A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 32
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora :P



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Elizabeth chegou ao quarto revoltada com a situação e consigo mesma por não conseguir parar de chorar. Para sua sorte, não foi vista por nenhum outro convidado, apenas por alguns funcionários da casa, mas duvidava que algum deles fosse fofocar sobre sua situação miserável para Lady Catherine ou Caroline, elas nem deviam olhar na cara dos coitados.

Elétrica demais para simplesmente se atirar na cama e continuar soluçando, Liz jogou todas as suas coisas e as da irmã de qualquer jeito na mala. Estava pronta para ir embora, só faltava Jane. Ela até pensou em mandar uma mensagem, mas desistiu, não ia estragar a festa da irmã que precisava tanto se divertir um pouco. Então ela foi lavar o rosto para tentar se acalmar, estava saindo do banheiro quando ouviu a voz de Jane no corredor. Ela pareceu se despedir de alguém antes de entrar no quarto.

— Lizzie! – Jane exclamou surpresa assim que abriu a porta e viu a irmã com a cara toda inchada. – Meu Deus! O que foi que aconteceu? Achei que você estivesse com Darcy, por isso não te procurei antes.

— Jane. – Liz fungou sem se mover, estava com a expressão mais decidida que conseguiu fazer. – Vamos embora, não quero ficar nesse lugar por mais nem um minuto.

— Claro. – Jane fez menção de arrumar suas coisas, mas percebeu que não havia mais nada espalhado pelo quarto. – Deixa só eu trocar de roupa.

Jane reabriu a mala e dobrou algumas roupas que Liz tinha jogado lá dentro enquanto procurava algo mais confortável para ela e para a irmã. Decidiu que usaria um vestido simples, botas e um casaco e jogou um par de jeans e uma camiseta sóbria para Liz.

— Coloca isso e me conta o que aconteceu. – Pediu Jane enquanto tirava suas sandálias.

Liz obedeceu, mas parecia um zumbi enquanto trocava de roupa.

— Darcy é um canalha.

— Posso perguntar o porquê?

— Ele é um canalha, assim como toda a família dele. – Liz respondeu com raiva. – Acho que está no sangue.

Jane sentou-se ao lado de Elizabeth e insistiu para a irmã contar o que havia acontecido. Liz ponderou por alguns segundos, mas decidiu que não haveria mentiras entre elas e contou tudo. Não poupou nenhum detalhe, por mais que as revelações pudesse machucar sua irmã.

— Viu? Ele é um idiota! E o pior é que todo o seu sofrimento foi por causa dele e no final, o Bingley nem era tão culpado assim.

— Liz! – Ralhou Jane. – Você está delirando. O culpado do meu sofrimento nunca foi Darcy, foi Bingley. Ele se afastou sem dizer nada, ele foi um cretino.

— Mas foi por culpa...

— Não importa! – Ela olhou fixamente para Elizabeth que de tanta raiva não estava mais chorando. – Quantas vezes nós não dissemos para nossas irmãs ou amigas que não achávamos que os caras com que elas estavam saindo eram legais? Nem por isso elas deixavam de sair com eles, não é? E quando deixam é porque elas querem. Um comentário não obriga ninguém a terminar com ninguém, Liz. A decisão foi do Bingley e ponto.

— Não importa. – Elizabeth continuou séria. – Darcy foi injusto com você. Mal te conhecia e disse para o Bingley que você devia ser uma interesseira.

— Liz, eu não acho que ele esteja errado. – Jane admitiu baixinho. – Eu teria feito o mesmo.

Eizabeth encarou a irmã com uma expressão tão confusa que estava claro que ela precisava de uma explicação para tentar entender a lógica de Jane.

— E tenho certeza que você também faria isso por mim.

— Jamais iria destruir a sua felicidade espalhando mentiras sobre alguém de quem você gosta.

— Essa é a questão. – Jane respondeu baixinho. – Darcy não espalhou nenhuma mentira, ou pelo menos não foi essa a intenção dele. Ele só deve ter falado para o Bingley ficar esperto, porque nós sabemos, Liz, muita gente se casa por interesse. Ele só estava preocupado com o amigo. Eu teria feito o mesmo, teria te alertado.

— Mas nós não somos assim e ele nos julgou sem nos conhecer direito! – Liz levantou da cama de supetão. Estava ficando mais irritada porque Jane insistia em defender o idiota do Darcy. – Se ele tinha dúvidas deveria ter falado com a gente!

— Deveria? – A irmã mais velha perguntou com seriedade. – E o casamento da Char?

— Ela se apaixonou por ele!

— Sim, mas não foi por isso que aceitou o pedido. – Jane suspirou, era doloroso para ela ter que enxergar as coisas daquele modo, mas não podia negar a verdade. – Você sabe muito bem.

