TWD - Terceira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 9
Seis e Meio


Notas iniciais do capítulo

"Pensei que você estava morta."



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Durante todo o trajeto, eu me mantive em silêncio, gravando todo o caminho que estávamos fazendo, para saber como voltaríamos. Mas no meio do caminho, Merle tampou meus olhos e a partir daí, só pude ouvir.

Escutei o momento em que chegamos, escutei vozes desconhecidas quando estava sendo empurrada, escutei os múrmuros dos meus amigos e os grunhidos deles.

Estávamos ferrados.

Meus olhos só foram destampados após eu ser amarrada em uma cadeira. A primeira coisa que fiz ao poder ver novamente, foi olhar onde eu estava. Era uma sala pequena e os únicos móveis eram a cadeira onde eu estava amarrada, uma mesa logo a minha frente e outra cadeira, vazia.

Onde estava Glenn e Maggie?

Passou longos minutos até eu ouvir algo, uma conversa, as vozes ficaram mais altas e pararam, antes de eu ver a maçaneta da única porta da sala se mexer e então, a porta se abriu, mostrando duas figuras masculinas. 

Meu coração pareceu sair da boca quando vi um velho conhecido ali, vestido como um civil. Sam Anderson estava acompanhado de um homem latino e se calou ao me ver ali, amarrada na cadeira.

— O Merle estava certo. – O latino desconhecido comentou, olhando em minha direção – A mulher é gostosa. Acha que fazia parte daquele grupo de militares que encontramos a uns dias atrás?

Meu estomago revirou com aquele comentário e ao fundo, escutei um grito de Merle e parecia que ele estava querendo saber onde morávamos.

— Vou bater um papo com ela. – Sam anunciou, ao ver que eu estava prestes a abrir a boca, enquanto alternava meu olhar deles para a parede, onde o grito de Merle tinha vindo – Sozinho.

O homem latino lançou para Sam um sorriso sacana e se afastou, levantando as mãos. Assim que meu antigo amigo entrou na sala, fechou a porta atrás de si.

— Me solte. – Falei baixo, porém firme – Agora.

— Não posso fazer isso, Chefe. – Sam me disse, caminhando em minha direção e cautelosamente se encostou na mesa, perto de onde eu estava sentada – Harris está com você?

— Ele não está com você? – Retornei à pergunta, olhando fixamente para o rosto dele, mas desviei o olhar quando escutei um grito de Glenn

— Pensei que você estava morta. – Sam disse baixo

— Não é hora pra isso! – Grunhi, olhando para ele novamente, estava nervosa e a esse ponto, não estava me importando de reencontrar um velho amigo, a única coisa que me interessava era o bem-estar da minha família, a qual estava presa em algum lugar perto de mim – Meu melhor amigo está sendo interrogado por um maníaco, você tem que me soltar.

— Já disse que não posso fazer isso. – Sam falou num resmungo e se aproximou de mim – Você não sabe pelo que eu passei durante todo esse tempo, essas pessoas... – Ele mordeu os lábios e respirou fundo, enquanto olhava intensamente para os meus olhos – Vou achar um momento apropriado para te tirar daqui, Gabi, mas agora estão todos alvoroçados...

— Que grupo de militares vocês encontraram? – Perguntei em um sussurro, olhando para ele – O que aconteceu?

— Um massacre. – Ele me respondeu, no mesmo tom de voz – Não pude fazer nada, eles não sabem quem eu sou, não sabem que sou militar, se soubessem, estariam me excluindo de reuniões importantes. – Sam olhou para a tatuagem ranger que eu tinha no braço e respirou fundo – Tinha esperanças de que Harris estivesse com você, a última vez que o vi foi quando nos separamos para ele ir te procurar. Mas vê-la viva me dá esperanças de que ele também está vivo, em algum lugar.

Passos estavam se aproximando e isso fez com que Sam adotasse outra postura, uma postura esnobe e fria. A porta se abriu e uma figura de um homem apareceu, estava bem vestido e limpo. Não parecia que sujava as mãos com trabalhos.

— Sam, o que faz aqui? – O homem perguntou olhando diretamente para ele e crispou os lábios – Achei que tinha dito para deixar ela comigo.

— Só queria ver com meus próprios olhos a mulher que Merle dizia ter deixado ele algemado em Atlanta. – Sam lhe respondeu logo em seguida e me lançou um olhar de desprezo

O homem aceitou sua resposta e fechou a porta atrás de si, antes de caminhar em minha direção. Eu o vi fechar tirar uma faca do bolso e me preparei psicologicamente para ser ferida, mas fiquei perplexa quando o vi cortar as amarras que me prendiam a cadeira.

