Rubi escrita por roux


Capítulo 5
A Mentira




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Eu continuei batendo na tela e gritando. O desespero tomando conta de todo o meu ser. Não podia aceitar aquilo. Não por favor, eu rezava para um deus que nunca havia feito nada por mim. Eu chorava e as lágrimas desciam por meu rosto sem freio algum. Ele, Chaelsha não podia ter levado aquela flechada, tinha que ser mentira. Ele não poderia estar morto agora.

Eu senti os braços de alguém me segurar e tentei me soltar. Não queria sair de perto da tela. Eu queria atravessar aquele televisor e segura-lo em meus braços. Eu o conhecia há tão pouco tempo, porém ele era o meu melhor amigo. Era o amigo que eu nunca tive em toda a vida. Os braços fortes continuaram me apertando e eu senti uma pontada no pescoço. Meu corpo começou a amolecer. Minhas pálpebras pareceram pesar uma tonelada. Eu estava perdendo a consciência rápido demais. Mas senti meu corpo ser erguido. Era o príncipe. Ele me olhou, o vi de forma turva, os olhos se forçando a fechar.

— Ele está bem, vai ficar tudo bem. Eu prometo! — Ele falou baixo, sua voz parecia tão distante. E naquele momento eu não o odiei com todas as minhas forças.

Eu caí na inconsciência de um sono pesado.

Acordei sentindo o corpo mole. Meus olhos não queriam se manter abertos, a claridade me incomodava. Eu não sabia onde estava e nem por quanto tempo dormi. Porém sentia meu corpo dolorido como se tivesse passado horas demais deitado. Eu sentei na cama, mas senti náuseas, então deitei novamente. Os meus olhos já não estavam tão irritados com a luz.

Observei o lugar.

Enfermaria.

Olhei o lugar com atenção, todo branco. Era uma sala grande e cheia de macas. Havia pelo menos trinta que os meus olhos avistavam. As paredes brancas deixam o local mais claro, o cheio forte de álcool e remédios era o que estava me embrulhando o estômago. Eu tentei segurar a respiração e ouvi passos sobre o local, me sentei na cama novamente.

Ele me viu. O semblante estava triste, porém sorriu quando me viu.

— Eu fico muito feliz por lhe ver acordado. Não aguentava mais passar noites aqui esperando que acordasse. — Falou o príncipe Geor. Ele estava com uma cara de derrota. Aproximou-se da cama e sentou-se. — Como se sente?

Ele me perguntou e continuou me encarando. Eu encarei de volta. O que ele fazia aqui? Não sabia que se importava tanto com os candidatos. Ou será que era só comigo?

— Onde está o Chaelsha? — Eu perguntei baixo. Não iria chorar novamente. Não na frente dele. — Está... Ele está bem? — Eu me forcei a acreditar que ele estava bem.

O príncipe me encarou e sorriu.

— Eu admiro a sua preocupação. É uma atitude honrosa. Porém você não deveria se preocupar tanto com um soldado caído em batalha, um dos seus concorrentes. — Ele me falou sério e encarou meus olhos. — Os seus cabelos estão ainda mais vermelhos.

Eu ignorei.

— Ele não é um soldado. — Me recusei a usar o termo no passado. Eu tinha esperanças que ele estava bem. Eu sabia que estava. — Ele é o meu amigo, e uma criança. O que você está fazendo conosco é desumano.

Ele balançou a cabeça em negativa e respirou fundo, pareceu pensar. Iria me bater? Eu continuei encarando. Ele baixou o olhar para mim novamente e falou baixo.

— Às vezes é preciso sacrifícios para alcançar um bem maior. E isso nem sempre é compreendido por um garoto de dezessete anos que não entende nada sobre o perigo que corre. — Ele falou sério. Eu senti vontade de socar a sua boca. — Porém o seu amigo está bem. Ele está se recuperando.

Eu senti um alivio. Respirei fundo e sorri.

— Ah que ótimo. Isso me deixa muito feliz. Eu posso vê-lo? Eu preciso ver o meu amigo. Eu quero saber como ele está. — Eu disse baixo e encarando o príncipe.

— Não, você não pode vê-lo ainda. Você não está liberado para sair da enfermaria. Você é resistente. O efeito do soro tranquilizante não funcionava em você, precisamos triplicar a sua dose, e isso gerou complicações. Está em observação para descobrirmos o que vai acontecer com você. — Ele falou e me olhou nos olhos. — Você está sentindo alguma coisa?

