TWD - Terceira Temporada escrita por Gabs


Capítulo 12
Oito


Notas iniciais do capítulo

"Você disse uma vez que isto não é uma democracia. Chegou a hora de honrar o que falou"



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Quando acordei no dia seguinte, me senti muito melhor. Mas isso passou quando me deparei com Daryl assim que saí da minha cela. Ele estava dormindo novamente no poleiro, mas por mim, estaria lá fora, com os caminhantes. O pior era o irmão dele, estaria zanzando pela prisão se não fosse por Rick. Mas como não tinha autoridade para falar em ficava e quem ia embora, me mantive em silencio, aceitando as ordens de Rick.

O grupo se reuniu no mesmo lugar que sempre fazíamos as reuniões, no andar de baixo do bloco de celas, todos aparentavam estar agitados e com medo. E alguns estavam falando sobre partir, de vez.

— Nós não vamos embora. – Rick anunciou, em alto e bom som

— Não podemos ficar aqui. – Hershel disse logo depois

— E se tiver outro atirador? – Maggie perguntou, estava agitada – A madeira não segura as balas.

— Não temos nem como sair. – Beth murmurou alto

— Não durante o dia. – Carol comentou com eles

— Porra! – Exclamei, irritada com a faladeira deles – Vocês escutaram muito bem o Rick dizendo que não vamos embora. Coloquem isso em suas cabeças, não fugiremos com o rabo entre as pernas.

— É, tem razão. – Merle disse alto, chamando nossa atenção para si, ele estava do outro lado do portão de ferro, o qual separava o bloco de celas C com o hall - É melhor viverem feito ratos.

— Se tiver uma ideia melhor, Merle, diga. – Sam falou alto, se encostando na parede enquanto o olhava – Mas não falte com respeito a ela.

— Que patético. – Merle comentou, olhando para ele – Ou você a ama, ou é um fodido escravo. Seria escravo sexual?

— Ela é minha superior, olha como fala. – Sam falou perplexo, se desencostando da parede e caminhando em direção a ele, porem parou quando me ouviu chama-lo – Tenha mais respeito, Dixon.

— Sam. – O chamei novamente, irritada mais ainda – Deixe esse cretino nos dizer sua ideia, preciso rir um pouco.

— Temos um lance, sabia? – Merle perguntou a Sam, me indicando e depois riu, com a cara de nojo que meu amigo fez quando se afastou dele – Bom, amor, deveríamos ter fugido à noite passada e vivido outro dia para lutar. Mas perdemos a chance, né? Sei que ele tem vigias nas estradas que saem daqui.

— Não temos medo do canalha. – Daryl disse alto, para o irmão

— Pois deveriam ter. – Merle retrucou logo em seguida – O caminhão derrubando a cerca foi como se ele tocasse a campainha. Nós podemos ter muros grossos para nos escondermos, mas ele tem armas e mais pessoas. E se a vantagem for dele, já era, pode até nos matar de fome aqui.

— Vamos botá-lo em outro bloco de celas. – Maggie disse, olhando para ele de canto de olho

— Não. – Daryl negou e respirou fundo – Faz sentido.

— E a culpa dessa merda estar acontecendo é de quem? – Perguntei alto, cuspindo as palavras enquanto falava e olhava para Merle – Você começou essa guerra quando nos sequestrou. Eu disse pra confiar na gente...

Parei de falar e crispei os lábios, respirando fundo. Eu não tinha que falar coisas que ele já sabia, minhas conversas com os Dixon tinham acabado.

— Não adianta falar de quem é a culpa. – Beth disse, meio alto e depois suspirou  – O faremos agora?

— Por mim, teríamos partido. – Hershel contou, estava sentado na escada que levava ao segundo andar de celas – Agora, o Axel morreu. Não podemos ficar aqui parados. – Rick suspirou e deu meia volta, caminhando em direção ao portão – Volte aqui. – Hershel mandou, estava quase gritando com ele e assim que Rick parou, ele pegou suas muletas e se levantou, caminhando em direção a ele – Rick, você está pirando. Todos nós vimos e entendemos por quê. Mas agora não é a hora. – Rick se virou para olha-lo - Você disse uma vez que isto não é uma democracia. Chegou a hora de honrar o que falou. Pus minha família nas suas mãos. Então, ponha a cabeça no lugar e faça alguma coisa.

