08 dias para a viagem

— Essa é a lista numero 01, Greta. Claro que não tem tudo aí.

— Mas você vai mandar as outras quando¿ - Ela falava do outro lado do telefone.

— Calma, eu vou mandar assim que fizer a minha mala com a próxima lista. Mando hoje de noite, prometo.

—Porque eu não me acostumo com esse seu TOC com organização¿ Olha, Pietra, porque não pode me anexar uma lista que vai continuar com você¿ Sério! Para e pensa, não vai mudar nada na sua vida.

— Pára! Você sabe que não da. Está na minha cabeça e não na sua. – desliguei o telefone, zangada.

Eu sabia que ela tinha razão, mas eu não podia evitar. Talvez essa minha mania nunca fosse sumir. Se você não está entendendo, é simples: Quando na minha cabeça entra uma coisa, é difícil tirar de lá. E não sei por que eu acreditava que só podia mandar lista para ela quando eu já a tivesse cumprido.

Coloquei todo o tipo de roupa que poderia precisar na viagem. Roupa intima de frio, de noite, e de festa. Entre outras que fui achando necessária. Aproveitei que ainda tinha tempo e fiz a mala dos calçados: Chinelos, rasteiras, sapatilhas, saltos, tênis, pantufas, etc. E então mandei as duas próximas listas para as meninas.

A semana parecia passar super devagar e isso me deixava maluca. Talvez, ser ansiosa fosse um grande problema. Sentia que teria um infarte a qualquer segundo.

07 dias para a viagem

Sentei no banco da praça onde deveríamos nos reunir para ir jogar boliche, mas como sempre, eu era a mais adiantada. Deveriam faltar uns quarenta minutos ou mais até chegarem. Coloquei meus fones de ouvido e sentei ereta de olhos fechados para apreciar melhor a musica. Não fazia muitos minutos que estava ali quando senti algo gelado atingir meu pescoço e escorrer para dentro da minha blusa. Gritei assustada jogando o celular longe junto com os fones e com os braços abertos sem saber que gosma era aquela. Minha vontade era tirar a blusa e correr o mais depressa para casa, mas fiquei imóvel gritando até ouvir risadas conhecidas e perceber que eu provavelmente estava fazendo escândalo por algo bobo.

— Acho que ela não gosta de sorvete de limão – ouvi a voz irritante de Ivo e abri meus olhos pronta para acertar meu punho com toda a força em sua cara. Ao seu lado estava Jemima, sua companheira fiel de problemas.

—Qual.O.Problema.De.Voces¿ - falei pausadamente vendo as pessoas ao redor passarem me olhando sem saber se riam ou sentiam pena.

— Foi só um sorvetinho Pietra, não seja menininha. – a voz da Jemima conseguia ser quase tão irritante quanto a do Ivo.

Comecei a sentir o gelado chegar ao meu umbigo e o pescoço já estava grudento, o que despertava mais um dos meus TOC's. Aquilo foi me dando uma agonia, um certo nojo e eu sabia que estava longe demais de casa. Eu ia surtar. Abri a bolsa e comecei a passar álcool em gel onde podia, mas aquilo estava ficando mais pegajoso. Comecei a me desesperar. Eu não queria mais tocar em mim e senti meus olhos encherem de lágrimas com a preocupação.

— É serio que você vai chorar¿ - Jemima riu

Ivo que parecia não ter percebido ainda me olhou para conferir ainda rindo. Eu estava completamente imóvel de braços um pouco abertos para não encostar-se ao corpo e o álcool em gel em uma das mãos já vazio. Ele ficou sério de repente e olhando em volta.

—Olha, não tem nenhuma torneira pro aqui. Melhor ir para casa.

—Deixa de ser ridículo Ivo, ela está fazendo cena.

Peguei a minha bolsa no banco e continuei andando com os braços afastados do corpo e sentindo que choraria a qualquer segundo. Eu estava realmente com muito nojo. Continuei andando apressada pela calçada.

—Vem, entra no carro.

06 dias para a viagem

Acordei ainda lembrando do inconveniente do dia anterior. Assim que desci do carro o silencio foi quebrado com uma frase inútil.

— Vê se larga de ser infantil. Foi só sorvete.

E ainda levei sermão dos meninos por ter aceitado a carona do Ivo. E uma piada da Eliana sobre meu escândalo.

Faltava pouco para a viagem e meus pais não paravam de falar sobre como aquela viagem seria para eu me divertir e não para eu ficar enfurnada lendo sobre qualquer cosia científica ou o que fosse.

— Por favor, querida, nós pagamos caro para você se divertir e curtir de um jeito menos...

—Nerd! – minha irmã que jogava algo no computador na mesa do canto da sala completou

Virei os olhos.

— Mãe pode deixar, eu não vou ficar estudando ou trabalhando nesse mês inteiro. Eu prometo.

—Nem namorando – meu pai falou brincalhão mas com um tom de seriedade

—Muito menos namorando- - falei sabendo que isso seria muito mais fácil de cumprir

Não, não sou o tipo de garota que só pensa no futuro profissional e não quer nada com garotos. Não é isso. Até namoraria cm 15 anos. Isso se: o cara fosse pelo menos cinco anos mais velho e inteligente, um pouco nerd por assim dizer e que pensasse no futuro como eu fazia. Sim, sou bem seletiva. E o meu tipo de homem, seria difícil aparecer. Pelo menos não nessa idade. Quem sabe eu namorasse daqui uns cinco anos¿

— E espero que não esteja levando tanta roupa preta. Você vai estar numa ilha, não numa festa de halloween – minha irmã deixou a dica antes de ir pro quarto dela

— Eu gosto das suas roupas – meu irmão falou escondido atrás do sofá com uma mascara de rosto ensanguentado

Eu ri e fui brincar com ele, aproveitar os últimos dias em casa.

05 dias para a viagem

Tudo meu estava pronto e as listas enviadas para as meninas como eu havia prometido. Ouvi a campainha tocando e como não havia ninguém em casa e era férias da Nancy – nossa empregada – eu fui atender relutante.

— É o Fabricio - ouvi pelo interfone e abri o portão. Esperei até ele chegar na sala e fomos juntos para a varanda atrás da minha casa que era onde geralmente conversávamos.

— Olha, vou te perguntar uma coisa porque você é a mais confiável das meninas, mas não pode rir.

— Ok, manda ver. – Falei curiosa

— Você sabe que eu geralmente me interesso pelas meninas com um corpão e que gostem de coisas como festas e...

— Gosta de garotas fáceis que você possa levar para a cama, sim, sei.

—Ei, não exagera.

—Fala logo o que você quer saber, Fabricio. – minha curiosidade aumentava.

—É que... Queria informações sobre uma garota. Saber o que acha dela se é legal, se conhece.

—Sabe que conheço todas as popularezinhas da escola. Até as mais chatas. Qual delas quer saber¿

—É que ela não é bem popular... Sabe¿

—Fala de uma vez pelo amor de Deus!

—O que você acha da Kamila com K¿ - ele falou rápido quase correndo como quem quisesse terminar a frase rapidamente.

—...Kamila¿ Tipo... Kamila..Kamila¿

—A única Kamila com K que tem na escola, sim.

Abri a boca sem acreditar no que estava ouvindo e ri.