Segundos do Coração escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Capítulo postado, espero que gostem e façam boa leitura.
Beijos e abraços!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713561/chapter/15

Capítulo 15 - Freyre

Ninguém esperava por mim na fazendo, não tinha falado com Ana nos últimos dois dias e tinha sido uma longa viagem de carro até lá.

Apollo revezou o volante com Brian, não falaram muito por todo caminho, nem mesmo Corbin que tinha sido arrastado sem muita explicação pelos irmãos tentou quebrar o silencio no carro.

Eu mentalmente agradeci por me deixarem sozinha com meus pensamentos fodidos. Sentia tanta coisa em meu peito que queria simplesmente gritar alto e forte para tudo ir embora antes de explodir como uma bomba.

Ela estava viva por todos esses anos, era inacreditável e cruel. Eu a odiava mais que tudo nesse mundo, sua mentira estraçalhou meu coração de uma forma irreparável, não podia nem suportar o fato que mantive contato com ela por todos esses anos mesmo não tendo conhecimento sobre sua verdadeira identidade.

Tobias tinha implorada para que eu e seus filhos ficassem, mas antes que a decisão fosse tomada por mim já havia sido feita por Apollo muito antes. Ele estava nervoso, dava para ver isso a cada momento em que seus dedos apertavam com força o volante, Brian dava um leve tapa em seu ombro como se tentasse o acalmar.

Vez ou outra eu explicava o caminho, mas não precisei de muito já que o carro tinha GPS. Quando chegamos já se passava das onze da noite, cansados e famintos, mas o simples fato de comer me fazia querer vomitar só de nervoso.

Como anfitriã, sou a primeira a descer do carro. Meu coração bateu mais forte enquanto fico parada olhando para minha casa, tinha se passado um pouco mais de dois meses desde que havia ido para casa de Tobias, mas esse pouco tempo pareciam anos para mim.

Eu senti tanta falta daquele lugar que só por estar de volta, de alguma forma, me sentia mais aliviada, mas mesmo ali não podia consertar o enorme estrago em minha vida e não odiei mais o destino por ter me tirado meu pai naquele ano.

Meu pai, o homem incrível que foi abandonado por aquela mulher que pensava apenas em si mesma, e ele mesmo assim com seu coração de ouro permitiu que ela mantivesse contato comigo por todos esses anos.

Eu entendia agora porque ele nunca falou com ela ou respondia suas cartas, ou até mesmo porque nunca me deixou visitá-la, meu pai estava apenas tentando me salvar daquele veneno que era ela.

— Freyre? – Amy tem o rosto pálido quando abre a porta da casa e me vê parada nos degraus junto aos meninos. – O que está acontecendo? O que está fazendo aqui?

— Olá Amy. – Cumprimento tristemente, pigarreando forte. – Esses são Apollo, Brian e Corbin, filhos de Tobias. Creio que eles vão passar algum tempo aqui conosco.

Amy me encara com a pergunta chave escrita em seu rosto, mas antes que possa respondê-la um rosto muito familiar chega na porta, com um enorme e inocente sorriso passando por sua mãe e vindo direto para meus braços.

— Você está de volta! – Ana grita em meus ouvidos. – Eu nem posso acreditar, senti tanto a sua falta!

— Eu também senti a sua. – Seguro a respiração para controlar as lágrimas. – De todos vocês.

Me afasto de Ana e vejo que ela também segurava o choro com os olhos brilhando.

— Apollo, Brian e Corbin. – Apresento a ela. Os meninos estavam assustadoramente silenciosos. – Essa é Ana, minha melhor amiga.

— Prazer Ana. – Apollo aperta sua mão e depois segura minha cintura, pela primeira vez me tocando.

— Sestra sempre fala de você. – Diz Brian para ela.

— Espero que bem. – Ana fala com um sorriso tímido.

Corbin apenas acena para ela com um sorriso tímido e aperta a mão de Amy, sabia que era difícil para ele tantas apresentações em poucos minutos.

— Vamos entrar – Chama Amy apontando para a casa. – e arrumar camas e comida, vocês devem estar com fome.

Entro com Apollo ainda segurando minha cintura e Ana acompanha nossos movimentos, sabia que ela estava louca para fazer todas as perguntas que rodavam sua cabeça, Ana não era muito de segurar a língua assim como eu, aquele esforço certamente estava a matando.

Olho para todos os cantos procurando por alguma mudança mas a casa era a mesma, tudo no mesmo lugar como eu e meu pai sempre a mantivemos. Nossa casa era muito diferente de todas as outras da região, sempre procurávamos nos manter na ‘’moda’’ com a decoração, por fora a casa podia parecer ser apenas uma casa de uma fazendo comum e antiga, mas por dentro era incrível e meu pai sempre se orgulhava disso.

