Odiava quando Negan tinha que ficar em seu escritório, por mais que ele não fizesse nada, ele poderia estar comigo, mas como não ia dar um de desesperada, não ia atrás dele. De tantas voltas no laboratório que já dei, de tanto pensar no mesmo assunto e mias além, resolvi tomar uma atitude e ir até a enfermaria.

Mas chegando lá, uma conversa me chamou a atenção e me revirou o estomago que desde depois de um tempo que eu cheguei aqui, não tinha essa sensação.

“Aquela bióloga foi culpada disso eu acho, ele tentou fazer algo com ela, mas Negan impediu e deu uma paulada na cabeça dele, mas o paciente quando acorda...”

Eu engoli em seco e entrei por medo de ouvir o que eu não queria.

Seus olhos pararam em mim e umas palidezes com um olhar de susto colaram em seus rostos.

— Com licença – pedi fechando a porta.

— Po-pois não? – o nervosismo da senhora de roupas xadrez era nítido, talvez por que possam estar pensando que eu tinha ouvido que estavam falando de mim.

Ou talvez porque elas não paravam de olhar para o taco em minha mão.

Dei um sorriso mais simpático que eu já dei, mas naquela situação e com um taco desse na mão deve ter saído ao contrário do que eu queria, parecendo mais uma maníaca do que uma moça dócil que só está à procura de um remédio.

— Vocês por acaso tem algum tipo de trato com o Negan? – perguntei diretamente e dei dois passos à frente.

Elas se seguraram na maca – que havia uma menina ali – para não dar passos para trás.

— C-como assim? – a outra moça que parecia se r uns anos mais nova que a senhora perguntou.

— Algo que envolva ele e que não quer que ninguém saiba. Vocês tem que manter segredo, certo? Por que pelo que eu vi vocês gostam muito de falar – elas se entreolharam assustadas e balançaram a cabeça negativamente.

— S-sim, temos!

— Preciso de um remédio – parei ao lado delas e cruzei meus braços segurando meu taco a mão que ficou para baixo e sorrindo.

— Que tipo? Klonopin*...

Meu sorriso se desmanchou na hora e toda minha simpatia se foi.

— Por que caralhos eu tomaria Klonopin*?! – minha voz aumentou uma oitava e elas se assustaram mais.

— Não! Ela não quis dizer isso! Só que...Qual remédio você quer? Podemos arrumar qualquer! – a senhora de xadrez se explicou e eu respirei fundo.

— Anticoncepcional – respondi.

Ela prontamente abiu um armário e tirou algumas caixas ali de dentro e colocando em cima da pequena bancada.

— Temos pílula, adesivo que não é tão confiável e a injeção que tem duração e 6 meses...

6 meses?!

— É confiável? – perguntei apontando para injeção.

Ela balançou a cabeça positivamente.

— É a mais confiável, mas nenhum método contraceptivo é 100% certo.

— Eu vou querer tomar essa.

Ela fez menção pra eu me sentar na cadeira próximo dela e fez todo seu procedimento até me injetar a agulho.

— Pronto.

Me levantei e as olhei.

— Muito obrigado – agradeci e elas deram um pequeno sorriso.

— De nada – disseram em coro.

Agarrei mais meu taco de baseball e respirei fundo e apontei para ela com meu taco.

— Acho que é melhor isso não sair daqui – os olhos delas se arregalaram e negaram freneticamente com a cabeça – E só uma coisa, e melhor pararem de fofocar desse jeito, principalmente sobre coisas que vocês não sabem, pois quem deu uma tacada na cabeça daquele monstro fui e não Negan – eu cheguei a pensar que elas iriam desmaiar e internamente me senti culpada – E olha que meu taco não tinha sua roupa de metal ainda.

Sorri uma última vez e sai daquela enfermaria, mas antes de pisar na escada uma janela me chamou a atenção e eu curiosamente cheguei perto para ver o que era.

A cabeça enfaixada, seu corpo cheio de hematomas com mais alguns em seu rosto, me deixou reconhecer ele. Cameron.

A cabeça tudo bem, fui eu, mas as marcas em seu corpo e seu rosto definitivamente não fora eu e aquilo mais que nunca me assustou mais do que ver ele tão perto de mim depois de 3 meses. Ele dormia com uma feição perturbada e ainda sim perigosa.

Sai mais rápido que pude dai indo em direção ao único lugar que poderia ter as resposta que queria. O escritório de Negan.

Bati na porta e depois de alguns segundos ele mandou entrar.

— Negan – o chamei fechando a porta.

Ele tirou seus olhos dos papeis em cima de sua mesa e sorriu me vendo.

Só quando entrei que percebi que seus homens estavam ali e armados como sempre.

