TWD - Terceira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 7
Cinco e Meio


Notas iniciais do capítulo

"Eles eram da família"



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Maggie me chamou com um som baixo e eu a segui, deixando com que Carl e Lori ficassem na minha frente. Não sabia para onde estávamos indo, mas o plano era simples.     

Sobreviver.

Em meio a corredores escuros da prisão e respirações pesadas, um som alto e irritante ecoou por todo o lugar.

Um alarme.

— Que porra é essa agora? – Perguntei baixo, evitando falar alto

— Eu não sei. – Maggie respondeu, estava mais à frente – Como está a munição?

— Talvez mais da metade do pente. – Eu lhe respondi, esperançosa – Se tivermos sorte.

Ao virar no corredor, Lori se apoiou na parede, respirando pesado. Nós paramos de andar e nos aproximamos dela, preocupados.

— Pode continuar? – Maggie perguntou a ela, enquanto colocava a mão livre em suas costas

— Há algo errado. – Lori nos contou e algo em sua voz nos disse que ela estava sentindo dor

— Foi mordida? – Carl perguntou rápido, assustado

— Não, não. – Lori negou e apoiou as costas na parede, ficando de frente para nós – Acho que o bebê está vindo.

Um arrepio passou por todo o meu corpo.

E eu estava achando que não tinha como a nossa situação piorar.

— Mãe...

— Que droga...

O som de gemidos e grunhidos inconfundíveis chegaram aos nossos ouvidos e abafou nossas vozes. Os caminhantes tinham nos encontrado e agora estavam vindo em nossa direção, famintos.

Com pressa, ajudei Maggie a segurar o melhor que podíamos a mulher gravida e viramos o corredor que havíamos acabado de passar, mas paramos quando vimos que os caminhantes estavam vindo de lá também.

Estávamos cercados.

Seguimos Carl pelo único caminho livre e assim que vimos a primeira porta surgir, entramos, sem ao menos pensar duas vezes. Mesmo com dificuldade, o menino conseguiu fechar a porta quando passamos e logo passou por nós, indo checar a sala em que estávamos. Ajudamos a Lori a descer as pequenas escadas que haviam mais à frente e caminhamos para o outro lado da sala, para nos escondemos.

Juro que fiquei esperando que a porta abrisse e vários caminhantes entrassem, mas isso não aconteceu.

Ainda bem.

Após escutar um gemido horrível, olhei diretamente para Lori, a qual estava meio abaixada, fazendo uma careta de dor.

Eram contrações.

— Que alarmes são esses? – Lori perguntou ofegante

— Não se preocupe. – Maggie lhe desse, tentando conforta-la

— E se atraí-los? – Carl nos perguntou

— O barulho pode estar na prisão toda, será difícil nos localizar apenas com o alarme. – Comentei com ele, enquanto negava com a cabeça – Não se preocupem com isso.

— Lori, deite-se. – Maggie pediu a esposa de Rick

— Não, o bebê está vindo. – Lori negou, estava apoiando as mãos em uma mesa - Vai nascer.

— Precisamos voltar para que Hershel ajude. – Carl falou, estava nervoso com a situação

Quem não estava?

— Não podemos arriscar. – Neguei, olhando dele para Lori – Precisará dar à luz aqui.

— Maravilha. – Lori disse num sussurro e respirou fundo

— O que foi? – Carl perguntou ansioso, preocupado com a mãe

— Ela está bem. – Maggie disse a ele e voltou sua atenção para mulher gravida – Venha, tire as calças.

Ao ver que Lori balançou a cabeça positivamente, Maggie começou a despir as roupas de baixo dela. Ajudei a deitar Lori no chão e passei a mão pelo rosto, nervosa.

Céus, eu não estava contando com isso.

— Vai ter que me ajudar no parto. – Maggie comentou comigo

— Meu apoio moral não serve? – Perguntei baixo, nervosa

Era a primeira vez na vida que presenciava algo assim, nunca fui treinada para ajudar alguém a dar a vida a uma pequena pessoa.

Fui treinada para matar, conquistar e ganhar.

— Talvez. – Maggie me respondeu e olhou para Lori – Preciso ver se está dilatada.