— Apenas enjoo. — Eu disse encarando.

— Vai ficar por observação por mais um tempo. Eu preciso lhe informar que o seu grupo venceu a primeira missão. Vocês estão livres dos afazeres doméstico do palácio e tem acesso a alimentação com a realeza. O grupo que perdeu fica ajudando na faxina e come com os criados. — Ele falou me encarando. Parecia orgulhoso de si mesmo.

Eu revirei os olhos e depois o encarei.

— Você fica uma delicia revirando os olhos. Seria um prazer para mim foder com você aqui mesmo nessa cama de hospital. Porém o grupo perdedor que precisa me satisfazer de todas as formas.  Além do que, estou esperando você pedir. — Ele falou de forma sacana e levou a mão até o meu rosto.

Eu empurrei a mão com força e ele me olhou feio e impulsivamente inclinou a mão em minha direção.

A mão bateu pesadamente em meu rosto. Eu senti arder, mas não fiz uma careta de dor. Não iria dar o prazer de ele ver que tinha me feito sofrer. Eu nunca iria deixar ele me ver sofrer. Pelo menos não por algo que ele me fizesse.

— Eu comprei você. Eu paguei por você. Você é minha prioridade e eu o toco quando eu quiser. — Ele falou bravo e me encarando. A pele branca ficou totalmente vermelha de tanto que era sua raiva.

— Eu apenas sentia nojo por você. Porém hoje em dia eu sinto horror. Você é asqueroso e maluco. Você compra garotos e depois os joga numa missão maluca para morrer. O Chaelsha podia ter morrido você sabia? O Redwil, eu poderia ter morrido, você é um nojento. E eu nunca, nunca vou pedir para transar com você. Você é...

Minha fala foi interrompida por mais um tapa na cara. Esse veio com mais força. O impacto fez meu rosto virar para o lado e eu senti o gosto de ferrugem surgir na boca. O encarei feio. Não iria chorar.

— Você está sem alimentação por tempo indeterminado. E somete depois que eu decidi que você deve comer você o fará. — Ele falou me encarando. Eu podia sentir seu ódio crescendo cada vez mais. — Você entendeu?

Eu continuei calado e o encarando.

Ele segurou em seu cabelo e puxou com força. Aproximou o rosto do meu.

— Fale! Diga “Sim, vossa alteza!” — Ele falou bravo e usando a reverencia que eu deveria fazer apenas ao rei. Ele sentia-se rei? Provavelmente tinha um rei na barriga.

Eu estava estressado. Ele poderia me bater novamente. Espancar-me, até matar. Mas eu não diria. Continuei calado e encarando seu olhar.

Ele me empurrou contra a cama e senti minha cabeça bater na cabeceira de ferro da cama. Ele saiu pisado duro.

Eu escorreguei para a cama sentindo meu lábio arder.

— Você é mesmo muito corajoso! — Eu ouvi ao meu lado e me sentei na cama novamente. Redwil. — Nunca vi alguém em sã consciência enfrentar um membro da realeza como você acabou de fazer.

Eu o encarei. Ele estava deitado em uma das camas próximas a minha. Eu não o tinha notado. Provavelmente o príncipe também não. Ou era asqueroso demais para não se importar.

— Você estava aí, eu não o notei. — Eu fui sincero.

— Eu percebi. — Ele riu. — Estava ocupado demais brigando com o príncipe. Você é maluco. Eu continuei fingindo dormir, mas precisei de toda a minha força de vontade para não voar no pescoço dele e mata-lo. Ele não deveria bater em você.

Eu dei de ombros.

— Você está melhor? — Eu perguntei me virando para ele. O gosto de sangue na boca era horrível, porém tentei focar na conversa e ignorar isso. — Como está a sua perna?

— Está novinha em folha. Eles fizeram algum tipo de milagre. Parece que o castelo é dotado de tecnologias que nós desconhecemos. — Ele falou mostrando a perna. Estava apenas avermelhada.

— Quantos dias se passaram desde a missão? — Eu perguntei baixo. Não conseguia lembrar.

— Esse é o terceiro. Eles te doparam. Depois tentaram tirar o tranquilizante do seu corpo. O príncipe estava bem estressado. Ele até afirmou que se você morresse ele acabaria com todos os envolvidos nisso. — Falou Redwil.

— Então ele deveria começar se matando. Isso foi tudo culpa dele. Por sorte Chaelsha está bem. — Eu falei aliviado.