Na enorme sala de estar tinha uma televisão de plasma de parede, dois sofás bege e marrom claro cheio de almofadas com um criado mudo do lado portando um abajur, e a mesa de centro era baixa e larga com um vaso cheio de flores, para ser mais exata, cheio de delicadas jasmins, que Amy sempre colhia e as colocava ali, todos os dias.

A escada que tinha por dentro não era tão larga como na casa de Tobias, era mais estreita e todas de madeira escura com um corrimão detalhado, Amy se certificava que a casa sempre estaria limpa e brilhando.

Entramos na cozinha e nos sentamos em volta da enorme mesa de madeira, ela era um único item naquela área que meu pai nunca quis se desfazer, a mesa pertencia a minha vó paterna que a ganhou como presente de casamento, era uma lembrança para ele. Era grande, com oito cadeiras que ele mandou ‘’reformar’’ colocando um estofado no centro de cada acento.

— Amy querida, de quem é...?

Jorge entra com a respiração pesada na cozinha, as palavras somem de sua boca quando ele me vê.

— Tifu? – Ele me questiona e Ana dá uma risadinha. – O que você está fazendo aqui criança?

Me levanto e corro para seus braços, Jorge era a pessoa mais paterna que eu tinha depois de meu pai. Ele e Amy me viram crescer e cuidaram de mim quando meu pai não podia, eles de certa forma eram também meus pais.

— Longa história velhote. – Me afasto e então me lembro do motivo por qual estava ali. – Mas creio que você e Amy tem consciência sobre ela.

Amy vem até nós com os lábios franzidos e secando a mão em um pano.

— Do que você está falando, querida? – Amy pergunta.

Engulo em seco e me afasto para olhar bem para eles, para sentir o peso que minhas próximas palavras causariam neles, dava para sentir a tensão de todos.

— Vocês sabiam durante todo esse tempo, não é? – Pergunto um pouco alto, sentindo a raiva me atingir novamente. – Sabiam que minha mãe está viva?!

                                      Apollo

Eu sabia que ela quebraria, e vi isso acontecer quando a acusação saiu de sua boca seguida por suas palavras. Minhas mãos estavam fechadas em punhos sobre a mesa, Brian mantinha a cabeça baixa como se participar daquele momento fosse errado.

Eu também sentia isso, mas não deixaria Freyre sozinha.

— Do que ela está falando? – Ana, sua amiga, pergunta para mim e a cabeça de Corbin vira instantaneamente para mim também.

Tinha certeza que Corbin nos seguiria aonde quer que fossemos, ainda mais que o assunto envolvesse Freyre, mas agora ele também queria resposta.

— Deixem ela falar, vocês vão entender. – Murmuro calando os dois.

Freyre mantinha as mãos presas na lateral do corpo, dava para ver como ela estava tremendo.

— Não sabiam? – Pergunta novamente.

Vi os lábios da mulher tremer, e seu marido logo colocou a mão em seu ombro tentando a conforta-la.

— Tifu... – Jorge tenta pegar a mão de Freyre mas ela se afasta rapidamente.

— Por favor, apenas responda. – Ela pede com a voz rouca e chorosa, me fazendo querer ir até ela e pegá-la em meus braços. – Eu preciso tanto que alguém me fale a verdade pela primeira vez, pelo menos uma única vez!

Amy puxa Freyre para seus braços sem responder, a abraçando forte, como uma mãe deveria fazer.

— Sabíamos, querida. – Responde com a voz tremula. – Não espero que entenda o motivo pelo qual escondemos isso de você, mas tenho que te pedir para entender que prometemos que nunca tocaríamos no assunto perto de você ou com você, seu pai não suportava o nome dela dentro desta casa.

Ao dizer isso o rosto de Amy franze como se ao menos mencionar a mãe dela fosse horrível.

— Nós também sabíamos que um dia você descobria, Tifu, sempre falamos isso para o Seu Matthew. – Jorge diz tristemente, apertando o chapéu que usava na frente do corpo. – Ele foi muito severo sobre o assunto, e então um dia, ele disse que não precisávamos nos preocupar com isso porque se por acaso ele não estivesse mais aqui, ela sabia o que fazer para que você soubesse.

— Parece que ele estava certo afinal. – Freyre responde secamente, se afastando dos braços de Amy.

Naquele momento eu me senti cruel em relação ao meu pai, Brian me olhou de esguio e soube que ele também estava pensando sobre isso.

Não foi só meu pai que manteve o assunto em segredo, mas também Amy, Jorge e o principalmente o pai de Freyre. Não foi justo o que fizemos com ele quando saímos de nossa casa, não quando eu olhava para Amy e Jorge eu sentia tudo, menos raiva.

