Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 7
Sete


Notas iniciais do capítulo

~Elena na capa~



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— Uau! — exclamou Louise — que coisa fantástica aceitar o convite de Harry Blunt. Vai fundo, garota!

Fiquei contando os passos de Harry logo depois que ele sumiu do corredor e percebi que Jimmy Fields estava bem atrás de mim, rindo e dando tapinhas nas minhas costas.

— Acorde! — Sussurrou ele, em tom de deboche.

Finalmente consegui destravar o maxilar e falei:

— Preciso ver o que vou vestir. — Grunhi, perplexa.

Ainda atrás de mim, Jimmy Fields ainda gargalhava. Dei uma cotovelada discreta nele enquanto Louise e Elena guardavam seus objetos.

— Dá um tempo. — Sussurrei com a voz tão baixa, que elas não ouviram.

— Bom, vamos embora. — Elena disse, passando por mim e parando na porta, a espera de Louise.

— Me conte tudo na segunda, tudo bem? — Louise me abraçou.

— Claro. — sorri.

Não sei o motivo, mas mesmo tendo passado todas essas semanas grudada em Louise e Elena, me senti mais segura perto de Louise. Não por ficar perto de garotos bonitos do futebol e nem nada do tipo, mas ela possuía um jeito tão natural. Tipo, só dela, o que me lembrava o de Kate, de Garota Mimada. Já Elena... Não que ela seja chata ou insuportável, mas ela é mais do estilo em ficar em casa num sábado à noite lendo Shakespeare a assistir a documentários sobre constelações e, bem, esse não é meu tipo.

Quando elas saíram, automaticamente disparei para meu quarto atrás de Jimmy Fields, em busca de explicações coerentes.

— Certo, Jimmy Fields. — Fechei a porta do meu quarto rapidamente. Ele estava sentado na minha poltrona, olhando para a porta como se estivesse esperando por mim desde meu nascimento. — Desembuche. Quem é você? — perguntei irritada e séria ao mesmo tempo.

— Agora você acredita em mim? — seus olhos cor de azeitona brilhavam.

— Como Elena, Louise e Harry não te viram? Porque você é assim? — eu tinha tantas perguntas pra fazer pra ele. — Tantas perguntas e apenas uma resposta.

— Morto. — ele me interrompeu.

— Ah, qual é!?

Como eu podia estar vendo um cara morto e acima de tudo, super gato?

— Você quer que eu comece a voar e fazer tremores em seu quarto? Largue de ser imbecil. Eu já disse que estou morto, não percebeu?

Perplexa, pisquei.

— Como eu posso ser a única a ver você?

— Acredite em mim, pelo menos.

— Tudo bem, eu acredito. Agora. Mas, o que está acontecendo? Porque você simplesmente aparece no meu quarto do nada e desaparece do nada, sem explicações? E o que é isso de você estar morto? O quê? Sou uma mediadora, uma vidente ou coisa assim?

Ele suspirou.

— Você não é uma vidente e muito menos uma mediadora, Bells. Você apenas foi escolhida.

— Isso não responde nada. Fui escolhida pra quê? Você vai me abduzir?

— Cale a boca, droga! Estou querendo explicar e você não facilita nada.

Calei-me.

— Eu sou seu anjo da guarda.

Meu anjo da guarda? Que mundo é esse? Que absurdo é esse que ele está falando. Estalei meus dedos.

— Certo! E olá! Eu sou a coelhinha da páscoa! — Respondi, entre gargalhadas.

E quer saber? Ri mesmo. Que pessoa escuta uma coisa dessas, afinal? Ele cruzou seus braços contra o peito e me fuzilou com seus olhos brilhantes.

— Cale a boca! — Disse, com os dentes trincados.

Assenti, encolhendo os ombros. Calada, Belatriz, calada.

— Eu te dei a prova concreta, Belatriz. Você não entende que você é a única que pode me ver e me tocar? Estou morto. Mas eu sou real.

— Você tem certeza do que está dizendo?

Ele me sacudiu bruscamente, e gritou “acorde”.

— É verdade, droga! Está bancando uma de otária agora? É só você que consegue me ver.

Senti minha cabeça ficar pesada.

— Como isso aconteceu? — Minha voz soou tensa.

Ele massageou o couro cabeludo, dando um risinho abafado e cortando a tensão da nossa discussão.

Relaxei.

