Rubi escrita por roux


Capítulo 3
A Reunião Preparatória




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Eu cheguei apressado à mesa. Estavam todos comendo. Alguns garotos soltaram risinhos de deboche por me verem atrasado, eles deveriam estar contando com o fato de o rei mandar me chicotear. Minha respiração estava muito ofegante e minhas bochechas queimavam levemente, estava vermelho. Sentei-me ao lado de Gormau e ele me olhou preocupado. Eu sorri de leve tentando o tranquilizar. Ele não se deu por satisfeito, li seus lábios dizendo “Você vai contar tudinho!” Eu sorri novamente e passei a me concentrar no café da manhã.

Era uma mesa tão cheia que me deixava nervoso só de ver tanta comida. Nós podíamos comer o que quiséssemos. Eu peguei um grande pedaço de torta de maçã e passei a me deliciar, era uma das coisas mais gostosa que eu já havia comido na vida, talvez perdesse apenas para a ambrosia. Em casa não tínhamos esse tipo de doce, geralmente não tínhamos nada. Não queria pensar em casa então voltei minha atenção para a torta, mas não fiquei assim por muito tempo.

Acho que todo mundo já teve a sensação de estar sendo observado. Eu levantei a cabeça e o vi. Redwil Muelwine. Ele me olhava, mas quando nossos olhares se cruzaram desviou seu olhar e voltou sua atenção a comida. Por que Redwil estava me olhando? Ele era um dos selecionados. Os cabelos negros na altura dos ombros estavam presos num coque, ele tinha uma barba rala e um olhar enigmático. Era diferente de todos os outros garotos. Redwil era alto, forte, e muito branco. Era fácil identificar de onde tinha vindo provavelmente do Distrito Militar, eu só não conseguia entender porque seus pais o tinham vendido. Seria muito mais vantagem esperar alguns anos, ele com certeza entraria para o exercito do rei. Fiquei o olhando por mais um tempo, ele não voltou a me encarar então simplesmente voltei para minha refeição. Comi, e comi mais um pouco. Eu sentia como se minha barriga fosse explodir, se eu ingerisse mais alguma coisa provavelmente iria morrer. Deixei um pedaço de bolo de leite no prato e olhei para o Rei. Ele comia quieto, mas sempre nos observava. Ao seu lado a Rainha parecia mais simpática do que pelo televisor. A princesa Mercúrio tinha a cara de nojo habitual. Não vi o irmão de Geor por perto, provavelmente os dias tinham ido resolver coisas juntos.

— Por Jollon Maciel I. — Disse o rei erguendo uma taça.

Eu ergui minha taça vazia e vi todos os presentes no recinto fazer o mesmo.

— Por Jollon Maciel I! — Falamos todos em uníssono.

Estávamos livres, poderíamos levantar da mesa sem sermos castigado por infringir alguma regra. Eu levantei com certa dificuldade, estava realmente muito cheio. Caminhei para fora do salão devagar. Não queria caminhar muito rápido para não vomitar ali mesmo. Chaelsha me acompanhou e passou a caminhar ao meu lado.

— Você deveria comer menos, desse jeito vai explodir! — Ele me falou sorrindo.

Eu sorri de volta.

— Onde está Gormau? — Eu perguntei me apoiando nele. Ele não se importou.

— Não faço ideia, deve estar tentando roubar alguma comida para levar para o quarto ou simplesmente foi fazer algo útil. — Chaelsha falou baixo e me encarou. — O que o príncipe queria?

Eu não sabia se deveria contar, mas ele era meu amigo. Se eu não confiasse nele em quem confiaria? Eu sorri e disfarcei.

— Vamos ao meu quarto, prefiro que ninguém escute. — Eu disse baixo.

Ele balançou a cabeça em afirmativa.

— Porém acho melhor irmos ao meu quarto. Preciso arrumar, está uma bagunça se passar a inspeção por lá serei expulso hoje mesmo. — Ele falou rindo.

— Então vamos lá porque eu não quero perder um dos meus dois melhores amigos! — Eu falei rindo com dificuldade, minha barriga estava mesmo pesada, seria a última vez que eu comeria tanto nas refeições no castelo.

Entramos no quarto e Chaelsha fechou a porta atrás de si. Ele me olhou preocupado.

— Você está encrencado? — Ele me perguntou olhando em seus olhos. Achei realmente fofa essa atitude dele. — Fala logo, Iwo.

