In your dreams escrita por JM


Capítulo 2
II - Reality


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!

Como este capitulo já estava pronto, resolvi postar ele também, assim vocês tem um gostinho do que está vindo pela frente, hahaha

Espero de verdade que vocês gostem!



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Robin se levantou sentindo seus ossos estalarem, a cabeça girando como se ele estivesse à noite toda preso em um gira-gira. Levantou-se devagar, tentando não fazer barulho para não despertar a mulher que dormia profundamente ao seu lado.

Parou ao lado da cama por um momento, observando Marian dormir, se perguntando o que estava acontecendo, como sua vida havia tomado aquele rumo. Mas infelizmente, não conseguiu chegar a nenhuma resposta satisfatória, como sempre.

Enquanto estava ali de pé, lutando com seus monstros particulares, toda a discussão da noite anterior voltou a sua mente, como uma bomba que terminara a contagem regressiva e explodira.

Os gritos e as ofensas ditas na noite anterior o atingiram com força, fazendo com que a angustia que vinha sentindo desde que despertara se apertasse ainda mais em seu coração. Marian o chamara de fraco, dissera que ele não tinha ambição, que não queria uma lutar por uma vida melhor, que se conformava com pouco. Gritara a uma altura que o fez ter certeza que todo o prédio o havia escutado: - Você é uma decepção Robin! Uma sombra do homem com quem me casei? O que aconteceu com você, como se tornou essa criatura sem tempero, sem graça alguma? Não sei quanto tempo vou aguentar viver assim, não sei mesmo! – Foram as palavras dela, antes que lhe desse as costas e batesse a porta do quarto.

Robin só havia se arriscado a voltar ao quarto que dividia com a esposa muitas horas depois, ainda atordoado com tudo que havia sido dito entre eles. A verdade é que sua esposa tinha razão. Ele não era mais o mesmo, a vida o havia transformado, tirado tudo que lhe era mais precioso, largando-o em um barco sem remos no meio da atordoada tempestade que era sua vida.

Perdas e decepções o haviam moldado, e Marian....bem, ela também não era mais a mesma. Quando a olhava nos olhos não encontrava mais a gentileza e o amor que antes eram seus hóspedes, vendo em seu lugar apenas desprezo e repulsa.

Há muito tempo que a relação deles havia degringolado, passando de um namoro e inicio de casamento feliz e cheio de sentimento para uma realidade de puro comodismo, onde um apenas tolerava a presença do outro, sem nenhum tipo de cumplicidade ou paixão.

Esta era a mais pura verdade. Ele e Marian não viviam um casamento, tratava-se apenas de hábito. Estavam acostumados um ao outro, simples assim. Apesar disto, no entanto, sua relação havia piorado consideravelmente de algum tempo pra cá.

As brigas se tornavam cada vez mais constantes, discussões por motivos bobos se tornavam grandes batalhas para decidir quem teria mais folego para discutir, uma luta para ver quem venceria, e ele já não aguentava mais viver assim. Sentia-se cansado, cansado demais para continuar lutando por um casamento fracassado...

Com estes pensamentos, o loiro deixou o quarto, e caminhou até a sala de seu apartamento, sentando-se no sofá com a cabeça apoiada nas mãos, a angustia formando uma bola que se prendeu a sua garganta. Sentia-se sufocado, simplesmente não conseguia entender o que estava acontecendo consigo mesmo, qual era o motivo daquela sensação, o que o estava deixando com o coração tão apertado...

Um lampejo do sonho no qual estivera emerso voltou a sua mente, olhos castanhos e doces, uma visão que, sem que ele soubesse por que, aqueceu coração. Recostando-se no sofá, fechou os olhos tentando inutilmente retornar ao sonho perdido, mas não teve sucesso. Tudo que conseguiu foi continuar a fitar aqueles lindos olhos castanhos, imaginando a quem pertenceriam...

—---

Regina sentia que estava girando, girando e girando, perdida naquela imensidão azul que invadira sua mente desde que despertara. A quem pertenceriam? E por que simplesmente não conseguia tira-los de sua mente?

Parecia que conhecia aqueles olhos, como se eles a muito tempo lhe pertencessem...mas aquilo não era possível. Ela não se lembrava de conhecer ninguém com aqueles olhos, e tinha certeza que não os teria esquecido se algum dia os tivesse visto.

Mesmo depois de longos minutos deitada ali, seu coração permanecia acelerado e dolorido, como se algum pedaço dele estivesse faltando...

Ela fechou os olhos novamente, buscando retornar para o sonho, mas não conseguiu, e quando os reabriu, voltou a encarar o teto branco de seu quarto. Branco. Ela passara a detestar aquela cor, desde que ela passara a ser a única cor que ela viu durante aqueles longos três meses de tormenta.

