De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 31
Um homem cruelmente sincero.


Notas iniciais do capítulo

Hoje De Repente Papai está fazendo quatro anos!!! :O



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Muitos anos atrás, antes de Rin bater à porta de Sesshoumaru, antes sequer de Mariko conhecer Sesshoumaru ou mesmo do nascimento do próprio Sesshoumaru, uma senhorita filha de uma família muito rica e um jovem rapaz filho de um proletariado qualquer se conheceram.

Ela possuía um porte nobre e cabelos loiros oriundos de sua mãe grega, enquanto ele era alto, educado e inteligente, provavelmente havia nele algum chame também, ou qualquer outra coisa que atraiu a atenção da linda mocinha rica, a família dela não aprovou tal relação, é óbvio, e isso apenas inflamou a paixão, e a jovem e impetuosa Arina desafiou aos pais chegando ao cumulo de casar-se com aquele homem um ano antes de formarem-se, sendo obviamente deserdada por isso.

Talvez ela tenha achado que seu pai nunca seria capaz de deserdar a única filha, ou realmente acreditou que, unicamente por amor, seria capaz de viver em meio aos pobres mortais, junto ao seu amado… mas Arina havia nascido e sido criada para viver a vida luxuosa de uma princesa, e a nova vida que seu marido tinha a oferecer não era de jeito nenhum o seu conto de fadas, e assim, certa tarde quando Inutaisho voltou do trabalho com uma grande noticia sobre um pequeno aumento de salário, pouco depois de Sesshoumaru completar seu primeiro ano de vida, ele descobriu que sua esposa e seu filho haviam se ido.

Cansada da vida de plebeia e saudosa de suas viagens, luxos e joias, Arina retornou para a casa de sua família que a acolheu de braços abertos… mas não aos seus “erros”, e todo o casamento, e aquela sua ideia absurda de querer ir contra a família foram apenas alguns erros cometidos por uma menina mimada em sua fase rebelde, e que deviam ser rapidamente varridos para debaixo do tapete e esquecidos, o que, é claro, incluía Sesshoumaru.

Em resumo, se Arina quisesse voltar, precisava deixar para trás tudo o que remetesse àquela sua “fase rebelde”, incluindo Sesshoumaru.

Mas a escolha de Arina não foi assim tão difícil, diga-se de passagem, e poucos dias depois Sesshoumaru foi devolvido ao pai por um advogado da família da mãe junto com um pedido de divórcio.

Na verdade nesse aspecto a Domadora sempre fazia com que Sesshoumaru se lembrasse de sua mãe: ambas as moças ricas queriam voar livres pelo mundo além das grades douradas de suas preciosas gaiolas de ouro… mas assim que a lama e a sujeira do mundo respingaram na alva pele de Arina, ela imediatamente abandonou àquele mundo de impurezas e retornou a sua vida de brilhantes e sedas, tal como a tennyo do conto, que ao recuperar suas vestes divinas fugiu de volta para os céus. Sem duvida mais cedo ou mais tarde o mesmo passaria à Domadora... Se é que já isso não havia acontecido.

E assim Sesshoumaru e Inutaisho passaram os próximos três ou quatro anos sozinhos, até a chegada de Izayoi, e pouco depois de Inuyasha… embora Arina nunca tenha cumprido com sua palavra completamente. Ela disse à sua família que se esqueceria de todo aquele terrível erro, mas nunca deixou de ir ver Sesshoumaru, e duas ou até três vezes por ano a grande lady descia ao mundo mortal, ela não queria encontrar-se com “aquela outra mulher ou seu filho” — como sempre se referia a Izayoi e Inuyasha — então Inutaisho precisava levá-lo a seja lá qual fosse o lugar que a mãe havia marcado para ver o filho. E a frequência das visitas aumentou por volta da época de ginásio de Sesshoumaru, quando ele já possuía idade o suficiente para ir aos locais de encontro da mãe sozinho e Arina deixou a grande propriedade principal da família na zona rural para mudar-se para uma de suas propriedades menores na cidade — a mesma em que morava na época da faculdade antes de casar-se, e na qual ainda morava atualmente. Mas para Sesshoumaru aqueles encontros sempre foram inúteis e incômodos, e não porque guardasse alguma mágoa de sua mãe como ela insistia em afirmar, mas apenas porque não via razão para nada daquilo.