— Ok. – Lori sussurrou como resposta

— Você sabe? – Carl perguntou logo em seguida, observando Maggie olhar para algo entre as pernas da mãe dele

— Meu pai me ensinou, mas é minha primeira vez. – Maggie respondeu e depois de alguns segundos, ela levantou o olhar – Não sei dizer.

— Preciso empurrar. – Lori comentou e com muita força se sentou – Vou empurrar.

Ajudei Lori a se levantar e a vi se apoiar em uma grade, enquanto flexionava os joelhos para baixo e então fez força, gemendo a cada tentativa de trazer seu bebê ao mundo.

— Vá com calma. – Falei para ela, deixando com que segurasse em meu braço e assim que ela apertou, tive certeza que ficaria roxo

— Está indo muito bem, Lori. – Maggie disse a ela, incentivando-a – Apenas continue. Seu corpo sabe o que fazer, deixe-o trabalhar. – Ela se abaixou e olhou novamente entre as pernas da mulher – Está indo muito bem! – Mas assim que Lori fez força novamente, a voz de Maggie se elevou – Lori, pare, não empurre! Há algo errado!

Meu estomago revirou assim que eu vi a mão de Maggie se erguer, cheia de sangue. Ao ver que as pernas de Lori fraquejaram, eu a segurei, a impedindo de cair no chão. Estava desmaiada, ou fraca. Maggie me ajudou a coloca-la no chão, deitada. Carl se aproximou e se ajoelhou no chão, segurando a mão de sua mãe.

— Mãe? – Ele a chamou – Mãe, olhe para mim. – Lori abriu os olhos e olhou para ele - Mantenha os olhos abertos.

— Precisamos levá-la ao papai. – Maggie comentou, olhando para Lori

— Não vou conseguir. – Lori disse baixo, em um sussurro fraco

— Lori, sua dilatação não é suficiente. – Maggie explicou, desesperada – E empurrar não ajudará em nada.

— Eu sei o que significa, e não vou perder meu bebê. – Lori nos disse – Uma de vocês vai ter que me abrir.

— Não podemos. – Neguei, arregalando os olhos – Nós não...

— Vocês não têm escolha. – Lori sussurrou, me interrompendo

— Vou buscar ajuda. – Carl disse alto e se levantou, caminhando rápido em direção a saída

— Não! – Lori endureceu a voz e disse alto, fazendo-o parar no meio do caminho

— Carol foi quem praticou. – Falei para ela, atordoada – Não faço ideia de como podemos fazer isso.

— Eu só sei os passos, - Maggie nos contou - e se...

— Por favor. – Lori pediu, estava implorando – Por favor.

— Não temos anestesia e nem equipamento. – Falei para ela, realmente assustada com tudo aquilo

— Está errada. – Lori me disse – Você tem sua faca.

— Você não sobreviverá. – Maggie disse logo em seguida, aflita

— Meu bebe precisa sobreviver. – Lori nos disse – Por favor, meu bebê. – A voz dela começou a embargar e a vi começar a chorar – Por favor, por todos nós. Por favor. Por favor.

Crispei meus lábios e respirei fundo, nervosa. Pela primeira vez em muito tempo estava com medo, medo de perder minha amiga, medo pelo bebê, medo por todos nós.

— Lori...

— Estão vendo minha cicatriz de cesariana? – Lori nos perguntou, enquanto erguia sua camiseta o melhor que podia – Uma de vocês vai ter que fazer isso, por favor.

Em sua barriga, um pouco acima da sua parte íntima, estava uma cicatriz que tomava parte de sua barriga. Estava bem visível.

— Não sei se consigo. – Maggie murmurou, passando a mão pela testa, limpando o suor

— Claro que consegue. Consegue sim. Você precisa. – Lori disse e respirou fundo, enquanto passava a olhar para o seu filho – Carl? – Ela segurou a mão de seu filho – Querido, não tenha medo, está bem? É isso o que eu quero. É o certo. Cuide do papai por mim, certo? E seu irmão ou irmã...

— Você não precisa fazer isso. – Carl disse a ela, estava chorando

Era uma despedida.

— Você ficará bem. – Lori sorriu para o filho - Você vencerá este mundo, eu sei disso. Você é esperto, forte, muito corajoso e eu te amo.

