Hermione havia conseguido quase um mês de férias. Apesar de sua preocupação com seus pacientes, ela admitiu que seus outros colegas eram tão competentes quanto ela e não tinha motivos para continuar adiando seu descanso. Intimamente, ela sabia que nunca tirara férias pois tinha medo de não ter uma ocupação e ter tempo livre demais para lembrar do passado. 

Ela decidiu que utilizaria suas férias para ser produtiva. Fez um cronograma do que faria cada dia, nele incluíam-se limpeza da casa em geral, reorganização de seus livros, leituras a serem colocadas em dia, artigos médicos tanto do mundo mágico quanto do mundo muggle e... só.  

—Uma bela lista – ela disse suspirando com as sobrancelhas erguidas - Você precisa de programas melhores, Hermione.  

Ela olhou para Bichento que dormia confortavelmente em seu sofá e sorriu. Pelo menos um deles tinha uma agenda cheia de coisas importantes a serem feitas. 

E em meio a seus dias lotados de tarefas importantes como aprender novas poções de primeiros socorros e as novas teorias sobre o sistema nervoso do ser humano, Hermione viu-se entediada e com um sentimento de exclusão em relação ao resto do mundo. Ela saía apenas para fazer compras básicas para a casa e comprar mais alguns livros, mas, fora isso, não tinha muitas opções. Sem ter certeza de onde a ideia havia surgido, decidiu que faria uma visita À Toca. 

Sem nem ter a cortesia de enviar uma coruja antes, Hermione aparatou em frente à casa de Molly e Arthur Weasley. Alguns gnomos no terreno saíram correndo com medo de uma possível desgnomização e algumas galinhas piaram mais alto e agitaram suas asas. Já era quase meio dia e havia uma agitação na casa.  

Hermione bateu à porta, Molly abriu-a, sorriu surpresa e puxou-a para um abraço sufocante. Começou a beijar suas bochechas e dizer de formas diferentes, repetidas vezes, como estava feliz por ela estar ali e como sentia sua falta. Mione sorria atordoada e não sabia exatamente como reagir. Molly era a única pessoa além de Harry e Rony que sabia sobre sua visita aos seus pais e como aquilo afetou-a, a mulher havia tomado, corajosamente, a posição de mãe para ela depois daquele evento.  

Molly começou a gritar que Hermione estava ali e praticamente arrastou-a para dentro de casa. Ela viu George e Angelina, Bill estava lá também com Flare e Percy... bom, ele estava sozinho.  

Todos estavam surpresos, mas de uma forma positiva. Molly não conseguia conter-se em si.  

—Quanto tempo, meu amor, você tem que nos contar tudo, – Molly analisou-a de cima a baixo – mas antes talvez você tenha que se alimentar, olhe como ela está magrinha, Bill. Você tem comido, querida? Aquele hospital tem dado tempo a você para poder respirar pelo menos? Estou tão feliz que você está aqui... Ainda mais hoje! 

—O que tem hoje, senhora Weasley? - Hermione estava um pouco atordoada.  

—Oh, você vai saber em um minuto.  

Hermione fitou o relógio na parede com os rostos dos integrantes da família, desde sua última visita, alguns rostos tinham sido adicionados ao relógio, a exemplo de seu próprio. Aparentemente, o relógio já não era mais tão usado. Mas ela viu o rosto de Rony, de Harry e do senhor Weasley passarem de "viajando" para "nA Toca" e exclamou surpresa.  

Com outro alvoroço no quintal da casa, três pessoas entraram na casa conversando animadamente e batendo os casacos para tirar a poeira. De repente, ela se deu conta que tinha saído de casa com pantufas e desejou ter pensado melhor antes de simplesmente aparatar, mas quando viu Harry e Rony e eles perceberam sua presença, nada disso importou. O que era um par de pantufas para quem estava a tanto tempo sem ver os dois melhores amigos? 

—Mione! - os dois gritaram e correram na sua direção.  

Os três abraçaram-se mutuamente e ela pôde afirmar sem nenhuma dúvida que aquele era um dos melhores momentos daqueles dois últimos anos.  

—Sentimos tanto a sua falta – disse Harry enquanto desvencilhavam-se – porque não avisou que estava vindo?  

—Bom, eu não sabia que estava vindo até alguns minutos atrás - disse encolhendo os ombros. 