— Estou incomodando? – perguntei para Negan.

— A Rainha nunca incomoda – Negan respondeu sorrindo.

Eu nunca o havia dito, mas eu odiava quando ele me chamava de rainha.

— Vocês! – Negan apontou para seus homens – já se curvaram para a rainha de vocês?

Os homens assim que os escutou ameaçaram se curvar, mas antes eu me intervir.

— Não! Não precisam fazer isso! – minha voz quase saiu com um desespero.

Negan me olhou passando a língua por dentro de sua bochecha.

— Por que não? – perguntou divertido.

— Por que eu não quero. Não gosto.

Negan bateu duas palmas e se levantou com o mesmo sorriso de sempre estampado no rosto e fez um gesto para que seus homens saíssem e assim fizeram.

Negan me chamou com sua mão e eu fui até ele entregando minha mão a ele. Negan andou alguns passos para trás sentando em sua cadeira e me fez sentarem seu colo.

Sem mais delongas eu lhe dei um beijo, algo que eu já havia me acostumado a fazer era tomar iniciativas e depois que ele me apresentou como sua rainha, que até agora eu não sei se isso significa ficante, namoro ou casamento, eu decidi deixar assim.

— Gatinha – ele sorriu, mas assim que viu a expressão em meu rosto desmanchou-o – O que aconteceu?

— Não. Quer dizer, aconteceu entre aspas. É que eu fui à enfermaria hoje e acabei vendo...O Cameron – Negan tentou disfarçar seu incomodo, mas não saiu despercebido por mim.

— O que tem ele? – perguntou olhando em meus olhos em um tom sério.

— Você me disse que iria matá-lo quando se recuperasse ta pancada na cabeça, mas... Já se passou três meses, já era pra ter se curado e eu não fiz nenhum daqueles hematomas.

Negan respirou fundo e deu um pequeno sorriso.

— Ele... Ele acha que com o tempo eu vou perdoá-lo e como eu sempre disse que não o mataria até se curar ele vai se machucando, até mesmo arranjando briga com um de meus homens pra receber aqueles hematomas – Negan explicou.

— Mas eu não consigo entender uma coisa...

Negan tirou uma mexa que caia em meu rosto.

— O que é? – perguntou docemente.

— Se ele vai morrer, por que não o mata de uma vez e acaba logo com isso?

— Por que ele tem o direito de se arrepender – a voz de Negan foi clara e curta.

Mas se arrepender pra que?

— Pra que? – perguntei.

Negan me ajeitou em meu colo e respirou fundo.

— Alguns acreditam em Deus, não importa qual seja sua religião, sempre tem um Deus. E em toda religião existe o perdão. E se ele pode ter isso, não vai ser eu que vou tirar.

Aquela resposta de Negan me pegou de surpresa, nunca em minha vida teria pensando que ele pensava daquela maneira e isso só me fez o admirar mais ainda.

— Você quer que eu o mate? – Negan me perguntou.

Eu o olhei e fui abertamente sincera:

— Quero que ele nunca mais faça isso comigo ou com ninguém. Se o soltar tenho medo que ele faça novo, por isso que temos que seguir as regras.

Negan sorriu como se tivesse ouvido um anjo cantar.

— O que foi? – perguntei rindo sem graça.

— Eu irei matá-lo. – Negan garantiu com uma voz firme – Só preciso que ele se recupere 100%. Vai ser mais difícil, porque quando está acordado vive se machucando.

Um homem digno de pena.

Negan novamente colocou aquela mexa que insistia em cair em meu rosto, atrás d eminha orelha e olhou em meus olhos como se tivesse achado a resposta para algo.

— O que foi? – perguntei novamente.

— Você é linda – eu sorri sem graça – Inteligente e durona. Mas sei que é boa demais. Sei que por mais que as pessoas lhe façam mal, você não quer o mal delas, apenas justiça. Então, vou fazer o que você quer e não vou matá-lo.

— Como assim? – eu arregalei meus olhos.

— Mas ele vai ter o que merece – concluiu e me levantou junto dele.

— O que você vai fazer Negan? – perguntei preocupada.

Ele me olhou com aquelas covinhas amostra por causa de um sorriso que só ele sabia dar.

— Tive uma idéia.

+

Sua ideia acabou em todo o acampamento junto no centro dele, e a primeira vez que eu pude ver a quantidade de gente que havia ali, devia dar quase 100 pessoas. Cameron também sentado e amarrado à correntes e havia uma fogueira perto.

Eu fiquei ao lado de Paul, Leo e Kanon. Eu não estava entendo muito, mas sabia que eles sabiam o que ia aconteceu, já que eles que montaram a fogueira, mas não iria perguntar, pois veria na minha frente.

