Nino achou melhor ajudar Adrien a relaxar. Teriam três dias de pesquisa e diversão pela frente e, apesar de ter concordado em ajudar com o plano de Alya e Marinette, não gostou de ver o amigo tão tenso. Parecia-lhe que o clima ruim iria estragar a viagem de ambos, então decidiu cortar o denso silêncio:

− Adrien, rapá, você tá bem? Quer conversar sobre o que acontec...

− Não, Nino! – interrompeu sério o loiro.

− Quer conversar sobre qualquer outra coisa?

− Acho que vou responder algumas cruzadinhas. Vou ligar o mp3, você se importa?

− Vai fundo. Se quiser conversar, me chama.

− Obrigado – respondeu o loiro, colocando os fones nos ouvidos.

Nino virou-se e olhou Alya, que observava de longe, esperando alguma reação. Ambos deram de ombros e respeitaram o espaço que o modelo precisava. Só poderiam dar-lhe tempo.

Adrien puxou uma caneta da mochila em seu colo e quando abriu livreto, encontrou “a segunda parte do plano”: uma carta. Essa parte não teve participação de Alya. Foi ideia exclusiva de Marinette – um plano B, para o caso de perder a coragem de beijá-lo. Adrien olhou, imaginando o conteúdo, e ficou receoso de abrir. Que outra surpresa Marinette lhe guardava? Depois do beijo, a única surpresa possível seria se ela dissesse que era a Ladybug – o que logo julgou ser um pensamento absurdo.

− Ladybug! – pensou em voz alta. Sentiu o coração pular no peito, como se temesse sua Lady descobrir a “traição” dele com Marinette. Abriu a carta, respirou fundo e começou a ler.

“Adrien, não sei exatamente o que você vai pensar de mim. Não estarei contigo para conversar. Mas também sei que pessoalmente eu nunca conseguiria dizer. Por isso quis aproveitar essa distância entre nós para esclarecer as coisas.

Obviamente a má impressão que tive de você no primeiro dia de aula acabou assim que te conheci melhor, e nossa relação é bem mais amistosa hoje, apesar de não conversamos muito. Mas a verdade é que nossas conversas nunca redem mais do que engasgos e meias frases – todos da minha parte. Caso você não entenda o que acontece comigo, quero deixar claro que não restou mal entendido do dia do chiclete. Totalmente superado! Essas reações estranhas são somente porque não consigo agir de outra forma na sua presença. Eu me atrapalho, tropeço, gaguejo e esqueço as palavras quando você chega perto de mim.

E isso tudo é porque eu estou completamente apaixonada por você! Desde o momento em que você me emprestou seu guarda-chuva. Desde quando notei que, apesar da sua timidez de novato e de ter sido injustiçado por mim, você se aproximou e não deixou barata aquela situação. Você foi gentil, foi humilde, foi bonito além de sua aparência de modelo. E me conquistou!

Para mim, você não é o Adrien Agreste, modelo e filho do meu estilista preferido. Você é o divertido, justo e sincero bom amigo que tenho a sorte de ter sentado a minha frente todo dia; Você é o poeta que escreveu aquela linda carta de Dia dos Namorados, que eu vergonhosamente roubei da lixeira (me desculpe por isso) e esperançosa respondi, mas que não assinei; Você é o rapaz que permeia meus sonhos. Meu amado Adrien.

Com carinho, Marinette.

P.S.: por favor, não mostre a ninguém minha carta. Senão vou precisar mudar de escola. Ou de país!”

Estava ali toda a justificativa para o comportamento estranho de Marinette. Finalmente Adrien entendia porque não conseguiu descobrir o que a menina achou do Cat Noir, ou porque ela quase caiu, mesmo estando parada, antes de autografar seu disco do Jagged Stone. Imaginou o que teria se passado naquela cabecinha quando apareceu em sua casa para ser intérprete de seu tio-avô. E sentiu um ligeiro peso na consciência por ter causado tamanho desconforto nela só por existir.

Mas como não notou antes? Marinette fez um belo discurso ao candidatar-se a representante de turma, parecia até Ladybug na primeira vez que defendeu Paris de Hawk Moth. Foi eloquente e segura. E ela também esteve firme ao ajudar Cat Noir contra o ilustrador do mal. Marinette, tímida e insegura? Só quando.... falava com ele! Como não notou antes? Como pôde ser tão cego? Sentia-se um idiota. E não queria mais se sentir assim. Faria algo por Marinette. Mas o quê?