— Não, eu não estou ainda. Eu acho. — Falei me sentando na cama e rindo. — Porém comece e arrumar sua bagunça. Como você sozinho consegue fazer isso? Enfim, não vem ao caso. Vai arrumando que vou lhe contando.

Ele passou a pegar as roupas espalhadas no chão. Chaelsha tinha feito realmente uma grande bagunça aqui. Eu não fazia tudo isso, eu nunca tive muitas coisas, dividia um quarto pequeno com mais três irmãos, não dava pra gerar mais bagunça do que a que já tínhamos em casa.

— Então comece a desembuchar... — Ele falou me jogando uma cueca usada. Eu bati rapidamente evitando que a cueca viesse parar em meu rosto.

— Ele veio me falar as mesmas coisas de sempre, que eu iria implorar para ele me foder. E esclarecer que ele não obrigou o Nathman a transar com ele. Foi só isso. — Eu disse baixo.

Ele parou para me olhar.

— Você é mesmo o favorito dele. Você está sempre sendo grosso e dando patadas nele, porém ele ainda espera que você implore para ele lhe foder. Sinceramente? Eu acho que você vai ganhar! — Ele me disse pensativo. E eu me perguntei se ele estava pensando em me sabotar por apenas esses raciocínios sem lógica. — Eu fico feliz por você. Eu acho se for isso que você quiser é claro. Eu não quero ganhar, não quero ficar aqui. Pretendo ser descartado, acho que vou poder reconstruir minha vida no Distrito dos Alimentos. Não conseguiria viver nesse castelo sendo objeto sexual do príncipe. E de outros. Eu ouvi falar que os parlamentares todos transavam com o antigo garoto de companhia do príncipe Bluer.

O que? Eu o olhei sério.

— É isso mesmo. Eles todos usaram o garoto. E ele simplesmente desapareceu. Não sei, mas acho que algo muito estranho acontece por aqui. — Ele me disse e então caminhou até a cama. — Estou nervoso, logo mais todo esse lance de treinamentos vai começar e eu não queria isso. Eu só queria viver minha vida em paz, conseguir mudar de vida. Eu nunca vou perdoar meus pais pelo que fizeram comigo.

— Nem eu sei se serei capaz de perdoar os meus. Eu aceitei vir, mas acredito que mesmo que tivesse dito que não queria, eles teriam me mandando. Eles precisavam muito do dinheiro, minha irmã Lhoia está doente, remédios para ela custam caro. — Eu disse baixo e olhando pra ele.

Ele sorriu de canto. Entendia-me.

— Eu vou para o meu quarto. — Eu disse sorrindo e levantando da cama. — Pretendo descansar um pouco antes da reunião. Estou muito cheio. — Eu ri.

— O que você acha que vai acontecer? — Ele me perguntou.

— Eles só vão nos preparar para os treinamentos que virão. Afinal eles querem um soldado também além de um...

Ele balançou a cabeça em afirmativa. Ele entendia.

— Nós vamos mais tarde! — Eu disse sorrindo e abria porta. — Vê se termina isso logo.

Saí e bati a porta devagar.

 

Eu fui um dos primeiros a chegar. Salão de Encontros. Era assim que eles chamavam essa sala. O lugar era grande, bonito e todo acolchoado em tons rubi. Havia dez lugares formando um semicírculo atrás de uma mesa. Eu me sentei em uma cadeira na ponta esquerda. Sempre odiei me sentir sufocado. Os garotos começaram a chegar, alguns vinham conversando alto e rindo. Eles foram tomando seus lugares. Fiquei bravo por Chaelsha e Gormun não estarem aqui ainda. Não queria que ninguém além deles se sentasse ao meu lado. Foi tendo esse pensamento que assisti Sonphie sentar a uma cadeira de mim. Porra, não daria para meus amigos sentarem aqui. Só havia restado uma cadeira ao meu lado. Eu fechei os olhos e respirei fundo. Ouvi um baque surdo na cadeira ao meu lado.

— Oi, sou Redwil, Você é o Iwo, certo? — Eu ouvi uma voz grossa e chorosa ao meu lado.

Virei-me rapidamente. Era ele. Estava sério. Ele olhava-me estranho, como se estivesse com raiva de mim. Provavelmente era mais uma do grupinho dos que me odiavam.

— Eu, isso. Iwo. É um prazer Redwil! — Falei tentando me obrigar a sorrir.

Ele não retribuiu. Apenas virou para frente.

Estranho. Maluco.

Vi Gormun e Chaelsha chegarem correndo ao Salão de Encontros e dei de ombros. Não tinha muito a se fazer, não poderia guardar o lugar deles. E tenho certeza que se fizesse isso os outros garotos iriam me matar.

