In your dreams escrita por JM


Capítulo 4
IV - Lost Stars


Notas iniciais do capítulo

Oii oii pessoas!
Espero que estejam bem!
Aqui está um novo capitulo, ficou meio grande, mas está bem especial, então espero muito que vocês gostem!

Obrigaaada a minha linda amiga Cath Locksley Mills e a Edilene Queen pelos comentarios no capitulo anterior, muito obrigada pelo carinho!

Sem mais delongas, vamos ao capitulo!
Boa leitura!



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Então...você está bem?— Robin perguntou, agora encarando a parede branca e vazia de seu apartamento. Desde que haviam sido interrompidos por Daniel, ele não conseguia mais enxergar o que ela estava vendo, como se a interrupção tivesse selado algum tipo de passagem que anteriormente se encontrava livre.

A voz de Regina chegou a sua mente um pouco baixa, como se a moça temesse suas próprias palavras: - Acho que sim....estou bem. Daniel é apenas um pouco....- ela não terminou de falar, como se tivesse se arrependido das palavras antes mesmo de pronuncia-las.

Regina? O que aconteceu? Porque parou de falar? Aconteceu alguma coisa?

—---

As palavras de Robin chegaram a sua mente, explodindo feito bombas. A verdade é que ela não tinha respostas para nenhuma daquelas perguntas.

Nada havia acontecido para justificar a interrupção em sua fala, e, no entanto, era como se houvesse uma barreira, algo que a impedia de falar exatamente o que estava pensando, o que estava sentindo. Permaneceu em silencio por um momento, tentando encontrar as palavras certas, que insistiam em lhe escapar entre os dedos feito um punhado de grãos de areia.

A verdade, e ela se deu conta disso alguns instantes depois, é que não queria falar de Daniel para Robin. Não queria contar a ela como seu marido era protetor e controlador com relação a ela. Não queria falar sobre como se sentia presa naquela casa enorme, feito um belo e raro pássaro enclausurado em uma gaiola feita de ouro.

Aquela nunca fora a vida que ela pedira, ou a que teria escolhido se em algum momento tivesse tido poder de escolha. Não, aquela fora a vida que o destino lhe reservara, sem nunca ter lhe perguntado absolutamente nada.

Enquanto pensava nisso, a morena se deu conta de que não estava pronta para contar nada daquilo a Robin. Não queria que ele soubesse logo de cara, quando se conheciam a menos de quatro horas, o quão fraca e cheia de cicatrizes ela era. Queria que ele tivesse a melhor impressão possível. O mais louco de tudo, é que em nenhum momento passou por sua mente o por que de querer impressiona-lo, de querer esconder seus monstros de alguém que estava a quilômetros de distancia, simplesmente sentia, sem a necessidade de explicações racionais.

— Não, não Robin. Não aconteceu nada... eu só, não estou com vontade de conversar sobre este assunto. Tudo bem se falássemos sobre outra coisa?— perguntou, sua voz soando ligeiramente atropelada por conta da ansiedade que sentia.

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Não se preocupe milady, é claro que podemos mudar de assunto. Sobre o que quer conversar?— o loiro respondeu, fazendo o máximo que podia para que suas palavras soassem confiantes e alegres, tentando transparecer que não havia percebido o quanto ela ficara desconfortável com aquele assunto, o quanto ela ficara nervosa quando falou do marido...

Esforçou-se para fazer com que ela visse que não havia problema no fato de ela não querer falar sobre o assunto. Afinal, tinham acabado de se conhecer, e era mais do que natural que ela tivesse coisas sobre as quais ela não se sentia a vontade para conversar com ele.

— Eu não sei...acho que estou me sentindo um pouco atordoada com toda essa historia de conversas mentais, nunca pensei que algo assim pudesse acontecer comigo.

Sei como está se sentindo. Essa historia é realmente muito maluca, mas até que tem seu lado divertido, não acha?— perguntou o loiro, repentinamente com medo de que aquelas conversas fosse muito para a cabeça de Regina a ponto de ela decidir que não iria mais responder, que decidisse que não iria mais conversar com ele...

