O Legado escrita por Luna


Capítulo 86
Capítulo 85




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Você está na borda, no limite do equilíbrio

E o destino pode cair sobre você

Enquanto o diabo está batendo

Então todos vocês estão inquietos, em cada noite que vocês ouvem os tambores da guerra.

— Valerie Broussard

 

Era a última noite no castelo, logo após o café eles estariam dentro do trem partindo para casa. Parecia que o Natal tinha sido há pouco tempo e não meses atrás. Tanto havia mudado e tantas outras coisas continuavam exatamente as mesmas que era difícil acompanhar.

A noite estava incomumente quente e o céu estrelado, era fácil identificar as constelações e suas estrelas favoritas, não que ela estivesse apreciando a beleza do céu. Naquele pequeno momento Freya estava apreciando apenas a solidão e o silêncio, em alguns minutos ela estaria rodeada de pessoas, seus amigos, e teria uma incontável quantidade de vozes soando ao mesmo tempo, uma querendo ser mais alta que a outra para se fazer ser ouvida.

Ela não poderia demorar muito, logo os outros a estariam procurando e então ficariam preocupados com seu sumiço e exagerariam na atenção dirigida a ela. Freya estava tão cheia da forma cuidadosa como todos a tratavam, da pena incrustada em seus olhos, como se ela fosse uma boneca frágil demais.

Ela ouviu o som de cascos e só uma pessoa – ou criatura – poderia fazer esse som, mesmo assim não se virou.

— Está uma noite muito tranquila. — Firenze parou ao lado dela, tão alto que ela teria que erguer a cabeça para olhá-lo.

Firenze tinha olhos azuis estrelados, se é que existia tal cor, mas era assim que ela pensava quando olhava em seus olhos, sentia que ele passou tantos anos encarando as estrelas que conseguiu roubar o seu brilho. Seu cabelo louro-prateado caia por cima de seu ombro, lisos e com aparência sedosa, o seu corpo de cavalo tinha a pelagem dourada, não da cor de seu cabelo e sua cauda branca e bela balançava com o vento suave que os atingia.

Freya não tinha nada para dizer, mas sentia que não precisava dizer nada a ele. Estranhamente ela sentia a mesma coisa quando estava na companhia de Arwen.

— Tivemos meses de paz, onde o mal se escondeu. — Sua voz retumbava. — Mas não devemos nos enganar, ele está a espreita, esperando por seu momento de vitória.

— Por que está dizendo isso para mim, professor? – Freya virou-se para ele, mas Firenze olhava para o céu e permaneceu assim por mais algum tempo antes de baixar sua cabeça e encará-la com seus olhos de estrelas.

— Não conseguimos mais ver Alambil, a senhora da Paz. Ela esconde-se de nossos olhos. Isso significa guerra, dor e morte.

Freya olhou para o céu, seus olhos humanos captavam apenas o brilho perolado das estrelas, ela nunca deu a atenção que devia para adivinhação, mesmo depois de tudo.

— Isso significa que perderemos?

— Todos perdem em uma guerra, alguns perdem mais do que outros. — Ele estreitou os olhos para ela, queria transmitir algo com o gesto, algo que não poderia dizer com palavras, mas a menina estava determinada a não ver. Ela não queria saber e ele achou que ela estava em seu direito. — O jantar será servido em instantes, seus amigos a esperam.

Então a deixou lá, com um enigma na cabeça e um peso em seu coração.

 

— Você tem certeza? — Hermione rodava o anel no seu dedo enquanto esperava pela resposta.

— Tanto quanto eu possa ter. — O auror desviou os olhos da mulher e encarou o homem em pé ao lado da cadeira dela. — Meus espiões estão por todo o país seguindo todos os suspeitos e até agora os Nott não fizeram qualquer movimento que possa ser considerado criminoso.

— Nem mesmo Sebastian? — Eric perguntou.

— Ele tem encontrado velhos amigos, mas não podemos prender ninguém por esse motivo.

— Obrigada. Você pode sair agora.

O homem fez uma mensura na direção dela e mal deu um olhar para Eric antes de se dirigir a lareira, ninguém mais sabia que ele visitava a Chefe do DELM regularmente.