Tinha alguma coisa errada.

Sam saiu de perto de mim ao notar o olhar do homem e se encostou na parede, perto da porta. O homem se distanciou de mim e deu meia volta na mesa, e assim que chegou a única cadeira vaga da sala, me olhou.

— Posso me sentar? – Ele me perguntou, seu tom de voz havia mudado e agora estava sereno, como se aquela situação fosse normal

— A casa é sua. – Eu lhe disse, massageando meus pulsos – Sente-se onde bem entender.

Ele sorriu para mim e se sentou, aproximou a cadeira da mesa e apoiou juntou as mãos em cima da mesa de metal.

— Soube que você normalmente é a líder quando saem em grupos pequenos, como este. – Ele me contou, olhando para os meus olhos – Vamos levar vocês até os seus amigos e explicaremos que foi um mal-entendido. Mas para isso acontecer, preciso saber onde eles estão.

— Você acha que eu sou ingênua? – Perguntei logo em seguida, olhando para os seus olhos – Eu costumava fazer interrogações, amigo, sei como as coisas funcionam. Agora, pode trazer Merle Dixon até aqui? 

— É melhor cooperar, vocês não estão em uma boa posição aqui. – O homem me disse, sem tirar o sorriso dos lábios – Pelo que sabemos, vocês são pessoas perigosas. Algemaram um dos meus homens em um prédio e ele foi forçado a amputar a própria mão.

— Algo tinha que ser feito. – Comentei friamente, cruzando os braços em baixo dos peitos – Ele era um perigo para ele mesmo.

— Olhe, basta dizer onde eles estão e o traremos até aqui. – O homem me disse, estava ignorando o que eu estava falando – Prometo que você e seus amigos ficarão bem.

— Pensei em ter escutado você dizer que nos levaria até eles, não que os trariam até aqui. – Eu lhe disse, retornando seu sorriso – Aprenda a mentir melhor, camarada.

Do outro lado da sala, Sam se remexeu incomodado, mas não prestei muita atenção no que ele estava fazendo, pois, meu olhar estava atento ao homem sentado na minha frente.

— Vamos tentar outra coisa. – O homem disse de forma impaciente – Quero que se levante, Gabriela. – Assim que escutou um riso sarcástico sair da minha boca, ele se inclinou na mesa, sério – Fique de pé ou farei com seus amigos a mesma coisa que fez com o Merle. – Ele sorriu novamente, ao ver o efeito daquelas palavras sobre mim e continuou, assim que me levantei lentamente – Agora tire sua camiseta.

— Senhor, não acho que...

Sam parou de falar assim que o homem levantou a mão, pedindo com que ele se calasse e me olhou intensamente, acho que queria ver até onde eu iria para salvar meus amigos.

Respirei fundo e tirei a minha camiseta camuflada e dei graças a deus que hoje eu estava usando sutiã e por isso, coloquei a camiseta em cima da mesa, com tranquilidade.

— Por que parou? – O homem me perguntou, erguendo uma sobrancelha

Evitando olhar para Sam, levei minhas mãos até minhas costas e abri o feixe do sutiã. Tirei e o coloquei em cima da mesa, perto da minha camiseta.

— Agora vamos ver o que Glenn e Maggie acham disso. – Ele disse se levantando e assim que veio até mim, cobri meus peitos com as minhas mãos, o olhando com desprezo – Sam, abra a porta.

Ainda com a pose esnobe, Sam abriu a porta e depois saiu, esperando o homem do lado de fora. O cara desconhecido segurou um dos meus braços e me puxou para andar ao seu lado. Assim que chegamos ao lado de fora, encontramos Merle e o homem latino de antes, encostados na parede, conversando entre si e rindo.

— Sabia que tinha belas curvas, Gabriela. – Merle disse, assim que nos notou

— É, mas não olhe muito. – Eu lhe disse, crispando os lábios – Daryl geralmente não gosta de homens encarando a mulher dele.

Merle franziu as sobrancelhas e me olhou curioso, assim que juntou as peças, abriu um pouco a boca, surpreso pela novidade.

É cara, você é meu cunhado.

Imbecil.

— Deixem essa conversa para depois. – O homem que estava me segurando lhes disse e apertou meu braço – Abram a porta.

— É pra já, Governador.

Após o homem latino abrir a porta, o tal de Governador me arrastou para dentro da sala e lá, meu coração quase parou com que eu vi. Glenn estava coberto por sangue, machucado e segurava o braço de uma cadeira como arma. Logo atrás dele, encolhida, estava Maggie.

Os dois me olharam.

— Está tudo bem. – Anunciei, assim que vi que meu amigo coreano deu um passo em nossa direção – Glenn, eu estou bem.

