A nova Ordem escrita por Ana Letícia


Capítulo 3
Inicio da jornada




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Não foi nada fácil convencer meus pais a me deixarem saquear um mercadinho, mas eles acabaram compreendendo que a comida que eles tinham em casa não ia durar pra sempre, e a gente não sabia quanto tempo ia demorar até eu resolver isso tudo. Por fim, acabaram concordando.

Sai de casa traçando um plano rápido: eu ia correr até o mercadinho, que era na esquina da outra rua, evitar grandes grupos de mortos e matar apenas os que estivessem sozinhos e no meu caminho. Quando chegasse ao mercadinho, eu daria uma volta rápida, olhando onde os produtos que eu pretendia pegar estavam, e mataria qualquer morto que estivesse lá dentro, e, se encontrasse os donos, eu pediria permissão, é claro. Quando acabasse de fazer a ronda rápida, pegaria um carrinho, colocaria tudo dentro e correria de volta pra casa.

Eu estava com a lança que Zeus me dera, a observei por um segundo. Era grande, mais de um metro de altura, uma ponta afiadíssima, o cabo firme, porém leve como uma pena, fácil de manusear. Observei a rua, haviam poucos mortos caminhando lentamente para se juntar aos grupos que tentavam derrubar algumas portas, não dei atenção a eles, e passei correndo para a outra rua.

Quando cheguei à outra rua, tive que avaliar a situação. Havia cerca de 20 mortos espalhados: um grupo devorando algo que parecia ser um cachorro grande, e os outros estavam divididos entre tentar derrubar portas e andar sem rumo no meio da rua. Por sorte um dos lados estava livre, então segui por ele silenciosamente até chegar ao mercadinho.

Ao chegar, continuei o plano, andei pelos corredores tentando encontrar o que eu queria. Tomei um susto ao dar de cara com um morto, mas por sorte ele era uma criança, foi fácil matá-lo enfiando a lança no seu olho. Tirei o corpo do caminho para que eu pudesse passar com o carrinho depois. Por sorte, ele foi o único morto que estava lá dentro. Corri pelo corredor 1: os quilos, onde havia, arroz, feijão, açúcar, essas coisas. Não achei que isso seria muito útil porque não sabia quanto tempo o gás lá em casa ia durar.

Então deslizei para o segundo corredor: os enlatados. Corri para o terceiro: bebidas, onde observei atentamente as posições das águas minerais e sucos de caixinha. Corredor quatro: biscoitos, bolachas e doces. Corredor 5: higiene e limpeza, e corredor 6: congelados. Segui pelo corredor 6 e retornei para o lugar onde havia entrado, peguei um carrinho e segui pelo corredor 1, que foi ignorado com sucesso, entrei com pressa no corredor 2, onde peguei varias latas de comidas prontas, geleia, manteiga de amendoim, e outras coisas, e passei para o corredor 3, onde peguei muitas garrafas de água grandes, pequenas e muito pequenas, sucos de garrafas, caixinhas e caixas de um litro, leite, e uns saches de chá, no corredor 4, tentei pegar os biscoitos preferidos de Sam, cereais, bolachas, alguns doces e bastante pão, no 5 peguei papel higiênico, detergente,sabonetes líquidos, álcool gel, e muitos lenços umedecidos, eu ia precisar bastante na viagem. No corredor 6, eu não ia precisar levar nada, as carnes iam apodrecer, só peguei um iogurte para minha mãe e Sam.

A essa altura meu carrinho já estava bem pesado. Ia ser impossível passar pelos mortos sem chamar atenção. Então tive uma ideia. Pegar os pernis de porco e jogar para eles se eles chegassem muito perto de mim, peguei umas aves também. Tirei tudo dos plásticos e deixei fácil em cima do carrinho. Sai do mercadinho empurrando o carinho e segurando a lança. O primeiro morto chegou perto de mim tão rápido que quase não conseguir puxar a lança a tempo. Furei sua cabeça como se ela fosse feita de papel. O barulho de seu corpo caindo no chão chamou a atenção dos outros. Comecei a jogar os pernis na direção deles e acertei um na cabeça. Os outros foram correndo na direção dos pernis ao sentir o cheiro da carne. Alguns outros continuaram a vir na minha direção. Joguei as aves e sai correndo. Quando cheguei na porta de casa comecei a assoviar freneticamente e meu pai logo abriu a porta.

— Pega o carrinho e leva pra dentro. – eu disse ao meu pai.

— Entra logo, Zyra. – ele disse.

— Esses daqui da rua estão vindo pra cá. Não vou conseguir sair depois.

Meu pai entendeu que eu precisava matá-los.

— Ok, vai logo.

