Durante o Fim escrita por Van Vet


Capítulo 33
Segundo Dia - Rose


Notas iniciais do capítulo

Sobre a meleca espalhada no ventilador...



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 Trêmula por ter sido violentamente ejetada para fora do banco, Rose tenta se situar no meio da multidão. Ela parou de ser relevante àqueles desesperados quando já não ocupava mais o único carro funcionando em quilômetros de desolação.

 

  A adolescente limpou as lágrimas e procurou sua família pelos rostos alucinados que continuavam a se aproximarem do carro. Foi então que ela viu Hugo ainda dentro da minivan, cercado de estranhos, lunáticos para acelerar dali o mais rápido possível. A turba humana, entretanto não deixava.

   

 Quando uma pessoa entrava, outra a puxava do assento e assim sucessivamente. Não havia trégua, mas seu irmão, aos choros lá dentro, não conseguia sair. Ela sentiu o pavor se debatendo dentro dela. Olhou ao redor em busca dos pais, que já deveriam estar ali para tirar Hugo do carro antes que fosse tarde demais. Antes que alguém o raptasse…

 

   BAM!

  

 O tiro seco cortou o ar, assustando a todos e fazendo as dezenas pararem instantaneamente. Por segundos, apenas o barulho da chuva se fazia presente. Rose imitou os demais e buscou a origem do tiro testemunhando com perplexidade seu pai apontar uma arma de fogo para o céu e dizer:

 

ー Saíam desse carro agora!

 

  Ele encarava os invasores do carro odiosamente. A garota notou que o pai sangrava pelo lábio embora ele pouco se importasse. A arma na mão direita, erguida para cima, tremia um bocado.

 

ー Rony, o Hugo ー a voz de Hermione surgiu de algum lugar e ela conseguiu chegar até o onde o ruivo estava.

 

ー Eu disse para saírem desse carro agora e deixarem meu filho em paz!

 

   De repente, um dos homens que dividia o banco com Hugo agarrou seu irmãozinho pelo pescoço numa chave de braço brutal. Rose deu um berro, Hermione também.

 

ー HUGO! ー elas gritaram compartilhando o mesmo pesadelo.

 

ー Larga essa arma, seu filho da puta! ー o mais novo motorista da minivan exigiu ー Ou meu amigo vai quebrar a pescoço desse moleque.

 

    O menino havia parado de chorar. No lugar do pranto ele parecia em estado de choque, petrificado naquela situação, com um braço imenso transpassado por seu pescoço. Um braço que poderia machucá-lo à valer, sem muito esforço. A vontade de Rose era ir até lá e socar o maldito sujeito psicótico.

 

ー Não, não, não, não… ー Hermione choramingou juntando as mãos em misericórdia ー Rony, solta a arma logo.

 

  O pai continuava olhando para os ocupantes do carro, um brilho insano atravessando as pupilas. A mão da arma chacoalhava como se eles estivessem enfrentando um vendaval generoso.

 

ー Solta essa arma logo! ー ela retornou a exclamar impaciente.

 

   Mas ele fez o contrário. Foi descendo o revólver e apontando seu cano em direção ao motorista. Rose abriu a boca, perplexa, seu pai realmente iria atirar naquele homem.

 

ー É você apertar esse gatilho e o moleque cair morto! ー o motorista ameaçou com pânico e insegurança na voz.

 

   Na parte traseira do automóvel, Hugo gemeu porque seu algoz apertou o braço contra o menino.

 

ー RONALD, SOLTA ESSA ARMA! ー a mãe exigiu histérica.

 

   Rony permanecia na mesma posição, o dedo tencionando apertar o gatilho.

 

ー Se você matar o Hugo eu nunca mais te perdoarei!!! ー Hermione ameaçou, entredentes.

 

    Muitas pessoas os rodeavam, ansiosas para ver a desgraça, para que tudo acabasse da pior forma possível. Não mais que alguns breves minutos se passaram até o pai tomar a decisão de largar a arma, mas para Rose aquela hesitação durou séculos.

 

   Nem bem o objeto caiu no asfalto e um enxame de mãos se abaixaram para terem a chance de portá-la. Alguém bateu na cabeça de Rony, que cambaleou para frente quase caindo. Hermione correu para a minivan e finalmente tirou Hugo das mãos do sujeito que o rendeu, desatando pedidos submissos de desculpas para poder pegar o filho a salvo dali.

  

  A adolescente foi de encontro ao pai e pegou-o pela mão. Ele a seguiu um pouco zonzo devido ao golpe, e os quatro saíram do tumulto em fila indiana, contornando a multidão ainda alvoroçada pela posse do veículo.

 

    Hermione liderava o grupo, encontrando abrigo da chuva e da violência dentro de uma lanchonete invadida, já completamente destruída e as escuras. Ela levou Hugo até um dos bancos e conferiu se ele estava inteiro.

 

ー Tá tudo bem, meu amor. Mamãe tá aqui ー buscou acalmá-lo assim que o garoto desatou a chorar novamente.

 

   Ela o abraçou com força, enquanto Rose e Rony se aproximavam. O pai sentou no banco mais próximo e apalpou a cabeça, que sangrava um pouco.

 

ー Hugo, já acabou, campeão. E você foi ótimo ー ele disse para o filho, chorando no colo da mãe.

 

ー Rose, tá tudo bem? ー Hermione virou o corpo e buscou a garota com os olhos.

 

ー Eu estou bem, mãe ー ela respondeu prontamente.

 

  Não estava nada bem. Sua vontade era agir exatamente igual o irmãozinho e pedir colo, pedir consolo. Entretanto, perto dele a jovem não podia nem reclamar.

 

ー Ela foi demais ー Rony piscou para a filha, carinhosamente. Seu rosto se esforçando para mascarar o desconforto da pancada na cabeça.

 

   Hugo continuava a soluçar nos braços da morena, o susto e o medo ainda não queriam abandoná-lo. Rony levantou do banco e caminhou para perto deles.

 

ー Filho, agora já acabou. Estamos aqui, eu e sua mãe, e mais ninguém vai fazer nada com você…


 Foi então que Hermione virou-se e encarou seu pai de um modo muito assustador.


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