TWD - Terceira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 5
Quatro e Meio


Notas iniciais do capítulo

"Se eu o vir perto da nossa gente, se eu sentir o seu cheiro, vou matá-lo"



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Nós nos apressamos e assim que chegamos ao bloco que tínhamos limpado, Daryl abriu a porta de ferro e logo que entramos no hall gritamos por Carl, para que ele abrisse o outro portão. Assim que o menino abriu, Rick, Glenn e Maggie passaram por ele, levando Hershel junto. T-Dog, Daryl e eu ficamos no hall, para lidar com os detentos que estavam nos seguindo.  

— Pega a arma e fica esperta. – Daryl me disse, chegando perto de mim e apoiou um pé na cadeira, arrumando sua posição com a besta – Eles estarão aqui em pouco tempo.

— Não precisa me avisar. – Murmurei baixo, olhando dele para a porta

Coloquei minha faca de volta no coldre e empunhei minha pistola com as duas mãos, apontando ela para o portão de ferro, onde eles chegariam. T-Dog se encostou na parede perto de nós, de um jeito que quando os presidiários chegassem, ficariam de costas para ele.

O presidiário que estava com a arma entrou cautelosamente, sendo seguidos pelos outros detentos. Ele olhou ao redor antes de fixar seu olhar no meu namorado e em mim.

— Não cheguem mais perto. – Daryl os avisou

— Bloco de Celas C. – O primeiro detento disse – A cela quatro é minha, gringo. Quero entrar.

— É o dia de sorte de vocês, pessoal. - Daryl disse a eles - Foram perdoados pelo estado da Geórgia. Estão livres para ir.

— O que está havendo lá dentro? – O mesmo detento com a arma perguntou

— Não é da sua conta. – Respondi logo em seguida

— Não me diga se é ou não, sua vaca. – Ele retrucou alto, pegando na arma enquanto dava alguns passos em minha direção

— Se eu ouvir você falar assim mais uma vez com a minha mulher eu acabo com a sua raça. – Daryl rosnou, fazendo com que o cara parasse de andar

— Sossega, homem. – O detento negro, alto e largo falou ao colega – A perna do cara está zoada. Além disso, estamos livres. Por que continuamos aqui?

— Boa pergunta. – Comentei, olhando para ele

— Sim. – O outro detento negro comentou, era o mais quieto entre eles – Eu preciso ver minha patroa.

— Uma militar e um grupo de civis invadiram uma prisão na qual não deveriam estar, isso me faz pensar que não temos aonde ir. – O detento da arma falou a eles

— Por que não sai pra descobrir? – Daryl perguntou bruscamente

— Talvez façamos isso. – O detento loiro comentou, olhando para os colegas

— Ei, não vamos embora. – O detento da arma falou pra ele

— Nem vão entrar aqui. – T-Dog lhes disse, saindo de perto da parede e caminhando para perto de nós, enquanto apontava sua arma para ele

— A casa é minha, eu mando nela. – O detento da arma falou alto, alternando sua mira entre mim e o T-Dog – E vou aonde quiser.

— Para de falar merda. – Falei alto, já estava zangada – Libertamos vocês e agora estamos dando a possibilidade de sair ao ar livre novamente, deveriam ser espertos e aceitar!

— Não tem nada para vocês aqui. – Daryl lhes disse – Vão embora.

— Ei, vamos relaxar. – Rick disse alto, estava correndo na nossa direção e parou perto de nós – Não precisamos disso.

— Vocês estão em quantos? – O detendo com a arma perguntou

— Somos muitos para vencerem. – Rick respondeu firme

— Roubaram um banco, algo assim? – O detento nos perguntou – Levem-no ao hospital.

Olhei para meus amigos e nós ficamos em silencio. Parecia que eles não sabiam da gravidade da situação que estávamos enfrentando.

— Há quanto tempo estão trancados na cantina? – Rick perguntou pra eles

— Uns dez meses. – O detento da pistola nos respondeu, olhando pra nós

— Houve um tumulto. – O detento alto e largo, o grandão nos disse – Nunca vi nada do gênero.

— Muito pior do que em Attica. – O detento loiro comentou

— Depois falaram em gente virando canibal, morrendo e voltando à vida. – O menor dos detentos nos perguntou – Loucura. 

— Um guarda nos protegeu e nos trancou na cantina. – O detento com a arma completou – Mandou ficarmos quietos, deu esta arma e falou que voltaria logo.

— Já se passaram 292 dias. – O detento mais calado acrescentou

— Pelas minhas contas, 94...

