Era uma vez Peter e Wendy escrita por Segunda Estrela


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Ok, eu simplesmente vou deixar a história para quem tiver vontade de conhecer, se sintam livres para comentar, mas não obrigados. Só façam o que tiverem vontade e obrigado por ler.



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Ela viu uns dez piratas descendo pela prancha do navio, todos carregando espadas e armas de fogo. Wendy temeu por Peter e temeu pelos meninos, mas se recompôs lembrando que já haviam feito aquilo muitas vezes.

O ataque foi rápido, assim que os piratas entraram na floresta, foram surpreendidos. Wendy esperou no seu cantinho até que dissessem que ela podia seguir. Quando Peter finalmente deu seu sinal, ela pegou a espada em suas mãos tremulas e seguiu para o Jolly Roger. Com cuidado para que ninguém a visse, ela cambaleou na prancha e finalmente entrou no navio.

Ela não precisou procurar muito para achar a cabine pomposa do capitão, achou estranho que nada estivesse trancado, mas não perdeu mais tempo pensando nisso e se concentrou na missão que Pan tinha lhe dado.

Ela correu com seus dedos pequeninos pela mesa com ansiedade. Continuou com seu trabalho minucioso até achar um baú ornamentado com ouro, parecia feito para guardar algo precioso, mas tudo que tinha dentro era o desenho de uma mulher de cabelos pretos. Ela tinha feições fortes e parecia muito determinada. Ela se distraiu olhando para ela durante uns segundos.

— Olha só, uma ratinha. - Disse uma voz provocante em suas costas.

Wendy se virou em surpresa, e viu um homem entrando pela porta da cabine com passos vagarosos. Ele usava uma longa casaca de couro preta. Tinha olhos azuis como o céu na primavera, mas que eram contornados por uma tinta escura. Analisavam a garota com desdém e deboche, e ela não gostou disso. Além de tudo, tinha um sorriso petulante no rosto, como se o possível ataque de Wendy não fosse uma ameaça.

No entanto, não era a postura arrogante e descompromissada do homem que mais chamava atenção em sua estranha figura. E sim, o gancho prateado que brilhava no lugar onde deveria estar sua mão esquerda.

A garota levantou sua espada, os nós dos dedos brancos pela força. O coração martelando de medo, avisando-a que aquele homem era perigoso. O pirata apenas riu, e olhou para ela com o mais profundo desprezo.

— Eu não sabia que Pan tinha um fraco por meninas bonitas. Será que ele é mesmo tão humano quanto todos nós?

— Não se aproxime mais. - Disse ela entre os dentes, o pirata podia não acreditar nela, mas Wendy estava pronta para usar aquela espada, se necessário.

— Não seja rude, meu bem. Ainda não fomos apresentados. Eu sou o Capitão James Killian Gancho, dono desse navio que você invadiu tão impiedosamente. - Ele falava fazendo um biquinho, como se exigisse que ela sentisse pena da sua situação.

— Peter vai vir atrás de mim se eu não voltar.

Sua primeira reação foi devolver-lhe um olhar de descrença, mas quando notou que ela falava a sério, só conseguiu rir ainda mais.

— O que? Você acha que ele se arriscaria por você? Que tipo de fé você tem naquele demônio?

Agora ele olhava para a garota com algo similar a pena.

Wendy cerrou os lábios, não importava o que o pirata dissesse, ela não acreditava nele.

— Ele não é um demônio.

— Oh, não, ele é muito pior do que isso. Não se deixe enganar, ele só parece um garoto, mas é um monstro. E ele não vai ter piedade de você.

Mas Wendy não titubeou.

— Eu acredito nele. Nada do que você disser vai me fazer duvidar.

Um olhar estupefato tomou conta do rosto do capitão, depois um sorriso cheio de sarcasmo.

— Você está apaixonada por ele? - Gancho fez uma pausa para dar risadas debochadas. - Ah, meu bem, ele vai te destruir.

— Você vai me deixar passar. - Rosnou ela, ignorando qualquer comentário extra que ele pudesse fazer, mas sentindo uma pontada de dúvida surgir em seu peito.

