A nova Ordem escrita por Ana Letícia


Capítulo 4
As dádivas do caminho




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Todos olharam pra mim imediatamente, apontando armas, todos tinham uma metralhadora, e as facas presas em suas roupas em visíveis, um deles apontava uma espécie de arco pra mim.

— Não atirem. – eu disse.

— Me dê um bom motivo. – disse um homem barbudo de olhos azuis.

— Não sou inimiga, e não vou atrapalhar vocês, só quero ajudar. – eu disse calmamente.

— Me deixe ver as suas mãos. – disse o homem.

Levantei as mãos e dei de ombros.

— Por que você poderia nos ajudar? - ele perguntou.

— Porque sou dessa região, e suponho que vocês não são daqui. – eu disse.

— Você tem alguma arma? - perguntou um outro homem, o que tinha o arco.

— Só uma lança. – respondi.

— Desça daí pra gente conversar. – disse o homem.

— Tudo bem. Espera. – eu disse.

Arrumei o saco de dormir e a jaqueta e coloquei de volta na mochila, eu estava com um pouco de medo deles, mas agora não tinha como dar pra trás, algo me dizia que eles eram perigosos.

Desci do telhado e andei até onde eles estavam, contendo meu impulso de empunhar a lança.

— Oi. – eu disse.

— Quem é você? - perguntou o homem.

O resto do grupo ainda apontava armas pra mim, e não davam uma palavra, percebi que o homem que falava comigo era o líder.

— Me chamo Zyra. – respondi. – E você?

— Eu faço as perguntas aqui, Zyra. Você está sozinha?

— Estou.

— Para onde estava indo?

— Preciso chegar ao outro lado da lagoa.

— Por quê?

— Porque meu pai precisa que eu faça isso. – respondi.

Percebi que era a primeira vez que me referia a Zeus como meu pai.

Ele fez um sinal e todos abaixaram as armas.

— Que tipo de informação útil você poderia nos dar, já que disse que queria ajudar?

— Sei onde tem mercadinhos por aqui, vocês provavelmente acharão comida lá se as pessoas já não saquearam tudo.

Ele olhou de relance para um cara chinês. A menção de comida os deixou agitados. Era um grupo muito grande, eles provavelmente tinham problemas em achar comida.

— Tudo bem. – disse o homem. – Meu nome é Rick. Rick Grimes.

 Estendi a mão para apertar a sua, ele pareceu receoso, mas apertou minha mão.

— Bom, tem um mercadinho a quatro ruas daqui, mas quando passei por ela estava cheia de zumbis. Não sei se dá pra passar, e nem sei se os donos conseguiram fechá-lo antes de se esconderem. – eu disse.

— Por que você está sozinha? - perguntou Rick.

— Porque um grupo grande não conseguiria chegar aonde preciso ir. – respondi.

— Por que não? - ele perguntou.

— Provavelmente é um caminho difícil. – eu disse.

— Mas você é uma criança. Não vai chegar lá. – ele disse com frieza.

— Meu pai acredita que sou capaz.

— Seu pai provavelmente é um louco irresponsável.

Arregalei os olhos esperando que um raio caísse do céu e fritasse Rick Grimes. Mas nada aconteceu.

— Deve ser mesmo. – eu disse desafiante.

Dei uma risada fraca e balancei a cabeça.

Olhei de novo para o grupo, e só então percebi que um garoto segurava um bebê, uma menininha que não tinha mais que dois anos.

— Oh, vocês viajam com um bebê? - eu disse espantada.

— Ela é minha filha. – disse Rick. – Esperava que eu a abandonasse?

— Não. – eu disse. – Ela está com fome?

— Está. Todos estamos. – ele disse.

Abri a mochila com cuidado e tirei um pacote de biscoitos de leite e uma garrafinha de água. Entreguei a Rick. Ele imediatamente abriu o pacote do biscoito e colocou alguns nas mãos da filha, a menina começou a comê-los.

— Obrigado. – ele disse.

— Posso conhecer seu grupo? - perguntei.

— Sim, claro. Estes são Maggie e Glenn, - disse ele apontando para o rapaz chinês e uma moça de olhos claros. – Carol e Daryl, - ele apontou para uma moça de cabelos curtos grisalhos e o homem do arco. – Michonne, - ele apontou para uma moça negra que estava com uma espada presa as costas. – Abraham, Rosita, Eugene e Tara. – Abraham era um homem forte e ruivo, Rosita era jovem e bonita, Eugene tinha cabelos estranhos, não parecia um lutador, e Tara tinha um rosto esperto parecia pronta pra ação. – Aquela é a Sasha. – apontou para uma moça negra de olhar mortífero. – E estes são meus filhos, Carl e Judith. – Carl parecia ter uns 15 anos e segurava a pequena Judith que devorava os biscoitos.

— Prazer em conhecer vocês.- eu disse.

— Você também percebeu? - perguntou Michonne me olhando.

— O quê? - perguntei.

— A mudança do tempo. – ela disse.

— Eu, er, não. Acabei de acordar, estava nublado? - olhei pro céu e já estava azul, o sol estava nos castigando.