Concordo com você, é realmente divertido conversar com alguém dentro de minha cabeça e ter certeza de que não estou ficando louca.  Ao menos não desta vez. — a estas palavras, Robin sentiu todo o seu corpo relaxar, um certo alivio invadindo seu coração.

Ainda assim, uma centelha de preocupação se reacendendo em sua mente. O que será que ela quisera dizer com “ao menos desta vez”?

Antes que conseguisse formular uma pergunta sobre isso, entretanto, a voz de Regina voltou a soar dentro de sua cabeça, aparentemente tentando mudar o foco da conversa para um assunto mais leve: - Então...com o que você trabalha?

—--

Regina se amaldiçoou por ter dito aquelas palavras. Estava tentando mudar de assunto e acabara por mencionar seu período de tormenta, a época em que sua vida perdera todas as cores, sobrando apenas um branco intenso...O que ela estava pensando? Aquela frase só iria servir para aumentar a curiosidade de Robin, quando tudo que ela queria era não ter que falar sobre assuntos delicados.

Buscando evitar perguntas sobre a ultima frase que dissera, perguntou a primeira coisa que veio a sua cabeça, em uma tentativa falha de que ele se esquecesse das ultimas palavras que ela dissera.

Por alguns segundos Robin permaneceu em silencio, como se estivesse escolhendo o que iria dizer. Uma pergunta tão simples e inocente como aquela parecia tê-lo perturbado, fazendo com que ela começasse a imaginar o que estaria acontecendo com seu interlocutor...

Trabalho em uma pequena firma de arquitetura, mas meu sonho era ter me tornado um pintor. Quando eu era mais jovem, as pessoas diziam que eu tinha talento....— as palavras dele soaram pesadas, carregadas de ressentimento e frustração.

Por que você desistiu se era o que você gostava de fazer? Se tinha talento?— perguntou, sem conseguir conter sua curiosidade.

—--

A pergunta não surpreendeu a Robin, que abriu um fraco sorriso ao perceber a curiosidade que emanava das palavras da mulher. Não fazia muito tempo que eles se conheciam, mas ele não precisara de muito para perceber que a curiosidade era uma de suas características mais marcantes.

Desviando seus pensamentos de sua interlocutora, concentrou-se na pergunta que ela havia feito. A verdade era que, assim como Regina tinha assuntos sobre os quais não queria falar, ele também tinha seus monstros particulares, e a razão pela qual havia desistido de seu sonho com certeza era um deles.

Digamos que a vida às vezes nos leva por caminhos que não escolhemos para nós...há determinadas situações em que precisamos abdicar de nossos sonhos, de nossas próprias vontades, para cuidar das pessoas que amamos...

—--

Quando ouviu as palavras de seu interlocutor, Regina teve certeza de que aquela não era nem um terço da verdade, que havia muito mais por trás daquela desistência do que aquilo que Robin estava lhe contando.

Mas assim como ele respeitara a sua vontade de permanecer em silencio sobre determinados assuntos, ela tinha que agir da mesma forma. Devia se mostrar compreensiva com Robin assim como ele havia sido com ela.

Eu entendo...as vezes tomamos decisões que privilegiam outras pessoas que não nós mesmos. Mas estas decisões não nos tornam fracos Robin, muito pelo contrario, elas nos tornam mais fortes.

Ela não sabia muito bem porque havia dito aquilo. Talvez porque sentira a tristeza na voz dele quando falara de seu sonho perdido e quisesse conforta-lo, fazer com que ele se sentisse melhor.

Sentiu uma necessidade absurda de estar perto dele, de poder abraça-lo, conforta-lo, dizer a ele que não havia problema nenhum em desistir, que esta escolha não o tornava fraco, não o diminuía. Mais do que tudo, desejava garantir-lhe que tudo iria ficar bem.

Sabia muito bem como Robin se sentia. Também havia desistido de muita coisa durante sua vida, e tinha plena consciência do tipo de ferida que este tipo de escolha causava nas pessoas. Era como se a pessoa deixasse um pedacinho de si para trás a cada vez que abdicava de algo que amava.