Redwil desviou o olhar do meu. Não queria me encarar. O que estava acontecendo? O que tinha de errado.

— O que foi? — Eu perguntei.

— Nada. — Ele respondeu seco.

— Não é o que seu rosto e sua postura desconfortável diz. — Eu falei sério.

— Ele mentiu! — Redwil falou baixinho.

— Quem mentiu? — Eu perguntei sério. Vários pensamentos passaram pela minha cabeça de uma só vez que eu senti o corpo amolecer. Várias vozes ao mesmo tempo em minha cabeça. O que estava acontecendo? De onde vinham essas vozes?

Eu apertei minha cabeça.

— Está tudo bem com você? — Redwil perguntou preocupado e sentou-se na cama dele.

— Sim! — Eu gemi apertando a minha cabeça. — Quem foi que mentiu? — Eu perguntei sério.

— O príncipe! Aquele garoto que você gritou quando viu ser atingindo. Ele realmente morreu. — Redwil disse sério e me olhando.

Ele estava brincando com a minha cara, mas o que ele ganharia com isso. Eu levantei da cama. Minhas pernas não tinham firmeza, porém me mantive de pé. Eu olhei para o garoto sentado na cama.

— Você está mentindo! — Eu disse sério.

— Eu queria muito estar. Eu percebo que ele realmente tinha importância para você. — Redwil falou sério e arrancou o lençol branco e fino de cima do seu corpo.

— Onde ele está? — Eu perguntei totalmente abalado.

— Ouvi dizer que o enterro vai ser hoje. Os enfermeiros estavam falando sobre isso. Será enterrado na praia do castelo. — Ele me disse baixo. — Eu sinto muito...

Eu o ignorei e saí correndo. Estava com dificuldade para correr. Minhas pernas não queriam me obedecer. Porém eu tinha que ver com meus próprios olhos. Eu precisava ver para acreditar. Ele não podia estar morto. Saí da enfermaria e o sol me queimou. Era muito forte, que horas era aquela? Eu desci a escada de pedra sentindo meus pés queimar, estava descalço, mas isso não importava agora.

Corri.

Eu sabia onde ficava a praia.

Mas parecia tão longe agora.

Avistei várias pessoas. Era ali. Eles iriam enterrar o melhor amigo que fiz na vida ali. As lágrimas rolavam por minha face. Eu não ligava. Não ligava. Meus pés doíam na areia quente. O que eles fariam se me vissem? O que iriam fazer? Eu encostei-me a uma grande coluna na areia e fiquei assistindo de longe.

Eles iriam jogar o corpo dele num buraco na areia.

Não teria um funeral decente com direito a dança e música.

Ele não teria as flores.

As lágrimas desciam com mais intensidade agora.

Fechei os olhos.

— Você não deveria ver isso.

Eu assustei e abri os olhos. Os olhos de Redwil me encaravam.

— Você não deveria estar aqui. E eu já te odeio por ter me feito caminhar descalço. O chão queimou os meus pés. — Ele falou sério e me encarando.

— Eu não falei para você vir. — Eu disse chorando. Não queria ele aqui.

Ele não era meu amigo.

Chaelsha era.

Gormau!

Onde estava Gormau?

Eu virei para onde iriam enterrar meu amigo e notei que não havia nenhum dos selecionados lá.

— Nós estaremos encrencados se nos pegarem aqui. — Falou Redwil.

Eu o olhei feio.

— Eu não ligo. — Disse cortando.

— Mas eu ligo. E eu não vou sair daqui sem você! — Ele falou sério.

Eu senti as lágrimas voltarem a cair. Onde eu estava? Por que o príncipe mentiu pra mim? Por que se preocupou com minha segurança? Quem era aquele homem, e o que queria com esses adolescentes? Fechei meus olhos e senti um berro vir até a garganta. Mordi o lábio e senti soluços desesperado me tomarem.

Os braços de Redwil me tomaram.

Ele me abraçou forte.

Eu retribuí.

Continuei chorando e ele deixou. Me apertou com força em seus braços. Não sei quando tempo passou, ele beijou minha testa com carinho.

— Vamos voltar. Vai ficar tudo bem! — Ele falou começando a me puxar.

Eu olhei para trás, mas deixei ele me levar. O corpo de Chaelsha foi jogado no buraco como se fosse nada. Eu mordi o lábio. A raiva inflou meu peito.

Eu não tinha certeza do que aconteceria daqui em diante.

Porém sabia que eu iria me vingar.


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