Assim que Rick começou realmente a fazer algo, fui terminar o que tinha começado a fazer ontem. Limpar o resto das nossas armas e deixá-las prontas para uso.

— Sam. – Eu o chamei alto, me apoiando um pouco na mesa para olhar ao redor, eu era a única pessoa no hall do bloco de celas, já que Merle não era considerado um ser humano – Sam! – Continuei, assim que escutei sua voz perguntar o que eu queria – Me dá uma ajuda com a limpeza das armas aqui, tá quase acabando.

— Mal cheguei e você já está abusando do poder. – Sam comentou, enquanto fechava o portão atrás de si e caminhava em minha direção, ele se sentou ao meu lado e pegou um dos panos – Isso traz várias lembranças.

Eu o olhei e sorri minimamente, antes de voltar a fazer o que estava fazendo, desmontando a pistola que pertencia a Maggie.

— Então, Sam, você soube esconder bem quem realmente era. – Merle comentou alto, se aproximando um pouco de nós – Mas eu sabia que tinha alguma coisa que não estava nos contando, um detalhe muito importante.

— Vocês sempre foram meio burros. – Sam comentou, olhando para ele – E ainda aceitam qualquer pessoa sem fazer uma pesquisa ou testá-la. Idiotice.

— Presta atenção no que está fazendo. – Murmurei baixo, olhando de relance para Sam – Se uma dessas armas não disparar, pode significar a morte do usuário.

— Eu sei. – Sam resmungou

— Tem água aí, gostosa? – Merle me perguntou e como não respondi, ele acrescentou – Que tal um copo bem cheio?

— Eu lhe daria água, mas só se você morresse afogado nela. – Comentei alto

Merle deu risada e se afastou, comentando como meu humor era bom.

Com a ajuda de Sam, consegui terminar muito mais rápido que havia previsto e distribuímos as pistolas para seus respectivos donos, antes de entrar novamente no coloco de celas e nos reunirmos com uma parte do grupo que estava lá, perto da escada, conversando entre si e fiquei muito desconfiada quando notei que foi só eu me aproximar, que a conversa se encerrou abruptamente.

Eu os olhei, cerrando os olhos.

Estavam me escondendo algo.

— Não te vi comendo hoje. – Hershel quebrou o silencio e disse me olhando, sério – E nem ontem. Você precisa se alimentar direito.

— Por que a conversa parou quando eu cheguei? – Perguntei logo em seguida, colocando as mãos no bolso – Estavam falando sobre o que?

— Coisa de homem. – Glenn respondeu rápido

Eu os olhei mais uma vez e por alguns segundos, algo passou em minha cabeça. Não era apenas Hershel e Glenn que estavam ali, conversando, Daryl estava com eles. Espero que os dois não tenham aberto a boca sobre as minhas suspeitas e sobre o que aconteceu em Woodbury, no interrogatório.

Eles não fariam isso, não quando deixei bem claro que queria sigilo.

— Pro bem de vocês, espero que a pauta da conversa não seja eu. – Falei, olhando de Hershel para Glenn – Há coisas muito mais importantes para comentar.

— Sam. – A voz de Rick nos fez virar, ele estava caminhando até nós e assim que meu amigo perguntou o que era, ele continuou – Preciso que vá vigiar. Maggie estará te esperando lá fora. Olhos bem abertos, cabeça abaixada.

Assim que meu amigo concordou e se afastou, caminhando em direção à saída, eu esperei Rick chegar até nós e se apoiar na escada.

— E aí? – Perguntei ansiosa, olhando-o

— Bom, o campo está cheio de caminhantes. – Rick anunciou o obvio – Não vi atiradores lá fora, mas a Maggie e o Sam ficarão de vigia.

— Posso subir na torre de vigia, acabar com metade dos caminhantes. – Eu lhe disse – E enquanto isso vocês terão tempo para arrumar a cerca.

— Ou usar os carros para colocar o ônibus no lugar. – Michonne comentou, se aproximando a passos largos de nós

— Para chegar ao campo, vamos torrar a munição. – Hershel murmurou

— Então, estamos presos aqui. – Glenn comentou, nos olhando – Sobrou pouca comida e munição.

— Já passamos por isso. – Daryl lhe disse, passando a mão pelo rosto – Nós vamos ficar bem.

— Isso quando éramos só nós. – Glenn retrucou – Antes de ter uma cobra entre a gente.