Assim que todos estavam sentados Geor entrou na sala e se posicionou na nossa frente.

— Boa tarde! — Ele disse e passou seu olhar por cada um de nós. — Sejam bem vindos ao Salão de Encontros. Aqui sempre acontecerão nossas reuniões. Logo depois das missões e dos treinamentos de qualquer tipo se não estiver ferido é para cá que devem vir. Aplicaremos uma nota logo após cada um desses treinamentos. Cada participante irá acumular pontos.

Ele olhou para ver se todos estavam entendendo.

— Muito bem, esses pontos são importantes? Muito! E depois da primeira missão vocês irão entender o porquê. Mas a quantidade de pontos não designara o vencedor. Somente eu posso fazer isso. Entendido? — Ele perguntou.

— Sim. — Respondeu a maioria. Eu fiquei calado, percebi que Redwil também.

— Então vamos às dúvidas, alguém tem alguma pergunta? — Ele perguntou olhando pra mim. Era como se esperasse que eu fosse o primeiro a perguntar. Fiquei imóvel o encarando. Coloquei todo o nojo que sentia dele no meu olhar. Ele esperou mais um tempo. — Já que nenhum de vocês tem perguntas. Vou explicar a primeira missão de vocês.

Ele mexeu a mão por cima da mesa e um holograma surgiu no centro dela. Mostrava uma cidade abandonada e devastada. Parecia que uma bomba atômica havia caído. Era uma coisa muito feia. Chegava a ser mais feia que o Distrito onde eu morava. Havia árvores secas e espinhos por toda a cidade e no holograma ela era escura. O príncipe olhou para nós.

— Aqui será a primeira missão. — Falou o príncipe sério e nos olhando. Parecia ter expectativa em algo.

Os garotos começaram a cochichar. Eu fiquei quieto olhando a cidade. Ele estava tentando nos matar? Diminuir o número de participantes para cinco? Não tinha chance de jogar dez garotos sem experiência nenhuma ali naquela cidade cheia de espinhos e esperar que eles saiam e sobrevivam.

— O que vocês precisam saber sobre a cidade dos espinhos. Ela mata! A cidade está sempre mudando. Esta sempre criando mais devastação. Ela é uma armadilha, sempre que vocês encontrarem um caminho fácil fuja, porque é morte certa. — Ele olhou para mim, eu o encarei. — Vocês terão que mostrar inteligência para sair da cidade. Um garoto de companhia do príncipe precisa ser astuto!

Eu senti vontade de levantar e meter um soco na cara dele. Aquilo era uma babaquice. Ele queria apenas foder o cu de todos esses garotos, por que nos fazer passar por toda essa bosta assassina?

— Vocês irão em dois grupos. Grupo A e grupo B. Apenas o grupo que chegar com os cinco integrantes ganhará. Caso nenhum dos grupos chegue completo, vencerá o que tiver mais integrantes ainda vivos.

Eu olhei para ele sentindo vontade rir. Então era isso. Havia risco de morremos. Eu não achei que isso fosse tão sério assim. Eu o encarei com mais raiva.

— Os grupos já foram escolhidos por mim. Eu coloquei nos grupos as pessoas que eu acredito que trabalharão melhor juntos. No grupo A estão Gormau, Ordchael, Nathman, Chaelsha e Sonphie. — Ele deu uma pausa esperando que todos os garotos tivessem entendido.

Eu notei que meus dois amigos tinham ficado no grupo A, porém meu nome não havia sido chamado, o que significava que estávamos em grupos separados. Eu estava sozinho com pessoas que não gostavam de mim. Eu não iria voltar da missão.

— No grupo B estão Con, Nineth, Redwil, Jagrim e Iwo!  — Ele me encarou. Eu mostrei minha raiva. — Vocês serão colocados na cidade e a missão é encontrar a flamula dourada. Só depois de acha-la vocês poderão sair da cidade. Há várias saídas espalhadas pela cidade. Apenas quatro delas os levarão até nós. As outras os levarão para a morte certa.

Os garotos ficaram todos calados.

Eu o olhei com raiva.

— Vocês devem estar achando tudo isso estranho, não é mesmo? Acharam apenas que eu queria um rabo para foder. Mas deixe-me dizer uma coisa para vocês. Eu poderia foder qualquer garoto ou garota do reino sem precisar pagar. E eu paguei caro por cada um dez vocês. O verdadeiro acompanhante tem algo que eu quero, e só o verdadeiro poderá me dar.


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