Pokémon - Reverse Gracidea escrita por Golden Boy


Capítulo 8
8 - Skarnak, reflexões.


Notas iniciais do capítulo

Tentei mesclar um pouco mais os pontos de vista dos personagens, mas acho que ficou confuso. Vou tentar fazer capítulos focados em só um personagem, me digam o que acham.



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    A vida com Skarnak não era ruim. Pelo menos, enquanto ele seguisse suas poucas ordens, Mercy não correria perigo. Pelo que era informado, ela passava o dia no quarto, olhando as montanhas e lendo alguns livros que ela mesmo pedira. Peter, por sua vez, tinha seus aposentos no topo de uma torre de vigia, que fora improvisada com um colchão, uma vela e uma escrivaninha. As janelas só tinham espaço para um arco e flecha, portanto tudo que via era as montanhas que abrigavam as torres do castelo, e as mesmas. Eram cinco, mas as duas primeiras tinham grandes salões e torres ramificadas a partir das janelas mais altas. Mais de 9 salões em cada torre, banheiros, e quartos em demasia. Era realmente muita falta de decoro dar para um herdeiro do trono Dubois um pequeno quarto numa torre de vigia, que antes abrigavam aquelas pessoas armadas, que eram inúteis, já que não tinham nada para proteger senão o lorde. Mas na sala do mesmo, não havia nenhum. Depois de algum tempo, ele começou a considerar que havia um tesouro ou algo do tipo escondido no castelo, e era isso que eles realmente guardavam. Mas não tinha tempo, ou paciência para investigar. Aquelas pessoas...

    Pelo menos ele achava que eram pessoas: não respondiam, não mudavam o olhar de direção, apenas obedeciam as ordens. Seus olhos eram todos da mesma cor cinzenta e sem graça. Peter, certo dia, durante as duas semanas que passara naquele castelo, ousara perguntar o que eram aqueles guardas

— Não pergunte o que não quer saber. Se preocupe com a comida quente e o inverno que fica cada vez mais rigoroso. Eu lhe ofereço proteção, e você garante que meu palácio e riquezas continuam intactos. — respondeu, friamente, olhando para a grande vidraça que pairava acima de seu trono. O Mamoswine continuava parado, dormindo. O garoto nunca tinha visto-o acordado. Era estranho, mas depois da última resposta, não queria perguntar mais nada. Voltou a jantar, junto com o herdeiro de Antoine, um garoto em tenra idade, de cabelos albinos e extremamente pálido. Suas orelhas eram um pouco pontudas, e seus olhos vermelhos como sangue. Ele nunca dizia nada, apenas comia, e então voltava para o quarto. Peter não podia dizer que não estava intrigado, mas o que poderia fazer?

 

    Logo nos primeiros dias percebeu que Skarnak não era uma ameaça, e sim uma proteção. Provavelmente sabia da Ordem Galactic, mas era muito orgulhoso para dizer que abrigava dois adolescentes por que sim. Não. Lordes são orgulhosos, pelo menos era isso que Peter aprendera em todos aqueles anos de disciplina, isto é, antes de seu Salamence aprender a voar, e ele poder sair por toda Sinnoh quando quisesse. Sabia que seus Pokémon, e o de Mercy, estavam sendo bem tratados. Simplesmente sentia isso. E sempre confiou em seus instintos. Fora treinado para isso. Aprendeu as cortesias de viver com a parte mais rica, e, além de saber se portar diante de um lorde, sabia como assassinar ele discretamente. Seus dias naquilo que parecia ser um misto de fortaleza e palácio eram resumidos a comer quando os sinos tocavam, e passar o resto do tempo em seu minúsculo quarto, tentando descobrir como aquela maldita caixa de ferro funcionava. Já tentara abrir de diversas formas, até mesmo tentou arromba-la com um tiro, enquanto todos ouviam o sino, mas ela se regenerou em seguida. Deixou ela de lado, e foi jantar.