Negan apareceu sorrindo a frente de Cameron e se virou para todos ali.

— O que eu sempre digo? – sua voz alto só era barrada pelo coro que vinha a seguir.

“Regras nos mantém vivo!”

— E eu digo isso porque eu não quero nenhuma de vocês sofrendo por atos impulsivos de outros! E o que fazemos?

“Seguimos!”

— Não! Não todos vocês – Negan abaixou bem pouco sua voz se virando para Cameron e passando a língua pelos lábios ligeiramente, mas voltou a falar alto – E o que acontece com quem não segue as regras?

“Morrem!”

— Não! Não mais! – Negan riu ao ver a nossa cara de quem não havia entendido nada – Há outra forma de dar lições para esse tipo de cara e nos mostrar que nem sempre você não precisa acabar com tudo e que você pode se arrepender! É claro, se querer receber esse tipo de punição e tudo em alguns casos. Como esse homem não conseguiu fazer o que ele queria, resolvi dar uma segunda chance a ele!

Negan andava de um lado para o outro.

— Eu nunca encostei em uma mulher contra sua vontade em toda minha vida! Como eu sempre repito homens eu posso passar a minha vida inteira, mas mulheres não é muito minha praia, deve ser meu amor por elas – ainda nessa situação Negan conseguiu fazer todos rirem, menos eu – Não agora! Por que eu sou um homem comprometido.

E foi nessa situação que eu finalmente descobri que eu estava comprometida com ele.

— E o pior disso, é que ele fez isso com a minha querida namorada, tudo bem que foi antes que eu pudesse a conhecer, mas mesmo assim, vamos colocar como se fosse.

O sorriso sarcástico de Negan me dava arrepios e eu odiava isso.

— Por sorte dele ele não conseguiu fazer o que tentou fazer, até por que levou uma baita porrada na cabeça dela com um taco de baseball. Sorte dele!... Que aquele taco está com um visual diferente desde a última vez que ele viu.

Negan tirou uma arma de sua cintura e Cameron começou a ficar desesperado.

— Negan, por favor!

Negan riu e se virou para mim.

— Gatinha, vem aqui! – ele me chamou e eu neguei com a cabeça disfarçadamente e assustada – Não seja tímida, venha!

Vai se foder, Negan!

Relutante, andei até ele e ele passou um braço por meu ombro.

— Você se arrepende? – Negan o perguntou.

— Sim! Eu me arrependo.

— Não acho que está sendo sincero – Negan mexeu com a arma e pude ouvir seus barulhos ao pé do meu ouvido.

Abraça a mim mesma, não entendendo por que Negan havia me colocado naquela posição e não querendo saber o que vai acontecer.

— Eu estou! Foi por momento, não queria machuca-la de verdade.

— Mas queria foder ela – o ciúme de Negan aparecia até em horas erradas.

— Negan – o adverti baixinho.

— Não mais! Eu me arrependo, Negan! Me perdoa, nunca mais irei fazer isso!

Negan sorriu ainda mais.

— Não é pra mim que precisa pedir isso.

Cameron se virou para mim com os olhos em suplica.

— Por favor, Lucy. Me perdoa por ter tentado te fazer mal. Eu nunca mais irei tentar fazer nada disso.

As palavras dele mesmo que poucas saíram com um desespero e uma suplica que atingiram a mim, mas infelizmente só a mim. Não sabia se ele pedia perdão por que realmente estava arrependido ou apenas pelo desespero de viver, mas vê-lo daquela maneira agonizante e o medo em seus olhos era evidente.

Então as palavras saíram de minha boca.

— Eu te perdoo.

Cameron suspirou aliviado e fechou os olhos deixando lagrimas caírem.

— Que dia ótimo! Simon me passa o ferro! – Negan gritou comemorando e Simon veio com uma vara de ferro com um ferro antigo, daqueles que eram de carvão e Negan colocou a luva grossa pegando o ferro – Isso pode doer, mas você vai ficar bem.

Cameron finalmente entendeu o que estava acontecendo a olhar pela primeira vez para o ferro na mão de Negan e começou a se debater inutilmente, até que Negan colou o ferro em seu rosto e só pude ouvir seus berros e choros até que tudo sessou por causa do desmaio dele e Negan tirou o ferro vindo junto com uma pele grudada no objeto.

Eu estava atônita pelo o que aconteceu e principalmente por que olhava aquilo sem esboçar nenhum tipo de reação.

— Espero que isso tenha saído como um aviso!

Negan começou a falar mais coisas que eu não consegui ouvir, pois estava atenta a face em carne viva de Cameron.

* Klonopin: É um remédio tipo o “Rivotril” só que vendido nos Estados Unidos.