Fúnebre. escrita por Tan


Capítulo 2
Capítulo 1: Oh, Darling.


Notas iniciais do capítulo

Olá! ♥
Primeiro, eu quero agradecer a todos os comentários, eu amei e eles me deram muita vontade de continuar com a história. Fico tão feliz por estarem gostando!
Ah, e Fúnebre acabou de ganhar um trailer! Ele foi feito pela design Ana Julia e está lindíssimo, link: https://www.youtube.com/watch?v=FRE3FzAbeFE

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714776/chapter/2

Sentada na bamba cadeira de madeira do pequeno quarto frio e solitário, Amara relembrava todos os acontecimentos com um olhar cheio de pesar. Ela mudou. Seus cabelos cresceram um pouco mais, porém ela não fazia questão de cortá-lo novamente.  Agora que estava razoavelmente segura, os acontecimentos pelos quais passou transcorriam lentamente e dolorosamente pela sua mente, movida pelo silêncio absorto.

Permitiu-se pensar em Elena. Sua irmã mais nova, sua única família. Lembrava-se dos olhos de brilho dócil e personalidade espontânea. Amara fez uma reza silenciosa.

Um barulho ecoou pelo cômodo. Amara virou a cabeça para o lado e viu Daryl passar curvado pela porta. Amara arregalou os olhos surpresa. Como ele tinha conseguido sair? Ela balançou a cabeça e levantou-se afoita da cadeira.

Antes que ele chegasse ao fim do corredor, Amara colocou as mãos em suas costas e o puxou pela blusa imunda. Daryl se virou assustado, mas não atacou. Amara colocou o dedo sobre os lábios e, assim que fez o gesto, dois homens passaram pelo corredor conversando descontraidamente.  Pelo menos, ainda não tinham notado a sua ausência. Ainda.

— Volte enquanto pode. – Ela disse ofegante e se surpreendeu com a própria voz, pois não tinha percebido que prendia a respiração. – Seja lá o que ele fez com você, tem mais. Sempre tem mais. Você não vai conseguir fugir. – Continuou ela. – E quando voltar será pior.

Eles ficaram em silêncio por um longo tempo, mas Daryl, dessa vez, não desviou o olhar. Daryl a analisou por um segundo fugaz, grandes e doces olhos castanhos. Perguntou-se se ela estava falando sério e como tinha chegado até aquele lugar. Ela não sabia o que estava dizendo, o que importava o que acontecia com ele? Noite passada, ela tinha ajudado, mas até onde Daryl sabia, nada garantia que ela era diferente dos demais. 

Daryl não respondeu. Ao invés disso, ele virou as costas para ela e continuou o seu caminho. Quando ele se virou, um sentimento impregnado de medo espalhou pelo coração de Amara. Ela sabia que não tinha sido uma boa ideia deixá-lo ir, mas agora tudo o que ela podia fazer era esperar que ele conseguisse.

(...)

Quando Dwight voltou, Amara descobriu que o plano de Daryl não tinha saído como o planejado. Espancado e jogado de volta para sela, ela sentiu uma estranha sensação lhe subir pela nuca. Ela precisava conseguir alguns remédios, mas como conseguiria isso? Amara duvidava que Carson lhes desse por livre e espontânea vontade. 

Amara queria que ele estivesse bem. Queria acreditar que tudo era um mal-entendido e que ele seria liberto sem se machucar, mas a preocupação lhe consumia. Conhecia Negan. E o que quer que Daryl tivesse feito para chegar ao Santuário, Amara não queria afastar a sensação de que a conversa de hoje tinha sido a sua última.

— O homem está enlouquecendo. – Ela ouviu Negan dizer e, quase que imediatamente, ela se virou para encará-lo. Amara recuou dois passos, mas não se ajoelhou.  – Como você está hoje?

Negan estava com Lucille apoiada no ombro e sorriu maliciosamente após sua reação. Apesar de nunca demonstrar qualquer sinal de brutalidade para ela, Amara sabia que a melhor opção era não questioná-lo- e isso não era sobre respeito, mas sim sobre o medo. Ela se sentia pequena e frágil, apesar de estar ciente de todas as suas habilidades. Era isso o que ele fazia.