   A cada dia que se passava, Peter achava que tinha Skarnak entre seus dedos. Mas lordes são como areia. Você pensa que os controla, mas eles se esvaem por seus dedos. Aquela frase se tornou mais real do que nunca naquela manhã nevada, quando o garoto desceu as escadas em espiral para tomar seu café-da-manhã. Skarnak o esperava, já de armadura completa e espada embainhada, preparado para luta. Carregava o elmo entre o braço e o torso, e tinha uma expressão rígida. Seu Mamoswine estava acordado, claramente irritado. Batia as patas, e o chão tremia. 

— Começou antes do que eu esperava. — disse, olhando com uma certa nostalgia para o vitral que pairava sobre seu trono, mas claramente falando com Peter. 

— O que? 

— A guerra. — como se aquilo fosse o bastante, caminhou para o grande portão, colocando o elmo e desembainhando a espada. Peter ouviu um zumbido, e algo explodiu acima de si. Olhou pela espiral das escadas, e percebeu que seu quarto tinha sido atingido por algo grande. Quando a porta se abriu, ele mal conseguia acreditar no que via. Soldados, com espadas em mãos, lutando até a morte. Sangue sobre neve. Vermelho sobre branco. Sutil. Skarnak andou para fora, e seu Mamoswine o seguiu; também tinha uma armadura própria. Mais cavaleiros o seguiram, e uma verdadeira batalha começaria, assim como o último e mais longo dia na fortaleza de Skarnak. Os cavaleiros agora, pareciam realmente humanos. Gritavam e bradavam, erguendo as espadas sobre suas cabeças. Pareciam realmente vivos. Aquelas armas os prendiam a segurar o gatilho quando aparecesse algum inimigo. Aquelas espadas os faziam usar todo o corpo para vencer. E pareciam estar atingindo esse objetivo.       

    Tirando os três trabucos no fim da montanha atirando incansavelmente, Skarnak parecia ter grandes chances de ganhar. Arqueiros nas torres mais altas, guerreiros lutando embaixo. Até mesmo o Lorde deles lutava na linha de frente. E era um ótimo guerreiro, Peter pensou. Mas não podia se deixar levar por aquilo. Se eles perdessem, Peter e Mercy morreriam quase que imediatamente. Embora não soubessem quem eram os inimigos, naquele ponto Peter já considerava Skarnak um aliado. E qualquer inimigo de um aliado também é seu inimigo. Dissipou seus pensamentos profundos, e se focou na explosão em seu quarto. Subiu o que restou das escadas em espiral, e abrindo a portinhola que levava a torre de guarda, achou tudo destruído. A torre, antes coberta por tijolos, agora tinha o véu do céu sendo usado como teto. O chão parecia bambo, e tudo prestes a desabar. Peter se resumiu a pegar a caixa de ferro e sua pistola, que parecia ter quebrado no impacto, e pular para as escadas bem a tempo de uma segunda pedra ser atirada, explodindo na segunda torre.

 

   Nenhum deles portava armas de fogo. Era estranho, considerando que buscavam a vitória, mas, acima da vitória, buscavam glória. E não havia glória em vencer usando atiradeiras automáticas, ou atiradeiras sofisticadas. Nas guerras nobres, usavam as armas de seus antepassados, brandindo ferro sobre ferro, e aço contra aço. O sangue derramado só tinha algum valor quando faziam assim. Quando um soldado inimigo passou pela porta, claramente ferido, com uma flecha atravessada no ombro, Peter pegou a besta ao seu lado, carregou com alguma dificuldade, e atirou. Um soldado morto caiu, mas ele não se sentia bem, principalmente por que aquela não era sua guerra. Em seguida, lembrou-se de Mercy, e disparou por um labirinto de portas e corredores de pedra, procurando alguma passagem pelos palácios até a última e mais alta torre, onde ela estava. Pedras batiam ao seu redor, derrubando as últimas torres que restavam, e parecia que a batalha estava prestes a terminar.

Correu o mais rápido que pôde, tentando desviar de flechas e Pokémon, enquanto ainda havia tempo de fugir. Quando aquelas espadas já estivessem colidindo dentro da segunda torre, não havia mais chance de sobreviverem. Depois da segunda torre, não havia muita segurança. Sem torres de vigia, apenas celas e acampamentos para Pokémon. Tentava não pensar nisso, mas quando passou da terceira ponte para o quarto castelo, a esperança invadiu seu peito, e ele só queria abraça-la. Mas não podia. Um Lucario pronto para atacar estava ao seu lado.