— Eu também te amo. – Carl murmurou, com a voz embargada

— Precisa fazer o certo, querido. – Lori lhe disse – Prometa-me que sempre fará o certo. É tão fácil fazer a coisa errada neste mundo. – Ela respirou fundo, controlando o tom de voz – Então, não.... Se parece errado, não o faça, está bem? Se parecer fácil, não o faça, não deixe o mundo arruiná-lo. – Ela estendeu a mão e limpou as lágrimas do rosto do filho - Você é tão bom. Você é o meu docinho. A melhor coisa que já fiz. Eu te amo!

— Mãe...

Carl se debruçou em cima da sua mãe e a abraçou. Olhei para Maggie, a qual estava entre as pernas de Lori e mordi os lábios. Ela também estava chorando. Respirei fundo e passei a mão embaixo dos meus olhos, limpando as lágrimas que insistiam em cair.

Lori Grimes foi a primeira pessoa que veio falar comigo assim que eu cheguei na pedreira. Me deu broncas quando preciso e me ajudou com coisas que eu não sabia lidar. Era minha amiga, se tornou parte da minha família sem ao menos fazer esforço. Ela sabia coisas sobre mim que nem eu mesma havia descoberto.

— Está tudo bem. – Lori disse, afastando seu filho de si e depois olhou em minha direção – Gabi, você precisará...

— Lori... – Falei meio alto, minha boca estava seca, não podia fazer o que ela queria

— Você tem que fazer! – Lori me interrompeu, colocando sua mão sob a minha perna, pois eu estava ajoelhada ao seu lado – Não pode ser o Rick. – Ela tirou a mão de mim e a colocou em cima de sua barriga, suspirando pesado – Certo, certo. Está tudo bem. Tudo bem.

Relutante e com cuidado, tirei a minha faca do coldre e a segurei pelo aço, enquanto estendia lentamente o cabo para Maggie. E antes de me arrepender de deixar aquela loucura continuar, minha outra amiga a tomou de minhas mãos.

— Mamãe...

— Está tudo bem. – Lori sorriu mais uma vez ao filho – Boa noite, amor.

— Eu sinto muito. – Maggie disse a ela, baixo

A filha do fazendeiro veterinário apertou minha faca de combate em suas mãos um pouco tremulas e fez o que tinha que fazer. A faca deslizou facilmente por cima da cicatriz de Lori e a escutamos berrar, no momento em que Maggie aprofundou um pouco mais o corte. Aos gritos, Carl pediu para a namorada de Glenn parar, mas no fundo sabia que aquela não era mais uma opção, pois já tinha começado. Ao todo, Lori Grimes gritou duas vezes e desmaiou logo em seguida. Maggie colocou minha faca de lado e com cuidado, colocou as mãos dentro da barriga de Lori.

— Gabriela, preciso da sua ajuda. – Ela me disse, olhando de mim para a barriga de Lori – Estanque o sangue, temos que deixar o local limpo.

— Ok.

Me aproximei dela e com um pedaço de roupa que Carl me estendeu, fiz o melhor que podia. Maggie se remexeu ao meu lado e arfou.

— Estou sentindo. Senti as orelhas. – Ela nos contou, estava ansiosa – Vou tira-lo. Não sei se é o braço ou a perna. – Maggie comentou depressa, mas logo se recompôs – Certo, vou tirar o bebê.

Meio em choque, vi minha amiga tirar gentilmente um bebê de dentro do útero de Lori. Ele estava coberto por uma pasta esbranquiçada e sangue. Maggie deu pequenas e gentis palmadas no peito do bebê e quando não obteve resposta, o virou de costas e repetiu o processo.

E então, o bebê chorou.

Como Maggie estava ocupada, peguei minha faca do chão e cortei a única coisa que ainda estava ligando fisicamente mãe e filho, o cordão umbilical. Assim que o bebê ficou livre, Maggie o enrolou na jaqueta de Carl, o qual era o mais perto de cobertor que tínhamos.

— Vocês têm que ir. – Falei olhando diretamente para Maggie - Agora.

Maggie concordou e se levantou, segurando o bebê recém-nascido em seus braços. Eu me levantei e limpei o sangue de Lori em minha calça, antes de guardar a faca e empunhar a pistola.

