Como Liz não gostava de dirigir, achou melhor pegar um ônibus assim que saísse do trabalho. Não eram muito mais do que três horas de viagem e o casal Gardiner combinou de busca-la na rodoviária assim que ela chegasse. Ela havia acabado de desembarcar do ônibus e pegar sua pequena mala no compartimento de bagagens quando avistou o casal sorridente vindo em direção a ela.

— Titia! – Lizzie se jogou nos braços da Sra. Gardiner, uma mulher um pouco mais forte e robusta que ela. – Estava com tanta saudade!

— Venha mais vezes, querida. – A tia disse ainda abraçada a ela. – Estamos aqui do lado e vocês nunca aparecem!

— Fez uma boa viagem? – O Sr. Gardiner perguntou logo após abraçar a sobrinha.

— Fiz sim. – Ela respondeu se afastando com eles. O sr. Gardiner tentou pegar a mala de Lizzie, mas ela, pensando na idade avançado do tio, não deixou. – Pode deixar, está levinha.

— Nós ficamos tão contentes quando a Jane disse que você viria. – A tia não parou de falar durante todo percurso até o carro, estava realmente animada.

— Prometo que vou começar a vir mais vezes. – Liz sempre dizia isso e amava visita-los, mas por algum motivo, a vida corrida talvez, acabava não cumprindo a promessa.

— Espero que venha mesmo. E como estão seus pais?

O grupo já estava no carro e foi uma curta distância até a casa. Durante o percurso os três foram conversando e rindo bastante. Não precisou de muito tempo para Elizabeth admitir que ir passar o final de semana com os tios tinha sido uma ideia maravilhosa.

Ao estacionar o carro na garagem, Liz deu a volta e correu para a porta da frente que estava fracamente iluminada. Ao chão, ela viu um elefantinho de pedra que segurava uma placa escrito “Gardiner” com a tromba.

— Ele ainda está aí. – A Sra. Gardiner se aproximou lentamente de Liz e olhou com doçura para o elefante.

— Sempre adorei esse enfeite. – Liz disse emocionada. Parecia bobo, mas aquela casa trazia ótimas recordações. Ela não morou lá como Jane, mas visitava os tios com bastante frequência logo que se mudou para o país.

— Eu sei, agora vamos entrar. – A Sra. Gardiner puxou Lizzie pela mão. – Porque está frio e eu fiz uma sopinha quente para você tomar antes de dormir.

— Você sabe exatamente como receber bem suas visitas, tia! – Lizzie respondeu alegre. Uma sopa, um bom banho e uma cama macia era tudo o que ela mais queria.

— E quem disse que você é visita? – O Sr. Gardiner vinha logo atrás carregando a mala de Liz. – Você é família.

Liz sorriu para os tios e para casa. Assim que abriu a porta sentiu aquele cheiro familiar das velas e incensos que a tia espalhava pela casa e seu coração se aqueceu. Se perguntou se a irmã também se sentia assim quando ia para lá. Claro que sim, não tinha como não se sentir bem naquela casa.

Liz dormiu no antigo quarto de Jane que agora era o quarto de visitas. As coisas da irmã ainda estavam espalhadas por lá, o que deixava o lugar ainda mais aconchegante e familiar. Era engraçado como o colchão e os edredons lá eram macios. Não importava o quanto ela tenha tentado imitar isso em seu apartamento, a sensação nunca era a mesma que ela tinha quando estava lá. Mesmo comprando tudo da mesma qualidade, nunca ficava igual. Ela sorriu para si mesma e não demorou muito para pegar no sono.

Acordou no dia seguinte com o cheiro de canela invadindo seu quarto. Como sentia falta daquelas manhãs de sábado em que acordava com a tia tirando uma assadeira de bolo do forno. Antigamente ela passava muitos finais de semana lá, mas com o tempo deixou de ir. Por que as vezes deixamos de fazer as coisas que são boas para nós? Essa pergunta dominou os pensamentos de Elizabeth, mas ela não quis ficar muito tempo filosofando e foi logo para a cozinha.

Encontrou a tia terminando de jogar um pouco de açúcar e canela no bolo e o tio sentado, bebendo café, costume que ele nunca perdera mesmo depois de sair de seu país, e lendo o jornal, hábito novo que ele tinha adquirido lá.

— Bom dia. – Ele disse animado. – Dormiu bem?

— Bem até demais! – Liz respondeu alegre.

— Bom dia, querida. – A Sra. Gardiner colocou o bolo na mesa e tomou seu lugar ao lado do Sr. Gardiner. – Tem leite na geladeira, se quiser. E achocolatado, compramos especialmente para você.

Liz sorriu. Fazia muito tempo que não tomava o seu tão querido leite com chocolate. Não era costume por lá, e em seus primeiros dias, ela sempre revirava as prateleiras do mercado atrás de seu amado chocolate em pó e a tia, claro, lembrou-se. Muito embora não fizesse mais isso, resolveu, para brindar com nostalgia os seus velhos costumes e claro, para não fazer desfeita a tia, preparar a sua antiga bebida favorita de café da manhã.

Tomou seu achocolatado com leite gelado, como ela gostava e comeu um pedaço do bolo maravilhoso de maçã com canela preparado pela tia. Os três ficaram bastante tempo colocando vários assuntos em dia, até que a Sra. Gardiner finalmente reparou no horário.

— Já são quase onze e meia! – Ela disse surpresa e Liz riu. Não era como se eles estivessem atrasados para algo, certo?

Errado, pois o Sr. Gardiner ergueu as sobrancelhas e fez cara de assustado.

— Temos que correr. – Ele disse achando graça na preocupação da esposa.

— Uma amiga nossa nos convidou para almoçarmos no rancho da família dela, tudo bem para você? – A Sra. Gardiner perguntou para Elizabeth e só aí a ficha dela caiu, tinham sim compromisso. – É um lugar bem agradável, tenho certeza de que você vai gostar.

— Não tem problema se eu for? – Liz perguntou já que por ali era um costume muito feio aparecer sem ser convidada.

— Claro que não. Nós avisamos que você estaria conosco esse fim de semana e ela disse que ficaria muito feliz se você fosse também. Ela é uma graça de menina e o lugar é tão simples e bonito, você vai adorar.

— Bom, então eu vou, claro. – Liz sorriu, preferia ficar um tempo só com os tios, mas os dois pareciam tão animados para ir que até ela começou a pensar que seria uma ótima ideia.

Como os tios tinham dito que se tratava de um sítio, ou rancho, algo assim, Liz optou pelo seu bom e velho jeans, uma jaqueta de couro e botas. Estava se sentindo superconfortável, já que aquele era o seu visual favorito. Nada era mais Elizabeth Bennet do que jeans e botas. O sr. Bennet estava relativamente parecido com a sobrinha, a diferença é que no lugar de botas de cano curto, ele vestia um par de tênis. Já a Sra. Bennet estava um pouco mais elegante, como sempre. Nada arrojado demais, porém não muito simples também, e ela havia caprichado na maquiagem, mesmo com pouco tempo, ela tinha conseguido fazer um ótimo e delicado trabalho. Típico dela, eram raríssimas as vezes que a tia saia de casa sem sua base, pó, sombra e batom clarinho.

Liz sorriu e deu o braço para tia no caminho até o carro.

— Você vai adorar o passeio! – A Sra. Gardiner disse parecendo mais animada do que nunca.

— Tenho certeza que sim. – Liz sorriu. – Vocês nunca decepcionam.

O Sr. Gardiner abriu a porta do passageiro para a esposa e Liz não pode deixar de notar a piscadela. Aqueles dois eram muito fofos, o que será que estariam aprontando?