Rubi escrita por roux


Capítulo 4
A cidade dos Espinhos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713792/chapter/4

 — Como vocês já devem saber a missão é encontrar a flamula dourada que está escondida em algum canto da cidade. E somente depois de acha-la e de estarem com elas em mão vocês poderão sair da cidade. Há várias saídas espalhadas pela cidade. Porém apenas quatro delas os levarão a realmente uma saída. Haverá pelo menos dois guardas em cada saída verdadeira para auxiliá-los.  As outras saídas os levarão para a morte, então tomem cuidado. — Falou um guarda alto e forte, por algum motivo ele me lembrou de Redwil. Era branco, alto e forte como ele. — As câmeras são uns pequenos drones que vocês verão a voar por onde estiverem, é com eles que o príncipe e os parlamentares assistirão a missão de vocês. Podem ir.

Ele nos olhou e indicou o grande portão com a cabeça. Era ali que devíamos entrar. Eu senti um calafrio percorrer meu corpo, não conseguia explicar nem para mim mesmo, porém tinha certeza que algo ruim iria acontecer ainda naquela cidade.

Caminhamos todos juntos. Erámos o grupo B; Entramos pelo local indicado e eu senti o ar ficar mais quente. Estava realmente quente ali dentro. Provavelmente o ar era tóxico, as máscaras pesadas deveriam servir para isso, ou outras coisas.

Eu caminhava sem dificuldade e observei que os garotos também. Era algo na roupa. Deixava-me leve, parecia que conseguiria fazer o que quisesse com ela. O tecido era super confortável e se ajustou ao meu corpo logo depois de eu vestir. Havia alguns coldres com armas espalhados pela roupa, uma na cintura, outra na coxa e uma faca no tornozelo. Essas eram as respostas para a minha pergunta. Estávamos mesmo em perigo real.

Eu jamais havia usado uma arma, será que saberia se fosse preciso? O meu instinto me ajudaria como disse o príncipe quando veio se despedir de mim?

— Não se preocupe Iwo. O seu instinto vai lhe ajudar a sobreviver. A primeira dica que lhe dou é: use o seu medo ao seu favor. — Ele falou sentando em minha frente.

Eu olhei debochado para ele. Não o queria aqui.

— Você foi conversar com todos os participantes, ou é só a mim que você gosta de irritar? — Perguntou encarando.

Ele riu e balançou a cabeça. — O seu jeito me fascina! — Falou baixo.

— E o seu jeito me dá náusea. — Eu disse demonstrando meu novo em cada palavra proferida.

O sorriso sumiu de seus lábios e olhou me olhou feio. Eu passei dos limites? Eu me perguntei. Eu queria mesmo ter a perna quebrada por ele e não ir para a missão.

— Eu não vou tolerar mais desaforos como esse. O primeiro mês se passou. E agora as coisas são do meu jeito você está entendendo? — Ele perguntou bravo e sua mão foi tão rápida que eu nem a vi. Apertou meu pescoço com força e me fez olha-lo. — A próxima você irá para a caldeira. E eu prometo que a experiência não será boa, talvez isso até acabe com as suas chances por aqui. Você está me entendendo? Eu não vou tolerar mais. — Ele falou devagar apertando meu pescoço com mais força.

Eu balancei a cabeça em afirmativa e ele soltou. Eu puxei o ar com força e levei minhas mãos ao pescoço, o mesmo doía muito. Engoli em seco com dificuldade, um bolo estava se formando em meu pescoço.

— E como eu ia lhe dizendo. — Falou o príncipe como se nada tivesse acontecido. — O seu instinto ajudará a sobreviver. Controle o seu medo, use ele ao seu favor e tudo dará certo.

Ele se levantou e saiu.

— Então, vamos para onde? — Perguntou Jagrim logo depois de termos caminhados uns cinco metros. Eu estava meio concentrado em meus pensamentos, mas me virei para o garoto. Ele era um garoto magrinho, mais baixo que eu alguns centímetros e aparentava ser mais novo também. Eu daria dezesseis para ele. Os cabelos eram crespos e a pele escura num tom bonito. Com certeza ele deveria ter vindo do Distrito da Criação de Animais. Era por lá que eles tinham a pele mais escura. O garoto olhou para todos do grupo.

— Devemos pegar a esquerda.

— Devemos seguir pela direita.  

Falamos eu e Redwil ao mesmo tempo. Eu olhei para ele, e ele me encarou. Ficamos assim por alguns segundos. Eu torci a boca e ele continuou inabalado. Era muito estranho. Eu resolvi falar.

— Eu acredito que seja melhor ir pela esquerda. O caminho parece um pouco mais sombrio e assustador. Quem iria escolher ir por aqui? Ninguém, e devemos levar em consideração o que o príncipe disse. — Eu falei mostrando o caminho mais assustador.