— Quieto! – O detento com a arma interrompeu o colega loiro

— Achávamos que o Exército ou a Guarda Nacional viria um dia. – O detento que estava falando antes do loiro se intrometer, o calado comentou com a gente

— Não existe Exército. – Eu lhes disse e minha voz falhou por alguns momentos, isso não era algo que eu gostava de lembrar – Tentei contata-los de todas as maneiras, estão fora do ar. Acabou.

— Como assim? – O detento com a arma perguntou

— Não existe governo, nem hospitais, nem exército e nem polícia. – Rick disse a eles, me olhando de relance – Acabou tudo.

— Fala sério? – O detento loiro perguntou confuso

— Falo. – Rick afirmou

— E a minha mãe? – O detento grandão perguntou depois de alguns segundos de silêncio

— Meus filhos? – O detento mais calado perguntou – Minha patroa? – Ele respirou fundo e nos olhou, parecia mais atento – Vocês têm celular ou algo para ligar para as nossas famílias?

— Vocês não entenderam, né? – Daryl perguntou para eles, resmungando

— Nada de telefones nem computadores. – Rick lhes disse – Até onde podemos ver, no mínimo metade da população morreu. Talvez mais.

Daryl abaixou sua besta, mas eu continuei apontando minha pistola para o detento que estava com a arma, não era de confiança.

— Não pode ser.

— Veja por si mesmo. – Rick falou para ele, indicando o portão onde levava a saída do hall e levava até o pátio

Acompanhamos os presidiários até a saída e os seguimos até o pátio que tínhamos limpado ontem. Durante todo o caminho, me preparei psicologicamente para vê-los se lamentar e não rir da situação, já que eles não eram culpados por não saberem do estado do nosso atual mundo.

Na verdade, eram sim.

Estavam presos porque cometeram crimes, se não tivesse cometido, conheceriam o mundo como ele é agora.

— Nossa, que solzinho gostoso. – O detento mais calado, que agora se mostrou não tão mais calado assim, comentou, abrindo os braços enquanto sentia o sol em seu rosto

— Deus do céu. – O detento loiro murmurou, olhando para os corpos dos caminhantes que tínhamos matado - Estão todos mortos.  

— Nunca pensei que ficaria tão feliz vendo essas cercas. – O detento com a arma comentou, olhando para as cercas do pátio

— Como vocês entraram aqui? – O detento baixinho perguntou, se virando para nos olhar

— Abrimos um buraco na cerca perto da torre dos guardas. – Daryl respondeu, caminhando ao meu lado e apontou para o lugar por onde entramos ontem

— Fácil assim, é? – Ele perguntou de novo, estranhando

— Querer é poder. – Daryl comentou com ele

— Falar é fácil. – Ele murmurou

— É alguma doença? – O detento grandão nos perguntou, estava cutucando um dos caminhantes mortos com um pedaço de madeira que carregava desde a cantina

— Sim, e estamos todos infectados. – Rick respondeu, olhando para eles

— Como assim infectados? – O detento loiro perguntou confuso – Tipo Aids, algo assim?

— Se eu o matasse com uma flechada no peito, você volta como uma dessas coisas. – Daryl explicou e apontou para o caminhante morto – Vai acontecer com todos nós.

— Esse cara metido a Robin Hood não matou todas essas aberrações. – O detento pequeno comentou com os colegas – Deve haver 50 corpos aqui.

Olhei para Daryl e fiz uma cara de tédio, aqueles detentos estavam me cansando num nível estelar. Nunca vi gente mais descrente. As provas estavam todas na frente deles e eles estão custando para acreditar.

— De onde vocês vêm? – O detento com a arma nos perguntou

— Atlanta. – Rick respondeu, estava olhando para as cercas

— E para onde vão? – O detento com a arma perguntou novamente, se aproximando

— Por ora, lugar nenhum. – Respondi logo em seguida, colocando as mãos na cintura enquanto olhava para ele

Recebi um olhar de Rick que dizia para eu me acalmar e deixa-lo falar, por isso, concordei com a cabeça e me apoiei no ombro de Daryl.

— Podem ficar com a área perto da água. – O detento com a arma comentou, apontando para uma área da prisão – Deve ser confortável.

— Vamos usar para plantação. – Rick lhes contou, balançando a cabeça positivamente

— Ajudaremos a tirar as coisas. – O detendo com a arma continuou, não estava prestando atenção no que Rick dizia e se estava, não ligava

— Não precisa. – Rick negou, olhando para ele – Nós matamos os caminhantes. A prisão é nossa.

— Calma aí, caubói. – O detento com a arma disse, rindo pelo nariz

— Tiraram os cadeados de nossas portas. – O detento pequeno falou, se aproximando de Rick

— Se é o que desejam, daremos outros. – Rick lhe disse, estava exercendo sua paciência muito bem

— A prisão é nossa. – O detento com a arma falou – Chegamos aqui primeiro.

