A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo novinho em folha para vocês :)



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Jane deixou Elizabeth no apartamento e voltou para a casa da tia. Queria muito ficar para conseguir se despedir da família que chegaria no dia seguinte e logo partiria, no entanto, tinha muito trabalho a fazer. Torceu muito para que sua irmã pensasse um pouco em tudo o que ela havia dito e no fundo, achou melhor mesmo que ela ficasse um tempo sozinha.

Já Lizzie, chegou em casa, tomou um longo e relaxante banho e chorou mais um pouco enquanto assistia a um filme água com açúcar que estava passando na TV. Depois de deitar, estava tão física e emocionalmente cansada que logo adormeceu. Com sorte acordaria renovada no dia seguinte.

Estava enganada. Acordou extremamente ansiosa e com a cara meio inchada e olheiras evidentes. Passou uma maquiagem leve, tomou um rápido café da manhã e partiu para o trabalho. Sairia mais cedo para alugar um carro e buscar a família na estação de trem.

— Bom dia! – Liz tentou parecer animada ao passar pela recepção do hospital.

Porém, sua animação durou pouco. Em alguns minutos ela se encontraria com Darcy e já sabia o que fazer. Iria conversar com ele sobre tudo o que havia acontecido, tirar a história a limpo e se julgasse necessário, pediria desculpas a ele. Não, não. Ela pediria desculpas a ele com certeza, não foi certo ela gritar como uma louca sem dar a ele a chance de se defender, mas seria difícil engolir o orgulho. Ele teria que se desculpar também. Isso! Ele com certeza iria iniciar a conversa e pediria desculpas, depois, tudo ficaria mais fácil.

Com esse pensamento em mente, ela se dirigiu para a clínica. Quando chegou, o Dr. Darcy já estava no consultório, sentado organizando algumas fichas. Ele ergueu os olhos quando ela passou pela porta, mas voltou-se para os papéis novamente.

— Bom dia, Darcy. – Elizabeth tentou com todas as forças parecer casual, mas não conseguiu saber se tinha dado certo ou não. Achava que sua voz tinha saído um pouco tremida, mas não se abalou. Ela não seria covarde, falaria com ele custe o que custasse.

— Srta. Bennet. – Ele respondeu como geralmente falava com os outros, mas aquilo cortou o coração de Elizabeth. Só agora havia se dado conta de que com excessão do dia em que se conheceram, ele sempre separava para ela, um jeito de falar especial. Não diria carinhoso, mas muito mais simpático e aberto do que o habitual.

Elizabeth não teve tempo de dizer nada, pois logo o primeiro paciente chegou. Depois disso, foram diversas as chances que Lizzie teve de iniciar a conversa que tanto queria, no entanto não pode. Não era orgulho, era medo, ela simplesmente não conseguiu. Darcy não a estava tratando mal, apenas com indiferença, mas aquilo doeu mais nela do que uma briga horrível. Por mais que tentasse, ela não conseguiu iniciar uma conversa de verdade e nem ele o fez. Ao final de seu turno, Darcy se despediu deixando para trás uma Elizabeth muito chateada. Ela sentiu-se fraca e impotente. Tanto quanto jamais havia se sentido.

Naquele dia, almoçou sozinha, apesar de Charles Bingley, com um sorriso sem graça, tê-la convidado para sentar-se com ele. Não estava afim de companhia, e se segurou para não cair no choro enquanto pensamentos de culpa passavam por sua cabeça. Era sua culpa estar assim. Ela sempre assumia o pior das pessoas e na primeira crise, ao invés de trabalhar para consertar as coisas, ela simplesmente abandonava o barco e o deixava afundar. Aquilo era um padrão na vida dela e por mais irritada que tivesse ficado com Jane no dia anterior, estava claro que a irmã não havia dito nenhuma mentira. Ela tinha agido de maneira impulsiva e como muitas outras vezes, talvez não fosse capaz de consertar seu erro. A diferença é que nunca havia doído tanto quanto dessa vez.

Elizabeth estava se sentindo miserável quando saiu do hospital. Pior ainda foi aguentar o risinho cínico de Wickham ao cruzar com ele em um dos corredores. Ele pareceu sentir que ela não estava nada bem e para provocá-la cumprimentou-a de maneira simpática e fingida e perguntou se estava tudo bem. Como ela quis partir para cima dele e dar um belo soco naquela cara arrogante dele! Mas no lugar disso, ela vestiu o seu melhor sorriso e respondeu que estava tudo mais do que bem.

