A nova Ordem escrita por Ana Letícia


Capítulo 2
A verdade nua e crua




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Uma onda de alivio tomou conta do meu corpo quando vi minha mãe colocando Sam pra dentro de casa, corri até lá. Nem me importei em deixar minha lança, pensei que não precisaria  mais dela.

Meu pai ficou sem cor quando nos viu. Estávamos cobertos de sangue e Sam estava mancando, me olhei no espelho e vi que realmente estava horrível. Minha trança que caia pelo meu ombro estava vermelha, meu rosto tinha sangue, minhas roupas e minhas mãos. Sam não estava muito melhor.

Eu sei que deveria abraçar meus pais e procurar conforto, paz e segurança, mas tinha algo me incomodando.

— Por que não estou cansada? - perguntei sem enrolação.

— Como assim, filha?- minha mãe perguntou com a voz falhando.

Ela ainda estava com seu uniforme de enfermeira, mas seus cabelos claros caiam-lhe os ombros, ruiva como uma chama laranja.

— Eu estou correndo desde a escola do Sam, com ele nas costas, matando essas coisas. Nós sabemos que eu nunca corri, nunca pratiquei esportes, e minha atividade favorita é tirar uma soneca. Como fiz tudo isso?

— Você deve ter herdado isso de mim, Zyra. – disse meu pai. – Sempre fui bom em correr.

— Com um pouco de adrenalina, e o desejo de manter seu irmão à salvo. Pode ter sido isso. – disse minha mãe.

Mas algo em seu rosto me dizia que ela estava mentindo, ela não me olhava nos olhos.

— Você sabe que não é isso, mãe. Você sabe do que se trata e não quer falar.

Os olhos dela se encheram de lagrimas, uma expressão de confusão tomou conta do rosto de meu pai. Sam olhava de um lado pro outro sem entender nada.

E foi ai que notei detalhes que nunca tinham me incomodado antes, minha mãe era ruiva, com olhos negros. Meu pai com cabelos castanhos e olhos esverdeados, Sam era sua copia exata, os mesmos cabelos lisos os mesmos olhos, até o formato do rosto, o mesmo nariz. Eu não parecia com nenhum deles, meus cabelos eram cor de caramelo, os olhos pretos, pele pálida. E foi ai que um pensamento cruzou minha mente.

— Eu sou adotada?

Meu pai até deu uma risada,mas minha mãe continuava com cara de paisagem.

— Mãe? - perguntei.

— Ela não é sua filha. – ela disse ao meu pai.

O sorriso dele se desfez.

— Como é? - ele perguntou.

— Quando nos casamos eu estava grávida, mas não sabia. Ela não é sua filha.

— Por que nunca me contou isso?

— Porque ela não podia saber a verdade, isso a colocaria em perigo. – disse minha mãe olhando pro chão.

— Quem é o pai dela? - meu pai gritou.

— Eu não posso, não consigo falar dele. – ela disse.

— Quem é meu pai? Ele precisa me explicar porque consegui fazer tudo isso.

— Vocês não entendem, se você se der conta de quem é nunca mais terá paz! – disse ela chorando.

— Quem é o meu pai? – eu disse calmamente.

— O seu pai é... Ele é... Zeus.

Todos olharam incrédulos. Um trovão ribombou no céu.

E foi ai que comecei a pensar que tudo isso era uma pegadinha. Essa historia, os mortos, pensei que tinham me dado um injeção de adrenalina enquanto eu dormia. Esperei que as câmeras escondidas aparecessem.

— Tá brincando né? - eu falei.

Nesse momento uma luz forte tomou conta da sala. E em um canto, de repente, apareceu um homem.

— Finalmente você contou a verdade. – disse o homem olhando para minha mãe.

O homem era alto, estava com uma camisa branca de botão e calça jeans, era forte e bonito. Os olhos muito azuis e os cabelos e barba bem cortados com um tom de caramelo, igual ao meu cabelo.

— Zeus. – minha mãe sussurrou.

— Eu disse que só apareceria se você contasse a verdade. – disse ele.

— Não imaginei que fosse tão rápido. – disse minha mãe.

— Não seria, mas eu preciso da garota. – ele disse.

Demorei um pouco pra perceber que a garota que ele precisava era eu.