— Na verdade, eu não me lembro. Só... Morri. Mas, eu fui parar num lugar muito sinistro, cara. Muito claro, e cheio de pessoas estranhas que pareciam não me notar ali enquanto eu perguntava que lugar era aquele. E, eu fui parar numa sala, onde o velho me disse que eu seria um anjo da guarda. E aí ele sussurrou seu nome. Belatriz Keaton.

— Me proteger? Como uma... Babá?

— Não! Eu apenas não encontrei a droga da paz eterna, sabe? E não sei até quando vou ter que perseguir você.

— Me perseguir? — perguntei incrédula.

— A função dos anjos da guarda é proteger a pessoa concebida de todo o mal, então, resumindo, eu vou acompanhar você em todo lugar, para sua própria segurança.

— Essa é sua função?

— Sua mãe nunca te disse sobre anjos da guarda, Belatriz? — perguntou, sentando-se outra vez na minha poltrona.

— Minha mãe está morta. — Respondi, paralisada, sentindo dentro de mim um aperto forte no coração.

Ele soltou um gemido baixo.

— Não costumo dizer isso, mas, desculpe-me. O velho lá de cima apenas disse seu nome e que eu deveria cuidar de você.

— Se você é meu anjo da guarda, por que sumiu por todos esses dias? — Perguntei.

— Eu não sumi, aparecia de vez enquanto para me certificar que você estava bem, você apenas não me via, porque você anda mais no mundo da lua do que nesse planeta. — Ele gargalhou.

— Estou correndo perigo de alguma coisa?

— Eu não sei. Talvez sim, talvez não. — O suspense tomou conta de sua voz, quando me respondeu.

X X X

Finalmente o dia do encontro com Harry tinha chegado e eu estava um arraso.

Claro, de dois aspectos:

Primeiro, é complicado. A ideia de ter um anjo da guarda me perseguindo em todo lugar até meus últimos minutos devida é frustrante. Acho que não preciso disso. E a pior parte disso é pensar que, quando eu estiver fazendo certas coisas íntimas. Imagine, eu e um gato em uma bela troca de salivas e de repente Jimmy Fields aparecer na minha frente com aquele sorriso maligno só para se certificar de minha segurança! Que horror!

Segundo, e menos importante: com minha sapatilha de veludo preta, minha calça Jeans preta de cintura alta, meu cropped branco, minha jaqueta de couro e minhas unhas pretas, eu estava um arraso para sair com Harry. Tá, eu estava me achando, mas e daí? Não é bom se sentir bem?

A única coisa estranha que achei foi o fato de Harry não ter pisado um dia sequer na escola. Será se ele viria hoje? Mas se ele fosse desmarcar, acho que me avisaria, no mínimo.

Então, quando estava saindo, fiz questão de deixar um bilhete para Jimmy Fields, alentando-o sobre uma coisinha:

 

“Gasparzinho ou, Jimmy Fields,

Por favor, não me siga.

Tá, sei que é sua função me proteger, mas sei que estarei em plena segurança esta noite. Não se preocupe.

Belatriz.”

 

Bom, depois da noite em que Jimmy Fields disse o que realmente é, eu acreditei. Claro, porque não? Ninguém além de mim o viu e nem sentiu sua presença ali. Nem Louise, Elena, meu pai ou Ana. E como eu poderia duvidar disso? O cara se materializou e desmaterializou bem ali na minha frente. Puf! Ele sumiu! Puf! Ele voltou. Não costumo acreditar em vida após a morte e nem nessas baboseiras de coisas espíritas, mas eis a prova. Ele apareceu pra mim. Só pra mim, e pra mais ninguém. Mesmo ele me provocando arrepios quando aparece, mesmo olhando para mim com um sorriso cheio de malícia, eu acredito nele.

Então, eu deixei meu bilhete na poltrona onde ele sempre aparecia e porque não quero que ele apareça, bem, quando Harry estiver me beijando. Se, isso acontecer essa noite.

— Vamos? — Perguntou Harry, olhando para mim enquanto eu colocava o cinto.

— Para onde? — Perguntei, animada.

Ele me ignorou. É, valeu.

Em puro silêncio, só tirou sua Land Rover da vaga de deficientes e dirigiu, indo para um bairro totalmente desconhecido por mim, mas cheio de carrões, é, pode crer.

Ah, e adivinhe só, Harry Blunt é mesmo um esquisitão: no caminho, na sua Land Rover de bancos de couro ele não falou um “a” comigo, e o carrão dele nem tem som. Como ele aguenta ficar sem música?