— Chega de jogos. – O Governador nos disse, apertando novamente o meu braço e tirou sua pistola do coldre – Agora um de vocês falará sobre o seu acampamento.

— Sem chance. – As palavras saíram facilmente da minha boca – Pra você saquear o lugar? Não.

— Não estou brincando.

Ele apontou a sua arma para a minha cabeça e pude sentir o material de metal roçar em minha testa, mas aí ele me largou e apontou a arma para os meus amigos, alternando a mira.

— Tá! – Falei alto e depressa, pois vi que o dedo dele estava de deslocando para o gatilho – Nós estamos na prisão.

— Perto de Nunez? – Merle me perguntou, logo em seguida

— Ela está infestada. – O Governador me disse, sua voz mostrava descrença

— Nós a tomamos. – Contei, mordendo os lábios

— Em quantos estão? – O Governador voltou a perguntar

— Onze. – Respondi, olhando dele para Glenn – Temos onze pessoas agora.

A cada resposta, parecia com que uma faca estivesse perfurando o meu estomago. Eu estava colocando meus amigos em perigo, mas isso não importava muito agora.

Glenn estava com uma arma apontada para a testa dele.

— Onze pessoas limparam aquela prisão inteira? – O Governador perguntou

— Sabemos o que fazemos. – Lhe contei, endurecendo o tom de voz

O Governador abaixou a arma e se virou, sorrindo. Ele caminhou em minha direção e eu crispei meus lábios, assim que senti sua mão passar suavemente em meu rosto.

— Espere. – Ele disse rindo, assim que tentei me esquivar de seu toque – Está tudo bem, Gabriela. – O Governador disse e em seguida beijou o topo da minha cabeça – Você foi maravilhosa, realmente, maravilhosa.

O Governador me empurrou em direção aos meus amigos e eu os vi saírem da sala, mas não antes de Sam jogar minhas peças de roupas em minha direção, totalmente enfurecido.

Dei as costas aos meus amigos e me vesti, depressa. Assim que coloquei minha última peça de roupa, minha camiseta, senti Maggie me abraçar e logo Glenn se juntou ao abraço, ambos estavam me apertando muito.

Fechei meus olhos, apoiando a cabeça no ombro da minha amiga e chorei baixo, estava com medo e não tinha como esconder isso deles.

O resto da nossa família estava em perigo.

Depois de passar um bom tempo abraçada com eles, nós nos sentamos, encostando nossas costas na parede. Notei que havia um caminhante morto em um canto da sala e isso me deixou mais nervosa ainda. Passei a mão pelo rosto e respirei fundo, tentando pensar em um jeito para nos tirar dali e ao mesmo tempo, torcendo para que Sam não se denunciasse e acabasse morto.

— Gabi. – A voz de Glenn me chamou e eu demorei alguns segundos para olha-lo, pois não gostava do seu tom de voz, era de pena – Ele...

— Não. – Respondi alto, balançando a cabeça negativamente – Ele não me tocou.

— Passamos todo esse tempo fugindo de caminhantes e acabamos esquecendo o que as pessoas fazem. – Maggie murmurou alto, alternando seu olhar entre nós – Olha o que fizeram com a gente...

— A Gabriela estava sozinha, tudo porque Merle achou que ela estava liderando. – Glenn falou crispando os lábios – Não estávamos lá para protege-la.

— Não aconteceu nada, Glenn. – Eu lhe disse firme e me levantei, para caminhar ao redor da sala – Nada pior do que vocês passaram, tenho certeza disso.

— Prometemos ao Daryl que cuidaríamos de você. – Glenn continuou, num tom de voz zangado – E olha o que aconteceu...

— Olhe. – Falei me virando para ele, subitamente – Não me importo com o que aconteceu durante o interrogatório, faria tudo de novo se isso fosse significar que vocês ficariam bem.

Cansado, Glenn passou a mão pelo rosto e se levantou com a ajuda de Maggie. Meio cambaleando, ele caminhou em direção ao caminhante morto e segurou um de seus braços, puxando-o com força até escutar o osso se quebrando e o braço acabar solto em suas mãos. De forma paciente, Glenn tirou o resto de tecido do braço em suas mãos e apoiou o membro no chão, pisando entre a dobra do cotovelo e puxou mais uma vez, quebrando o osso e isso fez com que o osso ficasse amostra. Meio aterrorizada, observei meu amigo arrancar o osso de dentro do braço e entregar para a sua namorada.

Foi aí que eu entendi.

Era nojento, mas era uma arma.

E nós não estávamos dispensando armas.

Me encostei na parede de frente a porta e fiquei ali, observando e esperando algo acontecer. Estava com o coração na mão. Com medo e cansada.