— Trancados num armário de vassouras? – Não aguentei ficar quieta e perguntei a eles, com a voz transbordando de indiferença – Nós a tomamos, libertamos vocês. – Sai de perto de Daryl e caminhei em direção a Rick, ficando em seu lado enquanto sorria feito uma cretina – Ela é nossa, amigo. Derramamos sangue por ela.

Em toda a minha vida, nunca pensei que brigaria tanto por uma prisão.

— Vamos voltar ao nosso bloco de celas. – O detento com a arma disse, me olhando desafiadoramente

— Arrume um para vocês. – Rick disse a eles, enquanto colocava a mão no meu ombro

— É meu. – O detento com a arma falou alto – Ainda tenho objetos pessoais nele. – Ele tirou a arma do cós da calça e isso fez com que todos nós apontássemos nossas armas para ele – É meu mesmo.

— Você por acaso ficou surdo durante esse seu tempo na cantina? – Eu lhe perguntei rosnando, apertando a minha pistola enquanto apontava para o seu rosto – Ele disse para arranjar outro bloco.

— Não pense que só porque é uma mulher eu vou pegar leve com você. – O detento com a arma me disse, apontando o revolver em minha direção, mais precisamente para o meu peito – Já matei gente da sua laia, você não vai ser a primeira.

Aquele desgraçado acabou de me dizer que matou um dos meus irmãos do exército? Como ousa...

— É melhor correr, cretino. – Falei num rosnado – Vou atirar em suas pernas e te torturar até estar implorando para morrer, você vai sofrer.

— Mude a porra do seu alvo ou terá uma flecha presa na sua garganta nos próximos segundos. – O caçador praticamente rugiu, e eu nem precisava olhar para ele para saber que estava nervoso

— Opa, opa. – O detento loiro disse, ficando entre a gente – Vamos tentar um acordo para todos saírem ganhando.

— Não vai rolar. – O detento com a arma lhe disse, olhando pra nós

— Não mesmo. – Rick concordou

— Eu não vou ficar nem mais um minuto naquela cantina. – O detento com a arma falou alto, olhando de mim para Rick

— Existem outros blocos de cela. – O detento loiro disse olhando para ele

— Podem ir embora. – Daryl disse a eles, rosnando – Arriscar a sorte na estrada.

Daryl estava tão próximo que se eu desse um passo para trás, bateria em sua besta. T-Dog estava do outro lado de Rick, segurando a sua arma.

— Se essas três bichonas e essa maria macho fizeram tudo isso, no mínimo podemos tomar outro bloco de celas. – O detento com a arma disse, depois de longos segundos nos encarando

— Com o quê? – O detento grandão perguntou

— O Atlanta aqui nos dará armas de verdade. – O detento com a arma disse aos colegas, indicando Rick com a cabeça – Não é, chefe?

— Quanta comida tem na cantina? – Rick perguntou para eles – Deve ter muita comida. Cinco caras comendo quase um ano?

— Vocês não parecem famintos. – Comentei, olhando para eles e fixei meu olhar no detento grandão, ele era gordo e não parecia com fome

— Só sobrou um pouco. – O detento com a arma, o qual até agora me pareceu o líder deles nos disse

— Bem, ficamos com a metade. – Rick disse a eles – E em troca, ajudamos a limpar outro bloco.

— Não ouviu? – O detento menor perguntou – Sobrou pouco.

— Aposto que tem mais comida do que escolhas. – Rick retrucou, olhando para eles – Vocês pagam, nós jogamos. Vamos limpar um bloco para vocês, e podem ficar com ele.

— Muito bem. – O detento com a arma, o líder, aceitou

— Vamos ser francos: Se eu o vir perto da nossa gente, se eu sentir o seu cheiro, vou matá-lo. – Rick lhe disse, dando poucos passos até ele para ficar cara a cara com o detento

— Fechado.

Deixamos com que os detentos fossem na nossa frente, enquanto íamos seguindo eles até o refeitório, onde os encontramos e libertamos.

Meio sem querer.

Percebi que em todo o caminho, Daryl dava um jeito de mostrar que eu era a namorada dele, parecia que estava marcando território feito um cachorro. Eu não duvidava que se ele sentisse que um dos caras iria me machucar, mataria ele na hora, sem ligar para as consequências.

— A dispensa fica aqui. – O detento com a arma nos disse, quando colocamos nossos pés no refeitório, ele estava bem mais na frente

— Nunca tentaram sair daqui? – T-Dog perguntou a eles, enquanto olhava ao redor do refeitório

O lugar estava cheio de sacos de sacos de lixo preto, espalhados nos cantos do refeitório, provavelmente estavam cheios de lixos e tralhas.