 Ela sentiu seus olhos sobre o seu rosto o tempo todo. Amara balançou a cabeça, desconfortável com a situação. Amara sabia que devia escolher com cuidado as suas palavras quando se tratava de Negan. Cruzou os braços na altura do peito.

— Sem ofensa, darling, mas você parece uma merda hoje. – Ele interrompeu seus pensamentos. – Você parece cansada. Não. – Ele apontou para a área escura sobre os seus olhos. – Você não está dormindo muito bem, darling?

Ele começou a andar pelo quarto pequeno como um tigre em uma gaiola, Lucille abalançando a cada passo. Quando Amara não respondeu, ele apertou sua parte superior do corpo, empurrando-a levemente para trás.

— Oh, não, não. – Gaguejou e repreendeu-se mentalmente por isso. Tossiu.  – Eu não estou dormindo muito bem.

Amara olhou de relance para o coldre e para as balas. Eles usavam uma munição de tipo JPH para causar o máximo de dano. Por tudo o que Amara jamais diria em voz alta e se envergonharia, ela sentia falta de sua arma.

— É o barulho?- Ele perguntou de repente. - Hm? É o barulho à noite?  

Amara assentiu hesitante. O silêncio era mais seguro.

O modo como ele se movia pelo quarto era imprevisível e assustadora. O que ele queria? O que ele ia fazer com ela? Amara respirou fundo, sentindo a cabeça latejar.

— Mas, de verdade, darling, você precisa do seu sono de beleza. – Ele fingiu uma expressão arrependida e depois sorriu ironicamente.  – Eu posso lhe dar algo para ajudar?

Amara ficou em silêncio por um momento, como se estivesse pensando no mesmo.

— Hm, tudo bem. – Disse pausadamente. – Obrigada.

— Eu sei que podemos fica bem mal-humorados quando não conseguimos o nosso sono de beleza. Eu também fico parecendo uma merda.

Ele estava zombando dela? A tensão que emanava de Amara era quase visível no ar. Ele usava uma jaqueta preta e camiseta branca, mas o que mais lhe chamava atenção era Lucille. Sua inseparável arma fazia qualquer um de seus homens tremerem apenas com a menção de seu nome.

— Eu não gosto do jeito que você está olhando para mim.

— Desculpa.

— Eu não gosto dessa palavra.

— Des... Quero dizer... – As palavras eram francas, mas falhavam em um vazio árido.

Ele começou a rir e, assim como na raiva, todo o seu corpo tremia com a exibição emocional.

“- Código vermelho!”- Alguém chamou através do walkie talk.

— Caras, foda-se! Eu estou em um encontro aqui. – Ele riu da própria piada.

Amara cruzou os braços com um pouco mais de força. Existia uma boa distância entre eles, mas ela sentia como se ele pudesse saltar sobre ela a qualquer momento. Era como estar na frente de um tigre faminto.

Lentamente, ele se sentou na cadeira de madeira. Ele pegou o retrato sobre a mesa e analisou por algum momento. Amara o reconheceu imediatamente. Era a sua última foto com Elena.

— Amara Montenegro. – Ele disse, acenando com a foto na sua direção. – Sua irmã?

“- Negan?”

— Eu vou manter isso por um tempo. – Ele disse. Amara obrigou-se a se refrear. – Eu posso ajudar, darling. Tudo o que você precisa fazer é pedir.

“- Negan?”

— Foda-se, cara! Eu já estou indo. – Ele disse, a voz um pouco mais elevada e seu copo ficou tenso quando ele se aproximou ainda mais. – Ok, agora eu tenho que ir. Esses filhos da puta não podem fazer nada por conta própria. – Ele riu. – Eu vou agora, mas quando voltar, eu quero ver você descansada, completamente bonita. – Tocou uma mecha de seu cabelo castanho. –Ainda temos muito sobre o que falar, Amara.

E então, ele saiu.

Amara deslizou sobre a parede e deixou-se chorar. Ela estava tão cansada! Depois de algum tempo, seus olhos queimava por causa das lágrimas que ela mal conseguia deixa-los abertos. Gentilmente, caiu no chão segurando os joelhos contra o peito. O sono lhe atingiu como uma pancada na cabeça.

(...)

Flashback:

— Oh, cara!- Elena riu.