Atualmente os encontros haviam retornado para a mesma frequência de antes, e geralmente Arina o procurava em seu próprio apartamento, pois sabia que Sesshoumaru não se daria ao trabalho de se locomover até ela apenas para ouvi-la importuná-lo por seu estilo de vida e sua carreira, mas os encontros daquela época geralmente seguiam um único padrão: Arina e Sesshoumaru se reuniam em um restaurante para almoçar e lhe fazia sempre as mesmas perguntas; “se aquela mulher estava cuidando bem dele”, “se ele estava se alimentando corretamente”, “se estava dormindo direito”, “se queria ou precisava de algo”... Mas vez ou outra havia um caso singular.

—Sesshoumaru, eu quero que você fique com isso. — Arina disse-lhe certa vez durante o inverno, tirando do pescoço uma fina joia de ouro — Assim estarei sempre contigo.

A joia em questão tratava-se de um delicado medalhão de forma oval, que carregava uma foto de sua mãe no interior, Sesshoumaru guardou a foto em sua carteira, mas não possuía qualquer interesse ou serventia para as joias da mãe… com ambas as mãos Rin agarrou protetoramente o medalhão que pendia de seu pescoço.

—Esse é o medalhão de minha mãe! — exclamou defensivamente — Foi Sesshoumaru-Sama quem o deu a ela!

Os olhos gélidos de Arina, nos quais Sesshoumaru sempre reconhecia os seus próprios, voltaram-se para ele.

—Você deu o meu medalhão para uma de suas namoradas?! — exigiu saber, sibilando de fúria.

Sem abalar-se Sesshoumaru apoiou o rosto de lado sobre a mão.

—Era uma joia feminina, então não me tinha qualquer serventia.

—Então simplesmente desfez-se dele?!

Por mais irritada que estivesse a Senhora jamais erguia o tom de voz.

—Era meu para fazer dele o que bem entendesse, não?

—Ainda a...! Ora! — exclamou quando Rin saiu correndo da sala, sem dizer nenhuma palavra e esbarrando rudemente nela ao sair.

Sesshoumaru arqueou as sobrancelhas e começou a levantar-se.

—Aonde vai? — sua mãe quis saber, franzindo minimamente às sobrancelhas. — Você veio até aqui para falar comigo, não?

—Não estou fugindo. — garantiu — Tenho que falar com Rin.

—Fale mais tarde, ela não pode sair da propriedade, agora você está aqui para falar comigo. — sua mãe descartou suas palavras como a dama de alta classe esnobe que ela era, mas quando Sesshoumaru não deu indicio de que a escutaria ela suspirou — Muito bem, pedirei para Jaken ficar de olho na menina. Melhor assim?

Na verdade não, mas ainda assim Sesshoumaru acenou e acompanhou a mãe até o escritório.

Era melhor Eleonor está certa sobre aquilo, afinal tudo fora ideia dela.

—Ela tem algum familiar? — Eleonor franziu o cenho naquela tarde no quarto de Sesshoumaru

—Os pais de Mariko. — respondeu — Avô e avó.

—Então por que você...?

—Eles não são aptos a criá-la.

Eleonor o olhou de forma cética.

—E suponho que você seja.

—Os avós disseram à menina que a morte da mãe era sua culpa.

Eleonor arregalou os olhos e cobriu a boca com a mão de dedos enfaixados, Rin nunca havia dito nada diretamente naquele sentido a Sesshoumaru, mas ele não conseguia imaginar outra maneira de uma ideia como aquela ter se entranhado tão profundamente na mente de uma criança.

—Isso não pode ser verdade. — balbuciou incrédula com a possibilidade de alguém dizer tal barbárie e uma menininha, ainda mais a própria neta.