—---

As palavras da mulher tiveram um efeito calmante no coração do loiro, que não pela primeira vez naquela noite, se perguntou como aquilo era possível. Como uma estranha, de quem ele nunca vira nem a cor dos olhos, podia ser tão compreensiva? Como Regina podia entendê-lo tão bem, quando sua própria família e sua esposa insistiam em coloca-lo pra baixo, exaltando suas fraquezas a cada oportunidade que tinham?!

Obrigado pelo apoio milady. As pessoas não costumam ser tão compreensivas...geralmente me julgam por ter desistido. Obrigado por tentar me entender.

Você não tem que agradecer nada. Também fez de tudo para tentar me entender, o mínimo que posso fazer é agir da mesma forma. Além do mais, sei muito bem como as pessoas podem ser más quando querem, especialmente aquelas que dizem nos amar.

—------------

Regina abriu os olhos, dando de cara com a prateleira repleta de livros, a claridade do aposento incomodando seus olhos desacostumados.

Um momento de confusão se passou, durante o qual ela tentou entender o que estava fazendo ali na sala de leitura, ao invés de estar em seu quarto. Flashs da noite anterior começaram a surgir em sua mente, como peças de um intrincado quebra-cabeça.

Recordou-se dos encantadores oceanos azuis que vira em seu sonho. Lembrou-se de não ter conseguido mais dormir e de ir a sala de leitura, em busca de algo que a distraísse.....foi então que todo o restante da noite voltou a sua mente, como um forte clarão.

Robin. Será que toda aquela conversa por pensamentos fora real? Ou será que não passara de um sonho, ou pior ainda, de um indicio de loucura? Lembrou-se das palavras que haviam trocado na noite anterior. Primeiro sobre frustrações e desistências, mas depois sobre assuntos banais, como comida favorita e programas de tv que os dois gostavam...a cada pergunta, descobrindo um pouquinho mais um sobre o outro.

Abriu um leve sorriso ao se lembrar como achara engraçado quando ele lhe contara que adorava assistir desenhos animados e novelas, estas ultimas, por influencia de sua avó, com quem ele passara grande parte da adolescência e inicio da vida adulta...aquela conversa não podia ser apenas a sua imaginação solitária lhe pregando uma peça, poderia?

Com aquele pensamento rondando sua mente como um parasita, levantou-se da poltrona na qual havia adormecido sentindo as costas e os ombros doerem por conta da posição desconfortável em que se mantivera por tantas horas.

Não aguentando mais de ansiedade, e vendo que sua mente permanecia em silencio, como se seu interlocutor nunca tivesse estado ali, decidiu testar sua triste teoria e chamou por ele: - Robin? Você está ai?

Geralmente iniciamos uma conversa com “bom-dia” milady, é mais educado sabia? — a voz dele chegou aos seus ouvidos em um tom brincalhão, que não escondia a alegria que ele sentia.

Bom dia Robin, tudo bem?— ela retrucou, utilizando o mesmo tom brincalhão que ele empregara, não podendo deixar de rir ao perceber o tom de cumplicidade que haviam adquirido um com o outro em poucas horas de conversa. Era como se conhecessem a muitos e muitos anos.

Agora está tudo ótimo. Estava começando a me preocupar, pensando que nossa conversa de ontem a noite tivesse sido tudo coisa da minha cabeça....mas ai você me chamou de volta a superfície da razão. Tenho boas noticias milady: não estou enlouquecendo.

Essa é realmente uma ótima noticia para começar o dia. Por que significa que também não estou ficando maluca.— as risadas dos dois ecoaram em suas mentes, fazendo com que seus corações se aquecessem.

Já tomou café?

Ainda não...vou descer agora para ver o que encontro na cozinha....- respondeu a morena, que sentiu seu estomago roncar, gritando por comida, agora que haviam tocado no assunto.

Com essas palavras, a morena saiu da sala de leitura e desceu a longa escadaria até o andar de baixo, rumando para a cozinha. Chegando lá, procurou nos armários por algo bom para o café da manhã, mas tudo que encontrou foi uma caixa de cereal e um pote de danone.