Amara olhou assustada pelo retrovisor. Era tarde e elas procuravam um lugar para dormir. Depois de todos os acontecimentos daquele dia, conseguir o carro tinha valido todo o esforço.

Chovia naquela tarde. Uma chuvinha fina e murmurante como se minúsculos dedinhos estivessem batendo nas janelas de vidro. Amara olhava para as copas das árvores pela janela. Nos meses mais quentes, folhas rebentavam delas e cresciam por todo o verão. Depois, elas mudavam de cor. O verde dava lugar para o dourado e vermelho, até que todas elas murchassem e caíssem, uma a uma sobre o solo.

Agora, com os finos traços de primavera no ar, Amara se perguntava se esse ano seria diferente, se este ano elas encontrariam algum lugar seguro para que passassem todas as estações. Em certo momento, Amara parou de contar os dias e as semanas e passou a prestar atenção apenas na mudança de estações.

 Vez ou outra, passavam por algum walker. 

— Você não ia dormir? – Ela perguntou.

Elena resmungou algo que parecia ser um assentimento.

— Ok, ok! Eu sei que não parece, mas essa história aqui é boa!- Ela levantou a revista em quadrinhos para que Amara conseguisse ler. Deadpool. Amara adorava aquelas histórias. – Só tem um pequeno problema... – Continuou ela e apontou para a frase no final da página. – Bem aqui está escrito “Continua” e eu odeio suspense!

Amara sorriu.

— Onde você conseguiu isso?

Elena ficou em silêncio e olhou para os lados como se procurasse por alguma coisa. Amara conhecia bem aquela expressão.

— Bom, na casa do Will. Ele tinha um monte de coisas jogadas pelo chão!- Justificou.

Amara pensou por alguns segundos. Não fazia diferença mais, apesar de não concordar com a atitude de Elena. No final, era só uma revista em quadrinhos ou, pelo menos, era isso o que ela pensava.

— O que mais você pegou? – Perguntou.

Elena pegou a mochila e começou a tirar cada um de seus pertences.

— Aqui. – Ela lhe entregou um CD. – Isso te deixa nostálgica?

“Engraçadinha” pensou Amara enquanto lia o nome na capa.

— Isso não do meu tempo, espertinha. – Sorriu. – Mas é bem legal.

Kansas não era a sua banda preferida, mas levando em consideração toda a situação, era o melhor que podiam encontrar. Ela colocou o CD e aumentou o volume. Elena começou a balançar a cabeça como se estivesse dançando. Olhou para a janela e depois para Amara.

— É melhor do que nada. – Ela disse. – Ah, e acho que seu amigo vai sentir muita falta disso hoje. - Amara não se virou para olhá-la, concentrada na estrada. - Não tem muito sobre o que ler, mas as fotos são bem interessantes.

Curiosa, Amara olhou pelo retrovisor e sentiu o rosto esquentar imediatamente. Ela tentou alcançar a revista, mas Elena levantou os braços rindo.

— Elena, isso não é para crianças. Me entregue isso!

— Uou! Como... - Começou Elena. – Como ele consegue andar com essa coisa?

Amara tentou alcançá-la mais uma vez.

— Jogue isso fora!

— Não. – Ela fingiu ofendida. – Eu quero ver porque falam tanto sobre essas coisas. – Elena ficou em silêncio por um minuto. – Por que as páginas grudam tanto?

Amara não respondeu. Ela abriu a boca, mas tornou a fechá-la. Depois de um tempo, Elena soltou uma gargalhada.

— Eu estou de sacanagem com você. – Disse abrindo a janela. – Tchauzinho. – E jogou a revista para fora.

Fim do flashback.

(...)

Quando Amara acordou, o sol já começava a desaparecer.

Ela ouviu o próprio estômago roncar, fazia algumas horas desde a sua última refeição e os resultados já começavam a aparecer. Amara vestiu uma blusa de frio e caminhou até a porta, mas não sem antes dar uma olhada para fora. Não havia ninguém. Satisfeita, seguiu o seu caminho.

Amara se lembrou de Daryl. Ela sabia que, depois da sua tentativa de fuga, ele estava ainda pior do que na noite passada- como se fosse possível. Ele precisava de remédios e Amara temia que não conseguisse ajudá-lo com isso.