Elizabeth calou-se por algum tempo. No fundo, estavam todos certos? Elas eram assim? Liz não queria admitir. Charlotte não era interesseira, era sua amiga amada que tomou uma decisão por amor ao país em que ela estava. Era uma moça corajosa que deixou sua família do outro lado do Atlântico e que chorou de saudade todos os dias durante um mês. Uma profissional que trabalha com afinco e que faz cada paciente perder o medo e se sentir querido. Será que as pessoas não entendiam que ninguém escolhe se mudar de seu país de origem porque quer, e sim porque precisa? Será que as pessoas não veem que se fosse pela própria vontade, ninguém deixaria família, amigos, conforto e tudo o que é conhecido? Mas a vida acontece e as vezes as pessoas tem que partir. E suas decisões não deveriam fazer delas todas interesseiras ou ladras de trabalho aos olhos dos outros. Pessoas são muito mais do que rótulos e merecem uma chance de viver a vida da melhor maneira possível sem que os outros fiquem jogando pedras e criticando cada decisão tomada. Ao menos, era essa a opinião de Elizabeth. Ela acreditava que pessoas eram cidadãs do mundo, e não responsabilidade de um só país e que todas merecem a chance de encontrar a felicidade seja onde for. Foi esse pensamento que a tirou de casa anos atrás, encontrar a felicidade que ela infelizmente não conseguiu onde estava. Teria sido muito mais fácil se ela fosse como sua mãe e suas outras irmãs e não se importasse com corrupção, injustiça e falta de ética. Seria muito mais fácil se ela não tivesse medo de não voltar para casa após um dia de trabalho ou estudos ou se ela conseguisse festejar a vida em um churrasco no domingo. Mas ela não conseguiu e nunca julgou quem pudesse fazê-lo. Cada um vive a vida do jeito que achar melhor, sem julgamentos, sem intolerância, sem radicalismos, não é?

— Liz, a gente sabe que essas coisas acontecem, não adianta negar. O que importa é que nós sabemos que não somos interesseiras e não queremos porcaria de visto nenhum. Estamos tranquilas com nossas consciências e podemos dormir em paz a noite. O que os outros pensam não deveria te atormentar tanto.

— Mas o Darcy...

— Ele só pediu para que o amigo tomasse cuidado. Bingley teve uma escolha. Ele podia tentar me conhecer melhor ou desistir de tudo o que tínhamos construído. A escolha de me deixar foi dele e de mais ninguém, Liz.

— Talvez... – Liz sussurrou baixinho. – Você tenha razão, Jane. Só que ainda sim eu gostaria de ir embora. Preciso de um tempo para digerir tudo isso.

— Claro. – Jane pegou as chaves do carro da bolsa. Um claro sinal de que estava pronta para partir. – Só mais uma coisa, Liz. Você pode me achar uma pessoa horrível por te falar isso, mas eu te amo demais para agir amigavelmente e concordar com você quando vejo você dando murro em ponta de faca.

Liz ergueu a sobrancelha e preparou-se psicologicamente para as próximas palavras da irmã. Nada fácil vinha depois que Jane decidia arrancar o band-aid de uma vez por todas.

— Você condena Darcy por ter te julgado sem te conhecer direito, por ter me julgado. Mas e você? Só o que fez quando o conheceu foi interpretar da pior maneira possível todos os atos dele. – A voz de Jane era cortante, no entanto, amável. Se ela estava falando aquilo era porque se preocupava com a felicidade da irmã. – O fato dele ser daqui e bem sucedido não significa que ele quer o mal dos outros. Significa que talvez ele ignore os nossos costumes e hábitos, mas de que adianta sermos grosseiras? Nada. O certo é espalharmos o amor por aí, assim as pessoas vão se aproximar e poderão nos conhecer melhor. Aí acaba essa história de julgamentos.

Mergulhada em suas próprias indagações e nas palavras de Jane, Elizabeth não conseguiu encontrar uma boa forma de rebater. Jane estava certa, mas não seria tão já que Liz admitiria em voz alta. Emburrada, ela abriu a porta do quarto e desceu junto da irmã com as malas. Um funcionário apareceu para ajudá-las a levar tudo para o carro e logo elas já estavam na estrada.

Durante todo o caminho, Liz não deu um pio. Nem atendeu as várias ligações de Darcy. Não estava preparada, precisava de um tempo só dela. Precisava pensar e colocar todas as ideias no lugar. Não queria mais brigar sem necessidade, então, dessa vez pensaria muito bem antes de resolver qual seria sua atitude para com Darcy da próxima vez que o visse.

Ele já havia parado de ligar quando Liz sentiu o celular vibrar em suas mãos novamente. Ela deu uma espiada na tela com a certeza de que era uma mensagem dele, no entanto, era outra pessoa. O sentimento de saudade a invadiu quando ela viu o nome de sua mãe na tela relembrando-a de que amanhã estariam no apartamento para arrumarem tudo para finalmente voltarem para casa. Há algumas semanas ela não via a hora disso acontecer, mas naquele momento, tudo o que ela queria, era que a mãe lhe dissesse que todos iam se mudar de vez para lá. 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?? Quem está certa nessa história, Liz ou Jane??



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