— Você não levou isso a sério, levou? — Perguntou Redwil chegando mais perto de mim. A voz estranha e abafada por conta da mascara. Ele continuava bonito mesmo com ela. Eu me remexi sentindo-me incomodado. — O príncipe só esperar que não sejamos óbvios, é isso que ela espera. Qual foi?

— Eu acho que ele tem razão! O príncipe é esperto demais para nos dar a resposta. Ele disse que o escolhido deveria ser astuto e não seguir tudo que ele dissesse.  — Nineth disse rindo de mim e tocou o punho fechado com Con. Ele estava mesmo debochando de mim?

Olhei com raiva para o garoto. Era estranho, tinha uma cara de rato que estava muito pior agora com a máscara. Eu não conseguia entender porque o príncipe tinha o colocado em seu top dez. O rapaz era realmente estranho e não se assemelhava muito com os demais, com exceção de Redwil. Eu o encarei por um tempo, ele continuou rindo de mim.

— É verdade, Iwo. Você tem de concordar que ouviu o príncipe dizer isso. Ela espera que sejamos espertos. E seguir tudo que ele diz não demonstra isso. Precisamos arriscar o nosso instinto. Porém se quiser, fazemos uma votação para escolhermos qual caminho seguir. — Ele sorriu debochado. Não vi seu sorriso, mas seus olhos sorriram junto a ele.

Fiquei realmente bravo. Ele estava me humilhando? Não precisávamos de uma votação quando eu era o único a votar na esquerda.

— Então vai à frente! — Eu disse tentando controlar minha revolta e indiquei o caminho com a mão para Redwil.

Ele passou sorrindo por mim e eu senti vontade de colocar o pé para ele cair. Os outros dois garotos passaram logo atrás de mim e esbarraram em meu ombro com força. Eu respirei fundo e senti vontade de sacar uma das armas e atirar na cabeça deles. Mas isso me levaria à forca. Eu passei a caminhar atrás deles.

O lugar não era tão sinistro. Nada escuro e lúgubre. Eu estava realmente assustado com isso. Eu sabia que o príncipe não estava de brincadeira. Nós não devíamos procurar o caminho mais fácil. Ele havia dito isso e olhado para mim, talvez fosse uma dica. Eu ouvia barulhos estranhos como se fossem ratos. “Use o seu medo ao seu favor!” A frase do animal não fazia sentindo algum agora. Eu queria sair correndo e procurar o lugar mais sombrio dessa cidade maluca e procurar uma saída.

Comecei a suar frio. Passamos por uns prédios caídos. O que tinha acontecido aqui? Eram restos de uma cidade bombardeada? Há cinquenta anos Jollon sofreu um grande ataque do país das terras sem lei. Seria essa cidade uma das não repovoada?

O chão era meio gosmento, eu sentia minha bota afundar como se estivesse caminhando em um pântano. Mas não era, tinha certeza.

O lugar clareou. Recebia a luz do sol aqui. Eu olhei para o céu azulado. Olhei a cidade. Estávamos onde parecia ter sido uma praça outrora. Voltei a ouvir os barulhos estranhos como se fossem ratos e olhei para os garotos eles também ouviam. Voltei a vasculhar o lugar. Mais quatro saídas, todas elas claras. Então era isso? Será que Redwil tinha razão?

— Porra, porra e porra. O que é aquilo? — Eu ouvi Con gritar. Ele estava mesmo assustado.

Virei-me para onde ele estava e vi uma cena assustadora. O que era aquilo que eu estava vendo?

O bicho vinha rastejando em alta velocidade por onde tínhamos vindo. Era uma cobra? Não! Era um rato? Não! Era talvez a mistura dos dois? O barulho que antes eu ouvia baixo estava mais forte agora.

A aberração era rápida e cuspia uma gosma da boca. Os dentes de rato o deixavam ainda mais assustador, poderia partir uma pessoa ao meio com eles. Os olhos vermelhos pareciam cegos, mas o bicho vinha em nossa direção.

— Corram. Corram agora! — Redwil gritou a ordem com sua voz forte.

Não esperei outro grito, não pensei. Apenas corri. “Use o seu medo ao seu favor!” Se era isso que o príncipe queria dizer, eu estava fazendo muito bem. Vi um drone passando rápido ao meu lado e capitando a minha face. Era isso então? O príncipe queria ver o meu medo. Eu fiz o contrário. Sorri.

Continuei correndo e puxei a arma do coldre na cintura. Atirei contra o bicho gigante que vinha em nossa direção. É isso que ele queria? Eu senti vontade de rir. O medo me causava sensações estranhas.