— Jantar? — Perguntei outra vez, desejando não ser ignorada.

— Sim. — ele respondeu de forma formal.

E, falando em coisa formal.  Harry estava com uma roupa formal. É, todo certinho com seu terno, sabe, do estilo Jonas Brothers, sabe?

E, acho que pelo nível do restaurante no qual entramos, eu poderia ter colocado meu micro-vestido tubinho de renda.

Johnnie’s era o nome do restaurante, e por mais fabuloso que fosse, Harry estava perdendo tempo me levando ali. Sério, eu só como arroz, batata frita e bife, nada de lagostas, caviar ou esses molhos estranhos.

E para dizer a verdade, apenas cutuquei na lagosta com o garfo. Não dei nem uma mordida naquela coisa. Mas, em compensação eu mandei ver na sobremesa com os dois pedaços gigantes de bolo de chocolate com recheio de baunilha. Ah, e outro detalhe:

Harry não disse nenhum “a” comigo, igualzinho no carro.

E agora eu fico pensando: será que ele me chamou para jantar para estrear o terninho novo?

— Vamos embora? — Perguntei impaciente, jogando o guardanapo sobre a mesa.

— Sim.

Ele poderia dizer coisas mais concretas além de “sim” e “não”.

No caminho de volta para casa, foi tipo: silêncio total. Só que ele estava indo por um caminho absolutamente diferente, em uma rodovia com pouco movimento à beira-mar.

— Onde estamos indo?

— Em algum lugar.

Controlei-me para não xingar ele e nem dar uma resposta informal. Pega mal para garotas.

— Qual lugar? — minha voz soou trêmula.

E ele me ignorou outra vez.

Impressionante como adora me deixar sem-graça. Quando o carro parou num pequeno estacionamento, pude ver que estávamos no mirante que fica na saída de NY, e bem longe do Central Park e da minha casa.

— Não há muito movimento aqui. — Murmurou e sorriu para mim, com segundas intenções.

Beijar um esquisitão desses? Tudo bem, isso está fora de cogitação.

— Isso não é bom. Quer me levar pra casa?

Ele saiu do carro e foi em direção ao mirante mal iluminado que ficava perto de nós. Andei atrás dele com o intuito de encher o saco dele para que ele me levasse embora, em vez de ficar ali olhando o breu.

— Vamos embora, por favor? — Pedi, sentindo o vento frio vindo do mar e batendo no meu cabelo. Ótimo, está acabando com minha escova.

— Não.

Balancei a cabeça.

— Porque não? — Pisquei, me aproximando dele.

Deixe-me te contar uma coisa sobre Harry: quando o vi olhando para mim com seus lindos olhos azuis, achei que rolaria alguma coisa tipo um... Beijo. Mas se ele estava me levando naquele fim de mundo para me beijar, ele pode esquecer.

— Porque eu não quero. — Disse, virando-se pra mim com os dentes trincados.

— Ah, é sério? Vai querer descer até a praia lá embaixo e ficar contando ondinhas?

Subitamente, suas unhas se cravaram em meu braço esquerdo e ele prendeu seu corpo junto ao meu sobre o carro.

— Eu disse que não quero ir. Está surda? Se quiser ir, vá a pé.

Nossa, que cavalheiro.

— Dá pra me soltar, então?

— Não. — Ele me fuzilou, apertando suas mãos sobre meus dois braços.

— Qual é seu problema? — fiz força para me soltar, me sacudindo toda.

— Quero que você fique aqui.

— Seu animal! Você disse para eu ir sozinha, e... Estou tentando ir.

— Não.

— Ah, fala sério! Me solte, seu babaca.

Quando me sacudi pela última vez, percebi que estava impossibilitada de sair dali. Ele estava agindo como um... Sei lá, maníaco.

— Cala a boca!

Foi nesse momento de explosão que me senti a garota mais inteligente do mundo. Apliquei toda minha força no meu joelho direito e chutei o “ponto fraco” de Harry bruscamente, sem dó sem piedade.

E te garanto: doeu demais. Pude sentir a dor com os gritos dolorosos de Harry e seus duzentos palavrões diferentes — incluindo vaca e vadia.

Depois, ele entrou em sua Land Rover preta e me largou naquele fim de mundo, completamente sozinha.

Bom, eu pelo menos achava que estava sozinha.


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