— Acham que já anoiteceu? – Maggie perguntou baixo, quase num sussurro

— Bem provável. – Respondi e respirei fundo, saindo de onde estava e caminhei até eles, me abaixando para lhes contar uma coisa importante, coisa que eles deveriam saber – No CCD, perguntei ao Jenner sobre meus homens, meus soldados e minha família, lembra? – Perguntei a Glenn e continuei, assim que o vi balançar a cabeça positivamente – Um dos homens do Governador era um dos meus melhores amigos e colega de farda. Ele está disposto a nos ajudar a sair e assim que fizer, será considerado traidor. Vamos protege-lo, ele fará parte do grupo.

— Faz muito tempo desde que vocês se falaram pela última vez. – Glenn disse baixo – O que te faz pensar que ele ainda é fiel a você?

— Derramamos sangue um pelo outro, várias vezes. – Contei e depois respirei fundo, antes de continuar – O nome dele é Sam, Sam Anderson. Ele tem a pele morena, olhos escuros e traços latinos. Não ataquem ele.

— Espero que esteja certa em relação a essa cara. – Maggie murmurou

— Shh... – Glenn chiou, colocando o dedo em frente aos lábios – Alguém está vindo.

Eu me levantei e me esgueirei até a porta, ficando ao lado dela e assim que ela se abriu, investi contra a pessoa, fechei meu punho e tentei socar o rosto de Merle, mas assim que ele se esquivou para o lado, acertou um soco em cheio no meu rosto e me empurrou para a parede. O gosto metálico de sangue encheu a minha boca. Ao nosso lado, enquanto eu cuidava o melhor que podia de Merle, Glenn tinha matado um dos homens do Governador e assim que roubou sua arma, disparou em nossa direção, mirando em Merle, mas novamente o caipira mais velho foi esperto e se jogou no chão. Pulei em cima dele e tentei roubar sua pistola, mas logicamente Merle era consideravelmente mais forte do que eu e facilmente me jogou no chão e me imobilizou, usando a lâmina que estava inclusa no metal que usava da mão amputada em meu pescoço.

Glenn estava perto de nós, em pé, apontando a arma do homem morto para Merle e ele não estava brincando.

— Solte-a. – A voz do coreano saiu arrastada

— Tá bom! – Merle disse sorrindo e levantou os braços, me soltando

Logo atrás de Glenn, havia mais dois homens latinos. Sam e o outro ainda desconhecido, o qual estava com Maggie como refém e alternava a mira da arma para ela e o coreano. Notando meu olhar, Glenn olhou para trás e foi surpreendido por Merle, o qual aproveitou a distração e tomou a arma da mão de Glenn.

Grunhi com desgosto e crispei os lábios.

Nada estava dando certo.

Espero que Sam tenha um plano.

— Vamos, cunhada. – Merle disse me olhando – Hora de levantar.

Ele mal me esperou levantar e me puxou pelo braço, de um jeito brusco.

— Eu cuido dessa. – Sam disse olhando para ele, enquanto estendia a mão para me pegar pelo braço

— Não, ela é praticamente da família. – Merle deu risada e me olhou divertidamente – Transando com o meu irmão. Isso me magoou Lopes, pensei que tínhamos algo especial.

— Vamos logo. – O homem latino os apressou

Fiz uma cara de nojo para meu cunhado e ele crispou os lábios, me puxando para andar. Tudo que eu consegui captar foi que Sam estava sendo responsável por Glenn, pois o gosto de sangue na minha boca estava me deixando enjoada.

Céus, eu estava com fome.

Entre empurrões e xingos, voltamos a sala em que estávamos presos e fomos forçados a nos ajoelhar no chão, um do lado do outro.

Sam, se for agir, a hora é agora.

— Que bom que pudemos conversar. – Merle comentou, andando na nossa frente – Estou muito feliz por esse reencontro.

Escutei sussurros entre Glenn e Maggie e logo em seguida tudo ficou escuro e abafado. Iriam nos levar para outro lugar.

— Fiquem de pé. – A voz de Sam soou apressada – Anda!

Alguém segurou o meu braço e me puxou para cima, antes de reagir de algum modo, senti a mão da pessoa segurar gentilmente o meu braço. Era o Sam. Respirei fundo e tentei enxergar entre os pequenos buracos que haviam no saco que estava em minha cabeça, mas a visão era quase nula. Ele me fez virar e ao darmos alguns passos, escutei algo explodir perto de nós. Enquanto escutava um zumbido, o saco que estava na minha cabeça voou com o vento e aí eu pude ver o que estava acontecendo ao redor. Uma nuvem de fumaça branca estava cobrindo grande parte da sala e as pessoas estavam tossindo. Ao sentir Sam largando do meu braço para abanar o ar, o peguei pela mão e a segurei firme. Outra pessoa segurou meu outro braço e me puxou para andar, consequentemente puxando meu amigo comigo. Pela fumaça branca, pude ver Rick me puxando o mais rápido que podia.