Entrei correndo em um dos corredores claros e vi os meninos fazerem o mesmo. Eles passaram a atirar todos juntos contra o bicho. O grito foi alto, e o bicho passou a rastejar mais rápido, mirou a boca em nossa direção e cuspiu. O líquido roxo ia à direção de Redwil. Eu me joguei contra ele e o derrubei para o lado. Senti meu corpo bater no chão, a dor foi forte, mas Redwil gritou. Achei que pudesse ter quebrado algo, mas foi ainda pior.

Ele tinha a perna suja com o líquido roxo. Estava correndo o uniforme e sua perna. Eu senti vontade de gritar. Que porra era aquela? Con e Jagrim continuavam atirando contra o bicho.

Ajoelhei-me ao lado de Redwil.

— Ei, ei. Calma! Vai ficar tudo bem! — Eu falei olhando a perna. Estava em carne viva. Parecia ter parado de correr, mas estava feio. — Vem se apoia em mim. — Falei levantando ele.

Ele era muito pesado pra mim, mas passei a puxa-lo. Ele caminhava com dificuldade. Observei que o corredor afunilava. Era isso, o bicho não ia conseguir passar.

— Caras sigam em frente! — Eu gritei sem lembrar os nomes dos garotos na hora. Havia me dado branco. — Vamos rápido.

Puxei Redwil com mais força. Estávamos pertos. Só mais dois metros. Joguei ele pela passagem mais estreita e ouvi seus resmungos. Passei e corri para ajuda-lo. O sentei encostado à parede. Fiquei esperando os outros dois passar.

Vamos... — Falei baixinho.

Então os vi passar correndo, um de cada vez. Eu me joguei ao lado de Redwil e encostei a cabeça na parede. Estava cansado.  

— Mas que porra era aquela? Eu nunca em toda a vida tinha imaginado que existisse um bicho como esse. Eu nunca vi em livros, em lugar algum. — Falou Jagrim. Lembrei-me do nome dele e o encarei. — Aquele bosta é uma parada sinistra.

 “Coisas estranhas acontecem aqui!” Pensei na voz de Chaelsha me dizendo isso. Respirei fundo.

Redwil gemeu ao meu lado, me lembrei dele e me vire.

— Está tudo bem? — Perguntei baixinho.

Ele balançou a cabeça em negativa quase imperceptivelmente.

— Você tinha razão...

Eu o encarei. Balancei a cabeça em negativa indicando que ele não tinha que fazer isso. — Nós vamos sair daqui. Vamos procurar o caminho certo. — Eu disse sério e olhei para cima. — Espera...

Olhei com atenção.

Era ela.

A flamula dourada pendurada bem ali.

— Achamos a flamula! — Eu falei rindo. Estava meio alto, porém dava para pegar. — Vamos pegar agora. Con me ajude a fazer uma escada, Jagrim é o menor ele sobe!

Con não reclamou minha ordem. Juntamos os braços e eu coloquei força. Jagrim subiu e depois de quase quebrar meu braço, ele pulou ao chão trazendo a bandeira dourada. Eu sorri. Podíamos ir embora.

Redwil sentado ao chão também sorria. Eu fui até ele e o puxei. Era pesado, não consegui.

— Garotos podem ajudar aqui... — Eu falei meio sem jeito. Os garotos mais uma vez ajudaram. — Ok, o seu caminho nos levou ao lugar certo, mas podemos ir pelo meu agora?

Ninguém reclamou.

Caminhamos para o caminho escuro. Era muito escuro. Não enxergava nada, se houvesse algum buraco iriamos cair. E foi o que aconteceu. Senti meu corpo escorregar por uma rampa. Todos nós gritamos e então avistei uma luz. Caí no chão e olhei a luz. Os guardas do palácio correram até nós. Os ouvi avisando no rádio.

 — Vocês foram o primeiro grupo a chegar. Estão completos. Vocês venceram. Venha o príncipe os espera no Salão de Encontros. — Ele disse.

— O Redwil está ferido. — Falei encarando o homem fardado.

— Ele vai para o salão e depois para enfermaria. Vamos...

Eu os vi colocando Redwil numa maca e caminhamos todos juntos. Não foi longe para voltar para o castelo. Porém me sentia muito cansado. Agradeci quando entrei no salão. Queria sentir. Porém vi um grande televisor ainda da porta.

Eles estavam assistindo o outro grupo na cidade. Só havia quatro deles. Não conseguia identifica-los de longe. Eu caminhei para frente, ninguém tentou me parar, então eu o avistei. Chaelsha estava atirando contra algo. Não via contra o que atirava a câmera estava em seu rosto. Eu sorri. Ele era valente.

Então o inesperado aconteceu. Vi uma flecha acertar entre os dois olhos do meu amigo e ele saiu do foco da câmera.

— Não! — Eu gritei e corri em direção ao televisor. — Não! — Eu gritei chorando e batendo na tela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rubi" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.