— Tentamos tirar as portas. – O detento que antes era o mais quieto nos disse – Mas se der um pio aqui, as aberrações se juntam na porta, rosnando, tentando entrar. As janelas têm barras que nem o He-Man arranca.

— É maior do que uma cela de 1,5 por 2,5 m. – O detento loiro comentou

É, nem imagino o porquê delas serem assim.

— Eu não vou reclamar. – O detento grandão disse, balançando a cabeça negativamente – Quinze anos. A perna esquerda mal cabe nesses beliches.

— Não chamam ele de “Big Tiny” por nada. – O detento que não é mais caladão comentou

— Já pararam de se masturbar? – O detento com a arma perguntou, estava encostado na porta da cantina, nos esperando – Cansei de esperar aqui.

Evitei de fazer comentários de ainda não ter gozado por causa de Daryl, sei que ele ficaria furioso com um comentário assim com homens que não transvasavam a anos. Meu namorado já tinha soltado uns comentários baixos, dizendo que eu deveria ver se meus sutiãs já estavam secos, porque se algum dos detentos olhassem para os meus peitos, ele o mataria.

Fui a primeira a seguir o líder dos detentos, descansando minha mão sob minha pistola no coldre, caso ele tentasse alguma gracinha. Quando entrei na dispensa, uma raiva se alojou no meu corpo. Os cretinos disseram que tinham pouca comida, mas na verdade, tinham muito mais do que sequer sonharíamos. A dispensa estava lotada. Eu me encostei na porta de ferro e quando Daryl passou por mim, me preparei para ouvi-lo discutir com os presidiários.

— Isso é pouca comida? – O caçador perguntou, parando na frente do líder deles, ficando peito a peito com ele

— Acaba logo. – O detento com a arma disse depressa, indo para o lado e deixando ele passar, para examinar as latas de comida – Podem levar um saco de milho, um pouco de atum...

— Nós falamos metade. – Rick o interrompeu – É o acordo. – E então notou uma porta a sua esquerda, que estava fechada – O que tem ali?

— Não abra. – O detento grandão avisou

Assim que Rick abriu a porta, um cheiro podre invadiu nossas narinas e instintivamente levei a minha mão para o meu nariz, o tampando. Tão rápido quanto abriu, Rick a fechou, desnorteado pelo cheiro.

Os detentos riram de nós, claramente tinham se deliciado com esse momento.

— Ele quis ver. – O detento com a arma comentou risonho, olhando para os amigos – Não vejo a hora de ter a minha privada.

Não tive muito momento para imaginar uma tortura muito boa para ele, pois Daryl veio até mim, segurando um saco de comida.

— Consegue levar? – Ele me perguntou

Dei de ombros e abri os braços para receber o pacote, ele encostou o saco de comida no meu peito e enquanto eu abraçava o saco de comida, não pude deixar de sentir suas mãos deslizarem pela minha cintura.

— Consegue levar mais um? – Daryl me perguntou, analisando meu rosto

— É. – Concordei balançando a cabeça positivamente – Pode me dar.

Daryl colocou mais um saco de comida em cima do que eu já estava carregando, tampando parte da minha visão. Se estava pesado? Estava, mas eu não iria chorar para ele levar para mim. Principalmente na frente de desconhecidos com grande potencial de inimigos.

Com Rick, T-Dog carregando sacos de comida também e Daryl fazendo nossa guarda, nós refizemos o caminho pelos corredores escuros da prisão, seguindo as flechas desenhadas na parede. Assim que chegamos ao bloco C, respirei fundo, estava cansada.

— Alguém pediu comida? – Perguntei alto, enquanto caminhava para o portão onde Carl estava e iria abrir

O filho de Rick sorriu animado e abriu o portão, nos dando passagem para entrar e deixar os sacos de comida no chão, até arranjarmos um lugar para eles.

— Trouxeram o quê? – Carl me perguntou, ansioso

— Um monte de enlatados. – Respondi sinceramente, sorrindo para ele

— Tem muito mais de onde isto veio. – T-Dog comentou, passando na minha frente – Você está lenta.

— Estou cansada. – Resmunguei como resposta

Ajudei T-Dog a guardar a comida o mais rápido que pude, para poder correr até a cela onde Hershel estava e assim que cheguei lá, encontrei Glenn algemando a mão do velho ao beliche. Hershel estava pálido, pois perdera muito sangue, mas parecia estável. Tenho certeza que fizeram tudo que podiam e o que não podiam para ajudá-lo.

— Medida de segurança? – Perguntei a Glenn, olhando da algema para meu amigo coreano

— É. – Glenn respondeu suspirando – Ordens do Rick.