Iria dar um tiro limpo, na cabeça.

Carl segurou o meu braço e o apertou. Olhei para o menino e notei o que ele queria fazer, quando vi que estava segurando seu revolver.

— Ela é minha mãe. – Ele me disse, quando me viu balançar a cabeça vagarosamente em um não – Gabriela, ela é a minha mãe.

Fechei os olhos e respirei fundo, concordando com mais uma loucura. Me afastei deles e caminhei em direção a Maggie e o bebê, passei em sua frente e quando cheguei na porta, a abri um pouco, para espiar a situação lá fora. Dois caminhantes estavam virando o corredor, se afastando de nós. Fechei a porta e assim que olhei para trás, vi a tristeza no olhar de Maggie. Mordi os lábios quando um único tiro foi disparado na sala. Carl Grimes se aproximou de nós, com um olhar vazio e foi diretamente em direção a porta.

O caminho até o bloco de celas C foi tranquilo, o bebê quebrava o silencio com seu choro de minuto em minuto. Assim que saímos do bloco e fomos para o pátio, senti o vento suave e o sol bater em meu rosto. O bebê mantinha um choro baixo e continuo.

Dizem que os bebês sentem quando algo está errado.

Talvez este esteja sentindo.

— Vamos voltar. – Rick dizia para eles – Glenn e Daryl, vocês vêm comigo...

O nosso líder se calou quando escutou o choro do bebê e olhou diretamente para a nossa direção. Como eu estava na frente, abri o portão e dei espaço para Carl e Maggie passarem primeiro. Rick Grimes olhou para os nossos rostos e fixou seu olhar no bebê que estava nos braços de Maggie, deixou o machado que estava em sua mão cair e caminhou lentamente em nossa direção, em direção ao bebê.

— Rick... – Murmurei, dando poucos passos até ele

— Onde.... Onde ela está? – Rick nos perguntou, balançando a cabeça negativamente – Onde ela está?

Ao ver que não contaríamos, Rick avançou, passando diretamente por nós, caminhando em direção ao portão de ferro.

— Rick, não. – Segurei em seu braço, forçando-o a parar de andar – Não.

Rick parou de andar e colocou a mão no rosto, ele olhou para o seu filho, o qual estava calado e começou a chorar. Larguei Rick e passei a mão no rosto, me afastando deles. Caminhei até Daryl e o abracei apertado, afundando o meu rosto em seu peitoral, enquanto chorava baixo.

— Rick? – Daryl respirou fundo, antes de chamá-lo

Me afastei de Daryl e passei o braço pelo rosto, limpando algumas lágrimas que continuavam a cair. Rick estava de joelhos no chão, seu olhar estava fixo no bebê que Maggie estava segurando.

O bebê dele.

— Rick? – O chamei em dúvida, já que ele não havia respondido o chamado do caçador

Daryl caminhou lentamente em direção ao nosso líder e se abaixou em sua frente, apoiando a besta no chão.

— Está me ouvindo, Rick? – Daryl chamou novamente, passando a mão em frente ao rosto do homem – Rick?

De canto de olho, notei que Maggie passou a criança para os braços de Carl, e o filho mais velho de Rick estava absurdamente calmo com tudo aquilo.

— Deixem-me ver o bebê. – Hershel pediu, olhando de Maggie para Carl

— Como vamos alimentá-lo? – Daryl perguntou, se levantando logo em seguida e caminhou novamente em nossa direção – Temos algo que um bebê possa comer?

Carl caminhou com cuidado até nós e mostrou o bebê para o homem mais velho do grupo, Hershel, o qual prestou muita atenção a cada detalhe da criança.

— A boa notícia é que ela parece saudável. – Hershel nos contou, e eu nem sabia que era uma menina – Mas precisa de fórmula. Logo, ou não sobreviverá.

— Não, de jeito nenhum. – Daryl grunhiu alto e ajeitou a besta em suas coisas, uma velha mania que ele tinha – Não ela. Chega de perdas. Farei uma busca.

— Vou com você. – Murmurei para ele, respirando fundo

— Vou te ajudar. – Maggie disse logo em seguida, rápido

— Também vou. – Glenn se pronunciou

— Certo, vão pensando onde podemos ir. – Daryl nos disse e olhou para a filha mais nova de Hershel e chamou sua atenção, pois ela estava fascinada pelo bebê – Beth...