Ótimo. Só tem cereal e danone. Não vou conseguir saciar o alien que vive na minha barriga só com isso, parece que não como há dias.

Você não deveria estar reclamando sabia? Tudo que consegui encontrar aqui em casa é café puro....

Ok. Você venceu no quesito de café da manhã magro e insuficiente....cuidado pra não passar mal por não ter comido, não tem como eu chamar uma ambulância que vá do Kansas a Nova York.

Qual será o meu premio por ter vencido?— a risada de Robin ecoou por seus ouvidos, fazendo com que ela risse também, o que fez com que ela se engasgasse com a colherada de cereal que acabara de por na boca, o que por sua vez ocasionou um acesso de tosse horrível.

Regina? Você está bem? Acho que sou em quem vai ter que chamar uma ambulância de Nove York até o Kansas não é?— continuou Robin, dividido entre a preocupação e a risada.

—---

— Do que você está rindo a essa hora da manhã Robin? O que há de tão engraçado em ter apenas café puro para o café da manha? – a voz irritada e arrastada de Marian chegou aos ouvidos do loiro, que instantaneamente murchou o sorriso que estava em seu rosto desde a noite anterior.

Já há algum tempo que a esposa exercia esse tipo de efeito em sua vida, como se alguém que joga sal em uma terra fértil, impedindo-a de florescer, de gerar frutos. Era como se aquele jeito rabugento e maldoso de Marian tivesse aos poucos minado o sentimento que ele tinha por ela, até que restara apenas a mera tolerância.

— Não estou rindo de nada Marian, nada. – o loiro respondeu, tentando ao máximo ser agradável com ela, buscando evitar que ela estragasse seu bom humor.

— Você agora deu pra ficar rindo sem motivo é? Só me faltava essa...daqui a pouco vai sair por ai falando sozinho, cheio de amigos imaginários....olha Robin, se você pirar de vez, não vou pagar médico nenhum pra você, esta me entendendo? Não vou gastar o pouco dinheiro que tenho com você....- a mulher continuou a alfineta-lo, tentando a todo custo irritar o marido, de quem ela já não suportava a presença.

Cansado de ouvir as lamurias de Marian, Robin simplesmente lhe deu as costas e saiu porta a fora, caminhando em direção à firma onde trabalhava. Enquanto andava, sentia todos os músculos de seu corpo reclamarem, doloridos por conta da noite mal dormida.

Assim que fechara a porta de casa, voltou a falar com Regina, preocupado com a reação dela a aquela pequena, porém recorrente, discussão matinal. – Regina? Você está ai? Não ouviu essas besteiras de Marian, ouviu?

Estou aqui Robin. Estava me recuperando do acesso de tosse, e também preferir não conversar com você enquanto vocês discutiam, achei que só iria atrapalhar. Quem é Marian?

—---

A verdade era que a vontade de Regina era dizer a Robin tudo que achara dessa tal Marian, dizer que não gostara dela, logo de cara. Parecia uma mulher de jeitos e palavras mesquinhos, que ficava feliz em agredir os outros com seu veneno. Mas achou que era melhor ficar calada. Robin também não comentara nada sobre suas impressões com relação a Daniel, e ela também não tinha o direito de falar nada sobre aquela moça, não sabia nada sobre ela; talvez estivesse apenas tendo um dia ruim.

Por isso, resolveu guardar as suas próprias impressões e considerações apenas para si, se limitando a saciar sua curiosidade a respeito de que tipo de relação aquela mulher mantinha com Robin.

Marian é... é praticamente minha ex-mulher. Não estamos divorciados oficialmente, mas é como se estivéssemos. Nossa relação piora a cada dia, e sinceramente, não sei como conseguimos viver na mesma casa sem a explodirmos. Ela não era assim sabe? Costumava ser uma pessoa doce e alegre, mas o tempo e a falta de dinheiro a transformaram. Ela se tornou uma pessoa amargurada, infeliz.

Se a relação de vocês tem uma relação tão ruim quanto a que acabei de presenciar, por que continua casado? O que te prende a ela Robin?— perguntou a morena, sem conseguir conter uma pontada de ciúme (que ela não fazia ideia de onde tinha saído) em sua voz.