Dirigindo-se ao guarda-roupa para devolver o documento à gaveta da qual nunca deveria ter sido tirado, Sesshoumaru continuou:

—A mulher entregou-me a neta sem sequer se importar com quem eu era ou qual a minha índole, podia ser um maníaco ali a sua frente e não faria a menor diferença.

Eleonor calou-se ao ouvir aquilo e talvez até tenha suspendido a respiração, pois Sesshoumaru bem poderia estar perfeitamente sozinho naquele momento.

—E o que pretende fazer com uma criança que não é sua? — ela perguntou afinal — Sesshoumaru, você não pode manter essa farsa para sempre! E se eles a quiserem de volta?  — Dessa vez, foi Sesshoumaru a calar-se, e seu silêncio prolongado preocupou Eleonor — Sesshoumaru! — chamou

—Você vai acordá-la. — alertou-a sem virar-se, embora isso fosse extremamente improvável, pois Rin estava completamente apagada no quarto ao lado, se pela gripe ou pelos remédios era impossível saber. — A avó me procurou uma vez, mas não penso em devolvê-la.

—Sesshoumaru eles são os avós dela!

—E até quando ficariam com ela? — Sesshoumaru voltou-se para a loira — Até perceberem que Rin não pode substituir Mariko? Até começarem a odiar seus estúpidos sorrisinhos otimistas? Até voltarem a dizer que a culpa é dela que aquela desmiolada tola e sorridente tenha trabalhado até morrer? E então o que? Vão dá-la ao próximo estranho que passar na rua?

—Oh, você realmente se apegou a essa criança, se importa com ela. — Eleonor constatou fechando os olhos e massageando as têmporas — Céus, que situação tão problemática!

—Eu sei.

Embora Sesshoumaru sempre houvesse evitado questões problemáticas, quaisquer que fossem.

—Ainda assim temos a forte questão do sangue: eles continuam a serem os avós dela, e você não é o pai. — reafirmou dura e concisa, mas inegavelmente verdadeira. — Como pensa em lutar essa guerra, Sesshoumaru? — Sesshoumaru não tinha resposta para aquilo ainda, Eleonor voltou a suspirar — Oh Sesshoumaru, você precisa de ajuda!

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha fitando-a.

—Sua?

Eleonor descartou a ideia como se espantasse um inseto irritante.

—Se possível eu gostaria de me envolver o mínimo possível quanto a isso.

Aquela resposta quase roubou de Sesshoumaru um meio sorriso, era exatamente o tipo de resposta que ele esperava vindo de Eleonor, e provavelmente essa era uma das razões para ele mantê-la por perto: ela era muito semelhante a ele afinal.

—E então?

—Bem, eu diria que para uma questão assim você precisa no mínimo de alguém com algum poder e influencia. — respondeu deixando de fitá-lo, fechando os olhos e apoiando o queixo sobre a mão sadia, como se estivesse cansada daquele assunto ao concluir mais parecendo falar consigo mesma do que com ele — Devia procurar sua mãe.

E ali estava ele.

Fitando o filho a senhora Arina sentou-se à sua mesa.

—É a primeira vez que você me procura por livre e espontânea vontade em mais de vinte anos. — ela começou — Me pergunto o que você poderia querer de mim.

Sesshoumaru fechou a porta do escritório atrás de si.

—Os avós de Rin podem estar querendo-a de volta e eu creio que precisarei de advogados para mantê-la comigo. — foi direto ao ponto.

A Senhora Arina arqueou as sobrancelhas olhando-o surpresa.

—Ora, é apenas isso? Bem eu posso recomendar um bom advogado a você e até pagar os honorários dele se quiser, afinal duvido que o que você ganhe com aquele seu hobbie seja o bastante, mas não deve ser tão difícil assim, afinal mesmo que eles queiram requerer a garota de volta continuam sendo apenas os avós e creio que nesse caso o pai tenha a prioridade...

—Eu não sou o pai. — cortou-a.