— Como o velhote está? – Perguntei, mesmo sabendo que minha resposta estava estampada no rosto de Hershel

— A hemorragia parou e não há febre, mas está arquejando, o pulso caiu e ele ainda não abriu os olhos. – Glenn me respondeu, olhando para seu sogro – Rick não quis correr riscos e decidiu algema-lo.

— Ele vai melhorar. – Murmurei mordendo os lábios

Só da possibilidade de Hershel virar um caminhante, fazia com que minha boca secasse e meu coração doesse.

— Como foi com os prisioneiros? – Glenn resolveu mudar de assunto, já que o anterior não era nada agradável

— Os caras são uns babacas. – Falei para ele, revirando os olhos – Tinham mais comida do que queriam nos entregar, por sorte, Rick sabe como fechar um trato.

— Gabriela? – Escutei Rick me chamando, sua voz estava um pouco longe

Dei um último olhar em Hershel e no meu amigo coreano antes de sair da cela e procurei Rick com o olhar, o encontrando perto do portão de ferro que levava até o hall do bloco. Tinha algo em seu olhar que eu não estava gostando.

— Já vamos? – Perguntei, caminhando até ele

— É sobre isso mesmo que eu quero falar com você. – Rick me disse, e eu percebi seu olhar passar de mim para o portão do hall – Achamos que você deve ficar, além do mais, está parecendo cansada.

— Achamos? – Perguntei, repetindo suas palavras – Rick, não deixe que o ciúme daquele caipira interfira nos nossos deveres.

— Não é isso. – Rick negou e abaixou a voz – A tensão entre você e aquele detento é grande, quase causaram matança no pátio. – Ele me disse e quando viu que eu ia retrucar, continuou – Escuta, preciso que tome conta das coisas aqui. Você viu como Hershel está e se o pior acontecer, quero que não pense duas vezes antes de tomar uma atitude.

— Não me peça isso. – Falei baixo, sentindo minha garganta secar

— Não é algo que queremos que aconteça. – Rick me disse, colocando a mão em meu ombro – Mas enquanto eu estiver fora, quero que fique no comando e faça o necessário para manter as pessoas do grupo vivas.

— Está bem. – Murmurei e respirei fundo, sentindo ele tirar a mão do meu ombro – Quero que me faça um favor, cuide daquele caipira idiota. Não confio naqueles homens e se eles estavam presos, fizeram por merecer.

Rick afirmou com a cabeça e eu o acompanhei até o hall, onde Daryl e T-Dog estavam, junto com os detentos. Eles tinham colocado armas brancas em cima da mesa, e os detentos estavam escolhendo as que preferiam usar.

— Por que usar isto se tenho isto aqui? – O detento com a arma perguntou, comparando um pé de cabra com a arma que tinha ganhado de um guarda

— Porque esse pé de cabra aí pode fazer muito mais estrago sem chamar atenção. – Antes de qualquer um responder, eu falei – Vocês já sabem que o barulho atrai aquelas coisas, então comecem a pensar como sobreviventes e não como bandidos. – Apoiei minhas mãos na mesa, enquanto olhava para os detentos, talvez era por causa disso que Rick e Daryl não queriam me levar, eu falava tudo que vinha na cabeça – Só dispare a arma se tiver encurralado ou tiver certeza que não vai causar barulho, seja com silenciador ou com qualquer outra merda que abafe o barulho, porque se não ligar para isso e puxar o gatilho da arma, causando barulho, todos os caminhantes do lugar serão alertados e isso te condenará a morte, assim como seus amigos.

— Bela explicação. – T-Dog comentou

— Como seu superior não acabou com a sua raça, soldado? – O detento com a arma me perguntou

— É porque eu era a superior. – Respondi, arrumando minha postura e coloquei as mãos no bolso – Primeira-Tenente Lopes, Chefe da Infantaria do Fort Benning.

— Certo. – Rick disse e me olhou – Obrigado pela explicação, Gabriela.

Ele me lançou um olhar bem claro que queria que eu saísse dali e me juntasse aos outros do grupo no bloco C.

— Vou sair quando vocês irem. – Expliquei, olhando para ele – Quero saber do plano, caso eu tenha que sair e procurar por vocês.

— Não vai ter que fazer isso. – Daryl me disse, olhando pra mim

— Isso sou eu que decido. – Retruquei

— Antes que discutam, quero explicar o plano para darmos continuidade com o trato. – Rick falou, olhando de Daryl para mim e depois olhou para os detentos – Vamos dois a dois. Daryl e T vão na frente. Eu fico na rabeira com você. – Apontou para o menor dos detentos – Fiquem juntos, mantenham a posição por mais que os caminhantes se aproximem. Sem manter a posição, todos podemos morrer. Se alguém fugir, pode ser confundido com um caminhante e terminar com um machado na cabeça.