— Vamos repetir esse papo? – Daryl perguntou se virando para ele, sua voz mostrava o quanto estava farto daquela conversa sobre seu irmão – O Merle vai ficar aqui. Agora ele está conosco. Vai se acostumando.

— Ei. – Rick chamou a atenção deles

— Vocês todos. – Daryl rosnou, antes de se afastar

O caçador subiu as escadas e assim que estava longe o suficiente, reprimi uma careta de desgosto.

— É sério, Rick, o Merle não vai dar certo aqui. – Glenn lhe disse, meio baixo

— Não posso expulsá-lo. – Rick retrucou, no mesmo tom de voz

— Eu não pediria para você viver com o Shane depois que ele tentou matá-lo. – Glenn também retrucou

— Merle tem experiência militar. – Hershel comentou, chamando atenção para si – Ele pode ser meio doido, mas não devemos subestimar sua lealdade ao irmão.

— E se resolvermos tudo de uma só vez? – Glenn perguntou baixo, olhando para nós – Damos o Merle ao Governador. Para negociarmos. Entregamos o traidor, quem sabe declaramos trégua.

— Você escutou o que disse? – Perguntei baixo, olhando para ele – Está ciente de que não há apenas um traidor nesta prisão? Sam está nesta lista e eu não vou entregá-lo. Você está tendo péssimas ideias, Glenn Rhee.

Balancei a cabeça negativamente e me afastei deles, resmungando baixo. Ao contrário de Glenn, eu tinha consciência de que meu amigo também era considerado um traidor e que era apenas questão de tempo para o Governador descobrir que um de seus homens desaparecidos estava abrigado na prisão.

Não entregaria Sam para morte.

Nem se isso significasse minha própria morte.

— Parece que chupou um limão, gostosa.

Ignorei Merle e me sentei em uma das mesas, afundei minha cabeça em minhas mãos e respirei fundo. Perto de mim, Carol murmurou e me avisou que tinha deixado uma lata de milho e que estava na metade, era o meu café da manhã e almoço do dia.

Enquanto estava almoçando e Carol limpando o hall da prisão, Michonne começou a fazer exercício perto de nós e eu quase a convidei para correr comigo, mas desisti no último segundo, pois nem eu mesma estava em condições de correr.

Estava cansada, tanto mentalmente quanto fisicamente.

— Carol, pode me arranjar uma garrafa de água? – Perguntei a ela, me virando para olha-la

— Está se sentindo bem? – Carol me perguntou, enquanto pegava uma garrafa de água e caminhava em minha direção

— Estou. – Respondi franzindo o cenho, enquanto pegava a garrafa de sua mão e a abria, para beber – Por que?

— Você está meio sem cor. – Ela respondeu, me olhando atentamente – O Hershel deveria dar uma olhada em você. Quer que eu o chame?

— Eu estou bem. – Respondi, depois de dar uns bons goles na água – Só precisava comer um pouco.

Ela pareceu aceitar minha resposta e se virou, para continuar limpando as prateleiras onde guardávamos os mantimentos.

— Se for para vivermos juntos, vamos fazer as pazes. – Merle disse e apenas conseguiu olhares tortos para si, ele atravessou o hall e se sentou na mesma mesa que eu estava, estava puxando conversa com a Michonne – Esse lance todo de caçá-la foi puramente profissional. Eu obedecia a ordens.

— Feito o Gestapo. – Michonne comentou, soltando um riso baixo

— Sim, isso mesmo. – Merle concordou – Fiz muita coisa de que não me orgulho. Antes e depois. Afinal, espero que possamos superar isso. Vamos pôr uma pedra sobre o assunto.

Merle se levantou e se afastou de nós. Fiquei por alguns segundos repassando suas palavras em minha cabeça e cheguei à conclusão de que talvez, Merle Dixon não era um desperdício de oxigênio. Olhei em direção ao portão de saída, o qual nos levava para o pátio, assim que Carl o abriu bruscamente e entrou correndo, gritando por seu pai.

— O que houve? – Perguntei alto, me levantando depressa

— É a Andrea, ela está lá fora.