Ela calou-se e olhou-o quieta por um longo momento, até Sesshoumaru puxar a cadeira e sentar à sua frente.

—Você disse que havia feito um exame de DNA. — afirmou seriamente.

—Eu fiz. — Sesshoumaru confirmou — Mas nunca disse que o resultado foi positivo.

Sua mãe arqueou uma sobrancelha.

—Sesshoumaru, é melhor me explicar o que está acontecendo.

—Já disse. — respondeu — Os avós de Rin a querem de volta e eu preciso de um advogado.

—Mas se está dizendo que não é o pai...

—Rin precisa de mim. — afirmou sério.

E sustentou o olhar de sua mãe sem vacilar até que, por fim, a grande senhora suspirou e balançou a cabeça.

—Quando você era pequeno eu o deixei com seu pai, acreditando que um dia seria capaz de convencer o meu pai a aceitá-lo, ele queria que eu me casasse novamente e desse um neto e herdeiro a ele, eu teimei por anos que ele já tinha seu tão desejado herdeiro e neguei-me veementemente a casar-me, crente que um dia ele o aceitaria. Cheguei a pensar que ele ameaçaria me deserdar novamente, mas ele nunca o fez, acho que pensou que se me deserdasse eu não teria mais nada a perder e inevitavelmente voltaria para seu pai, eu quis mostrar a ele o quanto você era capaz, tão inteligente… se ao menos tivesse se formado em direito. Mas foram apenas anos e mais anos perdidos nessa batalha infundada, ao fim, você nunca precisou de mim e tampouco de toda essa riqueza pela qual o troquei, não é?

—Eu nunca guardei rancor da senhora. — Sesshoumaru manifestou-se.

—Se é o que diz. — A Sra. Arina assentiu — Eu apenas quis exprimir a minha satisfação.

—Pelo que?

—Você nunca precisou de sua mãe e acreditei que nunca precisaria, mas agora veio até mim, por isso estou em júbilo. — declarou calmamente, pelo visto Sesshoumaru havia herdado toda a sua expressividade de sua própria mãe — Então quer lutar por essa criança? — Sesshoumaru assentiu — E por que acha que você será melhor para ela do que seus avós legítimos?

—Eles não têm quaisquer condições financeiras ou mesmo psicológicas para criar Rin. — afirmou.

—Então suponho que seja você o mais adequado a criá-la? — sua mãe olhou-o ceticamente. — Sesshoumaru o que você poderia saber sobre o que é melhor para uma garotinha que conheceu há poucos meses, que os avós que criaram a mãe dela e certamente estiveram junto dela desde seus primeiros passos, não saibam?

—Pretende me ajudar ou não? — Sesshoumaru impacientou-se.

—É claro que sim. — sua mãe suspirou. — Eu só queria esclarecer desde o inicio que não será algo fácil. Ainda assim deseja prosseguir? — Sesshoumaru assentiu — Muito bem, então o que acha dessa casa?

—A casa? — repetiu sem compreender.

—Se quer ganhar essa batalha creio que a melhor forma de começarmos seria demonstrar que tem melhores condições de criá-la, então sugiro que se mude para cá, a casa tem sala de estar, cozinha e escritório, possui cinco quartos, sendo um deles uma suíte, garagem com espaço para dois carros, lavanderia e três banheiros, contando com o banheiro da suíte é claro...

—Não acho que isso seja necessário. — Sesshoumaru recusou.

—Não estou sugerindo que more comigo, é claro. — A Sra. Arina prosseguiu — Estarei voltando para a propriedade da família em breve e esse imóvel ficará desocupado de qualquer forma, é apenas uma questão de tempo para que eu possa acertar a papelada e passá-lo para o seu nome.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—Então acertou as coisas com seu pai?