Eu era a última para salvar.

Ao sair da sala com a fumaça, Daryl, o qual estava por último apontou a arma para o meu amigo, mas entre tossidas eu lhe contei que Sam era um amigo. Rick nos apressou um pouco mais à frente e ainda segurando a mão de Sam, corri, mantendo meus olhos nas assas de anjo que estavam em minha frente, me guiando.

Os tiros haviam começado.

Ao sair daquele lugar, nos abaixamos, atravessando a rua correndo. Não pude olhar muito ao redor, mas pelo que vi, estávamos em uma comunidade grande.

E havia uma mulher desconhecia entre nós.

— Por aqui. – Rick disse aos sussurros, abrindo a porta de uma das casas próximas – Rápido.

Daryl foi o primeiro a entrar e foi seguido por Maggie, a qual ajudou o namorado machucado e depois de espera-los, entrei, puxando Sam comigo. Rick foi o último a entrar e assim que botou os pés dentro da casa, fechou a porta atrás de si. Glenn caiu no chão, cansado.

Ele estava mil vezes pior do que eu.

— Quem é esse cara? – Rick perguntou, olhando diretamente para Sam

— Meu amigo. – Respondi rápido, para evitar que algo acontecesse com ele, pois sabia como Rick tratava estranhos – O nome dele é Sam e ele era um dos melhores do meu esquadrão. Me responsabilizo por ele.

Aquilo pareceu satisfazer as dúvidas de Rick e ele aceitou, acenando com a cabeça. Daryl voltou até a sala onde estávamos e abaixou a arma, olhando para a minha mão junta com a de Sam e olhou para o meu amigo desconfiado.

— Não há saída lá atrás. – Daryl contou, passando a olhar para Rick

— Rick, como nos encontrou? – Maggie perguntou para ele

— Está muito ferido? – Escutei Rick perguntar à Glenn

— Vou ficar bem. – Glenn lhe disse em resposta

— Por que ainda tá segurando a mão da minha mulher? – Daryl rosnou, andando de um lado para outro enquanto olhava para Sam

— Não é hora pra isso, Daryl! – Resmunguei alto

E então ele olhou para o meu rosto, seus olhos claros passaram o meu corpo para o meu rosto e então o rosto dele se fechou, ele parecia bravo.

— Que porra fizeram com você? – Ele perguntou e caminhou em minha direção, assim que chegou perto, segurou meu rosto com sua mão livre, examinando-o

Soltei a mão de Sam e abracei Daryl, afundando minha cabeça em seu peito e sentindo seu cheiro, algo que eu cheguei a pensar que não sentiria mais.

— E aquela mulher que estava com vocês? – Perguntei, ao me separar de Daryl e dirigi meu olhar para Rick – Não a vi entrar.

— Estava atrás de nós. – Rick resmungou, indo até uma janela e espiou o movimento do lado de fora da casa

— Talvez ela foi vista. – Oscar comentou, olhando para nós, estava meio esperançoso para falar a verdade

— Devo procurá-la? – Daryl perguntou, olhando para Rick

— Não. – Rick respondeu rápido e apontou da minha direção para Maggie e Glenn – Precisamos tirá-los daqui. Ela está por conta própria.

— Querido, o Merle fez isso. – Resolvi contar para ele, já que uma hora ele iria descobrir – Ele fez isso com a gente.

— Você o viu? – Daryl perguntou lentamente, me olhando nos olhos

— Amor, ele arrebentou o Glenn e me deu um soco na cara. – Lhe contei, estava escolhendo as palavras – Eu tenho muita certeza.

— Meu irmão é o Governador? – Daryl perguntou, nos olhando, com as sobrancelhas franzidas

— Não, nem pensar. – Sam respondeu, balançando a cabeça negativamente e isso atraiu a atenção de Daryl para ele – O Merle é um dos tenentes do Governador.

— Ele sabe que estou com vocês? – Daryl perguntou, ignorando Sam

— Sim, ele perguntou de você assim que nos encontrou. – Eu respondi, mordendo os lábios e olhei para Rick, sentindo um nó se formar em minha garganta – Olha, me desculpe, irmão. Eu tive que contar sobre a prisão... O Governador estava com uma arma apontada para o Glenn, não estava brincando...