— Não vê? Eu não tenho tesouro nenhum comigo, ele só está brincando com você. Deve ser algum tipo de jogo, ou teste. Se durar o bastante, vai ver o grande apreço que ele sente por brincar com a vida das pessoas.

O pirata deu um passo na sua direção, ele carregava seu mosquete, sua espada e seu gancho. Mas não ia usar nada daquilo na menina, em parte sentia pena, era só uma pobre garota iludida. E talvez fosse sua falta de confiança nela, por não acreditar que era capaz de lhe causar algum mal que não reagiu quando ela levantou a espada, e não conseguiu se defender a tempo quando ela girou seu corpo e fez um grande corte no seu rosto.

Aproveitando o momento em que Gancho se distraía com sua dor, ela correu para fora do Jolly Roger, sem o desenho. Não corria apenas dos piratas, corria das palavras ardilosas daquele homem. Enquanto avançava pela floresta, ela nem percebeu que não haviam mais meninos perdidos na praia. Ela simplesmente continuou correndo, correndo com seus pés descalços beijando o chão enlameado. Ela correu até o ar faltar em seus pulmões e suas pernas arderem com o esforço, e ainda assim, continuava. Não podia parar porque atrás dela estavam os piratas, e atrás dela estavam suas mentiras que Wendy se recusava a aceitar.

Mas quanto mais entrava na mata, parecia cada vez mais longe de achar uma saída, cada vez mais embrenhada naquelas veias vivas de árvores. Elas se confundiam em sua visão, e Wendy sentia seus galhos se fecharem sobre ela, como se fossem grades de uma gaiola, pronta para prender um pássaro.

Mais de uma vez sentiu coisas segurarem sua mão ou seu vestido, assustando-a, para simplesmente ver que eram galhos velhos e retorcidos que caíam pelo chão. Perdeu a noção do quanto tempo andou, não fazia diferença, o tempo não passava na Terra do Nunca. O que a apavorava era que quanto mais se empenhava em chegar ao acampamentos, mais terminava perdida e sem rumo.

Tropeçando em alguma coisa, a garota deixou seu corpo tombar no chão. Suas pernas doíam por causa do cansaço. A grama molhada que sujava cada canto da sua camisola branca parecia uma cama macia agora, e ela se viu tentada a dormir e descansar. A garota levantou o rosto para o céu, e não sabia como, mas o sol mal aparecia entre aqueles galhos, um véu de folhas impedia que a luz entrasse na floresta.

— Eu preciso de ajuda. - Só quando sua voz soou seca por sua garganta foi que percebeu o quanto estava com sede.

A garota deitou a cabeça na raiz de uma árvore. Por que Peter não tinha aparecido para resgatá-la? Wendy estava tão cansada, ela queria dormir. E ela teria se entregado ao sono que começava a zunir em sua cabeça, mas na sua consciência, algo a impedia. Via aqueles olhos de ave de rapina examinando-a com cuidado, olhos que a julgavam por não conseguir lutar mais. E aqueles olhos a apavoravam.

Ela usou suas parcas forças para levantar, ela ia achar o caminho de volta. Só quando voltou a se encher de determinação foi que pareceu avançar de verdade pela floresta. Um sentimento de reconhecimento a guiava entre as árvores. Podia jurar ouvir o barulho distante de sinos, mas era tão abafado e tímido que acreditou ser sua imaginação. Guiada por sentimentos que não entendia e o estranho tilintar, ela foi tomada, quase em transe. Não sabia quanto tempo tinha andado, nem onde estava. A floresta era escura demais, as folhas pareciam negras e os troncos pareciam sujos de piche.

Não conseguia ver mais nada na sua frente, tudo estava se tornando escuro e nebuloso. Mas preenchida por determinação e com aqueles pensamentos fortes queimando dentro de si, ela continuou seguindo firme. Quando deu o próximo passo, não parecia ter saído muito do lugar, mas quando olhou para cima, viu o acampamento dos meninos perdidos surgir entre as árvores, como mágica.

