Era o quinto dia que Nick e Judy trabalhavam juntos, logo depois que Nick foi oficializado como Policial da DPZ. Ele estava extremamente contente, Judy via isso em seus grandes olhos verdes, que brilhavam toda vez que ouviam uma chamada no rádio, que vinha logo acompanhado de um sorriso de canto. Mas passar os dias dentro de um carro com Nick, estava ficando cada vez mais intimidante. E piorava quando chegava a hora de irem para casa, pois parecia não saberem como se despedir.
Naquele dia, Judy levantou sentindo um friozinho na barriga, só de imaginar que dentro de instantes estaria novamente frente a frente com Nicolas Wilde, o raposa estonteantemente sensual. Ela se levantou e tomou um banho demorado, com milhares de pensamentos indevidos em sua cabeça, assim rotulava ela: Indevidos. Ouviu em sua cabeça a voz de seus pais ecoando:
" Nunca jamais uma Raposa e um Coelho se relacionaram, isso não existe, é indevido. "
A coelha que agora estava com as orelhas abaixadas de tristeza, desceu para seu quarto para se trocar. Ao terminar, olhando-se ao espelho, disse para si mesma:
" Somos de raças diferentes. Nunca uma raposa e um coelho namoraram, eu sou uma tosca, ele tem razão. Devo esquecer ele imediatamente e tirar esses pensamentos da cabeça, nós somos amigos. AMIGOS! AMIGOS!!! Apenas bons amigos. "
E finalmente sorriu, pensando ter-se convencido. Foi rotineiramente em direção à mesa de canto para pegar o Spray anti-raposa, mas ao fitá-lo, entristeceu-se novamente, e pegou o spray, jogando-o no lixo. Sussurrou para si mesma:
"Raposas não são perigosas... são apaixonantes."
E finalmente abriu a porta, pronta para sair e encarar um novo dia com o amigo Nick. Porém, antes que pudesse sair, seu sorriso se fechou e seu rosto corou violentamente. Suas mãos começaram a tremer, suas orelhas caíram amedrontadas, e seus olhos se ergueram curiosos. A coelha travou, ainda com a mão na maçaneta.
Nick estava parado do lado de fora de sua porta, com os ombros encostados na parede defronte para seu apartamento, cabisbaixo. Com seu uniforme de policial impecavelmente limpo como sempre, e o distintivo brilhando com a luz do sol. Estava segurando dois copos de café quente, e o que parecia ser um chocolate embrulhado. Ele ficou em silêncio absoluto, mesmo sabendo da presença dela ao seu lado. Parecia pensar. No mesmo instante, Judy se sentiu uma imbecil, por precisar sempre dizer seus pensamentos em voz alta, em vez de não ao menos pensar em silêncio. Ela não precisava nem se perguntar se ele a tinha ouvido, pois era óbvio que sim. Se seus vizinhos conseguiam ouvir até seus míseros sussurros, por que Nick não a ouviria, já que falara tão alto e claro? Ela finalmente tomou coragem e saiu para fora do apartamento, tão murcha quanto antes, e fechou a porta com a chave. Virou-se e Nick estava parado de frente para ela, esperando-a. Ele agora estava totalmente diferente, mas ainda quieto. Ele finalmente a olhou nos olhos. Um olhar penetrante, que se perguntava muitas coisas, e significativo. Ela não conseguiu segurar o olhar por muito tempo, e disse :
—Bom dia... - Totalmente sem graça, passando as mãos levemente nas orelhas caídas e olhando para o chão.
—Bom dia! - Ele disse animado. - O que você tem? - Perguntou ele, fingindo nada ter ouvido.
Ela levantou as orelhas, desacreditada. Em seu peito cresceu uma faísca de esperança, de que talvez ele não a tivesse ouvido.
—Nada... por que? - Perguntou ela ainda tímida.
—Parece estar... - Nick pareceu pensar por um instante. - Deixa pra lá.. trouxe isso pra você. - Disse ele sorridente, lhe entregando o chocolate e o café.
—Ah Nick... muito obrigada. - Disse ela não conseguindo evitar corar ainda mais, e o encarando apaixonada.
—Vamos... o chefe Bogo me ligou, mais preguiças estão fazendo raxa na avenida principal. Infelizmente teremos que tirar o direito deles de dirigir, pois pisam no acelerador e até tirarem o pé, o carro já saiu em disparada... - Disse ele meio tristonho.