A verdade é que não sei a resposta para essas perguntas Regina. Não sei mesmo. Comodismo? Culpa? Uma mistura dos dois? Fato é que de certa forma me sinto responsável por ela, grande parte da frustração e da amargura de Marian é minha culpa entende? Ela me culpa por não ter uma vida boa, por não poder comprar o que deseja na hora que bem entende...

Você não pode carregar o peso da vida de alguém nas suas costas Robin...ela também tem participação em tudo que aconteceu na vida de vocês, seja bom ou ruim, uma relação é construída a partir de duas pessoas, não de uma única. Marian também tem sua cota de responsabilidade pelo casamento de vocês tenha chegado no ponto em que está. Você não pode se culpar deste jeito...

Eu sei que você tem razão, mas ainda assim me sinto responsável sabe? Fico pensando que se eu tivesse agido de outra forma nada disso teria acontecido...tudo poderia ter sido diferente Regina, mas não foi.

—--------------

A noite havia caído, as estrelas substituindo o brilho do sol na função de iluminar o dia. Robin e Regina estavam deitados, cada um em sua respetiva cama, encarando tetos brancos e conversando por seus pensamentos, como haviam feito o dia todo, cada palavra parecendo intensificar ainda mais a ligação que os unia.

Você passa muito tempo sozinha nesta casa, não é Regina? Ode está Daniel, não o vimos o dia inteiro...- perguntou o loiro, de certa forma preocupado com o estado solitário no qual sua interlocutora vivia.

Durante todo aquele dia, um acompanhara a vida do outro, desta vez ambos conseguiam enxergar a realidade na qual o outro estava imerso....Regina havia acompanhado Robin em seu dia de trabalho, observando-o elaborar projetos e tomar decisões, enquanto ele acompanhara o dia dela, que não fora nem de longe tão agitado quanto o dele.

Tudo que Regina fizera fora ir ao supermercado para abastecer a geladeira, passado em uma livraria para achar algo novo para ler e voltar para casa, onde passou o resto do dia, em uma imensidão solitária, tendo apenas a voz de Robin como companhia.

Ele deve estar trabalhando. A vida dele é aquele hospital. Esta casa, mesmo com todo o seu esplendor, não passa de um lugar no qual ele aparece quando tem vontade, e eu, bom, há muito tempo que me tornei apenas um troféu, que ele exibe em jantares importantes.— ao ouvir a voz dela ressoando em seus ouvidos, não pode deixar de notar o quanto ela se ressentia com isso, o quanto se sentia mal por ser tratada daquela forma.

Você merece coisa melhor que isso. Por que continua com ele quando é nítido que não está feliz? – falou demostrando preocupação com o que ela havia dito.— Vou repetir a pergunta que você me fez hoje de manha: o que te prende a ele?

Acho que minha resposta para esta pergunta será, de certo modo, parecida com a que você me deu hoje de manhã. De certa forma, me sinto em divida com Daniel...ele esteve comigo no momento em que eu mais precisei, me apoiou, me ajudou a levantar do chão. Não se trata mais de amor, mas sim de puro carinho e gratidão....

Depois daquela resposta, o silencio se fez presente entre os dois pela primeira vez naquele dia. Um silêncio carregado de perguntas, de questionamentos e indagações, mas sem nenhuma resposta satisfatória.

O sono chegou aos dois sorrateiro, cobrindo-os com seu manto negro sem que se dessem conta do que estava acontecendo. Antes que se entregassem aos bocejos e aos olhos pesados, ambos quebraram o silencio que predominava, ouvindo a voz um do outro pela ultima vez antes de escorregarem para o mundo dos sonhos.

Boa noite Regina.

Boa noite Robin.

—----------------

“A chuva caia sobre minha pele, perfurando-a como se eu estivesse sendo picado por centenas de mosquitos. Apesar de estar encharcado até os ossos, e de sentir meu corpo tremer, não me importei com isso, e continue seguindo meu caminho. Precisava chegar ao castelo o mais rápido que pudesse.