Enquanto Carl passava seu aviso para todos os outros, eu fiquei esperando na porta de saída pelos outros, não era seguro sair sozinha, poderia ser uma emboscada, uma isca. Quando Rick se aproximou, com parte do grupo logo atrás de si, eu abri a porta e saí, empunhando a pistola. Assim que colocamos nossos pés no pátio, cada um foi buscar cobertura. Encostei minhas costas na lataria do carro do Glenn e olhei para o Rick, em busca de instruções e assim que ele me olhou, entendi o recado e mesmo abaixada, corri para o carro seguinte. Olhei bem ao redor e então me virei novamente para eles, afirmando com a cabeça.

— Está limpo. – Anunciei

Assim que me ouviu falar, Rick correu em direção ao portão que levava ao campo e nós o seguimos, cuidando de sua retaguarda.

— Está sozinha? – Rick berrou para ela

— Abra o portão! – Andrea berrou, para podermos escutar

— Está sozinha? – Rick berrou novamente, repetindo a pergunta

— RICK! – Ela gritou, olhando para os caminhantes atrás dela

Andrea já estava perto do portão, ela não tinha mudado nada desde o ano passado quando a fazenda foi derrubada por caminhantes e a perdemos. Ela levava um caminhante por uma coleira de ferro, ele não tinha braços e nem mandíbulas.

Aprendeu isso com Michonne, aparentemente.

Rick balançou a cabeça positivamente para Daryl e jogou as chaves do portão em sua direção. O caçador pegou as chaves no ar e abriu o portão, deixando Andrea passar. Assim que a antiga integrante do grupo entrou, avancei em sua direção.

— Levante as mãos! – Falei alto, apontando a minha pistola para ela – Dê meia-volta! – Eu mal a deixei falar e a empurrei em direção a cerca, virando ela de costas, para revista-la e tirei uma pistola do cós da sua calça. A puxei para trás, assim que um caminhante investiu contra a cerca e tentou agarra-la – De joelhos. – A empurrei novamente, em direção ao chão

Andrea caiu de joelhos no chão e levantou as mãos, chocada com a nossa atitude. Ergui a pistola dela e mostrei para Rick, logo afirmando com a cabeça, dizendo que ela estava limpa.

— Perguntei se está sozinha. – Rick comentou, olhando para ela

— Estou. – Andrea respondeu, pasma

Puxei a mochila de suas costas e a joguei na direção contrária dela. Olhei ao redor, procurando por mais pessoas e como não vi ninguém, supus que ela estava falando a verdade.

— Aparentemente está falando a verdade. – Comentei com Rick

— Bem-vinda de volta. – Rick lhe disse, assim que me ouviu falar e pegou em seu braço, a puxando para cima – Levante.

— Sam? – Andrea perguntou perplexa, olhando para o meu amigo

— E aí, Andrea. – Sam a cumprimentou – Pelo visto você já conhece a Chefe Lopes. Eu trabalhava pra ela no Fort Benning.

— Você não era professor? – Ela perguntou logo em seguida, olhando para ele, confusa 

— Nunca fui.

— Vamos entrar. – Rick nos disse – Conversaremos lá dentro. 

Com um gesto de mão, avisei para os outros que estávamos entrando de volta ao bloco de celas. Passei por Daryl e segui Rick de perto, assim que ele começou a andar em direção ao bloco C. Quando o portão foi aberto e colocamos os nossos pés no hall do bloco de celas, murmurei “Bem-vinda ao nosso lar”, me inclinando levemente em direção a Andrea. Passei por ela e me sentei em cima de uma das mesas, enquanto Carol abraçava Andrea e todos os outros do grupo de espalhavam pelo lugar. Percebi quando Sam e Daryl se estranharam, quando ambos se aproximaram para sentar na mesma mesa que eu estava e por fim, o lugar foi ocupado pelo meu amigo.

Eu não estava entendendo e nem queria saber qual era a de Daryl. Em todos os lugares que eu olhava, eu o via lá, me encarando e desviando o olhar. Foda-se, ele procurou por isso, não eu. Agora aguente.

— Depois que me salvou, pensamos que tivesse morrido. – Carol dizia, meio baixo, ao larga-la

— Hershel, meu Deus. – Andrea murmurou, assim que se distanciou de Carol e olhou para ele e as muletas, ela olhou ao redor, para os nossos rostos – Não acredito nisto. Cadê o Shane?

— Morto. – Respondi alto, cruzando os braços

— E a Lori? – Andrea perguntou, depois de uns segundos em silencio

Mordi os lábios, abaixando o olhar. Falar da esposa falecida de Rick não era um dos melhores assuntos para se ter, muito menos com ele perto.