— Ei. – Rick disse rápido, caminhando até mim e colocou a sua mão em meu ombro – Nada disso, não tem que se desculpar.

Tão rápido que se aproximou, se afastou, para voltar a espiar pela janela.

— Eles virão atrás de nós. – Maggie disse, crispando os lábios

— Nós precisamos voltar. – Rick disse, se virando para olhar Glenn – Você consegue andar? Temos um carro a alguns quilômetros.

— Estou bem. – Glenn murmurou

Caminhei até eles e ajudei Maggie a colocar Glenn de pé, ele estava bem machucado.

— Se Merle está aqui, eu preciso vê-lo! – Daryl falou se aproximando de Rick, estava agitado

— Agora não. – Rick negou, olhando para ele – Estamos em território hostil.

— Ele é meu irmão. – Daryl disse logo em seguida, perplexo – Eu não...

— E veja o que ele fez. – Rick retrucou, apontando para nós – Sequestrou sua mulher, seus amigos. Ele ia executa-los. – Ele respirou fundo e continuou –Precisamos sair daqui, agora.

— Posso conversar com ele. – Daryl insistiu – Fazer um acordo.

— Você não está pensando direito. – Rick disse respirando fundo e olhou para trás, em nossa direção – Não importa o que digam, estão machucados. Glenn mal consegue andar. Como vamos conseguir se formos encurralados por caminhantes e esse Governador nos alcançar? Preciso de você! Está comigo?

Daryl olhou por cima dos ombros de Rick e seus olhos se encontraram com os meus. Parecia que estava tendo uma luta interna.

— Estou. – O caçador respondeu, voltando a olhar para Rick

Sam cruzou a sala e caminhou em minha direção, ele tirou uma pistola do cós da calça e me estendeu. Assim que eu a peguei, vi que ele tinha outra reserva e compartilhou um pouco de balas comigo, as quais ele também deixava soltas em bolsos.

Esse era o meu garoto.

Aprendeu direitinho.

— Bem-vindo de volta, Cabo Anderson. – Eu lhe lancei um dos meus sorrisos calorosos, os quais ele era acostumado a lidar

— É bom estar de volta, Chefe Lopes. – Sam sorriu também, destravando a arma que tinha em mãos

Daryl caminhou até uma mochila e pegou uma granada, com todo o cuidado do mundo, meu namorado tirou o pino e acenou positivamente com a cabeça para Rick.

— Sam, não é? – Rick perguntou ao meu amigo e não esperou uma resposta, pois logo completou – Mantenha-se perto do grupo, proteja nossas costas e protegeremos a sua.

— Pode deixar. – Sam disse em resposta e afirmou com a cabeça

— Então, ok. – Rick disse e respirou fundo, ele foi até a porta e colocou a mão na maçaneta – No três. Aguentem firme.

Ao escutar o número um sair da boca de Rick, apertei a pistola em minhas mãos e arrumei minha postura, bloqueando completamente tudo o que eu estava sentindo e me preparei para a fuga. Quando a porta foi aberta, no três, Daryl jogou a granada de fumaça pela porta e assim que ela explodiu, saímos correndo, meio abaixados.

— LÁ ESTÃO ELES! – Um dos guardas berrou, enquanto apontava uma lanterna em nossa direção

Ao meu lado, Sam não gastou nem cinco segundos de mira e atirou no peito do homem, acertando-o em cheio e lhe derrubando do seu posto de guarda, o ônibus. Instantaneamente, vários tiros ecoaram pelo lugar. Tanto da nossa parte quanto da parte deles. Fazendo o meu melhor, enquanto atirava e seguia meu grupo de perto. Daryl periodicamente se virava para checar o meu estado e uma dessas vezes, ele berrou “Atrás de você”, mas mesmo eu tendo me virado no mesmo instante, meu namorado não arriscou e atirou no homem que estava pegando cobertura em um banco de praça, do nosso lado da calçada.

— Vão! – Rick berrou, estava a poucos passos de distância – Protejam-se!

Seguindo de perto os passos de Rick e atirando quando preciso, corri até um muro e me protegi ali, ao lado do meu grupo.

— Algum de vocês viu quantos são? – Perguntei alto, pois os sons dos tiros abafavam nossas vozes

— Não vi! – Oscar respondeu logo em seguida

— Não importa. Vão chegar mais. – Daryl nos disse, alto – Precisamos ir.

— Sobrou alguma granada? – Rick perguntou, olhando para Daryl e assim que teve um aceno positivo como resposta, continuou – Preparem-nas. Temos que correr até o muro.

Sam se abaixou ao lado de Daryl e o ajudou a tirar as granadas da bolsa e deixarem preparadas. De segundos e segundos, Maggie e eu saíamos da cobertura para atirar em direção a eles, mantendo-os afastados.