—Você está usando pantufas? - perguntou Rony confuso. 

—São suas, Ronald – ela disse e viu Rony perder a cor - você não pode estar falando sério, você por acaso tem pantufas rosas, gênio? 

—Não... não - ele gaguejou e pareceu entender a brincadeira.  

Em seguida ela e o senhor Weasley abraçaram-se e Molly acomodou todos à mesa. Houve muita conversa e risadas, Bill contou algumas histórias que ele havia ouvido no Gringotts e Rony encenou vividamente capturas exageradas de foras da lei.  

—Então, vocês vêm almoçar na casa da sua mãe com frequência? - Hermione questionou Rony. 

—Não, é por isso toda a animação, mas viemos de tempos em tempos. Bill e Flare também. 

—O que você tem feito, Mione? - perguntou Harry. 

—Huum, vocês sabem, o de sempre. 

—Livros e arrumação - disseram os dois meninos ao mesmo tempo.  

—Vocês não poderiam estar mais certos – ela disse sorrindo.  

Depois do almoço e de ajudar a senhora Weasley com a louça, mesmo ela relutando muito, os três subiram para o quarto de Rony. Sua idolatria pelo Chudley Cannons não havia reduzido, mas os itens de seu quarto que faziam referência ao time eram raros. 

—Está tudo no apartamento dele, caso você esteja se perguntando onde foram parar – sussurrou Harry para Hermione. 

—Não sei porque me surpreendo. 

Eles se sentaram comendo alguns sapos de chocolates e outros doces que os meninos tiraram de seus casacos.  

—Agora, falando sério, Mione, que porra foi aquela com o Malfoy? - inquiriu Rony. 

—Eu sinceramente não sei. Blásio apareceu em uma noite com Draco desmaiado e asfixiado na porta do hospital aos gritos. Ele foi para a emergência e vimos os sinais da corda em volta do seu pescoço. Ele ficou alguns dias no hospital para se recuperar e depois foi com Blásio para casa. Ele estava uma merda, Rony, nós fizemos os exames de rotina dele e, para ser totalmente honesta, eu não sei como ele conseguiu ter forças para fazer um nó na corda.  

—Eu ainda não acredito que ele chegou a esse ponto só para chamar a atenção. 

—Não diga bobagens, Rony, ele fez isso porque a mãe dele morreu e pelos outros motivos... - disse Harry. 

—Por que você ainda defende ele, Harry? Você não lembra tudo o que ele fez e ajudou a fazer? - Rony disse bufando. 

—Em parte Harry está certo, Ron, não esquecendo do que ele fez, mas sendo sincera, ele parecia mal de verdade e não só fisicamente.  

—Vocês dois estão sentimentais demais hoje – disse Rony – ele foi covarde até em tentar se matar, vocês notaram? 

Hermione fazendo uma careta olhou para seus dedos e disse: 

—Eu posso ter sido meio antiprofissional e dito isso para ele.  

Rony olhou-a de olhos arregalados e com um sorriso malicioso. 

—Você disse isso para ele? Sério? 

—Olha, ver ele foi realmente difícil - começou Hermione e instintivamente passou a mão pelo seu próprio braço - eu perdi o controle e falei uma coisa que uma médica nunca poderia falar para seu paciente. Mas foi demais, sabem? Ver ele ali, ainda mais tentando suicídio quando todos nós passamos por tantas coisas e, mesmo assim, continuamos lutando. 

Houve um momento de silêncio. Uma hora depois os meninos foram chamados ao Ministério e tiveram que acompanhar o senhor Weasley. Ela se despediu de todos e voltou para casa. Mas lembrou de Harry e do que ele havia dito. 

Ele tinha puxado ela para um canto e disse algo que ela não esperava. 

—Mione, todos nós temos assuntos pendentes, mas, de todos nós, você foi a que mais isolou-se e, talvez, continuar guardando tantas coisas para si e sem resolução estão impedindo você de abrir-se mais para as pessoas. Você precisa resolver seus assuntos pendentes – Harry falou com uma intensidade em seus olhos verdes que a fizeram engolir em seco.  

—Vou pensar nisso, Harry. 

Eles se abraçaram e aparataram em lugares diferentes. 

Hermione sabia do que Harry tinha falado. Ela iria ter que fazer uma visita a Malfoy.