— Ela teve uma menina. – Hershel contou, olhando para ela – A Lori não sobreviveu.

— Nem o T-Dog. – Carol comentou

— Sinto muito. – Andrea nos disse, olhando novamente para os nossos rostos e fixou seu olhar no garoto com chapéu de xerife – Carl. – O filho do Rick desviou o olhar e ela mordeu os lábios, se virando para Rick – Rick, eu... – Ela se calou, quando viu que ele não estava olhando para ela e nem iria – Vocês todos vivem aqui? – Perguntou, mudando de assunto

— Sim. – Glenn lhe respondeu – Aqui e no bloco de celas.

— Ali? – Andrea perguntou, apontando para a entrada do nosso bloco – Eu posso entrar lá?

Me levantei da mesa assim que ela deu o primeiro passo e me meti em sua frente, bloqueando seu caminho, o que a fez dar um passo para trás, para não bater de frente comigo.

— Não pode. – Respondi, olhando para ela

— Não sou uma inimiga, Gabriela. – Andrea disse, estava visivelmente chocada comigo

— Sério? – Perguntei sarcasticamente, cruzando os braços em baixo dos peitos – O campo e o pátio eram nossos até o seu namorado destruir a cerca com um caminhão e atirar em nós.

— Ele falou que vocês atiraram primeiro. – Ela disse, me olhando desconfiada

— O cara é um mentiroso. – Falei para ela, nervosa - Nem ter vindo aqui ele tinha que ter vindo.

— Ele matou um prisioneiro que sobrevivia aqui. – Hershel contou, balançando a cabeça negativamente, lamentando

— Nós gostávamos dele. – Daryl comentou, olhando para ela – O cara era um de nós.

— Eu não sabia nada disso. – Andrea nos disse, garantindo – Assim que fiquei sabendo, eu vim. Só soube que vocês estavam em Woodbury após o tiroteio.

— Já se passaram dias. – Glenn falou, a interrompendo

— Já falei que vim assim que pude. – Andrea comentou e depois de nos encarar mais uma vez, se virou para Michonne – O que contou a eles?

— Nada. – Michonne respondeu, serena

— Não estou entendendo. – Andrea disse alto, olhando ao redor, para todos nós – Deixei Atlanta com vocês e agora sou uma estranha?

— É a namorada do Governador. – Falei para ela, misturando cinismo e sarcasmo no meu tom de voz – Ele quase matou a Michonne e teria nos matado.

— Com o dedo dele no gatilho. – Andrea me interrompeu, apontando para Merle – Não foi ele quem os raptou? Que bateu em vocês? – Ela passou a mão pelo rosto, respirando fundo – Não posso desculpar ou explicar o que o Philip fez, mas vim aqui para tentar nos unir. Temos que resolver as coisas.

— Não tem nada a ser resolvido. – Rick anunciou, alto – Vamos matá-lo. Não sei como ou quando, mas vamos.

— Podemos resolver esta história. – Andrea lhe disse, séria – Tem espaço em Woodbury para todos vocês.

— Sabe que não é bem isso. – Merle comentou, rindo dela

— Por que acha que ele quer negociar? – Hershel perguntou a ela – Ele falou isso?

— Não. – Andrea respondeu, mordendo os lábios

— Então, por que veio aqui? – Rick perguntou, olhando para ela

— Porque ele está se preparando para a guerra. – Andrea respondeu, logo em seguida – As pessoas estão assustadas. Vocês são tidos como matadores. Estão treinando para atacar.

— Vou te dizer uma coisa. – Daryl falou, olhando para ela – Quando vir o Philip de novo, diga que vou arrancar o outro olho dele e cortar o saco fora, para depois enfiar na bunda dele. Esse cara vai ter desejado nunca ter arrancado as roupas dela.

Meu corpo gelou e eu evitei olha-lo, continuei encarando Andrea e por isso, pude ver sua expressão de confusão no rosto.

— Arrancado as roupas? - Ela perguntou lentamente, olhando para ele

— Escute, Andrea. – Falei, chamando a atenção dela para mim – Já aguentamos muita coisa, por muito tempo. Ele quer guerra e terá uma guerra. Não importa se está treinando civis para serem soldados, temos muito mais experiência em combate, somos espertos e você sabe muito bem disso.