— Isso não significa nada. — Eric se jogou na cadeira que antes fora ocupada pelo auror. — Ele poderia estar tramando na sala ao lado e ainda assim não saberíamos. Ele conseguiu se livrar em duas guerras.

— Você não ia jantar com Dominique e as crianças hoje? — Hermione perguntou, querendo fazer desaparecer a ruga de preocupação na testa dele, mas isso só fez com que ela piorasse.

— É sempre pior quando eles estão aqui, fico imaginando vários cenários em que os dois acabam morrendo, sendo eu incapaz de protegê-los. Pelo menos em Hogwarts sei que estão seguros.

— Sua casa é tão segura quanto a minha, a de Gui e Harry. Nada vai conseguir passar pelas barreiras a menos que você permita. Sua lareira está protegida, aparate dentro da proteção da casa e ninguém poderá segui-lo, use chaves de portal exclusivas e protegidas, como Dominique ensinou. Tudo ficará bem, Eric.

Não importava quantas vezes ele tivesse aquele tipo de conversa com Hermione e ela tentasse tranquiliza-lo, sempre tinha aquela sensação de que estava sendo vigiado, de perigo constante e seus anos vivendo com sua família tinham lhe ensinado a não ignorar essa sensação. Sabia que ela era real, sabia que o perigo estava atrás de cada parede e ele não seria pego desprevenido.

A sensação de urgência nunca passava, em suas horas no trabalho sua mente sempre estava desviada pensando nos seus irmãos, no que eles estavam fazendo, se eles estariam se colocando em perigo de alguma forma. Apenas quando estava em casa, a alguns passos deles, sabendo exatamente onde cada um estava poderia de fato relaxar, ou relaxar o suficiente para fechar os olhos e respirar tranquilamente.

Aparatou diretamente na soleira da porta e proferindo o encanto silencioso as proteções permitiram que ele entrasse. Uma música suave chegava até ele na entrada, largou o casaco no cabide e foi adentrando sua casa, o som vinha da sala, mas não havia ninguém lá, no entanto havia vozes alegres na cozinha.

Dominique estava descalça, vestindo uma calça de tecido leve e suéter Weasley, Tim estava bem ao seu lado mexendo uma panela e rindo de algo que ela tinha acabado de falar, Nicholas lia um livro de receitas sentado em uma cadeira alta perto do refrigerador, sabia que o irmão estava inconformado por ser tão ruim na cozinha, enquanto Timothy se mostrava muito bom, aprendendo tudo que Domi poderia ensinar.

— Eric! — Nicholas foi o primeiro a vê-lo, largando o livro em cima da cadeira e indo até ele.

— Como foi seu dia? – Ele sempre perguntava aquele tipo de coisa, sabia que eles não tinham nada realmente de interessante para fazer em casa, mas gostava de mostrar que se importava.

— Tentei fazer torta de maça, mas deu tudo errado. – Nick fez um muxoxo e foi impossível para Eric não rir.

— Tenho certeza que já terá conseguido fazer algo quando voltar para Hogwarts. – Ele bagunçou o cabelo do irmão e foi andando para perto do fogão.

— E você? – Tim era ainda quem mais lhe preocupava, tão arredio quanto podia ser.

— As mesmas coisas de sempre. Dominique está me ensinando a fazer molho para o macarrão. Prove. — Ele tirou a colher que mexia e estendeu para Eric.

— Está muito bom, Tim.

Domi sorriu e estendeu o rosto para receber um beijo. Eric disse que iria se trocar para o jantar e saiu os deixando na cozinha. Aquela vida que eles estavam construindo era quase fácil, ele poderia se imaginar vivendo exatamente aquele dia por vários e vários anos, até que os irmãos se formassem e quisessem sair de casa, mas ele e Dominique ainda estariam ali para recebê-los, talvez um jantar de família aos domingos.

Ele poderia sonhar um pouco, ele poderia se deixar devanear e imaginar uma vida sem perigos e ameaças, onde ele chegaria do trabalho e encontraria os irmãos e a namorada cozinhando o jantar, ele não estaria angustiado e não temeria por eles. Mas claro isso era apenas um sonho, na realidade o perigo estava dentro da sua casa, ao lado dos seus irmãos, rindo, inconsciente de que sua mente havia sido invadida e seu livre arbítrio roubado de si.


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