estavam por perto, não queriam ser incomodados e Renesmee deveria estar com Jacob.

Se a deixaram sozinha, pelo menos deveriam estar a dando um voto de confiança.

Mesmo que ela não o merecesse.

Jogou-se na banheira, na água quente e não desejava sair dali por horas.

Kate percebia nos olhos dele gula imensa, seus olhos não eram os de quem facilmente se satisfaziam. Apegado à maneira como vivia, aos seus prazeres, ela desconfiava que seu coração ia muito além do que ele havia a mostrado.

A fúria contida na neblina de seus olhos leitosos.

O seu orgulho e vaidade.

Ele era cada um dos pecados capitais.

A água ao seu redor se tornou vermelha à medida que Kate lavava o sangue de seu cabelo e um pouco de sua pele. O vermelho contornava o seu corpo e o movimento da água tingida, a distraía por alguns segundos.

Odiava que se sentisse bem por ter saído. Saído e não tinha ferido ninguém. Odiava ainda mais, por saber que ele era o responsável. Odiava que ele tivesse a ajudado a não matar alguém e odiava pensar nele agora, quando não desejava pensar em mais nada.

Enrolou-se na toalha e sentiu o vento se chocar contra seus cabelos molhados.

Ela não tinha deixado a janela aberta.

Viu-o sentado em seu sofá, com os olhos presos no último livro que ela tinha tirado de sua estante. A quanto tempo ele estava ali?

— “A perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano.” — Ele citou em voz alta. — Edgar Allan Poe. — Os olhos dele estavam escuros. Lentes de contato ou sede?

Calça Jeans e jaqueta de couro. Quase um astro de rock com o cabelo e a palidez toda. Drácula ficaria orgulhoso, Kate não tinha dúvidas.

— “Até mesmo o sol penetra nas latrinas, mas não é contaminado por elas.” — Ela citou, pelo que se lembrava. — Diógenes. Ele nasceu depois de você, não?

— Eu vi muitas pessoas morrerem, se é o que quer saber. — A maneira como ele deixava suas insinuações implícitas, a tirava do sério.

— O que faz aqui? — Ela se mostrou impaciente.

— Pensei em te dar mais uma chance. — A arrogância em sua voz, a fez sorrir. — De conhecer o outro lado da história.

Ele tinha ido até ali. Ele queria alguma coisa, ele estava interessado em algo e ela gostaria de descobrir o que era. Mas, tinha cedido fácil demais antes.

— Se me der um nome.

— Venha comigo e dependendo de como a noite se desenrole, te dou o direito a qualquer pergunta. Apenas uma, no entanto.

— E se eu disser não, desta vez?

— É difícil saber...— Ele soltou o queixo dela e a deu as costas. — Quem vai perder mais. — Ele a provocou.


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