—Seu avô faleceu no último outono, eu fui até seu apartamento para dizer-lhe, mas parece que você já estava ocupado demais com seus próprios problemas e de repente uma menina saltou sobre mim chamando-me de “vovó”. — deu de ombros, oh certo, então foi naquele dia, Sesshoumaru nunca chegou a conhecer o velho, mas sabia que o certo naquele tipo de situação seria prestar suas condolências à sua mãe, no entanto ela prosseguiu falando antes que ele tivesse a chance: — Bem, continuando: você não precisa me dar uma resposta sobre a casa nesse exato momento, mas quero que pense bem no assunto. Sobre o advogado eu entrarei em contato com alguns conhecidos e depois lhe contatarei. Está bem assim?

Sesshoumaru inclinou a cabeça.

—Perfeito. — consentiu levantando-se.

Mas antes que pudesse se retirar a grande senhora o chamou novamente.

—Só mais uma coisa, é muito importante. — pontuou — O que fará se o pai verdadeiro da menina aparecer?

—Ele provavelmente sequer sabe sobre sua existência.

—E quem...?

Sesshoumaru encolheu os ombros.

—Mariko nunca o mencionou, ao menos não para a filha.

—Certo. E se tiver de escolher, a menina irá preferi-lo em lugar dos avós?

Rin acreditava que se voltasse para os avós ela os mataria assim como “havia matado” Mariko.

—Sem dúvida. — respondeu sem titubear.

—Mesmo que você não seja o verdadeiro pai dela? — Sesshoumaru calou-se — Não contou a ela?

—Rin não precisa saber. — ele estava com a mão sobre a maçaneta da porta agora.

—Mas é óbvio que precisa. — a Senhora discordou — Não acha que será muito pior se descobrir no tribunal caso cheguemos a tanto? O que fará se ela decidir-se pelos avós? Ou se quiser procurar pelo verdadeiro pai? Você precisa contar logo a verdade a ela, Sesshoumaru, por mais cruel que seja, e é melhor que a escute de você, não pode mantê-la ao seu lado com base em uma mentira.

O que ele faria se acaso Rin quisesse sair em busca do verdadeiro pai?

Sesshoumaru não havia pensado nisso antes, mas agora não conseguia deixar de remoer as palavras da senhora sua mãe, e conhecendo a menina como a conhecia, sabia que era exatamente isso o que ela faria… talvez fosse melhor deixar as coisas como estavam. Rin não precisava saber de nada… ainda.

Rin estava sentada na varanda da frente de casa, com o empregado da Sra. Arina parado quietamente atrás de si, mas assim que Sesshoumaru chegou ele fez-lhe uma vênia e se retirou.

—Rin. — chamou.

—Ela sempre acreditou que o senhor a amou, mesmo que só um pouquinho. — Rin disse sem virar-se — Mas o senhor só estava desfazendo-se de algo sem importância, não deu o medalhão a ela porque se importava, deu a ela da mesma maneira que se atira um palito de dente ao lixo: um gesto qualquer e sem importância.

—Eu nunca tentei enganar Mariko.

—Eu sei, não estou brava com o senhor, papai. — a menina afirmou encolhendo-se, provavelmente agarrando o medalhão — Porque o senhor sempre é cruelmente sincero… mas Mariko… mamãe era uma sonhadora.

Sonhadora. Essa era definitivamente uma palavra que poderia definir Mariko. Assim como gentil, alegre e inocente, e mesmo com os duros golpes da vida ela aparentemente havia sido uma sonhadora acreditando em suas próprias fantasias até o fim... Rin era um tanto similar a ela nisso, mas agora pouco a pouco o seu mundo estava ruindo: Sua mãe se fora e ela acreditava do fundo de seu ser que era a responsável por isso. E o conto de fadas que Mariko sempre lhe contara, a sua ingênua crença de que, bem no fundo, Sesshoumaru já há amara algum dia… estava despedaçado.

Cruelmente sincero, ela dissera, mas agora Sesshoumaru não queria ser aquele que despedaçaria ainda mais o reluzente sorriso de Rin.

—Vamos para casa. — chamou ao passar pela menina.

—Mas… de alguma forma estou feliz. — Rin afirmou com voz trêmula.

—Feliz?