Corri uma pequena distancia, finalmente conseguindo divisar os portões do palácio através da chuva que embaçava minha visão. Meu coração estava acelerado e dolorido, como se pressentisse algo de ruim. Eu não costumava prestar atenção a este tipo de presságio, mas daquela vez era diferente, alguma coisa estava errada.

Depois de percorrer mais uma centena de metros, consegui por fim, chegar ao meu destino, e esmurrei o portão de madeira para que me deixassem passar. O vigia que estava de guarda saiu de seu posto com uma cara de poucos amigos, enraivecido por eu o ter tirado de seu posto protegido do temporal.

— O que o senhor deseja? – perguntou, com uma voz que revelava muito sobre o seu estado de espirito, que beirava a exasperação e a raiva.

— Preciso entrar no castelo. Agora! É urgente! – falei. Embora eu não tivesse nenhum motivo real para ter saído naquele temporal para ir ao castelo, não tinha nada de concreto, apenas um pressentimento ruim, uma urgência em vê-la, saber que ela estava bem, que estava segura; precisava que o vigia acreditasse em sua urgência, para que o deixasse passar sem muitas perguntas.

— Est não é um bom momento para visitas, não acha? Está caindo um temporal...o senhor deveria estar abrigado em algum lugar ao invés de sair por ai correndo na chuva, essa é uma atitude altamente imprudente, sabia? – continuou o vigia, com uma voz de falsa preocupação que só conseguiu me irritar. Ele estava me fazendo perder tempo. E se ela estivesse em perigo real?

— Então deixe que eu me abrigue no castelo! Ande logo com isso, a Rainha não vai ficar nada contente em saber que você me deixou parado aqui na chuva, sabia? – tentei novamente, tentando convencê-lo usando o temor que ele sentia por sua senhora.

— E posso saber quem exatamente é o senhor? – ele retrucou, de forma insolente, que só fez com que minha angustia aumentasse.

Sem paciência para explicações longas, simplesmente tirei um papel do bolso interno de minhas vestes e lhe entreguei, torcendo para que a chuva não o danificasse muito. Fora um presente dela, uma espécie de salvo – conduto, que me permitia ir e vir por todos os quatro cantos do reino, inclusive para entrar e sair do castelo.

O guarda correu os olhos pelo papel e o devolveu a mim, abrindo a porta de acesso, aparentemente envergonhado de suas atitudes para dizer qualquer coisa. Passei por ele e segui em direção a monumental construção que se erguia de trás da construção, minha angústia aumentando a cada segundo que passava.

Subi as escadas de dois em dois degraus, sem dar atenção a algumas pessoas que haviam me dirigido a palavra. Quando finalmente cheguei ao andar onde ficavam seus aposentos, estava sem ar, minha respiração dolorida pelo esforço de subir todos aqueles lances de escada. Cheguei à porta de seu quarto e bati com os nós dos dedos, esperando do fundo do coração que ela estivesse ali, que estivesse bem.

Durante alguns aterrorizantes segundos, o mundo todo pareceu parar, na expectativa para o que iria acontecer em seguida. Por um momento, tudo que consegui ouvir foram as marteladas de meu coração desesperado, que irracionalmente rezava para que não fosse tarde demais.

Então a porta se abriu, e lá estava ela, encarando-me com uma expressão de surpresa no rosto e um largo sorriso em seus lábios. – O que está fazendo aqui? Não esperava uma visita sua hoje, mas não posso negar que adorei a surpresa. – disse, me puxando pela mão e fechando a porta atrás de nós.

Quando escutei o “clic” da maçaneta se fechando, virei-me para vê-la melhor, ter certeza de que estava bem, confirmar que meu pressentimento ruim não passara disso, uma sensação ruim sem explicação ou fundamento, mas não tive tempo para executar o que planejara. Antes que eu pudesse fazer ou dizer qualquer coisa, ela cobriu a pouca distancia que nos separava, abraçando-me com força.

— Senti sua falta. – sussurrou contra meu ouvido, apertando ainda mais o abraço, como se quisesse nos fundir um ao outro.