Ela pegou um táxi até uma loja de aluguel de carros para ir buscar a família na estação. Odiava dirigir e só o fazia quando não tinha mesmo mais jeito. Era o tipo de pessoa distraída demais e morria de medo de machucar alguém, mesmo que nunca tivesse chego nem perto disso.

Ela estava só há dez minutos esperando quando sua família apareceu. De longe ela viu sua mãe, espalhafatosa como sempre, vindo em sua direção rodeada pelo restante da família e correu para abraçá-la. Por mais barraqueira e diferente dela que a mulher fosse, ainda era sua mãe e nada como um abraço apertado dela para fazê-la sentir-se melhor.

— Mamãe! – Ela repetia baixinho sem soltar a mulher. No início, a mãe estranhou, mas depois retribuiu o abraço e afagou-lhe as costas.

— Quem é você e o que fizeram com a minha irmã? – Lydia provocou cortando o clima.

— Boba – Liz respondeu mostrando a língua. – Eu só estava com saudades da minha família, não posso não?

— Isso é só porque ela sabe que vamos embora amanhã. – Alfinetou a Sra. Bennet, mas Lizzie ignorou.

— Mamãe. – Ela reclamou ainda de bom humor.

Logo o Sr. Bennet apareceu carregado de malas. A única que o estava ajudando, como sempre, era Mary.

— Sobre isso, mamãe, lembra do que eu pedi? – Lydia fez uma voz doce. A entonação que ela sempre usava quando queria pedir alguma coisa.

— Não, não me lembro.

— Daquela festa que a minha amiga me chamou.

— Já falamos sobre isso, mocinha. – Foi o Sr. Bennet que respondeu, raridade, pois ele quase nunca negava um pedido das filhas.

— Mas, pai! Vai ser incrível! Festa de gente importante. – Ela choramingou. – Se eu não for, vou passar o resto da minha vida imaginando como teria sido.

— Que festa? – Liz quis saber. Pegou uma mala das mãos do pai para ajudá-lo a carregar.

— Você conhece sua irmã, é igualzinha à mãe. – Respondeu o Sr. Bennet em tom irônico. – Faz amizade com a fila do banco inteira em menos de 5 minutos.

— Aí, papai, você que é antisocial.

Liz riu do comentário de Lydia. Seu pai e Mary eram o oposto das outras irmãs e Liz e Jane eram o meio-termo.

— Mas que festa é essa?

— A Lydia foi convidada para uma festa no sábado e passou metade da viagem torrando a paciência para o papai mudar a passagem dela para depois para ela poder ir. – Mary respondeu impaciente. Aparentemente ela não aguentava mais aquela história.

— E eu já expliquei que gastamos muito com essa viagem e que a companhia aérea cobra uma taxa absurda para remarcar a passagem. – O Sr. Bennet explicou e Liz entendeu o porquê da negativa. Seu pai só costumava falar não para as garotas quando o pedido em questão envolvia uma quantidade muito significativa de dinheiro.

— Mas pai! – Lydia parecia que ia chorar. – Eu já disse que pode ficar como meu presente de aniversário adiantado. Por favor, por favorzinho!

— Seu aniversário é só daqui a dois meses. – Mary resmungou, mas no fundo sabia, assim como Liz, que a irmã com certeza conseguiria o que queria.

— Não acho uma boa ideia. – Elizabeth opinou e recebeu um olhar feio da irmã. – Não conhecemos essa sua amiga, nem sabemos como será essa festa. E convenhamos, Lydia, você e festas não é uma mistura muito confiável.

A irmã mais nova lançou um olhar feroz para Liz e durante todo o caminho até o apartamento, não se falou mais no assunto. Só que claro, Lydia tinha herdado muitos traços da mãe e sabia como ser uma pessoa insistente. A história da mudança da passagem voltou à tona na hora do jantar.

— Por favor, pai! Eu prometo que eu não peço mais nada, nadinha!

— Lydia, para com esse assunto. – Liz reclamou, pois sabia que a irmã estava usando sua técnica infalível no Sr. Bennet. Iria vencê-lo pelo cansaço. – Eles já disseram não, larga de ser chata.

— Mamãe mudou de ideia. – Ela anunciou triunfante e todos olharam em direção a Sra. Bennet como que para confirmar a história.

— Eu disse que iria pensar. – A mãe se defendeu. – Mas só se ela prometesse se comportar e que não teria presente ou festa de aniversário.