— Podem ir. – Daryl disse alto, por causa dos tiros e entregou sua metralhadora para Glenn – Vou atirar para dar cobertura.

— Está louco? Não. – Neguei, olhando-o pegar as granadas nas mãos – Nós temos que ficar juntos.   

— É muito difícil. – Daryl disse logo em seguida – Vou logo depois de vocês.

Antes de argumentar com ele, o escutei perguntar se estávamos prontos e logo em seguida, jogou uma das granadas na rua. Contrariada, arrumei minha postura e apertei a pistola em minhas mãos. Enquanto Maggie e Oscar ajudavam Glenn a andar o mais rápido que podiam, fiquei logo atrás deles, junto com Sam e Rick, atirando nos homens do Governador. Esperei Oscar subir no ônibus que estava encostado no muro e assim que ele ajudou Glenn, empurrei Sam para correr até lá. Quando Glenn e Maggie chegaram ao teto do ônibus, passos na frente de Oscar, eu o vi cair, logo depois de levar um tiro. Com um olhar, mandei Sam subir no ônibus e fui me ajoelhar perto do detento, para ver o estrago. A primeira coisa que vi foi o lugar que tinha levado o tiro, bem no meio da barriga, os olhos dele estavam fechados e pela sua expressão facial, estava com dor.

Céus, eu conhecia muito bem aquela dor.

Glenn gritou meu nome e eu me levantei do chão, apontei minha pistola para a testa de Oscar e atirei, murmurando desculpas.

Ele já estava morto de qualquer modo. 

Era isso que eu continuaria dizendo para me fazer sentir melhor.

Em cima do ônibus, Sam estendeu sua mão em minha direção e assim que eu a peguei, impulsionei meu corpo para cima e esperei com que ele me puxasse. Ao ver a aproximação de Rick, fiz a mesma coisa que Sam havia feito e lhe estendi a mão, o puxando para cima.

Só faltava uma pessoa.

Ele.

— DARYL! – Berrei, chamando seu nome

— VÃO! – Ele berrou em resposta

Quando ameacei pular do ônibus e ir busca-lo, Rick me segurou pelo braço, me arrastando consigo e quase me jogou na rua, na direção contrária em que Daryl estava, por causa das minhas ameaças.

Ameaças a ele, e a quem quer que me levassem para longe do meu caçador.

Assim que meus pés tocaram a rua, a saída, Sam me empurrou para correr, sem ao menos se importar com quem eu estava deixando para trás.

Eles não entendiam.

Só parei de ser empurrada e arrastada perto de trilhos. Rick se abaixou e se esgueirou para detrás de um carro e nos pediu para fazer o mesmo. Ao meu lado, Sam se encolheu quando um flash de luz passou por nós e foi só aí que eu percebi onde estávamos, tínhamos dado a volta pelo muro e caminhado até o portão frontal da cidade do Governador.

Mordi meus lábios enquanto esperava ansiosamente pela chegada de Daryl e meu coração quase parou quando todos nós escutamos passos no mato atrás de nós, seguido por uma respiração pesada. Me virei com grande expectativa e me decepcionei quando me deparei com uma mulher negra, a mesma de hoje mais cedo.

Ela havia voltado.

E estava sozinha.

Ao meu lado, Rick se moveu e foi em sua direção, apontando seu revolver para a mulher e isso a fez dar vários passos para trás, chocando as costas com o trem.

— Onde diabos você estava? – Meu líder perguntou, zangado – Levante as mãos. – A mulher virou as mãos, cheias de sangue - Meia-volta.

Assim que ela se virou, Rick tomou sua arma. Uma fucking espada samurai. Uma espada em bom estado. A luz da lua me ajudou a ver suas características: Negra, bom porte físico, cabelo médio com dreads e uma bandana.

— Oi, Michonne. – Sam lhe cumprimentou, meio irônico – Bom ver que está bem.

A mulher apenas limitou-se a olhar de canto de olho para meu amigo e crispou os lábios, antes de encostar suas costas novamente no trem. Dava para ver de longe que eles já se conheciam e não era de hoje.

— Conseguiu o que veio buscar? – Rick perguntou para ela, se inclinando em sua direção

— Cadê o resto do seu pessoal? – A mulher negra, Michonne perguntou

— Pegaram o Oscar. – Glenn respondeu, ao lado de Maggie

— E o Daryl, o cara da besta, sumiu. – Contei logo em seguida, meio aflita e quase embolei as palavras – Não o viu?

Michonne balançou a cabeça negativamente e apenas com esse gesto, pareceu que o chão abriu sob meus pés e que a queda até o limbo seria grande.