—E não há um outro meio de mudar isso? Não acho justo tirar deles o direitos de dirigir... - Disse Judy também tristonha.
—É... também não acho certo. Que tal falarmos com chefe Bogo? - Sugeriu Nick a olhando de esgelha com aquele sorriso de canto.
—Ótima idéia! - Gritou Judy.
Houve uma troca de olhares e Judy perguntou:
—Nick... por que você... estava na porta do meu apartamento? Por que veio me buscar hoje? - Disse ela corando.
—Ah... cheguei mais cedo hoje... e já não tava mais aguentando te esperar aqui embaixo... você demorou tanto que pensei que tivesse acontecido alguma coisa com vc. - Começou ele risonho. - Mas aí ouvi você falando lá dentro... e vendo que você estava ótimamente bem e pronta para sair, fiquei lá te esperando...
Judy corou violentamente, ele a tinha ouvido. Nick Wilde adorava brincar com Judy. Ela nada conseguiu falar, e ficou em silêncio, apenas acompanhando os passos leves e arrastados da raposa. Chegando ao carro, ambos entraram e por todo o dia, o silêncio prevaleceu entre os dois. Judy não conseguia dizer nada, sem corar e fechar os olhos, evitando os olhares risonhos de Nick, que como sempre, parecia planejar algo sinistro.
O dia se passou tão demorado quanto o ano. Ao cair da noite, Nick disse que a levaria para casa, como sempre. Ela ficou olhando para fora durante todo o trajeto, olhando a lua, que estava muito grande e brilhante naquela noite.
—É lua cheia... sabia? - Disse Nick, parecendo igualmente intimidado.
—Não... - respondeu ela.
Finalmente, Nick encostou o carro na guia da calçada, e desligou-o. Houve como sempre, um silêncio mútuo dentro do carro, que ouvia apenas suas respirações ofegantes, que esquentavam o carro por dentro. Mas Judy reparou uma diferença. Nick desligou o carro. Todas as vezes, ele a levava para casa, a deixava e seguia, rápido e sem desligar o veículo. Ele também tirara as mãos do voltante e olhava pra elas, como se não tivesse coragem de olhar para Judy ou dizer alguma coisa. Sentindo que já não conseguia ficar naquele carro com Nick nem mais um segundo, Judy olhou pra ele finalmente, sorrindo abertamente, que retribuiu o olhar e o sorriso imediatamente, como se estivesse esperando.
—Bom... eu já vou... hoje foi muito legal! - Disse Judy também apertando as próprias mãos.
Nick balançou a cabeça positivamente, mas seus olhos pareciam implorar pra ela esperar mais um pouco. Mesmo assim, Judy disse:
—"Até amanhã".
E se dirigiu até a porta, pronta para abrir. Mas antes que pudesse sair do carro, sentiu a pata grande de Nick, segurar em seu pulso, e logo em seguida ele sussurrou:
—Espera... - rindo intimidado.
Ela fechou a porta do carro, ansiosa. Esperava ouvir uma bronca, ou pensou ate que perderia o parceiro. Talvez ele não gostasse dela, e depois de ter ouvido suas confissões amorosas, talvez quisesse parar por aí. Sua cabeça já estava quase explodindo de pensamentos negativos, então Nick disse, levemente corado:
—Bem... hoje é sexta feira... faz quase uma semana que estou na DPZ... o que você acha da gente... ir...ao...cinema? - Seus olhos estava brilhando de ansiedade, e a encaravam trêmulos.
—Nick... - Começou Judy- Se é pelo que você ouviu hoje cedo... não precisa.
—Não, não,não,não,não... Xi.. - Disse ele tapando a boca dela com um dedo. -Eu quero ir ao cinema com você. Quero muito.
—Tipo um... um... um...
—Encontro. - Finalizou ele, sorrindo amorosamente.
—Oh Nick. - Sussurrou Judy admirada.
Se encararam por breves minutos, em que suas mãos se encontraram e sentiram a quentura de suas peles.
—Tá... tá. Vamos ao cinema. - Disse Judy decidida com as orelhinhas em pé de tamanha felicidade. - Vou subir e trocar de roupa, e já desço.
—Vou em casa me trocar também e já passo aqui. -Disse ele ligando o carro.
Se encararam uma última vez, e Nick se esquivou e depositou um leve beijo na bochecha de Judy, que corou e desceu do carro, dando tchauzinho. Ela olhou para trás uma última vez e viu o carro da DPZ sumir, junto com Nick.