— E mirem aí. – Daryl falou para eles – Essas coisas só morrem batendo na cabeça.

— Não precisa explicar como matar um homem. – O detento com a arma disse rindo e olhou para os colegas detentos

— Eles não são homens. – T-Dog comentou – São outra coisa.

— Não se esqueçam de mirar no cérebro. – Rick disse mais uma vez

O líder dos detentos pegou o pé de cabra da mesa e deu meia volta, indo em direção a saída, sendo seguido por seus colegas. Antes de Daryl se afastar, eu o segurei pelo braço e me aproximei mais dele, o abraçando pelo pescoço e colando nossos corpos.

— Não baixe sua guarda. – Falei para ele, aos sussurros enquanto aproximava nossas bocas e só parei quando elas estavam a poucos centímetros de distância, quase roçando uma na outra – Eles vão trair vocês na primeira oportunidade que surgir. Então fique atento, se não for por você, fique atento por mim. Posso estar um pouco brava por você ter decido dormir no poleiro ao invés de estar na cama comigo, mas isso não faz com que os meus sentimentos por você desapareçam, caipira.

— Eu já sabia que estava emburrada. – Daryl comentou baixo

Eu sorri para ele e colei nossos lábios, em um beijo rápido de despedida, pois os outros estavam esperando ele para irem.

— Ok, pode ir. – Falei alto, me distanciando ele – Até daqui a pouco.

Ele me deu um aceno de cabeça e se virou, caminhando em direção a Rick, T-Dog e os detentos. Eu os esperei sair para voltar ao bloco de celas e quando passei pelo portão, o tranquei. Caminhei até a cela que Hershel estava inconsciente e encontrei Carol e Glenn com ele.

— Já foram? – Carol perguntou, quando me notou ali

— Sim. – Respondi entrando na cela e me encostando na parede, para olha-los e ficar de olho no estado de Hershel

— Pensei que você iria com eles. – Glenn comentou

— É, eu também. – Resmunguei, passando a mão pelo rosto – Rick achou melhor eu ficar e ficar no comando, caso algo aconteça.

— O que está havendo? – Maggie perguntou, havia acabado de chegar na cela e seu olhar estava direcionado a algema que prendia a mão de seu pai no beliche

— Era necessário. – Glenn disse a ela, estava desconfortável com a situação

— Por precaução. – Carol acrescentou, olhando pra ela

— Será que eu posso ter um minutinho a sós com ele? – Maggie nos perguntou, depois de soltar um longo suspiro

— Sim, quer que eu...

— Não, sozinha.

— É claro. – Eu lhe disse, concordando e fui até ela, para abraça-la – Ele vai ficar bom antes mesmo de percebermos. O velho é forte.

Maggie e eu nos abraçamos por alguns segundos e depois sai da cela, mas como não tinha um lugar para ir, decidi sentar na escada, esperando o tempo passar. Não se passou muito tempo até Carol se juntar a mim, assim como Glenn e nós três ficamos em silencio. Quando Lori passou por nós e entrou na cela, decidimos segui-la, aproveitando o fato que não seria nós que entraríamos primeiro. Como a cela estava cheia, Glenn e eu ficamos do lado de fora, deixando que Maggie, Lori, Carol e Beth, que havia chego a pouco tempo ficassem do lado de dentro, com Hershel.

Glenn estava enrolando a corrente de um relógio de um relógio de bolso no dedão. Eu sabia de quem era o relógio, de Hershel, pois desde a fazenda eu via ele pegando o relógio e olhando as horas, apenas não sabia se ainda funcionava ou se era apenas para se lembrar de algo. Dei uma olhada para as pessoas na cela e vi que todos estavam olhando ansiosos para Hershel, esperando ele acordar. Eu sabia o que eles estavam sentindo, pois eu também estava ansiosa. Por cima do ombro de Glenn, vi Carl caminhando até nós, segurando uma bolsa.

— Não estava organizando a comida? – Perguntei para ele, enquanto ele se aproximava

— Fiz melhor. – Carl me respondeu, sorrindo, passou por mim e por Glenn e entrou na cela de Hershel, para colocar a bolsa no chão – Olha só.

Beth foi a primeira a abrir a bolsa e quando abriu, mostrou vários utensílios médicos, coisas das quais precisávamos para ajudar Hershel.

— Onde arranjou isto? – Lori perguntou desconfiada, olhando para o filho

— Na enfermaria. – Carl respondeu – Não sobrou muito, mas eu limpei.

Carol e Maggie estavam colocando gazes na perna recém cortada de Hershel, a cobrindo.