Enquanto Daryl sussurrava instruções para Beth, tirei minha pistola do coldre e recarreguei o pente, com algumas balas soltas que eu costumava guardar em bolsos.

Tinha mais de meio pente agora.

— Ei, vocês. – Falei alto, me virando para os dois detentos, os quais estavam de braços cruzados, olhando para nós – Cuidem da cerca. Não deixem os caminhantes se agruparem, ou estaremos encrencados.

Com um aceno positivo de Oscar, entendi que cuidariam das cercas.

— Querida. – A voz rouca de Daryl me chamou e eu me virei para olha-lo, ele estava com Glenn e Maggie logo atrás dele – Vámonos.

Antes de caminhar na direção deles, fiquei tensa ao ver Rick se levantar e em passos largos, andar em direção ao machado que havia deixado cair, assim que o pegou, ele se virou e caminhou em direção a entrada do bloco C, onde morávamos.

— Rick! – Maggie gritou, chamando por seu nome

Rick Grimes apenas continuou seu trajeto e desapareceu prisão a dentro, sem olhar para trás.

Era certeza que procuraria o corpo de Lori.

— Cuidem do portão. – Daryl falou alto, para os detentos e em seguida se virou para mim – Rápido, Gabriela, ou vamos perder a luz do sol.

Mordi meus lábios e depois de olhar uma última vez para a prisão segui meu namorado e amigos, apressei meus passos até eles, em direção aos carros que tínhamos guardado mais cedo.

— Tem um supermercado na rodovia 85. – Lhes contei, andando em passos largos ao lado deles

— Não, já esvaziaram seção de bebês. – Maggie comentou, negando com a cabeça enquanto me olhava – Lori me pediu para procurar lá. Não tive sorte.

— Existe algum lugar que ainda não foi saqueado? – Daryl perguntou num resmungo

Ele parou em frente à sua moto e tirou a besta das costas, para colocar o seu colete de couro com as assas de anjo nas costas.

— Vimos sinais de um shopping center ao norte daqui. – Glenn contou, parando perto de nós

— Sim. – Maggie concordou, mas franziu os lábios – A estrada está cheia de entulho. Não conseguiremos seguir de carro.

— Só posso levar um de vocês. – Daryl contou, olhando para nós três

— Ok, então eu vou. – Falei logo em seguida e me virei para Glenn, estendendo a mão – Usamos o mesmo calibre, preciso de mais balas, só para completar o pente.

— Gabi, não. Eu vou. – Maggie disse alto, me olhando e assim que viu meu olhar, completou – Cá entre nós, você não entende tanto assim de bebês.

— Maggie... – Murmurei, juntando as sobrancelhas – Eu estava lá, sei pelo que passamos. Seu emocional está uma merda, pior que o meu.

— É pela Lori. – Maggie contou, mordendo os lábios – Eu preciso fazer isso.

Mesmo indecisa, concordei com a cabeça e isso a fez suspirar aliviada. Daryl me segurou pelo braço e me puxou em sua direção, para um abraço de despedida. Um "Até daqui a pouco". Deixei com que ele me apertasse o quanto queria e retribui seu carinho. Assim que nos distanciamos alguns centímetros, lhe dei um breve beijo em seus lábios.

— Tome cuidado. – Eu lhe disse, separando um pouco nossos rostos – Cuide da Maggie. Não vamos perder mais ninguém.

— Eu tenho que ir. – Daryl disse baixo, roçando seus lábios nos meus enquanto falava – Ou perderemos o sol. – Ele juntou nossos lábios mais uma vez em um selinho e então se afastou – Olhe, sei que não é a melhor hora, mas você precisa cuidar das coisas aqui. Rick não está batendo bem e você irá ter que segurar as rédeas até voltarmos.

— Estou ciente disso. – Comentei respirando fundo

Daryl balançou a cabeça positivamente e se sentou em sua moto, ligando-a. Minha amiga me abraçou e se despediu do namorado antes de sentar na garupa da moto. Enquanto Glenn abria os portões para eles, fiz meu caminho de volta até a prisão pensando em como meu relacionamento com Daryl é diferente do relacionamento do coreano com a filha do fazendeiro.