E eu, literalmente fui logo. Fui pra cima deles com uma fúria tão intensa que matei um grupo de 12 rapidamente, e corri para dentro de casa mais imunda do que nunca.

***

Me dei ao luxo de tomar um banho rápido, afinal eu não sabia quando poderia tomar um banho de chuveiro de novo. Lavei os cabelos sujos de sangue, e eles foram voltando à cor natural, um louro escuro num tom de caramelo. A mesma cor dos cabelos de Zeus. Lavei meu corpo cuidadosamente, e limpei bem meu rosto e minhas unhas. Eu estava parecendo comigo novamente.

Uma menina normal. Apenas uma menina de dezesseis anos, preocupada com as provas da escola,com festas, cinema no fim de semana, e como curtir os momentos com meu namorado.

“Namorado...” só de pensar nele me deu um nó no coração. Será que ele ainda estava vivo? Eu tinha que saber. Eu precisava ir para o outro lado da lagoa, e, por coincidência ele morava por lá. Mas eu precisava ir além para chegar às montanhas, e Zeus me disse que eu tinha que ir direto pra lá, para não perder nem um segundo a mais. Mas eu precisava saber se James estava bem, e esse era um risco que eu tinha que correr.

Sequei-me com minha macia toalha, e vesti minhas roupas. Uma camiseta preta, uma calça jeans confortável e meus tênis de corrida, afinal eu ia correr bastante. Prendi meus cabelos ainda molhados em um rabo de cavalo no topo da cabeça.

Na mochila que Zeus me deu, acrescentei umas garrafas de água, um rolo de papel higiênico, e muitos pacotes de lenços umedecidos.

Quando sai do banheiro, meus pais disseram que o almoço estava servido.

Fiquei com a barriga cheia com uma refeição composta por, sopa enlatada fria, duas fatias de pão, suco de caixinha, e bala fini de sobremesa.

Depois do almoço, era a hora da terrível despedida.Meu pai me olhava com uma cara de quem não aceitava que sua menininha tinha que passar por isso. Sam me olhava com admiração, ele sabia que eu tinha uma missão importante para cumprir, e minha mãe me olhava com cara de tacho.

Estava com um olhar distante e perdido, então percebi que ela passou a minha vida inteira esperando por isso, o dia que Zeus ia aparecer e me levar embora, e agora parecia que tudo tinha perdido o sentido. Passou pela minha cabeça que talvez ela tivesse passado esse tempo todo só esperando para rever Zeus, e agora que ele tinha aparecido, e mal tinha dado atenção a ela, ela ficou perdida.

Decidi parar de pensar nisso. Fui até Sam, e me ajoelhei em sua frente.

— Você sabe que eu preciso ir, né? - eu disse.

— Eu sei, tudo bem, Zyra. Zeus vai cuidar de você.

Eu estava impressionada com a sua maturidade.

— Vai sim. – eu dei um beijo em sua testa e baguncei seus cabelos.

Me virei para o meu pai.

Ele me abraçou como se eu tivesse seis anos de novo.

— Minha menina cresceu tão rápido, e agora vai salvar o mundo.- ele disse.

— Espero que sim. – eu disse.

— Ei, você vai conseguir sim. Você é determinada e forte.

Eu abracei minha mãe, essa mulher foi minha melhor amiga por tanto tempo, meu porto seguro, minha inspiração, e eu acabara de descobrir que ela passou a vida inteira mentindo pra mim.

— Cuida deles. – eu disse a ela.

— Fique bem, meu amor. Desculpe por tudo isso. – ela me disse.

— Está bem.

Coloquei a mochila nas costas e encaixei a lança na mão.

Abri o portão, encarei a rua deserta, a não ser por alguns mortos que vagavam.

Sai e fechei o portão atrás de mim deixando minha família para trás. Respirei fundo e segui em frente. Afinal era o caminho fácil a se seguir.

Olhei para trás a tempo de ver Sam fechando a porta.

— Eu volto. – sussurrei para mim mesma.

***

Eu estava indo pelo caminho que fiz para voltar da escola de Sam. Segui em frente da pista, afinal era por lá que eu a contornaria até chegar do outro lado da lagoa.

Eu tinha um longo caminho pela frente, apenas uma arma e milhão de pensamentos. A maioria deles envolvia Zeus, e o seu pequeno caso com minha mãe. Eu também estava pensando muito em James, estava com medo de chegar lá e descobrir o pior. Na verdade eu podia nem descobrir nada, ele poderia ter se atrasado, poderia nem ter saído de casa e ficou com sua família desde o inicio. Talvez eles tenham ido para um lugar que julgavam seguro, o sítio da avó dele talvez. Mas a dúvida era pior que qualquer certeza.