— Foi sozinho? – Lori perguntou logo sem seguida

— Fui. – Carl respondeu prontamente

Nós olhamos para o menino, surpresos.

— Ficou louco? – Lori perguntou alto, inconformada

— Não foi nada. – Carl lhe disse – Matei dois caminhantes.

— Você.... Certo, está vendo isto aqui? – Lori perguntou para ele, colocando a mão no corpo do Hershel – Aconteceu com o grupo inteiro, não pode fazer isso sozinho.

— Faltam suprimentos, eu fui pegar. – Carl retrucou para a mãe

— Eu agradeço, mas...

— Então larga do meu pé. – Carl gritou com ela

— Carl! – Beth disse em seguida, perplexa – Ela é sua mãe. Não pode falar assim com ela.

— É legal você querer ajudar...

Lori parou de falar assim que seu filho saiu correndo da cela, o escutamos subir as escadas para o segundo andar de celas e ficamos em silencio.

— As bandagens vão impedir a infecção. – Carol nos disse quebrando o silencio, enquanto arrumava as gazes na perna de Hershel

— Que bom que ele te ensinou tudo isto. – Glenn comentou, olhando pra ela

— Ele não me ensinou tudo. – Carol disse e depois de olhar por alguns segundos para Hershel, ela olhou para todo mundo da cela, mas parou seu olhar em mim – Preciso da sua ajuda.

— Agora? – Perguntei, olhando dela para Hershel

— Sim, agora. – Carol respondeu depressa

— O que é? – Perguntei juntando as sobrancelhas

— Aqui, não. – Carol comentou se levantando

— Não posso deixar o Hershel. – Eu lhe disse, apontando para o homem inconsciente na cama

— É importante. – Carol falou séria

— Carol, não posso...

— Pode ir. – Glenn me interrompeu, olhando de mim para Carol – Nós tomamos conta.

— Glenn...

— Gabi, ficaremos bem. – Maggie afirmou, balançando a cabeça positivamente – Pode ir.

Olhei mais uma vez para Glenn antes de me afastar e concordei, seguindo Carol. Nós saímos da prisão e atravessamos o pátio, indo em direção as cercas. Durante o caminho, Carol me contou o que ela queria fazer e porque precisava da minha ajuda. Ela queria treinar uma cesariana em uma das caminhantes pois Hershel não tinha lhe ensinado como fazer o parto de Lori, caso ele não estivesse mais aqui.

Fazia sentido, mas eu não conseguia imaginar.

Enquanto passávamos, entre as duas cercas, os caminhantes do lado de fora se jogavam para tentar nos pegar, mas o máximo que conseguiam era balançar a cerca.

— Aquela. – Carol escolheu, apontando para uma caminhante loira com vestido amarelo queimado, ou era apenas amarelo com sujeira

— Tudo que diz faz sentido. – Comentei com ela, enquanto tirava minha faca de combate do coldre – Quer usar uma caminhante para treinar, faz sentido. É que eu só... estou esperando a ficha cair.

— Lori está atrasada. – Carol me disse, olhando de mim para a caminhante que tinha escolhido usar como cobaia – O Carl nasceu de cesariana. O próximo também deve nascer assim. Hershel tinha alguma experiência com isso, mas ele não vai mais conseguir ajudar. Eu preciso treinar e cadáveres não faltam. 

— Está bem. – Afirmei com a cabeça – Faz sentido.

— Preciso aprender a cortar o abdômen e o útero sem atingir o bebê. – Carol me disse, enquanto olhava para a caminhante

— Ok, por que não? – Murmurei, mas quando fui matar a caminhante, ela me impediu, pegando no meu braço

— Deixa comigo.

Concordei mais uma vez e dei uns passos para o lado, deixando com que Carol matasse a caminhante com um pedaço de ferro. Ela fez um gesto apontando para os caminhantes restantes e eu suspirei, afirmando novamente com a cabeça. Segurei minha faca pela lâmina e encostei o cabo na cerca, enquanto andava e fazia barulho, atraindo os caminhantes para mim. Burros como são, os caminhantes me seguiram até estarmos longe o suficiente de Carol e ao segurar minha faca pelo cabo novamente, comecei a mata-los pelos buracos da cerca, amontoando seus corpos um em cima do outro, até o ultimo cair.

Deixei Carol com sua cobaia e refiz todo o caminho de volta para a prisão, passando pelo pátio e entrando no bloco C, atravessei o hall e abri novamente o portão de ferro, indo diretamente para a cela de Hershel, onde encontrei todos abalados e aliviados ao mesmo tempo. Lori me contou o que tinha acontecido nos poucos minutos que eu fiquei fora, Hershel havia tido uma parada cardíaca e com a reanimação e respiração boca a boca, ela havia conseguido trazer o velho de volta.