Nunca dissemos um para o outro os nossos sentimentos, não dizíamos regularmente que nos amávamos, na verdade, nunca dissemos. Nosso maior tempo sem brigar foi de um mês e nossa maior briga durou três dias seguidos por xingos, resmungos e provocações, mas sempre voltávamos pois sentíamos falta um do outro. Eu gosto de Daryl, gosto mesmo, mas nunca fui o tipo de mulher que dizia “Eu te amo”, nem mesmo para Harris, antes dos caminhantes aparecerem. Era difícil conversar sobre sentimentos quando tudo que temos que fazer é ser fortes, passar exemplo e proteger pessoas. Parecia que se nos abríssemos, mostraríamos nossos pontos fracos e nunca é bom ter pontos fracos.

Mas todo mundo sabia.

Meu ponto fraco era Daryl.

Era o grupo.

Passei parte da tarde sentada no chão, observando Glenn trabalhar. Ele estava cavando as covas, para Lori. Tentei trocar de lugar com ele umas duas vezes, mas desisti quando ele disse que eu deveria descansar e colocar a cabeça no lugar, pois estava parecendo avoada.

Claro que eu estava pensativa, presenciei e ajudei em um parto cesariano, contribui com a morte de uma amiga próxima e ainda por cima deixei seu filho ser o carrasco nos momentos finais.

Estava me sentindo um lixo humano, mesmo sabendo que eu não podia mudar nada do que tinha acontecido. Não era médica, não tinha equipamentos apropriados e não estávamos em um hospital de ponta. Estávamos em uma prisão, a qual invadimos e matamos os residentes, os caminhantes, em um mundo totalmente diferente do que um dia fomos acostumados.

Entre o barulho da pá e da terra sendo tirada da cova, escutei passos. Com o canto do olho, observei Axel e Oscar caminharem lentamente em nossa direção. Glenn também percebeu e parou o que estava fazendo, respirando fundo. Meu amigo coreano saiu de dentro da cova e encarou os dois detentos, esperando com que falassem o que queriam. Eu me levantei, dei algumas batidas em minha bunda, para tirar a sujeira e dei pequenos passos em direção a eles.

— E então, como está o perímetro? – Logo perguntei, olhando de um para o outro

— Os caminhantes estão espalhados. – Axel me respondeu, apontando para os portões e as cercas – Vocês precisam de ajuda? – Ele perguntou, indicando a cova com a mão

— Não. É trabalho nosso. – Neguei, dando uma olhada para Glenn, o qual ainda estava em silencio, era claro que não gostava da presença deles aqui

Glenn continuou calado e respirou mais uma vez alto, antes de se virar e caminhar até os buracos que estava cavando. Ele colocou seus pés novamente dentro da cova e recomeçou o que estava fazendo antes.

— Seus amigos... – Axel comentou, cruzando os braços, enquanto olhava para nós dois, alternadamente – Eles eram boas pessoas.

— Eles eram da família. – Glenn se pronunciou, olhando para ele

Eu não era a única que considerava o grupo como uma família. Todos nós nos sentíamos assim em relação ao que éramos. Estaríamos e enfrentaríamos tudo juntos, pelo bem um do outro. 

— Acho que só tive um amigo assim em toda minha vida. – Oscar comentou, nos olhando – Vocês têm um grupo todo. Sinto por tê-los perdido.

Mesmo prestando atenção no que ele estava falando, vi que por cima dos seus ombros, um senhor de idade estava nos olhando pela cerca, no pátio. Hershel estava apoiado em suas muletas, olhando para nós. Glenn também pareceu notar e me lançou um olhar, enquanto saia da cova. O coreano estendeu a pá para Axel e olhou para ele.

— Precisamos de mais duas covas. – Glenn lhe disse e assim que Axel pegou a pá, ele se virou para mim – Vamos, Hershel quer conversar com a gente.

Concordei com a cabeça e o segui, subindo o campo até a cerca o mais rápido que o nosso cansaço permitia e assim que chegamos até a cerca e olhamos para Hershel, suspirei, sabia que seria uma má notícia.