 

+++++

 

Duas semanas, e todo o dinheiro já estava no fim.

Glazier comprara suprimentos para a viagem que temia fazer. Mas precisava, de acordo com Volkner. Aaron já estava livre para sair daquele maldito hospital, então eles precisavam partir. Mas antes disso, convencer a si mesmo e a seu melhor amigo de que aquilo era o certo a se fazer. Estavam numa lanchonete, a primeira parada de alguém que acabou de acordar de um coma: uma lanchonete. Mas Glazier não podia reclamar. Se isso o deixava feliz, era bom. Precisava de Aaron no melhor humor possível, o que já era comum dele estar, pra acatar sua "sugestão" de fugir.

— Por que eu fugiria daqui? 

— Porque não é seguro! Confie em mim.

— Cara, você tá louco. — disse Aaron, enquanto enfiava outra mão cheia de batatas fritas pela garganta. Mastigava um pouco, bebia algum refrigerante, e voltava a dizer. — Se o Volkner nos quer seguros, ele vai pedir pra ficar, não pra fugir. 

— Por favor.

— Não, valeu.

— Comprei passagens para Floaroma. — Glazier tentou mudar sua estratégia. Se convencesse Aaron a sair dali, mesmo que por pouco tempo, poderia convencê-lo a continuar longe.

 —Como eu explicaria pros meus pais que quero voltar pra uma jornada? Eles deixaram bem explícito que não querem.

— Não é uma jornada, é só uma viagem.

— Vai ser melhor ficar aqui. Aposto que em algumas batalhas o Chan vai evoluir.

— Então ele pode evoluir em Floaroma, aposto que tem treinadores lá também.

— Tá doido? Lá no máximo tem umas flores bonitinhas, mas treinadores? Se não tem treinadores nem em Pastoria, imagine em Floaroma. — Glazier ficou calado depois daquela resposta. Não sabia o que dizer. Mas precisava levar Aaron para longe, o mais longe possível, como Volkner dissera.

— Então tá. Vou sozinho pra Floaroma. Acho que já sou grandinho pra viajar sozinho. — respondeu, dramaticamente. Aaron deu a língua, e continuou mordendo seu hambúrguer gorduroso. Rolou os olhos para cima, jogou o hambúrguer na mesa, deixou alguns trocados pra pagar a conta e foi atrás do amigo ruivo, vestindo seu casaco as pressas.

+++++

Era o dia seguinte. Glazier carregava uma grande mala com tudo que eles iriam precisar. Aaron estava pulando de alegria, vendo alguns folhetos sobre Floaroma e os lugares próximos. Falava daquilo com imensa alegria.

— Ah, e ali perto também tem um lugar chamado Fuego Ironworks, e tem vários Pokémon legais lá! A gente pode passar o dia treinando, e depois comer algumas Berries da floresta.

— Você tá muito animado pra quem acabou de sair do hospital. — disse Glazier, voltando ao seu desânimo de cada dia. A mala estava pesada, e o dia mais frio do que o esperado.

— Claro! Estamos saindo desse frio maldito e voltando para o calor do verão! Pena que lá não tem litoral... eu adoraria ver você sem camisa. — murmurou Aaron.

— Hein? — Glazier olhou para o lado, onde o amigo estava há um segundo, mas ele já tinha dado a volta pela mala gigante e pulado para dentro do ônibus. Glazier chacoalhou a cabeça, tentando se certificar de que tinha realmente ouvido aquilo. Colocou a mala na bagagem lateral do ônibus, e seguiu pelas poucas escadas até o banco onde Aaron o esperava. Aquela seria uma viagem fascinante. — Chan e Punsy estão com você? — o ruivo perguntou.

— Aham. — respondeu, pegando as duas pokébolas. Rapidamente, um tipo de comissária se aproximou.

— Desculpe, não são permitidos Pokémon aqui dentro.