Encostei minhas costas na grade da cela e respirei fundo, passando a mão pelo cabelo, aliviada.

— E a Carol? – Glenn perguntou a mim

— Está perto das cercas. – Respondi dando uma olhada para ele – Ela está...

Parei de falar quando escutei o barulho do portão de ferro se abrir e me virei para olhar. Rick, T-Dog e Daryl haviam voltado e tinham acabado de entrar.

— Hershel parou de respirar. – Carol logo contou, olhando para o pai – A mamãe o salvou.

— É verdade. – Glenn afirmou

Rick entregou as suas chaves para o filho e entrou na cela de Hershel. Passei novamente a mão pelo cabelo olhando para Daryl, o qual estava se aproximando de mim e assim que ele chegou perto, pegou em minha cintura e me virou muito facilmente, me deixando de costas para ele. Daryl me abraçou por trás e apoiou seu queixo na minha cabeça, para olhar pra dentro da cela de Hershel. Era o que todos estavam fazendo. Era o que eu tinha feito durante boa parte do dia. 

— Ainda sem febre. – Lori contou, olhando de relance para o marido

Rick balançou a cabeça positivamente e se aproximou do beliche. Ele se apoiou na grade do beliche e olhou para Hershel. T-Dog passou por nós e entrou na cela, também se aproximando do velho. Estávamos todos olhando para ele, apreensivos e com medo. Maggie subitamente se inclinou em direção ao pai e eu prendi minha respiração, preocupada. Mesmo com várias pessoas ao lado de Hershel, tampando parte da minha visão, pude ver os olhos do velho se abrirem e olhar ao redor, olhar para nós.

— Papai? – Maggie o chamou e se inclinou sob ele

— Papai. – Beth se ajoelhou ao lado do pai

Rick pegou as chaves da algema e libertou a mão de Hershel e o velho ergueu a mão livre para ele, pedindo por um aperto de mão, Rick se ajoelhou ao lado dele e apertou sua mão. Maggie e Beth começaram a chorar de alegria, quando o pai fechou os olhos novamente, mas desta vez, era apenas para dormir.

Eu me virei para Daryl e o abracei, sorrindo aliviada. Daryl me apertou em seus braços e eu ri baixo.

O dia tinha acabado de melhorar.

No jantar, fizemos uma refeição de verdade, feijão, milho e sardinhas. Maggie e Beth não saíram de perto do pai e o ajudou a se alimentar também. Eu também fiquei sabendo como tinha sido com os detentos, e aconteceu assim como eu disse, aquele cara com a arma traiu eles na primeira chance que teve, mas Rick o matou. Apenas dois detentos ficaram vivos, com o bloco de celas que eles tinham conquistado.

Tínhamos feito uma mudança na minha cela, antes de todos irem dormir. Daryl e Glenn tiraram o beliche da cela a deixando mais espaçosa e enquanto eles levavam o beliche para longe, eu fiquei responsável por colocar os colchões no chão, um do lado do outro e forrar com um lençol, ajeitei nossos travesseiros e nossas cobertas. Antes de ir para a cama, Daryl e eu colocamos um dos cobertores nas grades da cela, como uma cortina e com isso ganhamos bastante privacidade.

Depois que transamos, quase lhe perguntei qual era a das cicatrizes, algo que sempre reparei quando passava as mãos em suas costas ou o arranhava durante o sexo. As cicatrizes eram grandes e alguém tinha feito isso com ele. Daryl só falou de seu pai comigo uma vez, durante a busca por Sophia, disse que ele não parava sóbrio e vivia na farra, talvez, seu pai tenha lhe agredido.

Ou Merle.

— Está pensando no que? – Daryl perguntou baixo, enquanto enrolava a camisinha suja em um pedaço de papel e a jogava dentro da privada da cela

— Só estou feliz por você ter mudado de ideia sobre o seu poleiro. – Eu murmurei baixo e assim que ele voltou a se deitar, eu me aconcheguei em seus braços – Nós precisávamos disso.

Durante esses últimos meses, nós só conseguíamos transar em raras ocasiões, pois normalmente todos estavam juntos e dormiam no mesmo lugar. Me lembro que a uns dois meses atrás, quando conseguimos deixar uma casa segura o suficiente para cada um dormir em um cômodo, Daryl e eu fizemos umas três vezes naquela noite, no quarto de um adolescente louco por baseball.

— Nem me diga. – Ele disse baixo, fazendo carinho na minha cabeça

Fechei os olhos e respirei fundo, estávamos cansados e nem foi por causa do sexo, mas sim pelos acontecimentos recentes. Hershel sendo mordido, detentos sobreviventes...

Uma boa-noite de sono era o remédio que precisávamos.


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