— Só uma pequenininha. – Lydia fez o sinal de pequeno com as mão, afastando os dedo.

O Sr. Bennet deu um suspiro, Liz sabia que ele estava próximo de aceitar a proposta.

— Pai! – Liz quase gritou, não queria se responsabilizar pela irmã que era completamente descabeçada. – Ela não pode mais perder aula, as férias dela já terminaram faz o quê? Duas semanas?

— Elizabeth, você não sabe de nada. – Lydia rosnou. – Os professores nunca dão nada no começo do semestre, pai!

— Pai, não! Você e a mamãe sempre fazem o que essa menina quer, por isso ela está assim!

— Assim como? – Lydia perguntou azeda. – Sempre ao lado deles ao contrário de você, ingrata que nem lembra da família!? Eu quero ficar mais alguns dias, você veio contra a vontade da mamãe e nunca mais voltou. Não me conhece, não sabe se sou responsável ou não.

— Eu posso não estar lá, mas quando a mamãe liga chorando porque você sumiu de casa sem avisar, sou eu quem atende o telefone ás quatro horas da manhã!

— Elizabeth, não seja tão dramática. – A Sra. Bennet pediu e Elizabeth jurou para si mesma que nunca mais ficaria horas no telefone tentando acalmar a mãe quando Lydia aprontasse mais uma das suas.

— Se ela ficar eu também quero. – Kitty vendo que já era quase certeza de que Lydia conseguiria mudar sua passagem, fez sua tentativa que todos ignoraram.

— Você não foi convidada para a festa. – Lydia respondeu com um muxoxo.

Os ânimos estavam exaltados, mas no fim, mesmo com Lizzie dizendo que não se responsabilizaria pela irmã, o Sr. Bennet acabou conscentindo e sua filha mais nova foi dormir com um sorriso de orelha a orelha, enquanto Elizabeth saiu bufando e ligou para Jane.

Pediu desculpas à irmã por não tê-la ouvido e por ter virado a cara para ela quando tudo o que Jane queria era ajudá-la. Também contou sobre sua tentativa frustrada de se reconciliar com Darcy e sobre a birra de Lydia.

— Eu falei para eles, Jane, não vou me responsabilizar por ela. Eu avisei o papai! E não tive filhos para ficar tendo que me preocupar com que tipo de festa eles vão e se vão voltar ou não, sou muito nova para passar por isso!

Jane também não achou a decisão mais sensata do mundo, mas sabia como a irmão mais nova conseguia ser insistente quando queria.

— Se acalma, Liz. – Ela disse em um tom de voz tranquilo. – Você está muito estressada, passou por muita coisa. Vamos fazer assim, sexta você sai do trabalho e vem pra cá. Garanto que se passar o final de semana aqui, vai voltar revigorada.

— Não posso, Jane. – Liz suspirou, a ideia era ótima. Sua tia morava em uma cidade pequena e tranquila, tudo o que ela precisava para se reconectar, um pouco de paz. – Mas a Lydia tem aquela bendita festa.

— Achei que você não estivesse nem aí. – Jane riu.

— Como se eu conseguisse.

— Eu estou brincando, nem em sonhos a gente pode deixar ela sozinha.

— Pois é, se com supervisão ela já apronta, imagina se ficar aqui sem ninguém.

— Então eu vou voltar para casa esse fim de semana. – Jane concluiu, tinha mais paciencia com Lydia. Era capaz de Liz e Lydia se matarem se fossem deixadas sozinhas.

— Não precisa, Jane. Acho que consigo cuidar da peste sozinha.

— Não, você não entendeu, Liz. Você vem para cá e eu vou para aí, tipo troca de famílias, sei lá.

— Não sei, Jane – Liz não se animou muito com a ideia. Queria muito passar um fim de semana fora, mas ao mesmo tempo, não achava justo largar a irmã com essa bucha.

— Eu sou muito mais paciente com você. Não ligo, sério mesmo.

— Vou pensar no assunto. – Liz prometeu.

— Então pensa com carinho. Oportunidade única, hein?

E as irmãs se despediram. Naquela noite, Liz foi dormir um pouco mais tranquila. Pelo menos com Jane, ela havia feito as pazes e aquilo já tirara um grande peso de seus ombros.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?? Será que a Lydia vai aprontar alguma mesmo ou a Liz está meio paranoica?? Cenas do próximo episódio lol



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