Sesshoumaru parou e virou-se, ela estava de pé agora, com os pés bem juntos e as mãos agarrando ao medalhão junto ao peito e parecendo estar se esforçado muito, de forma como Sesshoumaru nunca a vira antes, para não cair em lágrimas ali mesmo.

—Hu...! — ela estava tremendo agora — Porque mamãe nunca… ela nunca realizou nenhum de seus sonhos, ela… trabalhou tanto, tanto, só para me ver feliz e ainda assim... — soluçou — Mariko o amou muito, de verdade, o amou até o fim e sempre acreditou que por algum tempo o senhor a amou também, só um pouquinho e... — soluçando e tremendo ela esfregou fortemente o olho direito — E ela era feliz por isso, mas se Mariko soubesse… se mamãe soubesse a verdade. Ela… então eu estou feliz. De verdade. Mesmo.

E naquele momento, de alguma forma ela conseguiu forçar um sorriso que foi extremamente doloroso de se ver.

O que Sesshoumaru deveria fazer? Ele nunca fora bom para consolar quem quer que fosse. Abraçá-la? Acalentá-la? Deveria tentar consolá-la? Deveria mentir? Dizer que amou a mãe dela?

—Vamos para casa Rin. — chamou-a novamente, dando-lhe as costas e se afastando.

—Hu...! — a ouviu responder, quase com um gemido, e correu para o seu lado, com uma mão agarrando-se a sua e a outra esfregando os olhos.

E Sesshoumaru gostaria de ter ao menos um lenço consigo. De certo ele não era a pessoa mais adequada para criar uma garotinha órfã.

Mas Rin precisava dele.

...

Já passava da meia quando Sesshoumaru ouviu as batidas em sua porta, Rin havia tido outro pesadelo? Suspirou deixando o computador de lado e levantando-se, isso não era de se surpreender depois do dia que ela tivera, ele nunca havia perguntado sobre o teor de seus sonhos, mas tinha certeza que tinham haver com Mariko.

—Sesshoumaru.  — Inuyasha o chamou. — Você está acordado?

Sesshoumaru recolheu sua mão de volta justo quando estava prestes a abrir a porta, o que aquele idiota queria àquela hora? Sesshoumaru deu meia volta e retornou para sua cadeira de vidro.

Às suas costas Inuyasha começou a praticamente esmurrar a porta.

—Seu imbecil! Você está me ignorando?! Eu acabei de ver agora mesmo a sombra dos seus pés se afastando da...!

A porta abriu-se tão rápido que Inuyasha sequer deve ter visto a mão de Sesshoumaru voando até que ela já tivesse agarrado sua cara e coberto sua boca.

—O que está fazendo? — perguntou friamente — Quer acordar Rin?

E só então o soltou para que Inuyasha pudesse se explicar.

—Desculpa. — Inuyasha resmungou, esfregando a boca com as costas da mão. Um pedido de desculpas? Sesshoumaru não esperava por isso. — Eu queria falar com você.

Sesshoumaru arqueou uma sobrancelha.

—Então fale.

—Feh. Na verdade eu não queria falar com você, mas você é o único aqui, e aquele traidor do Miroku não me atende. — o idiota se contradisse entre resmungos.

Pelo jeito aquilo ia demorar, Sesshoumaru girou os olhos e saiu do quarto fechando a porta atrás de si.

—Ei idiota onde...?!

—Preciso de um café. — Sesshoumaru respondeu.

E a Inuyasha não restou alternativa exceto a de segui-lo até a cozinha, e esperou até que a cafeteira terminasse seu serviço e Sesshoumaru se servisse e se sentasse à mesa com a caneca fumegante.

—Seja breve. — ordenou tomando seu primeiro gole.

O idiota suspirou.

—É sobre Kagome. — começou pelo óbvio, e Sesshoumaru girou os olhos, aquilo definitivamente não seria breve. — Eu acho que na última vez a deixei mais irritada do que o normal, mas ela não está agindo como normalmente age quando está zangada, quer dizer, ela está simplesmente me ignorando! Não, ignorando não é a palavra, ela está agindo como se nem sequer nos conhecêssemos ela está...