— Ah, tudo bem. — quando Aaron estava prestes a entrega-los, Glazier colocou o braço na frente.

— Isso não estava no folheto. — disse, colocando a outra mão pelo casaco, até alcançar sua espada. Tentou, ao menos.

— Só um pequeno erro de impressão. Agora, entregue os Pokémon. — insistiu. Glazier não tinha outra escolha, se não queria causar tumulto. Tirou o braço da frente, e Aaron entregou os Pokémon. Não tinha mais certeza de que estavam seguros ali, e não soltou sua espada até a primeira parada. O caminho era longo, e cochilou pelo caminho. Quando sua mão escorregava e os olhos fechavam, só se sentia de novo em segurança quando olhava para Aaron, dormindo calmamente ao seu lado. Fora um dia e uma noite até aquela parada. Então, mostrando pela vez sua voz tenebrosa, o motorista anunciou por um microfone:

— Bem-vindos a cidade de Hearthome!

   Aaron pegou os Pokémon com a comissária, e não perguntou em momento nenhum por que Glazier passou a viagem toda com a mão na coxa. Não queria ter esse nível de intimidade. Não ainda. A cidade estava escura, ainda eram quatro da manhã. Estavam parados na frente de um restaurante 24H. Glazier parecia cansado, então ele não quis consulta-lo quanto aquilo. Simplesmente entrou, e olhou rapidamente para ver se ele vinha junto. Parecia um zumbi, morrendo de sono. Estava feliz. Não sabia por que, mas queria passar segurança e confiança para Glazier, parecia que ele estava passando por um momento difícil. Aaron pediu uma salada pra fechar o dia. O ruivo o encarou com uma cara que dizia "sério?", enquanto pediu carne e arroz integral.

 

   Depois de comerem, foram para o quarto reservado por Glazier. Ele tinha pensado em tudo? Por que tanto planejamento pra uma só viagem?; pensava Aaron. Assim que entraram no quarto, Glazier ligou o ar condicionado e fechou as janelas, se jogando na cama cheia de lençóis brancos em seguida. 

— Finalmente uma cama! — disse, se espreguiçando e esticando cada músculo das pernas e braços. Aaron apenas sentou, e tirou os casacos desconfortáveis. Fazia um frio desgraçado no ônibus, e um maior ainda do lado de fora, mas seria desperdício dormir num quarto daqueles sem usar cada mínimo luxo que aquele lugar poderia dispor.

    Ele olhou para o lado, e uma onda de realidade bateu. Volkner não estava ali. Seus pais estavam em Hoenn. Estava sozinho com Glazier, pela primeira vez, em uma jornada. Não sabia dos detalhes, mas sabia que Volkner tinha ido tratar de algo importante em Jubilife, algo sobre a campeã. Aaron puxou os pés vestidos apenas por meias para cima da cama, e abraçou suas pernas, tentando sair do meio de tudo aquilo. Ele estava sozinho. Não havia mais ninguém. Nada que pudesse protege-lo. Tudo escureceu, as luzes simplesmente não estavam ali. Dois círculos vermelhos no meio de tudo aquilo, e palavras ecoando. Você está sozinho. Se repetia, tantas vezes. Ele implorava para que parasse, e as lágrimas caiam sem parar. Não sentia cheiros, não via nada além da total e completa escuridão.

 Algo segurou seu rosto, e uma gota azul iluminou aquela escuridão. Glazier. Ele o chamava, ele o segurava. Ele o impedia de cair naquela escuridão, naquele mar de terror. E então ele abriu os olhos, e não estava mais sozinho. E nunca mais estaria.


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Notas finais do capítulo

Um pouco menos de ação, acho, tirando a batalha contra um exército misterioso. Mas a batalha de quem? Skarnak sabia sobre aquilo? Ele tratou a guerra como alguém trata de uma infestação de ratos, incômodo, surpreendente, mas simples. Teria ele algum domínio sobre seus inimigos? E que inimigos são esses?

E na segunda parte, Aaron tendo mais um ataque. Eles parecem estar cada vez mais frequentes, como isso vai afetar sua relação com Glazier?



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