— Eu também. Precisava te ver, ter certeza de que estava bem. – respondi, enterrando minha cabeça entre seus cabelos sedosos, desejando ardorosamente que o tempo parasse naquele momento, que pudéssemos viver aquele abraço para sempre, incontáveis vezes sem fim....

— Shhh....estou bem querido, não precisa se preocupar...- falou, libertando-se de meu abraço e passando uma de suas mãos por meu rosto em um gesto delicado, que demonstrava um carinho extremo.

— Não sei o que deu em mim. Simplesmente senti que precisava estar com você, que algo grave iria te acontecer. Fiquei com medo, nunca tinha sentido isso antes...não sei o que eu faria se algo ruim te acontecesse. – soltei, despejando em palavras toda angustia que estava guardando para mim desde o momento em que saíra de casa para ir ao encontro dela.

Ela não respondeu, apenas aproximou mais seu rosto do meu, fazendo com que nossas respirações se misturassem. A dela calma, a minha acelerada. Encontrei o seu olhar, meu coração se aquecendo ao ver o quanto de amor havia naqueles maravilhosos olhos castanhos....

A pouca distancia que ainda nos separava foi superada, nossos lábios se unindo em um beijo terno, cheio de amor. O que começou como um beijo calmo e terno foi ganhando intensidade, aos poucos se tornando um beijo ardente, carregado de paixão.

Puxei-a para mais perto de mim, uma de minhas mãos em sua cintura e a outra presa em seus cabelos. Por um momento permanecemos assim, perdidos um no outro, duas pessoas que se tornavam um único coração.

Até que a porta se abriu com violência, quebrando nosso momento em milhões de pedacinhos com o som do impacto da porta na parede, feito um estrondo de canhão.

— Ah, mas olhe só eu momento mais bonito! Que coisa mais romântica!  Você realmente é patética sabia? Não conseguiu me manter preso a você então se rebaixou a condição de enamorada de um ladrão desqualificado... você realmente não vale os vestidos caros que veste, me arrisco a dizer que não vale nem a água pura e boa que você bebe. Sua imunda!

Os gritos de Daniel, um dos cavalariços do reino, ecoaram pelo aposento, fazendo com que ela se soltasse de mim e se virasse para encara-lo, os olhos faiscando de raiva. – O que está fazendo aqui, Daniel? O que te faz pensar que tem o direito de entrar aqui desta forma? Vá embora, suma daqui de uma vez, ou vou garantir que você apodreça em uma masmorra.

— Ora, ora, mas o que é isso, quanta falta de gentileza com alguém que você usou e abusou quando lhe deu vontade não Senhora? Agora que você tem um novo brinquedinho não precisa mais de mim não é? – o bafo de bebida chegou as minhas narinas, e eu tive certeza de que ela havia bebido muito antes de decidir ir até ali.

— Não fale do que não sabe! – a voz dela se alterou tanto quanto a dele, os olhos se enchendo de lágrimas, que eu não conseguia distinguir se eram de raiva ou tristeza.

— Posso tira-lo daqui agora mesmo se quiser. – falei, virando-me para olhar pra ela.

Antes de responder, ela entrelaçou seus dedos nos meus, buscando neste conforto e forças para lidar com aquela desconfortável situação. Apertei sua mão e tentei ao máximo passar tranquilidade e confiança, tentando dizer por meio de um gesto, tudo que eu queria dizer em palavras: - Está tudo bem meu amor, vai ficar tudo bem.

— Não precisa querido, Daniel já está de saída. Não está Daniel? – respondeu, virando-se novamente para encarar nosso indesejável convidado.

Ele, por sua vez, nada respondeu, e virou-se, parecendo estar decidido a ir embora, a nos deixar em paz. Talvez o efeito da bebida estivesse começando a passar e ele tivesse caído em si, tomado consciência da besteira que havia feito.

Ela virou-se de volta para mim, abraçando-me novamente. – Obrigada por estar aqui, meu amor. Não sei como teria sido esse encontro maluco se eu estivesse sozinha. Ele está simplesmente descontrolado....