Desistindo da tentativa de voltar a dormir, ela se levantou da cama e deixou o quarto, sem nem ao menos olhar para trás, sabia que estava sozinha. Como sempre, Daniel ainda não havia voltado, deveria estar no hospital, cuidando de seus pacientes com distúrbios psiquiátricos. Sim, ele devia estar lá cuidando daquelas pessoas com as quais ele insistia em compara-la, dizendo que ela tinha uma mente fraca, que inspirava cuidados, remédios e tratamentos....

Até um certo ponto, ela chegara a concordar com ele, principalmente após a perda que haviam sofrido, sabia que havia ficado ligeiramente perturbada, presa em sua tristeza....mas agora sentia-se melhor, sentia que aos poucos retomava as rédeas de sua mente e de sua vida....por que então ele ainda a tratava feito um bibelô prestes a se espatifar? Por que insistia em ve-la como uma pessoa doente quando ela tinha certeza de que estava bem?

Estas eram perguntas para as quais ela infelizmente não conseguia encontrar respostas, por mais que se esforçasse, não conseguia entender o que estava acontecendo com sua vida, com seu casamento.

Caminhou até a cozinha daquela casa enorme, que ela nunca pedira para ter e abriu a geladeira, seus olhos vasculhando-a a procura de algo para comer. Não conseguiu encontrar nada que a agradasse, então pegou apenas uma jarra de água, encheu um copo até a metade e refez seus passos, chegando ao único lugar no qual se sentia a vontade dentro daquela mansão enorme, sua sala de leitura.

Não a chamava de biblioteca por que não chegava aos pés das bibliotecas que visitara na infância, acompanhada de seu pai. Aquelas eram bibliotecas enormes, povoadas de prateleiras e mais prateleiras de histórias para serem descobertas....enquanto sua humilde sala de leitura possuía apenas duas estantes, uma completa e a outra com uma metade ainda por preencher. Ainda que modesta, aquela pequena saleta era seu lugar favorito, era seu refugio, o lugar onde podia ser ela mesma, sem reprimendas, sem protocolos a seguir....

Aproximou-se da prateleira que estava preenchida por completo e escolheu um volume ao acaso, buscando um pouco de conforto com aquelas páginas gastas de tanto terem sido lidas e relidas, procurando algo que distraísse sua mente da angustia e da falta inexplicável que sentia.

Sentou-se em uma das poltronas que havia no aposento, apoiando suas costas no largo encosto do assento, em uma posição confortável para ler. Acendeu a luminária que estava em uma mesinha ao lado da poltrona, e abriu o livro em uma página aleatória, já conhecia bem demais aquela história para que começasse a ler do começo.

—---

 “Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar.”

A frase brotou sob os olhos de Robin, que apenas a encarou, surpreso e perdido. O que estava acontecendo? De onde estava vendo aquelas palavras? Pareciam de um livro, era como se ele estivesse com um livro aberto em seu colo, como se ele mesmo estivesse lendo, mas isso não era possível. Não tinha nenhum livro em suas mãos, e mesmo que tivesse, tinha certeza de que nunca vira aquelas palavras antes, não conhecia aquela história.

Sentia-se perdido, era com se estivesse em duas realidades distintas, a sua, sentado no sofá de seu apartamento sem nenhum livro nas mãos, e aquela outra, em que encarava as palavras escritas em tinta preta, lendo e relendo aquele trecho de livro, como se ele resumisse sua própria vida.

— O que está acontecendo comigo? – pensou, preocupando-se de que poderia estar sofrendo de algum surto psicótico ou algo do tipo, temendo que finalmente estivesse sucumbindo à loucura.

—---

Regina passou os olhos por aquele trecho por incontáveis vezes durante os últimos minutos, pensando o quanto aquelas palavras faziam parte de sua vida, talvez bem mais do que ela gostaria de admitir.

As palavras de “O caçador de Pipas” se gravando em sua mente, fazendo-a rememorar momentos de sua vida que ela jurara enterrar, esquecer, fingir que nunca haviam acontecido, mas sem nunca ter conseguido fazer com que sumissem por completo.

Sua releitura foi, no entanto interrompida de forma brusca, quando um pensamento que não era seu invadiu sua mente, em uma voz melodiosa e forte, que por uma fração de segundo ela jurou reconhecer: “O que está acontecendo comigo?”.


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Notas finais do capítulo

Sei que está curtinho, mas este é um capitulo muito relevante para o desenrolar da historia.
Deixem um olá e me digam o que estão achando ok?

Beijooos



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