Eu até mesmo compreendia a dor que aquela revelação estava trazendo sobre eles.

Ana se levanta arrastando a cadeira para trás, quase a derrubando e abraça Freyre, e quando olha para seus pais pude ver que ela estava sentindo a mesma coisa que eu e Brian sentimos mais cedo.

— Não acredito que tiveram coragem de manter algo assim em segredo! – Ela atira sobre os pais. – Eu não acredito que fui enganada por todo esse tempo sobre o tipo de pessoas que meus pais eram.

Amy e Jorge olham para ela como se aquilo fosse a coisa mais dolorosa que ela poderia ter dito a eles.

— Você não sabe da missa nem a metade, mocinha! – A mãe adverte, dando um passo para frente, mas logo a mão de Jorge segura seu braço. – Se soubesse o tipo de mãe que a mãe de Freyre é, agradeceria por ter ‘’esse tipo’’ aqui como mãe!

Freyre deixa um soluço alto escapar e Amy prende a respiração.

— Eu sinto muito por isso, querida, realmente não queria ter dito isso.

— Você está certa, – Freyre fala secando as lágrimas. – ela nunca foi uma mãe de verdade, que tipo de mãe abandona uma criança para fugir com o amante?

— O tipo monstro. – Corbin surpreende respondendo.

Freyre olha para ele com carinho e ele tem sua brecha para se levantar e abraçá-la, e não demora para todos nós estamos em sua volta. Brian a aperta firme e promete que ficará ao lado dele para o que precisar.

— Venha se sentar comigo, lobinha. – Eu falo em seu ouvido, abraçando sua cintura. – Você precisa comer e dormir, amanhã é outro dia.

Freyre levanta seus olhos até o meu e coloca ambas mãos em meu rosto, ela tenta sorrir para mim mesmo com os olhos brilhando cheios de lagrimas, beijo sua testa e coloco a minha contra a sua, suspirando.

— Ligue para seu pai, Apollo. – Ela sussurra, nós erámos os únicos ainda parados no mesmo lugar, mas era apenas eu e ela agora. – Ligue para ele e diga que estamos bem, ele não é o verdadeiro culpado nesta história.

Seco suas lágrimas e beijo suavemente seus lábios antes de sair para fora da casa novamente, discando o número do meu pai.

— Apollo, graças a Deus, filho! – Meu pai suspira no celular. – Estava tão preocupado com vocês!

— Pai, estamos bem. – Digo sentindo a culpa me atingir. – Sinto muito por ter colocado tudo sobre você.

— Vocês estavam certo em boa parte, filho. – Ele murmura com a voz abafada. – Freyre já sofreu demais.

Olho para porta da frente que bate quando Brian sai para fora.

— É o pai? – Pergunta e eu concordo. – Dá aqui esse celular.

Passo para ele, mesmo estando com um pé atrás sobre as coisas que ele poderia dizer ao nosso pai, Brian não estava sendo ele mesmo nos últimos dias.

— Pai? Sim, estamos bem, mas me escuta. – Brian pede calmamente. – Não vamos para escola ou voltar para casa por algum tempo, Freyre precisa estar aqui agora então espero que entenda isso.

Brian ouve a resposta de meu pai e eu dou um sorriso orgulhoso para meu irmão.

— Sim pai, você pode vim até aqui, traga mais roupas para nós três. – Ele volta a dizer. – Ah, e deixe o diretor da escola saber sobre nosso afastamento. Vou passar para ele.

Brian me passa o celular e diz vai voltar para dentro novamente.

— Você acha que foi coisa da mãe de Freyre ela aparecer assim nos arquivos do advogado dela? – Pergunto nervoso.

— Sim, Apollo, foi coisa dela, mas Freyre pode ficar tranquila sobre isso, Elisabeth não tem nenhum direito sobre a fazenda. – Meu pai responde e diz mais firme. – Nenhum.

— Mas...? – Questiono.

— Mas eu posso dizer que ela vai querer conhecer a filha depois de anos, desde que agora ela sabe sobre a verdade.

— Freyre nunca vai querer isso. – Afirmo nervoso.

— Claro que não, mas isso não vai impedir que ela voe até aqui, e até que isso aconteça vamos cuidar de Freyre para que ela esteja preparada para isso.

— Nós vamos. – Concordo. – Ela é da família agora, e família protege família.

— Sempre, filho. – Meu pai diz, parecendo mais calmo. – Estou orgulhoso de você, Apollo.

Desligo o celular, encostando contra meu carro cheio de poeira, mas isso pouco me importava.

Tudo que me importava estava a poucos passos de mim, dentro daquela casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Segundos do Coração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.