Ela precisava de um plano.

Amara pensou em Negan e na sua proposta. Ao invés de remédios para seu problema com insônia, Carson podia facilmente arranjar alguma coisa para infeção e dores musculares. Ela balançou a cabeça, aquilo era loucura! Ela não podia se arriscar com Negan.

Continuou olhando para o prato na sua frente, roçando a mão na mesa algumas vezes. Parte de sua mente estava analisando as informações, lembranças e especulações, a fim de encontrar alguma brecha. Nada.

Levou o garfo até a boca.

Amara ouviu, então, passos leves vindo em sua direção e ela se virou com o que ela esperava que fosse a mesma expressão de antes. Ela acenou para dois homens; Reyes, um mecânico céptico e temperamental e Alex, um tolo especialista em tecnologia.

— Reyes. – Ela cumprimentou com um sorriso enquanto se sentavam ao seu lado. – Alex, como você está?

Uma cicatriz desagradável lhe descia da testa para o pescoço, o cabelo em torno de seu Mohawk estava desigualmente raspado. Amara não precisava perguntar para saber quem tinha sido o responsável. Apesar de suas habilidades, Alex ainda se recusava a seguir algumas de suas regras e a consequência estava mais do que clara.

Reyes, no entanto, parecia ter aceitado sua posição. De todas as pessoas do Santuário, Reyes era o único de quem Amara esperava alguma rebeldia. Sua esposa – ou melhor, ex- esposa -, tinha aceitado a proposta de Negan, cansando-se com ele.  Reyes tinha perdido o sentido da sua própria vida.

— Cansado. – Disse Alex por fim. – Isso parece que nunca vai ter um fim.

Alex não era bom com armas e, por isso, ajudava com as plantações, mas não significava que o trabalho se tornava mais fácil. Poucas pessoas ocupavam esses cargos.

Amara franziu a testa. Era isso!

— Eu posso ajudar. – Ela se ofereceu. 

Houve um momento silencio; Alex analisou o rosto da mulher a sua frente.

— Você tem certeza?

Amara assentiu.

— Bom, eu preciso voltar daqui algum tempo. – Começou ele. – Você pode me acompanhar. O que acha?

— Claro. – Ela sorriu.

E assim eles ficaram por alguns minutos, perdidos em conversas triviais enquanto terminavam suas refeições. Amara sentia falta de momentos como esse. Era uma boa forma de se passar o tempo, mas Alex ainda tinha muito trabalho para fazer. Assim, eles se levantaram e seguiram para suas atividades.

Amara e Alex trabalharam por mais de uma hora e ela sorria enquanto os raios de sol beijava-lhe o rosto até que fossem embora.  Amara se virou e viu dois pássaros empoleirados nas grades. Suas pernas elegantes os faziam destacar no céu cinza claro. Ficaram ali por alguns minutos, as cabeças inclinadas na sua direção.

Todos estavam focados em seus deveres.

Amara levou um tempo para perceber a tesoura colocada diretamente entre ela e Alex. Amara enfiou o braço entre as grades de metal e agarrou a tesoura. Ela moveu para frente e para traz, repetindo o movimento até que a raiz da planta se soltasse sem sofrer dano.

Amara olhou para o objeto por alguns segundos.

“É isso o que precisa ser feito”, lembrou ela.

Amara pressionou a faca na mão, o sangue lhe escorreu pelo braço até que atingisse o solo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? O capítulo era bem extenso, mas para não deixar a leitura cansativa, algumas partes estão no próximo.
Contamos com a presença do Negan e estou muito ansiosa para saber o que vocês acharam. Acertei? Escrever sobre um vilão é tão difícil! Eu tenho muito medo de acabar perdendo a essência dele, pois o personagem é incrível.
Eu espero que vocês tenham gostado do capítulo e, para deixar vocês com a mão no coração, uma prévia do próximo capítulo: ". - Negan é demasiado possessivo. Se ele decidir que lhe pertence, mais ninguém te tocará. É uma boa hipótese, dentro de todas as outras, não acha?"

Deixem seus comentários e não se esqueçam de dizer se acertei na "interpretação" de Negan e, claro, o que acharam do trailer.
Até o próximo capítulo! ♥