Durante o Fim escrita por Van Vet


Capítulo 32
Segundo Dia - Hugo


Notas iniciais do capítulo

Bom, então vamos lá...



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O garoto permanecia ansioso demais para dormir. Se algum alien aparecesse na rodovia ele precisava estar com os olhos bem abertos para enxergar a coisa. Essa era sua prioridade a partir do momento que soube deles. Ele sentia medo, mas Hugo era ainda mais aficcionado por extraterrestres para deixar um sentimento qualquer o dominar por completo.

  

   Enquanto observava atentamente a paisagem, o sol foi deslizando para trás do horizonte. Eles pararam mais uma vez para comerem os lanches que a mãe havia reservado e abastecerem a minivan com a gasolina encontrada na garagem do Sr. Weasley. Durante o restante do caminho as estradas pareciam mais movimentadas, porém não de carros, de gente. Grupos pequenos de seres humanos andando pelos acostamentos e os encarando longamente ao passarem velozes dentro do carro, por eles.

 

   A noite chegou e com ela a chuva. O pai, agora na direção, ligou o limpador de para brisa e reduziu um pouco a velocidade. As placas pediam para a família sair da pista e passar por uma estradinha lateral à principal, que era o caminho para Jacksonville.  

 

ー Será que esse pessoal está tudo indo pra base, também? ー Hermione perguntou para Rony, apontando para a massa de pessoas que se tornava maior nas laterais da via.

 

ー Certamente ー ele anuiu ー Eu preferia que as placas nos mandassem continuar na pista maior.

 

ー Por que? ー ela quis saber.

 

ー Por nada. Só acho mais rápido ー ele comentou evasivamente.

 

 Hugo ouviu os pais atentamente e depois retornou a bisbilhotar os refugiados no acostamento. Alguns poucos prevenidos portavam guarda-chuvas ou capas, mas a grande maioria estava completamente ensopada, enquanto andava solitariamente, em famílias inteiras ou com bebês de colo nos braços. Aquela estrada tinha uma iluminação pobre, obrigando todo mundo a seguir na escuridão. Quando os faróis da minivan incidia sobre seus corpos eles olhavam para o carro com uma expressão estranha nos olhos.  

 

ー Essa gente não parece muito feliz ー Rose comentou em voz alta o que Hugo estava prestes a dizer ー Estão nos encarando de um jeito…

 

  Nesse instante o menino percebeu uma mulher rodeada de três crianças acenando freneticamente para eles lá de fora.

ー Eu não to achando uma boa ideia esse caminho ー disse o pai.

 

ー Encontre um retorno urgente e vamos retornar para a autoestrada ー a mãe concordou tensa.

 

ー Qual o problema? ー Hugo perguntou, embora no seu íntimo já soubesse.

 

  Ninguém o respondeu. Irmã e pais estavam todos mais preocupados em observar a crescente romaria humana os cercando pela direita e pela esquerda. Todos aqueles rostos contrariados. Alguns pedindo carona, outros se aproximando demais.

 

    De repente, Hugo teve de se segurar no banco porque o carro chacoalhou. Rony teve de desviar de um grupo para não atropelá-los, buzinando fervorosamente após passar por eles.

 

ー Não adianta se irritar, Ron ー a mãe tentou acalmar o pai.

 

ー Esses imbecis estão querendo morrer! ー ele exclamou bufando.

 

   A estradinha apresentou trechos iluminados mais adiante e o garoto descobriu ser comércios a beira da via rescindido seus letreiros na escuridão. As lojas estavam fechadas, contudo as que possuíam vidros nas fachadas estavam completamente depredadas.

 

   O veículo reduziu a velocidade bruscamente.

 

ー Eles vão mesmo começar a andar no meio da rua? ー Rony bateu as mãos no volante.

 

Hugo e Rose compartilharam o espaço entre os assentos da frente e espiaram pelo para brisa a multidão dificultando a passagem deles.

 

ー Dá um jeito de fazer o retorno por aqui ー Hermione pediu com urgência.

 

ー ONDE CONSEGUIRAM ESSE CARRO? ー um homem gritou do lado de fora.

 

ー Ah, mãe.., o que tá havendo? ー o menino olhou intimidado para fora no momento que uma palma aberta bateu com violência contra o vidro da sua janela.

 

ー SAIAM DAÍ! ー Rony berrou para dois homens que tentaram socar o capô da minivan.

 

ー Dá ré! Qualquer coisa! Nos tire daqui! ー a mãe exclamou assustada.

 

ー CARONA, POR FAVOR! ー uma mulher exigiu diante da janela de Rose, fazendo a irmã dar um gritinho de susto.

 

ー Crianças, saíam de perto das janelas ー disse Hermione se virando para trás, o rosto pálido.

 

   Rony apertou a buzina demoradamente e começou a tentar manobrar o carro. Havia espaço suficiente na estrada para ele dar meia volta, porém as pessoas se aglutinavam em torno deles, de forma que era impossível sair dali sem esbarrar em ninguém.

 

  Hugo sentiu a lataria do automóvel se chocar levemente contra alguns caminhantes, o que provocou uma chuva de histeria e golpes contra o veículo.

 

ー SAI DESSE CARRO, SEUS DESGRAÇADOS! ー quem urrou foi um homem muito grande, segurando uma tora de madeira na mão.

 

ー Eles vão nos acertar! ー Rose alertou agudamente.

 

  Era muita coisa para o menino acompanhar. Do seu lado da janela os semblantes que se aproximavam pareciam zumbis enraivecidos. A frente e atrás a quantidade de gente era tão grande que finalmente Rony não conseguiu avançar um metro para nenhum lugar.

 

   Foi quando alguém teve a ideia de investir para valer contra a família e quebrou o vidro do motorista com uma pedra. Horrorizado, o garoto viu o pai rapidamente ser sugado para fora do carro por dezenas de braços enraivecidos.

 

ー RONY! ー a mãe gritou.

 

ー Mãe!!! ー Hugo e Rose choramingaram ao mesmo tempo, intimidados.

 

  Hermione soltou o cinto de segurança e começou a ir para o banco de trás junto deles, contudo o homem com a tora de madeira surgiu golpeando o para brisa e causando um barulhão de dezenas de cacos de vidros sendo espatifados. Mais braços medonhos arrancaram a mãe a força, que se debatia histericamente.

 

   Hugo já estava chorando alto a esse ponto e não soube explicar como alguém conseguiu abrir a porta de trás e puxar Rose para fora.

 

    O menino viu um desconhecido substituindo o lugar da irmã no banco e mais dois assumindo os lugares do motorista e passageiro. O desespero o dominou por completo e o que antes era um choro alto, se transformou num berro de pavor.

 

    ー DEIXEM MEU FILHO SAIR, PELO AMOR DE DEUS, MEU FILHO… MEU FILHINHO… ー escutou sua mãe implorando lá fora, espremida entre a massa raivosa que se acotovelava para conseguir uma carona.  


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