— Rick. – Andrea o chamou e respirou fundo – Se vocês não negociarem, não sei o que vai acontecer. Ele tem uma cidade inteira. Olha a situação de vocês. – Ela olhou ao redor, para o grupo – Já perderam tanto. Não podem mais ficar sozinhos.

— Se quer fazer a coisa certa, coloque-nos dentro da cidade. – Rick lhe disse

— Não. – Andrea negou, chocada

— Então, fim de papo. – Rick anunciou, se afastando

— Existem inocentes. – Andrea disse alto, olhando para ele

Rick a ignorou e continuou caminhando em direção ao bloco de celas e bateu o portão quando passou.

— O sexo com ele deve ser incrível, para você ainda manter seus olhos fechados para a atual situação. – Eu lhe disse, balançando a cabeça negativamente – Vou te dar um conselho. – Comentei, caminhando até ela e apoiei minhas mãos em seus ombros – Da próxima vez que transarem, espere ele dormir, coloque o travesseiro no rosto dele e atire, por cima do travesseiro. Isso abafará o som da arma, você terá um silenciador, ninguém irá escutar. Depois disso, volte até nós, ainda tem uma família aqui.

Me distanciei dela e caminhei em direção a saída para o pátio, mas sem antes lançar um olhar aterrorizador em direção a Glenn, por ter aberto a boca para Daryl sobre o interrogatório. O meu medo era de não ter ficado só nisso, de terem comentado sobre o risco de gravidez.

Assim que coloquei meus pés no pátio, afugentei o sol dos meus olhos, usando a mão. Caminhei em direção ao local que fazíamos vigia, o qual estava vazio e me agachei no chão, pegando o binóculo ao meu lado e o coloquei sob os olhos, para ter uma visão ampla do nosso terreno.

Estava apreensiva por Andrea não estar nos contando a verdade.

— Agora tenho que ficar sabendo das coisas pelo Glenn. – Uma voz um pouco rouca chiou atrás de mim

Em um ano, nunca tinha me acostumado com seus passos silenciosos.

Tirei o binóculo da frente dos olhos e continuei em silencio, percebi que ele se aproximou alguns passos de mim e antes de fazer qualquer coisa, senti suas mãos se fecharem ao redor dos meus braços e com mais facilidade que eu gostaria, Daryl me colocou de pé e me virou para ele.

— Não encoste suas mãos em mim. – Grunhi, me afastando dele

Aquelas eram as primeiras palavras que eu lhe dizia diretamente, depois de seu grande retorno ao grupo.

— Você devia ter me contado! – Daryl rosnou, me olhando nos olhos

— Não sei o que lhe disseram, mas eu não tenho nada a ser compartilhado com você. – Falei, tentando conter o tom ríspido da minha voz

— Ele te estuprou. – Daryl disse num tom baixo e perigoso – Você devia ter me contado assim que nos vimos.

— Ninguém encostou em mim! – Falei alto, para ver se ele entendia – Glenn não sabe o que diz, não estava lá, ele não viu o que aconteceu durante o meu interrogatório. E foda-se, faria tudo de novo se fosse preciso, se isso salvasse a vida dos meus amigos.

— Diga a verdade. – Daryl disse, no mesmo tom de voz do que eu – Apenas diga e eu o matarei.

— Por que se importa com isso? – Perguntei, balançando a cabeça negativamente – Você foi embora, nos deixou.

— Eu voltei! – Daryl disse alto, quase gritando

— É, mas isso não traz de volta o que tínhamos antes. – Acrescentei, com a voz mais fria que consegui reproduzir – E dificilmente trará.

Daryl estreitou os olhos claros, enquanto nos olhávamos. Ele entortou os lábios e me viu balançar a cabeça negativamente, de saco cheio, mas aliviada, pois só tinham contado sobre isso a ele, aparentemente. Vi que daquela conversa não sairia mais nada e coloquei o binóculo de volta no chão, para caminhar em direção ao bloco C.

— Gabriela. – Ele me chamou, quando eu estava a uns bons passos de distância dele e ele continuou, ao me ver virar para encara-lo – Você disse que me amava, lá na estrada.

— Eu digo muitas coisas. – Comentei, negando com a cabeça – Cabe a você descobrir se são verídicas ou não.