— Por que precisa dela agora? Passaram 16 anos e você nunca ligou pra existência dela. E agora precisa dela? Você não vai levar minha filha a lugar nenhum. – disse meu pai.

Sam, que estava quieto ate agora, falou de repente.

— Você é Zeus?

— Sim. – respondeu o homem.

— Maneiro. – disse Sam. – O senhor pode curar meu tornozelo?

Zeus deu de ombros e estalou os dedos.

— Sam!. – minha mãe repreendeu. – Não peça nada a ele.

— Não vou cobrar nada do menino. – respondeu Zeus. – Eu quero saber da minha filha.

Sacudi a cabeça e ajudei Sam a se levantar. Seu tornozelo estava curado.

— Obrigado. – disse Sam.

Zeus deu de ombros.

— Você vai ter que deixar eu levar a minha filha, Hellen. – disse Zeus.

Minha mãe ia dizer algo, mas eu interrompi.

— Eu não vou a lugar nenhum com você. – disse eu à Zeus.

— Não estou lhe pedindo. Isso é uma ordem. – ele disse.

— Você não pode me dar ordens. – eu disse.

— Você vai me ouvir, e depois vai fazer o que precisa fazer. – ele disse com uma voz estrondosa.

Mordi os lábios, e uma onda de medo tomou conta de mim.

— Tudo bem. – eu disse.

— Vou contar uma historia e não quero que vocês interrompam. – disse Zeus.

Nós assentimos.

— Há muitos anos atrás, muito antes da segunda guerra mundial, o Oráculo de Delfos recitou uma profecia que nos deixou realmente preocupados.

Ela dizia:

“Por muito tempo as pessoas vão guerrear

Seu planeta vão maltratar

Mas os heróis irão o salvar

Mas em uma, a vitória não irão levar

Tomado por mortos o mundo estará

A escolhida o irá salvar

Aos dezesseis anos completar

A filha dos raios caminha sozinha

Com medo, indecisa e perdida

Em suas mãos o destino do mundo está

Mas é escolha dela desistir ou lutar

No fim do mundo está seu almejo

O objeto que concede o desejo

Deve escolhê-lo com sabedoria

Ou acabará com todas as vidas.”

Ele deu uma pausa.

— Você é minha única filha que chegou aos dezesseis anos. Eu tenho outra filha, mas isso não vem ao caso. – ele continuou. – Como vocês ouviram, ela escolhe se luta ou não, mas o destino do mundo depende dela.

Ele parou de falar, então arrisquei falar.

— Se eu não for para o fim do mundo, esses mortos vão tomar conta da Terra?

— Você ainda não entendeu. – disse Zeus com uma voz sombria. – Todos os humanos estarão mortos, não vai sobrar nenhum para contar a história. E nós, deuses do Olimpo padeceremos sem os humanos. A vida na Terra acabará para sempre.

— O que eu realmente tenho que fazer? - perguntei cuidadosamente.

— Ir em uma missão. – disse Zeus como se isso fizesse todo o sentido.

— Quê? - perguntei.

— Você precisa ir até os outros semideuses, é parte da sua provação. E também porque eles são muitos, nunca chegariam até aqui a salvo, mas você sozinha consegue chegar até eles.

— Onde eles estão? - eu quis saber.

— Do outro lado da lagoa, perto das montanhas.

— Meu Deus. – murmurou meu pai.

— Meu Deus mesmo. Não vou deixar minha filha ir sozinha até lá, é muito perigoso. – disse minha mãe.

— Hellen, - disse Zeus pacientemente.- se ela não for o mundo acaba.

— E se ela não conseguir? - gritou minha mãe.

— Ela vai conseguir, afinal ela é minha filha.- disse Zeus encerrando a discussão.

— Eu vou. – disse por fim.

— Ótimo. – disse Zeus.

Do nada brotou uma mochila prateada em uma das mãos dele, e em outra uma bela lança.

— São para você. – ele me entregou os presentes. – Dentro dessa mochila tem néctar e ambrósia, a comida e bebida dos deuses. Você não pode comer nem beber muito, só use em caso de emergência, e humanos não podem ingerir isso. Também tem um saco de dormir, uma jaqueta, e outras coisas que podem ser úteis. Hécate encantou esses aqui especialmente para você. – ele pegou uma garrafa de água vazia, e um pote escuro do tamanho de um pote pequeno de maionese. – Quando estiver com muita sede, encoste a ponta da língua na garrafa e a água aparecerá, e quando seu estomago roncar de fome encoste o pote em sua barriga e depois abra, terá comida dentro.