O idiota franziu o cenho procurando a palavra.

—Indiferente? — Sesshoumaru arqueou a sobrancelha.

—Isso! — o imbecil apontou-o — E eu já tentei falar com ela para pedir desculpas, mas ela me disse que “eu não tinha nada pelo que me desculpar” e mesmo assim continua agindo dessa maneira! E aquele traidor do Miroku...!

—Inuyasha, o que quer de mim? — Sesshoumaru impacientou-se.

Inuyasha bufou e sentou-se de cara amarrada à sua frente.

—Eu não sei o que fazer. — declarou. — Ela agindo desse jeito está me dando nos nervos, diz que não tem nada de errado, mas também se recusa a escutar minhas desculpas!

Sesshoumaru tomou mais um gole de café.

—O que você fez agora?

Inuyasha mexeu-se desconfortável.

—Você saiu de repente seu estúpido, e eu tinha um encontro marcado, mas não dava pra deixar Rin aqui sozinha, então eu a chamei...

—Imbecil. — Sesshoumaru cortou-o pousando a caneca na mesa, Inuyasha o olhou zangado, mas engoliu o comentário calado — Vamos recapitular: pelo que exatamente você queria se desculpar com a Domadora?

Inuyasha franziu o cenho, provavelmente tentando fazer funcionar os seus dois únicos neurônios.

—Hum… porque eu saí com Kikyou?

—Imbecil.

—Mas que droga, Sesshoumaru! — Inuyasha bateu na mesa com as mãos estendidas — Vai ficar só me chamando de imbecil?!

Sesshoumaru tomou seu café calmamente.

—Que tipo de relação você e a Domadora têm?

Novamente Inuyasha remexeu-se desconfortável.

—Somos amigos. — resmungou.

—Mesmo? — Sesshoumaru arqueou a sobrancelha — Então porque precisa dar satisfação a ela sobre com quem você sai ou deixa de sair? E por que precisa se desculpar?

—Porque isso a magoou. — voltou a falar entre resmungos.

Sesshoumaru girou o café em sua caneca.

—Por quê?

Inuyasha bufou e desviou o olhar.

—Kagome g… talvez Kagome me ame.

Erguendo-se com a caneca na mão Sesshoumaru afastou-se em direção a pia.

—Parabéns, você descobriu algo que até uma garotinha já tinha percebido, devo escrevê-lo para um prêmio Nobel por isso? Quando descobriu? — Inuyasha manteve-se calado. — Inuyasha. Quando?

O meio irmão manteve os olhos fixos no tampo da mesa, recusando-se a encará-lo.

—Kagome nunca tinha dito nada antes, mas eu também… eu gosto dela, mas se as coisas não dessem certo e ficassem estranhas...

—Então você achou melhor deixar como estava. — completou, Inuyasha acenou afirmativo — E mesmo sabendo a manteve por perto, reclamou e discutiu sem razão alguma quando outros tentavam se aproximar dela, e deu esperanças a Domadora apenas para sua própria conveniência,

—Não foi assim...!

Mas o café estava no fim e Sesshoumaru já estava absolutamente sem paciência alguma para escutá-lo.

—Teve medo que as coisas não fossem bem e os dois se afastassem, mas não quis rejeitá-la e afastá-la da mesma maneira.

Sesshoumaru sempre considerara Inuyasha um idiota de nível avançado por nunca ter se dado conta do que realmente sentia pela Domadora, mas agora percebia que o imbecil estava em um nível totalmente diferente do que ele imaginara. Aquela idiotice certamente não viera do seu lado da família, mas também era pouco provável que ele a houvesse herdade de Izayoi, que era uma mulher bastante sagaz.

—Eu gosto da Domadora, entre os parasitas, e isso inclui você, ela é certamente a mais suportável. — afirmou terminando seu café — Mas escute idiota, você não é obrigado a retribuir os sentimentos de alguém, entendeu? Mas é definitivamente obrigado a deixar tudo claro desde o inicio, para que ela não crie expectativas falsas sobre algo que você não pode corresponder.