— Notícias do Rick? – Perguntei a ele, meio ansiosa

— Ainda está lá dentro. – Hershel me respondeu, franzindo os lábios

— Vou busca-lo. – Eu lhes disse, olhando de Hershel para Glenn e depois respirei pesado – Cara, um terço do grupo em um dia.

— Por causa de um cuzão. – Hershel acrescentou

Ele não era lá de falar palavrão, mas eu não podia julga-lo, já que minha boca era mais suja do que a da maioria do grupo.

— Uma parte de mim queria ter matado os prisioneiros. – Glenn nos contou, segurando a cerca que nos separava de Hershel

— Axel e Oscar parecem caras legais. – Hershel comentou, olhando para os detentos por cima dos nossos ombros, os quais estavam cavando as covas que pedimos

— Sabe, quando a evacuação começou, T-Dog dirigiu a vã da igreja até a casa de cada idoso que conhecia, só para o caso de precisarem de carona. – Glenn nos contou e eu o olhei atentamente, não conhecia aquela história sobre o T – Ele salvou minha bunda umas mil vezes. Ele não era só um cara legal, era o melhor.

— Foi mordido fechando o portão. – Hershel contou, afirmando com a cabeça – Se não fosse ele...

— Poderia ter sido a Maggie, ou a Gabriela. – Glenn murmurou, olhando de relance para mim – É errado, mas.... Eu trocaria quaisquer pessoas pelos nossos.

Estendi minha mão e apertei o ombro do coreano. Respirei fundo e me distanciei deles, era hora de trazer Rick de volta. Dei a volta na cerca e caminhei pelo pátio até o bloco de celas e lá, peguei uma lanterna antes de sair pelos corredores escuros da prisão em busca do homem que havia acabado de perder a esposa. Como não sabia onde Rick estava, decidi fazer o mais obvio, seguir rastros e fiquei contente ao notar que uma trilha de caminhantes mortos no corredor estavam me levando a algum lugar.

Só podia ser coisa de Rick.

Para ter certeza que os caminhantes no chão estavam mortos, apontei minha lanterna para o rosto desfigurados deles e limpei a garganta, esperando com que algum deles se mexesse. Ao ver que isso não aconteceria, continuei meu trajeto, virando para o corredor seguinte. Com a ajuda da lanterna, eu o vi, parado mais à frente na bifurcação, olhando para a parede enquanto apertava o machado nas mãos.

— Ei, Rick. – Eu o chamei, enquanto me aproximavas do meu amigo – Estamos todos preocupados com você, cara. – Como ele não tinha virado para me olhar, parei a uns passos dele e continuei a falar – Você não devia ficar aqui sozinho. – Rick virou seu rosto e me olhou, mas não parecia que estava realmente me vendo e mesmo a lanterna não estando em seu rosto, vi algo que me preocupou ainda mais, ele estava coberto por muito sangue, o qual claramente não era dele mesmo – Vamos voltar. – Por não receber uma resposta, eu me aproximei mais dele, realmente preocupada com seu estado mental – Rick. – Parei na frente dele, tentando faze-lo me olhar nos olhos, mas ele continuava com um olhar vazio – Você não precisa fazer isso sozinho, está bem? Nosso bloco está limpo. Podemos fechar as portas novamente. – Guardei a minha pistola de volta no coldre e estendi minha mão para ele, cautelosamente – Rick, por que não vem comigo? – Perguntei e novamente Rick me olhou, com um olhar vazio – Está tudo bem, amigo? Rick? – Ao estender minha mão para tocar em seu ombro, senti suas mãos me empurrarem para a parede e minhas costas se chocaram com forca no concreto. Rick colocou seu braço pressionando minha garganta e eu levantei minha mão, tentando afrouxar seu aperto pelo menos um pouco, ele era forte e minha garganta estava começando a doer – Sou eu, Rick. – Falei para ele, apertando seu braço e tentando tira-lo do meu pescoço – Sou eu, Gabriela.

Rick Grimes me olhou por mais uns segundos e logo em seguida senti meu corpo ser empurrado para frente e por pouco não caí no chão. Ele me empurrou para longe, talvez tenha me reconhecido e voltado um pouco para si, mas ainda não era o mesmo de antes.

Ele precisava de ajuda.