Abraham soltou uma gargalhada, e Rosita deu uma cotovelada nele.

— Qual a graça?- eu quis saber.

— Ela não está falando desse tipo de mudança de tempo – disse Glenn.

— Nós não somos desse tempo. – disse Maggie. – Somos do futuro.

— E como sabem que são do futuro? - perguntei desconfiada.

— Porque nós estávamos em outro lugar, houve uma explosão e aparecemos aqui. – disse Carol.

— E nós vimos muitas pessoas por ai. – disse Daryl  -  E elas nos ignoraram completamente, do jeito que as coisas estavam ontem, no nosso tempo, quando as pessoas vêem outras pessoas, ou elas matam ou se escondem.

— Oh! – eu disse. – Em que ano vocês estavam?

— 2013. – disse Eugene.

Perdi o equilíbrio por um instante. Estávamos em 2011 agora. E em 2013 eu ainda não tinha cumprido a minha missão, o mundo ainda estava cheio de zumbis e as pessoas morrendo, será que eu ia viver até 2013?

— Eu não entendo. Isso tudo começou ontem, como em 2013 o mundo ainda estará desse jeito? Ninguém vai consertar isso? - eu disse.

— Começou ontem? Então se eu voltar para o hospital da minha cidade me encontrarei em coma no hospital? - disse Rick.

— Não. – disse Eugene. – Acho que isso aqui se trata de outra realidade paralela, uma realidade em que as coisas acontecem de um jeito diferente, talvez nessa realidade você não esteja em coma, talvez nessa realidade as coisas aconteçam de um jeito completamente diferente do que aconteceu na nossa realidade, talvez aqui, os “nós” dessa realidade nunca se conheçam.

— Que bosta. – disse Abraham.

— O que a gente vai fazer, pai? - perguntou Carl.

— Eu não sei, não estou entendendo nada, porque fomos trazidos pra cá? Não pertencemos a essa lugar. – disse Rick.

— Eu acho que é porque vocês já são lutadores, são sobreviventes, talvez sua missão seja manter as pessoas daqui vivas enquanto tudo isso se resolve. – eu disse.

— Você é louca? - disse Daryl. – Isso não vai se resolver. O mundo vai continuar essa bosta e ninguém pode mudar isso.

— Pois eu espero que você esteja errado. – disse eu – Espero que esteja muito errado, porque aqui, alguém maior tem um plano pra salvar o mundo dessa epidemia zumbi, e pode levar dois meses ou dois anos, mas eu sei que o mundo vai voltar a ser o que era ontem de manhã.

— Queria ter sua confiança. – disse Carol.

— Bom, eu tenho que ir então, preciso fazer uma coisa importante, mas antes preciso dar umas informações à vocês. Provavelmente essas casas estão cheias de pessoas, então não pensem em entrar pra saquear. Tem mercadinhos por aqui, vocês podem se abastecer lá, e se vocês seguirem por essa pista, a uns 10 quilômetros tem um condomínio que acabou de ser construído, eles só estavam colocando cerâmica nas casas para poder começar a vender. Então seria legal se vocês pegassem as pessoas e levassem pra lá, já que vocês devem ter experiência em lidar com grupos bem grandes.

— Ótima sugestão, Zyra. Veremos o que podemos fazer. – disse Rick.

— Se fizerem isso, vocês levam minha família para o condomínio? - eu disse.

Expliquei a eles que eu partira numa missão solitária e deixara minha família pra trás. Confiei em dizer a eles como encontrar minha casa, argumentei que minha mãe era enfermeira e poderia ser útil.

— Você parece saber o que está dizendo. Por que não vem com a gente? - disse Glenn.

— Quantos zumbis já matou? - disse Rick.

— Muitos, talvez 50. – eu disse.

— Quantas pessoas já matou?

— Nenhuma. – eu disse, e era verdade.

— Por quê? - disse Rick.

— Porque estou indo pro fim do mundo para evitar que as pessoas morram, seria idiotice eu mesma matar.

— Venha com a gente.- chamou Maggie.

— Não posso. Mas desejo toda a sorte do mundo para vocês. Tenho que ir. – eu disse.

— Tudo bem. – disse Rick.

Sorri para eles, e continuei o meu caminho.

***

Gostaria de dizer que os dias que se seguiram foram fáceis, que cheguei rapidamente ao outro lado da lagoa, e que, agora estava perto da casa de James. Mas não foi bem isso que aconteceu, vou tentar contar de forma resumida porque aconteceu bastante coisa depois que me despedi do grupo de Rick Grimes.

Segui a diante pela estrada, passava os dias andando e matando zumbis fazendo pausas apenas para refeições, e descansava pela noite em algum lugar bem longe do chão. Fiz isso durante três dias, e estava indo bem, até que recebi uma visitinha inesperada.

Eu estava andando pela estrada deserta e ouvi gritos, corri na direção dos gritos para ajudar, achei que eram crianças em perigo, achei que algo horrível estava acontecendo, mas quando finalmente cheguei à fonte dos gritos me deparei com um rapaz.