Deixando a caneca vazia sobre a pia ele virou-se e deixou a cozinha.

Porque às vezes o único remédio era ser cruelmente sincero.

::CENA EXTRA::

Inuyasha já andava remoendo as palavras do idiota do Sesshoumaru há quase uma semana agora, se não fosse por ele ser a última de suas últimas opções nunca teria ido pedir conselhos àquele estúpido.

Até Rin teria sido uma escolha melhor, mas do jeito que a garota vinha olhando-o seria mais provável que ela o mandasse cometer sepuku para lavar sua honra — inclusive foi uma surpresa que Sesshoumaru não tenha dito nada parecido com aquilo.

Então… por todas as cartas na mesa, certo? Deixar tudo às claras de uma vez… além do mais Kagome já o estava ignorando e até aquele traidor do Miroku o abandonara, pior não poderia ficar.

—Será que você poderia sair da frente, por favor? — Kagome perguntou com fria cortesia, repentinamente à sua frente.

—Kagome! — Inuyasha quase pulou — Tem uma coisa que eu preciso falar com você!

—Eu preciso pegar meus sapatos, poderia sair da frente? — ela pediu-lhe sequer parecendo ouvi-lo.

—Droga Kagome, dá pra me escutar? Tem algo que preciso conversar com você! — mas ainda assim ele afastou-se para o lado.

—Creio que o que tínhamos para dizer, nós já dissemos no mês passado. — ela afirmou enquanto abria seu armário e retirava de lá os sapatos.

—Não, não dissemos!

—É mesmo? — ela virou-se inexpressiva — E o que mais há para falar? É outro pedido de desculpas sem sentido? Porque não quero ouvir.

—Não, não é isso!

—Então?

Sentindo a boca seca Inuyasha congelou, e cerrando os dentes ele socou a própria perna para obrigar-se a reagir.

—Saia comigo na próxima sexta-feira!

Pega de surpresa Kagome arregalou os olhos.

—Hã?!

Inuyasha engoliu em seco. Continue. Forçou a si mesmo. Você já chegou até aqui, agora continue!

—Eu quero… eu preciso conversar seriamente, então no seu aniversário vamos sair? Deixe-me te levar a um lugar legal e vamos conversar certo? — hesitou — Seu aniversário é na sexta-feira, não é?

—É sim. — ela abaixou-se para calçar os sapatos.

—Então vamos…!

—E minha família vai dar uma grande recepção. — ela levantou-se pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha.

—Hã?

—Uma recepção. — repetiu — Uma festa chique cheia de pessoas com roupas de gala e taças de champagne, supostamente para comemorar o fato de eu ter completado mais um ano de vida, para a qual convidam um monte de pessoas ricas e seus filhos esnobes dos quais eu mal lembro ou sequer conheço, para assim ficarmos com uma boa imagem diante da sociedade. — encolheu os ombros. — Então nesse dia não posso sir, minha agenda já está cheia.

Claro que estava. Idiota! Idiota! Idiota! Quando foi que Kagome havia tido permissão de passar o aniversário com eles? É claro que naquele ano ela estaria ocupada também!

—Entendo, feh, foi mal… — ele já começava a se afastar.

—Mas… — a voz de Kagome o deteve — Não tenho nada marcado para o domingo depois do meu aniversário.

::FIM DA CENA EXTRA::


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Notas finais do capítulo

O conto ao qual Sesshoumaru se refere no inicio do capítulo fala sobre uma tennyo (mulher divina) que ao vir banhar-se na terra junto de suas companheiras, teve suas vestes divinas roubadas por um homem e por isso não conseguiu voltar para o céu, esse homem escondeu suas roupas e a pediu em casamento, mas anos depois ela encontrou as roupas e voltou para o céu, abandonando para sempre o marido e os filhos... Eu nunca entendi porque isso é visto como uma história trágica de amor, porque para mim sempre esteve mais para uma história de sequestro e carcere -.o



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