— Se algo acontecer com ele... – Rick começou a dizer, inclinando-se novamente para ela e assim que ela o olhou, parou de falar, deixando a ameaça no ar

— Eu trouxe você aqui para salvá-los. – Michonne retrucou, olhando para seus olhos, aparentava não ter medo dele, ou de qualquer um de nós

— Obrigado pela ajuda. – Rick agradeceu, depois de alguns segundos e me pareceu que havia ficado sem resposta, sem fala

— Precisará de ajuda para levá-los à prisão ou ir procurar o Daryl. – A mulher comentou, seus lábios tremiam, talvez estivesse sim com medo de nós – Seja como for, precisa de mim.

— Então não vamos perder tempo. – Falei para eles, enquanto tirava o pente da minha pistola e olhava a quantidade de balas que ainda tinham nele, estava nervosa – Preparem as armas. A missão de Resgate ao Caipira está para se iniciar.

— Vamos busca-lo. – Rick disse sério, se virando para me olhar

Claro que iriamos, disso eu não tinha dúvidas.

Após deixar Maggie, Glenn e Sam vigiando Michonne. Rick e eu voltamos sozinhos para a comunidade. A encontramos vazia e um pouco silenciosa, mas ainda assim seguimos vozes abafadas e adentramos em um estádio improvisado e da onde eu estava, parecia que a cidade inteira estava lá, torcendo. Troquei um olhar com Rick, assim que vi quem estava no meio do estádio, Daryl e seu irmão, sendo empurrados um para o outro, para lutarem. Rick empunhou uma sniper e a preparou, assim que deu o primeiro tiro, as pessoas começaram a gritar. Me levantei minimamente da proteção em que estávamos e mirei em um dos guardas, atirando o mais rápido que podia, mas logo me abaixei para pegar uma granada de fumaça. Assim que a atirei no meio do estádio e ela estourou, mirei rapidamente e atirei em todos os holofotes que estavam iluminando o estádio, o deixando escuro, apenas sendo iluminado pela luz da lua. Em meio a tiros, correria e grito, escutei alguma voz feminina berrar o nome do meu namorado e minha respiração falhou por uns momentos, pensando que ele havia se machucado. Os cidadãos da cidade do Governador correram para a saída, onde estávamos nos escondendo e nem tentaram nos pegar, pois estavam com muito medo para qualquer coisa que não envolvesse correr até a salvação. Quando os tiros pararam, me levantei por completo e acenei com a lanterna e em menos de segundos, Daryl apareceu em meu campo de visão, estava bem e estava abatendo um homem com a sua besta. Meu namorado correu em nossa direção e gritou por mais um nome, o qual o seguiu sem ao menos pensar. Mesmo tendo Merle com a gente, tive que correr atrás de Rick o mais rápido que podia, sendo seguida pelos irmãos Dixon.

Minha vontade era parar e atacar a cabeça de Merle no asfalto diversas vezes, já que ele havia nos colocado ali, pra começo de conversa.

Ao nos afastarmos do estádio senti a necessidade de guardar as costas de Rick, pois sabia que Merle tentaria pega-lo de surpresa.

— Estão todos na arena. – Merle dizia alto, respirando pesado – Por aqui.

— Você não vai conosco. – Rick anunciou

— Quer mesmo discutir agora? – Merle perguntou a ele, enquanto nos liderava e parou em frente a um muro de metal, totalmente improvisado

— Discutiremos isso alguma hora. – Resmunguei para ele

Nós demos as costas para ele e o deixamos arrombar o muro, a chutes. O barulho era enorme e irritante.

— Vamos lá, cara. – Daryl disse para o irmão, o apressando. – Temos que ir.

Assim que Merle arrombou o muro, Daryl me segurou pelo braço e me empurrou para o buraco, me obrigando a ir na frente, seguindo Merle. Ao passar pelo buraco no muro, encontrei meu cunhado esmagando a cabeça de um caminhante no chão, com a ajuda do seu punho metálico. E logo atrás dele, estavam dois caminhantes, se aproximando aos grunhidos. Levantei a mira da minha pistola e atirei nos caminhantes próximos, antes mesmo de escutá-lo pedir ajuda, pois eu sabia que ele pediria.

Assim que Daryl e Rick passaram pelo buraco, nós corremos.

Corremos como se não houvesse amanhã.

E de fato, talvez não houvesse.


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Notas finais do capítulo

Tecnicamente, eu teria que postar o capitulo no domingo e como sempre bate aquela preguiça, resolvi postar ele hoje, assim como fiz semana passada, se não me engano.

Espero que tenham gostado ♥

Até segunda.



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