Continuei meu caminho e assim que estava dentro da prisão, já arranjei outra coisa para fazer, reclamar com Glenn sobre sua incrível capacidade de falar coisas desnecessárias.

No meio da tarde, depois de Andrea ter passado algumas horas com a gente, Rick me pediu para buscar um carro para ela voltar a Woodbury e foi isso mesmo que eu fiz. Busquei um dos carros que menos usávamos e o dirigi até o pátio do bloco C, onde nosso grupo estava me aguardando. Estacionei o carro no meio do pátio, virado para o portão e saí, deixando-o ligado para sua nova dona. Antes de Andrea sequer pensar em entrar no carro, nós lhe devolvemos sua mochila.

— Obrigada. – Ela agradeceu e depois olhou para o carro, antes de nos encarar – Podem empresta-lo?

— Sim. – Rick lhe respondeu

— Bem, se cuidem. – Andrea murmurou alto, olhando para todos nós

Ela entrou no carro e fechou a porta. Rick se aproximou da janela e se abaixou para olha-la lá dentro.

— Andrea. – Rick a chamou e lhe entregou sua faca e sua pistola – Tome cuidado.

— Você também.

Eu a observei acelerar o carro em direção ao portão e assim que Merle o abriu, ela fez seu caminho de volta a Woodbury, passando pelo campo e alcançando a estrada.

Eu não fiquei lá fora tempo suficiente para vê-la se afastar, pois entrei no bloco C assim que a vi alcançar a estrada de terra.

Tinha muitas coisas para fazer.

Passei o resto da tarde fazendo rondas e montando planos de ataque em minha cabeça. Ao anoitecer, quando não pude mais adiar, me encontrei com o grupo no bloco de celas. Para ajudar a luz da lua que iluminava uma parte do lugar, eles acenderam um lampião. Me encostei na grade de uma das celas, perto de Daryl, escutando Beth cantarolar alguma de suas músicas desconhecidas. Lentamente, Rick descia as escadas, segurando sua filha nos braços e assim que chegou no térreo, caminhou até nós e se encostou no espaço que tinha entre Daryl e eu, o qual era grande, por sinal.

— Que reencontro, hein? – Daryl comentou com Rick, enquanto ao fundo a filha mais nova de Hershel cantava

— Ela está encrencada. – Rick contou, meio baixo

— Todos estamos. – Comentei, cruzando os braços – Mesmo sendo meio sonsa, a Andrea é persuasiva. E o cara está armado até os dentes. E quer a destruição.

— O que você quer fazer? – Daryl perguntou, olhando para Rick

— Vamos encarar. – Rick respondeu – Vou numa patrulha.

— Eu vou sair amanhã. – Daryl contou

— Não, você fica aqui e cuida do seu irmão. – Rick lhe disse, negando – Eu estou feliz que tenha voltado. Mas se ele causar problemas, a responsabilidade é sua.

— Eu cuido dele. – Daryl disse, aceitando o que Rick lhe falou

— Vai precisar de companhia amanhã? – Perguntei a Rick – Posso ir junto.

— Não, eu vou levar a Michonne.

— Será que é boa ideia? – Daryl perguntou, olhando para ele – Não a conhecemos direito.

— Vou descobrir. – Rick comentou – E levarei o Carl também. Ele está pronto. Vocês dois vão cuidar de tudo aqui, sei que não estão bem, mas preciso dos dois focados no trabalho.

— Deixa com a gente. – Daryl lhe disse, balançando a cabeça positivamente

— Bom, eu vou dormir. – Anunciei, coçando os olhos – Estou ferrada de sono. Nós nos vemos amanhã cedo.

Escutei Rick concordar e saí de perto deles, caminhando em direção a escada. Maggie e Glenn se encolheram para me deixar passar e eu lhes desejei boa noite, meio alto para que os outros também escutassem e eu não precisaria falar de novo. Assim que entrei na minha cela, fechei a cortina e me joguei no colchão.

Mal consegui tirar minhas botas antes de dormir.


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Notas finais do capítulo

Gentem, provavelmente ficarei sumida por uns dias. Tenho uma cirurgia marcada pra amanhã e eu soube que a recuperação é péssima, e como será em um dos meus olhos, não vou poder ficar atualizando a história pra vocês, na verdade, acho que não vou poder nem olhar pro pc.

Nos vemos em alguns dias, juro que volto ♥



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