Ele devia ter uns 20 anos, era louro e tinha pele bronzeada, estava limpo e sem camisa, apenas com uma calça jeans esfarrapada e tênis, ele estava numa pose um tanto sensual encostado na parede, quando viu minha cara de confusa, ele caiu na gargalhada.

Apontei a lança para sua garganta.

— Você que estava gritando? - perguntei.

— Sim, eu estava gritando, garota, vai fazer o quê? - ele falou fazendo bico.

— Por que?

— Para que você viesse até aqui. Tenho um recadinho do papai. – ele disse passando a mão nos cabelos.

— Papai? - perguntei confusa.

— É, Zeus. – ele disse.

— Quem é você? - perguntei.

— Eu sou Apolo, o deus do sol, das profecias, das artes e outras coisinhas. – ele disse.

— Ah, claro. Eu, hã, não estava esperando encontrar um deus por aqui.

— Claro que não. – ele disse com um sorrisinho. – Bem, o papai disse para você fazer o que ele mandou, ou seja, vá direto para os outros semideuses. Eles estão precisando de você.

— Mas é isso que estou fazendo. – respondi.

— Não se faça de boba. Nós sabemos que você está planejando ir atrás do seu namoradinho, e Zeus disse para você não ir. – ele disse.

— Não estou pedindo autorização de Zeus para fazer isso, eu preciso saber se ele está vivo.

— Eu sou o deus das profecias, e eu te digo, benzinho, que se você for até a casa dele, vai encontrar algo que não vai gostar nada. Então vai por mim, deixa o tal do James Ford pra lá e vá até os outros semideuses. – ele disse desafiante.

— Você não entende...

— Você não entende! – ele me interrompeu. – Os deuses conseguiram juntar os semideuses gregos e romanos para lutar nessa causa, para levar você ao fim do mundo. Você tem noção do que isso significa? Não ponha tudo a perder por causa de um capricho de criança. Faça o que tem de fazer.

— Eu vou fazer o que meu coração me manda fazer, e nem você e nem ninguém vai me fazer mudar de idéia.

— Teimosinha. Ótimo, vá fazer o que seu coração manda e sei que lá. Mas tenho uma coisa pra você. – ele me jogou duas grandes moedas de ouro.

— O que é isso?

— Dracmas de ouro. Servem para mandar mensagens Íris.

— O quê?

— Ah, humanos... Funciona assim. Você cria uma espécie de arco iris com água e luz, e joga esse dracma no meio e diz : “Oh, Íris, deusa do arco iris, aceite minha oferenda.”

— Só? O que acontece?

— Não terminei ainda, fofa. Você diz o nome da pessoa que você quer falar e o lugar onde ela está, ai vocês vão poder conversar, se ver e tudo mais, tipo Skype. Você poderia ligar para casa e falar com sua família.

— Por que está me dando isso?

— Para que você fique informada sobre a segurança da sua família.

— O grupo do Rick fez o que eu disse? Levaram minha família para o condomínio?

— Sim, mas Rick não pode proteger sua família de tudo, benzinho.

— Do que está falando?

— Você descobre, lembre-se do que te falei. Agora tenho que ir.

— Nosso tempo acabou?

— Não, só estou entediado mesmo.

Ele começou a brilhar, desviei os olhos e ele explodiu em uma luz dourada, quando tornei a abrir os olhos Apolo já não estava mais lá.

***

Ok, falar com Apolo foi bem sinistro, ainda mais quando ele vem cheio de insinuações e ameaças.

Quando ele falou que eu não ia gostar do que encontraria na casa de James só me deixou ainda mais curiosa. Se ele sabia porque não simplesmente me falar? Ai eu não precisaria ir até lá saber, certo?

Errado! Por que dependendo do que fosse eu iria ver se era verdade. Na verdade não sei se acreditaria em qualquer palavra que Apolo falasse sobre James.

Senti arrepios quando ele falou seu nome, falou como se James não tivesse nenhuma significância para o mundo. E talvez não tivesse mesmo para o mundo dele, mas tinha para mim. James Ford era uma das pessoas que eu mais gostava no mundo.

Agora eu estava terminando de me limpar com lenços umedecidos, deviam ser 6 da manhã.Eu estava louca para comer alguma coisa. Encostei o pote na barriga que já estava roncando muito, e depois o abri.

De dentro dele caíram, um prato, ovos, bacon e torradas carameladas, um copo e dentro dele caiu suco de maracujá. Peguei meus talheres na bolsa e comecei a comer.

Eu ficava sempre impressionada como todas as vezes o pote dava o que eu estava com vontade de comer, e a comida era sempre a melhor que eu já tinha provado.

Para todos os efeitos eu estava bem. Estava bem fisicamente, apesar de passar o dia caminhando e quase sempre matando zumbis, mas eu estava me alimentando muito bem. Três ou quatro refeições fartas por dia, estava bebendo bastante água e dormindo bem a noite.

Na verdade, o que me faltava mesmo era companhia, calor humano, conversas. Eu não encontrei mais ninguém por ai desde que Apolo apareceu, e já tinha dois dias. Mas não importava, porque agora eu estava perto da casa de James.

 


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Notas finais do capítulo

Hey, desculpem a demora. Estive um pouco sem tempo, rs.



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