Eu achei que ele estivesse brincando, mas ele estava tão sério que acabei acreditando.

— Mais uma coisa, Zyra. Você precisa ir direto para os outros semideuses, você não pode desviar do caminho por nada.

— Por que?

— Porque ninguém sabe onde é esse fim do mundo, vocês  vão ter que procurá-lo, isso pode levar dias, semanas, meses ou anos, mas o ideal é que seja o mais rápido possível, antes que a humanidade se acabe.

— Os deuses sabem o que causou isso? - perguntei.

— Prometeu, o titã, viu algo nebuloso em nosso futuro alguns meses atrás. Apolo tem tido pressentimentos horríveis, e chegou a hora da profecia de Delfos se cumprir, mas ninguém sabe o que causou isso.

— Mais alguma instrução para mim? - perguntei.

— Quando encontrar os semideuses, procure por Rachel Elizabeth Dare, ela é o novo oráculo, ela dirá algo que vai ajudar na busca do objeto que concede o desejo.

— Tudo bem. – eu disse.

— Você consegue, Zyra. – ele disse e tocou o topo da minha cabeça.

Senti um formigamento percorrer meu corpo, e me senti muito poderosa.

Zeus se afastou, e explodiu em uma luz forte. Imediatamente cobri os olhos, quando os abri, nada mais restava do meu verdadeiro pai.

***

Mesmo eu tendo dito à Zeus que iria nessa missão, eu não tinha certeza se era isso que eu queria de verdade. É claro que, quando um deus vem em sua casa dizendo que é seu pai e te dando presentes mágicos, você acredita em tudo que ele diz. E eu acreditei, mas meu pai não queria que eu fosse numa missão suicida ao fim do mundo.

— Você não vai a lugar nenhum. – disse ele decidido.

— Mas Zeus disse que se eu não for a humanidade acaba. – eu disse.

— Não me importa se foi Zeus, Deus, ou o papa. Você é minha filha, e eu não dou permissão para você ir.

— Não queria tocar na ferida, mas ela não é sua filha. – disse minha mãe com a voz trêmula.

— Eu estava lá quando ela nasceu, eu fui o primeiro a pegá-la nos braços, eu que a eduquei e cuidei dela. Ela é minha filha, e não ouse dizer o contrário. – gritou ele.

— Chega! – disse Sam assustando a todos. - A Zyra tem que ir salvar o mundo. Eu tava lá fora e vi muita gente morrendo, muita gente desesperada pra se salvar! Já se perguntaram se os nossos familiares conseguiram escapar? Nossos amigos? Pessoas de quem gostamos? E a vovó, será que ela está a salvo? A tia Kate, o tio John, a Claire, o James.

O nome “James” fez um calafrio percorrer a minha espinha. Como eu pude esquecer dele? Não pensei nele um segundo sequer desde que tudo isso começou.

Comecei a me sentir mal. Sam estava certo! Será que ele estava vivo? Meu Deus. Ele disse que iria à escola pela manhã para fazer uma atividade. Será que ele chegou lá? Será que ele chegou a sair de casa? Eu precisava saber se ele estava vivo.

Isso me deu coragem pra falar.

— Eu vou sim, pai. Zeus é um deus, ele deve estar preocupadíssimo com a situação atual do mundo, e não perderia tempo vindo ate aqui se eu ir nessa missão não fosse a única solução. E se tem algo que eu possa fazer para salvar o mundo eu vou fazer. Minha escolha de ficar ou ir pode condenar o que restou da humanidade. – eu disse séria.

Meu pai suspirou e colocou as mãos em meus ombros.

— Você é minha única filha, Zyra. Tente voltar em segurança.

Ele deu um sorriso fraco. Tentei sorrir de volta, mas eu estava mesmo doida pra chorar.

— Bem, antes de ir quero tomar um banho e saquear um mercadinho. – eu disse.

E isso arrancou umas risadas de Sam.


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Notas finais do capítulo

Olaaar, espero que estejam gostando da história.
Obrigada aos que já estão acompanhado ♥



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