Todos olhavam para Wendy com surpresa, e vibraram de alegria no momento em que notaram o que estava acontecendo. Ela tinha conseguido voltar. Peter, sentado no topo de sua árvore, olhou para ela com algo que brilhava além da curiosidade. Ela tinha conseguido. A garotinha mimada tinha conseguido vencer a floresta. Ele estava quase orgulhoso, claro, se sentisse uma coisa dessas.

O estado de Wendy era deplorável. Seu cabelo era um emaranhado confuso em volta do seu rosto de boneca. Ela tinha cortes pelo braço que nem se lembrava de ter feito. As mãos e os pés estavam sujos de tanto cair e correr. E sua camisola, que antes tinha sido branca, agora exibia tons amarelados e marrons. Ela não pôde evitar sorrir diante da sua própria vitória. Só quando deu seu primeiro passo no acampamento e seu corpo caiu de exaustão foi que lembrou o quanto estava cansada.

A verdade era que mesmo ela não tinha percebido que tinha passado uma noite inteira correndo. O tempo era distante demais para se contar, na Terra do Nunca.

O primeiro a socorrê-la foi Piuí. Ele correu apressado e tentou segurá-la entre seus bracinhos miúdos.

— Não Piuí, você está machucado. - Falou Wendy, e sua voz estava rouca.

O garoto deu um sorriso com dentes tortos e amarelos.

— Não estou mais, Pan me curou. - Ele falou em um sussurro tímido, não queria que os outros meninos ficassem cochichando sobre isso.

— Ele fez isso? - E Wendy não pôde evitar a emoção em sua voz, mesmo que estivesse evitando ser complacente com Peter.

O rapaz foi o segundo a chegar perto dela, com passos vagarosos. Os outros meninos perdidos olhavam tudo de longe. Com olhos amedrontados como de roedores, pareciam animais ariscos que encontram uma fera estranha, e não sabiam se podiam ou não devorá-la.

— Você está um bagunça. - Falou Peter com um sorriso e sobrancelhas arqueadas. - Agora você é uma menina perdida, consegue achar o caminho de volta para nós.

Wendy não tinha forças para respondê-lo, ou não queria. Mas ela não olhava para ele com acusação, ou raiva, olhava com ternura e piedade. E seus olhos verdes leitosos exibiam o exato tipo de carinho que ela sentia no seu íntimo. Peter sentiu seu próprio sorriso esmaecer, as sobrancelhas franzirem com perturbação. Não lhe disse mais nenhuma palavra e deixou-a ali.

Wendy acompanhou o rapaz com seu olhar. Seu corpo galgaz se movia quase com elegância, como se seus passos fossem mais leves, como se a gravidade fosse diferente para ele. Ela sorriu, poderia ser verdade na Terra do Nunca. A garota o viu ordenar alguma coisa para Félix em voz baixa, e o rapaz consentiu como sempre, mas com uma expressão de desagrado grave.

O garoto mais velho veio marchando na direção de Wendy. Um pouco assustada, tremeu ao ser pega no colo com algo próximo ao cuidado. Ela olhou surpresa para o rosto rígido de Félix, as maçãs do rosto contraídas e as narinas dilatadas, como se estivesse com nojo. A menina sentiu seu rosto ser tingido de rubro, e se concentrou na floresta para evitar a vergonha.

Ela notou o cheiro do rapaz involuntariamente, era como terra molhada depois da chuva. Não podia esperar outra coisa, mas ainda achava agradável. Pegou-se perguntando se todos os meninos perdidos cheiravam do mesmo jeito.

Assim que chegaram à sua caverna, ela a colocou no chão e falou com uma voz ansiosa:

— Eles estão te trazendo uma bacia para tomar banho. Pan quer que você se limpe e descanse, depois teremos uma festa e ele te quer disposta.

Wendy queria perguntar o motivo da tal celebração, mas não teve coragem.


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Notas finais do capítulo

É isso, como eu já acabei essa história há muito tempo, eu acho que vou postar um capítulo toda quarta, não sei. Talvez mais vezes



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