Minha risada não era tipo uma risada de deboche ou maliciosa, era um riso nervoso e incrédulo.

—Kamila¿

—Quantas vezes você vai perguntar isso¿ Sim, Kamila a baixinha, magrinha de óculos e aparelho que esta sempre com uma blusa xadrez e é a mais nerd de toda a escola, provavelmente toda a cidade.

—Kamila... – repeti o nome dela ainda incrédula – Olha, Fabricio...você...bom, como acabamos de comentar, você é o tipo atlético e gostosão da escola que fica com garotas fúteis e gostosonas. Você nunca deu valor a uma garota que ficou e sempre parte os corações delas. Você nunca namorou alguém...

—Olha, eu não vim aqui para voce ficar me insultando ok¿ - Ele falou irritado

— Não estou querendo te insultar, mas dizer que ela é uma garota direita e decente. Se você a quiser só para ficar, melhor procurar outra.

—E se eu não quiser só ficar¿

—Ta falando sério¿

—Nossos pais são sócios agora, e ela esteve algumas vezes la em casa com os pais. Ela me ensinou a jogar xadrez,

—Muito romântico

—Para de me zoar! Eu acho ela muito legal e...bonita demais.

—Ela é bonita sim. Só se esconde debaixo de umas roupas estranhas e chapéus esquisitos, mas sabe... Ela é legal. Apesar de nunca ter conversado muito com ela.

—Bom...eu quero tentar me aproximar mais dela nessa viagem, então qualquer ajuda seria bem vinda.

—Verei o que posso fazer por você – eu sorri

Era a primeira vez que eu via o Fabricio se interessar por alguém dessa forma. Com certeza eu ajudaria. Ainda mais sendo com ela.

 04 dias para a viagem

Esse era o dia de se reunir na escola para os avisos finais e reuniões com alunos, pais e os professores responsáveis pela nossa ida. Todos deveriam assinar os últimos papeis e passar listas para os professores de coisas que os filhos eram alérgicos, podiam e não podiam, remédios para tomar, etc.

Sentei com o meu grupo de sempre e ficamos falando sobre as ultimas coisas que havíamos feito, que resultava em um grande nada já que não fazíamos porcaria nenhuma de tão ansiosos que estávamos com a viagem.

Cutuquei Fabricio por baixo da mesa e esperei ele me olhar para eu apontar com os olhos na direção do que ele gostaria de ver: Kamila.

—Ahn...então...vou falar com os sócios do meu pai e volto já..

Ninguém deu a mínima importância e continuaram jogando conversa fora. Fiquei observando ele chegar totalmente sem jeito perto dela e dos pais, o que não era típico dele. Apertaram as mãos, sorriram e pareciam se dar bem. Mas em nenhum momento ela parecia dar bola para ele ou parecer interessada.

03 dias para a viagem

— Heitor,o que é aquilo dentro da sua mala¿ - eu olhava pela imagem em meu computador ainda ajudando-o a fazer a mala que ele não fizera

—Meu skate, dã.

—Heitor! – reclamei – esse Skate vai ocupar muito espaço dentro de uma mala, pra que você vai levar isso¿

—Não é óbvio¿ Praticar!

—Querido do meu coração...VOCE NÃO VAI LEVAR ISSO!

—Ok,ok... –ele tirou de dentro da mala –levo na mão.

—Heitor, existem sacolas de viagem para isso, porque você não compra uma¿ Quer saber, eu compro. Levo aí na sua casa quando comprar.

—Você é nota mil já te falei isso¿

—Centenas de vezes. Agora tchau que eu vou falar com as meninas.

02 dias para a viagem

—Desculpa, essa é a menor que tenho

Ainda não sabia porque eu sempre me encarregava de fazer as coisas pro Heitor. Ele quem deveria estar rodando a cidade atrás da sacola pro skate dele. Bom, talvez eu já sabia que ele não saberia procurar. Ou esqueceria, ou alguma bobeira assim.

—Pietra¿ - não reconhecia voz e olhei para trás – Sou Kamila, sou da sua turma

—Oi Kamila, sei quem você é – sorri

—Sabe¿ Bom, é que tem um... – Ela se aproximou e colocou a mão nas minhas costas puxando algo.

“TENHO MEDO DE SORVETE”

Lia-se no papel escrito com piloto de quadro uma frase tão ridícula que eu sabia exatamente quem colocara ali.

—Que idiotas! – resmunguei

—Desculpa, eu só...Tchau!

Ela foi saindo e eu achei a oportunidade perfeita para fazer ela e o Fabricio se encontrarem.

—Espera – alcancei ela – Não quer comer algo¿

—Eu¿ - ela olhou em volta como se desconfiasse de mim- Porque¿

—Bom... eu, só quis chamar. Se não quiser, tudo bem.

—Eu quero! – Ela respondeu rapidamente sorrindo

—Legal! –Sorri de volta pegando meu celular do bolso - onde gostaria de comer¿

— Eu...gosto de sushi.

—Sério¿ Eu também! Conhece o Kokoto bar¿

—Eu amo aquele lugar!

—Legaal então – sorri e comecei a digitar uma mensagem pratica para o Fabricio – só vou avisar a minha mãe que eu vou demorar mais para chegar

“Kokoto bar – venha correndo, preciso de você aqui em no máximo cinco minutos.”