— Não se preocupe, eu vou sempre estar aqui para você. Fique calma esta bem? Vou garantir que ele nunca mais volte a lhe importunar. – respondi, afastando-me do abraço e colando minha testa na dela. Pela segunda vez naquela noite, o tempo pareceu congelar, e eu desejei que pudesse ficar ali para sempre, enfeitiçado por seus olhos castanhos....

— Eu te amo. – ela formou as palavras sem que os sons saíssem de sua boca, uma de minhas mãos ainda segurando a dela, enquanto a outra passeava por seu rosto, como se eu tentasse decorar cada traço dele, grava-lo em minha memória.

Nenhum de nós dois se deu conta que Daniel havia refeito seu passos e se aproximado novamente, um olhar desvairado dançando em seus olhos negros. – Você vai me pagar por tudo que me fez, alteza! – foram as palavras dele, que novamente quebraram nosso encanto e nos fez virar em sua direção, de modo que acabamos ficando de frente para ele.

Tudo aconteceu muito rápido, rápido demais para que eu sequer conseguisse pensar em reagir. Em um segundo, estávamos perdidos um no olhar do outro, no seguinte, Daniel veio pra cima dela com uma faca cumprida e afiada, um facão de açougue, enterrando-a direto no coração dela.

O grito que ela deu ecoou por todo o aposento, exprimindo surpresa e agonia. Ela tombou, suas pernas fraquejando por conta do choque a da dor excruciante que eu tinha certeza que ela estava sentindo. Amparei-a pela cintura, impedindo que ela desabasse no chão.

— Calma meu amor, vai ficar tudo bem. Você vai ficar bem, eu prometo. Shhhh....calma.. – falei, tentando ser forte por nós dois, tentando ao máximo tranquiliza-la, dizer que não era nada grave, que logo ela estaria bem.

Peguei-a nos braços, sentindo que a estava perdendo, que a vida dela estava se esvaindo, e que eu nada podia fazer para salva-la. Coloquei-a com cuidado na cama, apoiando sua cabeça em algumas almofadas que estavam por ali.

— Meu anjo, olha pra mim. – comecei, falando com a voz mais calma e suave que consegui, em meio a todo o caos que nossa vida se tornara nos últimos segundos. Aproximei meu rosto do dela, sentindo sua respiração falha e descompassada. – preciso que você seja forte está bem? Preciso que aguente firme, que fique comigo, você faz isso por mim? – a cada palavra que eu dizia, sentia que ela estava cada vez mais distante, perdendo a consciência rapidamente, e esta constatação me desesperava. Não podia perdê-la, simplesmente não iria aguentar.

— Vou tirar essa faca maldita de você está bem? Isso vai doer um pouco, mas preciso que você permaneça acordada tudo bem? Apenas fique comigo, eu prometo que vou fazer isso o mais rápido que conseguir.

Quando ela fez um leve movimento de concordância, segurei uma de suas mãos, e com a outra puxei a faca que estava enterrada em seu coração, fazendo com que ela saísse por completo de uma única vez. Quando terminei, virei-me para encara-la, e vi que a pouca cor que lhe restava havia sumido. Ela estava muito pálida, seu corpo todo tremendo por conta de um suor frio.

Nossos olhares se encontraram uma ultima vez, refletindo todas as palavras que não haviam sido ditas entre nós, todo o amor que nos unia. E então, com um ultimo aperto em minha mão que ainda estava entrelaçada a sua, ela desfaleceu, a vida deixando seu corpo como se houvesse sido carregada pelo vento.

Um imenso vazio se instalou em mim, nada mais fazia sentido, nada mais importava. Peguei o corpo desfalecido e gritei, gritei para que ela voltasse pra mim, para que aguentasse apenas por mais um instante. Chorei, deixando que as lágrimas fluíssem por meu rosto como as gotas de chuva haviam feito....sussurrei seu nome por horas a fio....esperando que por algum milagre eu a tivesse de volta.”


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Notas finais do capítulo

E então?? Gostaram?
Deixem sua opinião pra eu saber como estou indo e o que vcs esperam da história blz?
Beijoooos



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