Passei minha mão pela minha garganta e o olhei, juntando as sobrancelhas, preocupada. Não com minha saúde, mas com a dele. Rick olhou mais uma vez para mim e se virou, caminhando em direção ao corredor seguinte.

Eu não o interrompi.

Só Deus sabe o que ele faria se eu tentasse impedi-lo.

Aquele não era o Rick que conhecíamos.

Quando voltei ao bloco de celas, me sentei em uma das mesas e fiz companhia para Hershel e com múrmuros, lhe contei o estado mental de Rick e o que tinha acontecido quando eu o encontrei e tentei traze-lo até o grupo. O velho não ficou surpreso com a atitude de Rick, na verdade, no fundo nem eu mesma estava surpresa.

Também não sei o que faria se estivesse no lugar dele.

Ao cair da noite, enquanto Glenn estava do lado de fora da prisão esperando Daryl e Maggie voltarem para abrir os portões para eles, eu estava tentando fazer um bebê parar de chorar, mas era impossível. Mesmo cantando, balançando gentilmente e falando com voz de nenê para a criança ela não parava. Estava com fome.

— Tem certeza que não é a fralda? – Beth me perguntou, estava sentada em uma das mesas exausta, pois tinha ficado o dia inteiro cuidado da criança, com a ajuda de Carl

— Tenho. – Resmunguei em resposta, mas mesmo assim apalpei a bunda da bebê para ver se havia alguma surpresa – Querida, você vai ter que esperar seu tio, eu não tenho leite nesses peitos.

O bebê continuou chorando em resposta e ao fundo, escutei o som de tiros. Respirei fundo e continuei balançando a criança, enquanto murmurava cantigas de ninar que minha mãe costumava cantar quando meus irmãos e eu éramos pequenos.

Ter uma criança recém-nascida em meus braços me lembrou de uma pessoa, uma pessoa que estava gravida e que a esse ponto, estaria com uma criança de quase um ano nos braços. Minha cunhada, Lisa.

— Ei. – A voz de Maggie chamou minha atenção

Olhei diretamente para a escada e a vi descendo os degraus às pressas, sendo seguida por Daryl. Meu namorado veio diretamente até mim e depois de beijar meus lábios, pegou o bebê do meu colo, cuidadosamente. Franzi as sobrancelhas para ele, surpresa por suas habilidades com bebês. Daryl segurou o bebê com um braço e com o outro, pegou a mamadeira que Maggie estava estendendo para ele. Fazendo sons baixos com a boca, o caçador cuidadosamente colocou a mamadeira na boca da criança e a fez mamar, parando com a choradeira.

— Da onde que veio essa habilidade com crianças? – Perguntei para ele, rindo fraco e suspirei em seguida – Nossa, estava ficando louca com a choradeira.

— Mais que o normal? – Daryl perguntou risonho, estava visivelmente orgulhoso do trabalho que tinha feito e sem dúvidas deveria estar

— Muito engraçado. – Murmurei

— Ela já tem nome? – Daryl perguntou à Carl, enquanto gentilmente alimentava a criança

— Ainda não. – Carl respondeu e arrumou o chapéu de xerife, que antes era de seu pai, em sua cabeça – Mas eu estava pensando em Sophia. Mas podia ser Carol. E... – Ele respirou fundo, enquanto falava – Andrea, Amy... Jacqui, Patrícia... Ou Lori. Não sei.

Nós ficamos em silêncio, entendíamos muito bem.   

— Gostou disso? – Daryl perguntou uns segundos depois, olhando para a bebê – Bravinha. – Ele me olhou assim que eu abafei o riso – Não é mesmo? É um bom nome, certo? – Perguntou olhando para todos nós e rimos concordando – Bravinha... você gosta, querida? – Perguntou para a bebê, como se esperasse alguma resposta e riu, enquanto gentilmente segurava a mamadeira e a ajudava a mamar

Eu fiquei ali, observando e sorrindo enquanto meu namorado alimentava a criança, de um jeito nada forçado, bem natural. Se ele já era bom com Carl, estava sendo maravilhoso com a pequena Bravinha, que é um belo nome por sinal, já que essa menina chorou o dia inteiro e não nos deu sossego um segundo sequer.

Daryl Dixon seria um bom pai.


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