Pensei muito em minha missão, Zeus me dissera para encontrar outros semideuses, ele não me falou nada sobre eles mas eu sabia o que eles eram: filhos de humanos com deuses olimpianos. Ele me dissera para procurar o oráculo, uma garota chamada Rachel, e deixou escapar que ele tinha outra filha, e que ela ainda não tinha 16 anos. Será que ela estaria com esses outros semideuses?

Prossegui o caminho evitando os grandes bandos de mortos, comecei achar estranho ficar chamando eles de mortos, e resolvi chamá-los de zumbis, afinal era isso que eles eram. Eu não sabia muito sobre essas coisas, só sabiam que eles estavam sempre com fome e que comiam pessoas. E eu estava torcendo para que fosse só isso, mas estava com uma forte suspeita de que se uma pessoa fosse mordida eles se tornaria um deles. Eu tinha que ficar viva e de preferência sem mordidas.

Andei por horas, comecei a beber um pouco de água e comer uma barrinha de cereal. Eu estava doida para testar os presentes que Zeus me dera, mas pelo que ele falou, o pote e a garrafa só funcionariam de eu estivesse com uma extrema necessidade.

Começou a escurecer, então tratei de procurar um lugar para acampar, escalei uma casa que ficava a uma distancia segura da pista, e me preparei para dormir no telhado, eu não sabia se tinha gente dentro da casa, mas sabia que os zumbis não conseguiam escalar.

Tirei o saco de dormir de dentro da bolsa e o arrumei em um ponto forte do telhado, peguei a jaqueta prateada e a dobrei como um travesseiro, deitei e fiquei olhando o sol se por, além da lagoa, em algum lugar estavam os outros semideuses, arrumando seu acampamento e fazendo suas refeições. E alguns quilômetros atrás, meus pais estariam tentando se convencer de que eu ficaria bem.

Já estava bem escuro quando senti fome, minha barriga estava realmente roncando, era uma boa oportunidade para testar o pote. Peguei o pote dentro da mochila e também uma lanterna, esperei minha barriga roncar e encostei o pote nela, esperei alguns segundos e depois abri o pote, tinha algo dentro dele. Virei-o para baixo e dei uma batidinha, de dentro dele caiu um prato, arroz, peito de frango, purê de batata e brócolis, caiu um copo e depois suco dentro dele, e por ultimo, caiu um lindo cupcake com cobertura roxa.

Fiquei olhando impressionada.  Como podia caber tudo aquilo dentro do pote? E fiquei ainda mais impressionada porque era exatamente aquilo que eu queria comer. Peguei dentro da mochila um pouco de álcool em gel e passei nas mãos, depois um garfo e uma faca que meu pai insistira pra eu colocar na bolsa, e dei uma boa garfada na comida. Misturei um pouco de arroz com o purê de batata e um pedaço do brócolis, meus olhos quase saltaram da cara quando botei a comida na boca. Era muito parecido com a comida que a minha avó fazia, só que melhor, tipo, a comida estava perfeita, o tempero estava ideal, o frango bem grelhado, o brócolis bem refolgado, e o suco parecia fresco, parecia que tinham acabado de espremer uma laranja no meu copo.

Eu já estava satisfeita, mas não ia deixar de provar aquele cupcake, era o melhor que eu já tinha provado. Sem duvidas aquela comida era mágica. Quando terminei fiquei sem saber o que fazer com o prato e o copo, limpei os talheres com papel higiênico e água, mas aquele prato de porcelana e o copo de cristal iam me causar problema, se a bolsa caísse eles iam quebrar e fazer um barulhão. Então tive a idéia de abrir o pote novamente, o pote sugou o prato e o copo de volta. Fiquei boquiaberta por uns segundos, depois fechei o pote e o guardei na mochila. Me enfiei no saco de dormir e fiquei confortável usando a jaqueta como travesseiro, dormi imediatamente.

***

Acordei muitas horas depois, já estava amanhecendo e os primeiros raios do sol insistiam em me cegar, eu pretendia ficar lá mais um pouco e comer alguma coisa, mas um barulho de passos esmagando folhas secas me deixou em alerta.

Avistei um grande grupo vindo em minha direção, mas eles não tinham me visto ainda. Pensei que fossem os semideuses, mas Zeus dissera que eles eram muitos para chegar até aqui. O medo tomou conta de mim, e meu instinto foi de me abaixar e torcer para que eles fossem embora logo, mas algo me dizia que eu devia ir em frente.

— Bom dia, senhores. – disse eu quando eles passaram em frente a casa que eu estava. – Estão precisando de ajuda?


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