Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 6
Seis


Notas iniciais do capítulo

~Harry na capa~



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Os dias haviam passado em um piscar de olhos.

E sem mentir, eu estava realmente me adaptando muito bem na minha nova vida. Tirando, é claro, o fato do tal do Harry Blunt ficar me encarando. Sério, sei que toda garota gosta de ser reparada por garotos e tudo mais, mas espera aí: vamos combinar que o sujeito já estava exagerando demais ao olhar pra mim.

Elena e Louise dizem que ele está afim de mim, mas eu acredito que não.

Ontem, quando perguntei a ele se tinha alguma coisa no meu rosto, ele disse: “Sim, Belatriz. Há uma boca, um nariz e olhos”.

Ele pelo menos poderia ter elogiado minha pele ou dito que meus olhos são bonitos, poxa vida. É e tipo, ele só me respondeu essa baboseira toda e depois continuou a ler seu livro de poemas.

— Onde está papai? — Ana perguntou, me sacudindo.

Balancei minha cabeça, acordando.

— Bom... — Minha voz saiu meio fanhosa — ele está no consultório. Já vai chegar. — Peguei-a no colo e a coloquei no chão, bem ao lado da casa de praia da Barbie. — Minhas amigas virão aqui, certo? Quero que se comporte.

Ela deu um risinho e começou a enrolar uma das mechas de seu cabelo.

— Tá bom. — Sorriu, dando-me um beijo na bochecha.

Quando voltei para meu quarto, para buscar meus livros, meu visitante estava lá, sentado na minha poltrona perto da janela, com a mesma roupa e com o mesmo sorriso de sempre: cheio de malícia. Que, por sua vez, me deixou um pouco incomodada ao tê-lo olhando para mim daquele jeito tão... Provocador.

— Não dá para acreditar, Gasparzinho! Quanto tempo! — Cortei o silêncio entre nós, parando-me na frente dele, com uma pilha de livros nos braços. — Qual seu problema?

Ele apertou os olhos e entortou o rosto.

— Porque você não acredita em mim? — sua voz era grossa e severa.

— Porque devo acreditar em um cara que não me dá explicações de nada e nem troca de roupa? E que sumiu há dias e aparece novamente! Eu jurava que estava ficando louca, mas na verdade essa possibilidade ainda não foi descartada, já que ainda estou te vendo — disse.

Ele deslizou sua mão em seu cabelo de plumas, massageando sua nuca de modo dinâmico, como se cada frase que eu dissesse fosse uma piada.

— Tudo bem. — Ele se levantou. — A parada é a seguinte, Bells, eu estou morto.

Bells!? Que droga é essa? Ninguém nunca me chamou de Bells.
E espera um minuto aí. Morto? Ele disse morto? Do que ele está falando?

— Eis aí seu doce apelido, Gasparzinho. — Grunhi, revirando os olhos. — Porque você se importa tanto em ficar aqui? E, como entrou aqui? Por que não me deixa em paz igual a todos esses dias? — perguntei, saindo automaticamente do quarto.

— Ei! Ei! Deixe-me te ajudar com essa penca de livros. — Ele tomou os livros de meus braços bruscamente.

Olhei para ele sem graça e dei um sorrisinho sem humor, caminhando até a sala de jantar.

— Espera aí. O que você quis dizer com estar morto, Jimmy Fields?

Ele sorriu, pousando os livros na mesa de jantar.

— Obrigado pelo respeito. E, já que você não acredita em nada do que eu digo, irei lhe provar. — Ele sorriu sombriamente.

— O quê?

Foi nesse exato momento que a campainha tocou. E, vou te contar que me surpreendi quando vi Louise, Elena e o esquisitão do Harry Blunt parados na minha porta.

Tipo, qual é? Harry Blunt? Será que eu teria que aturar aquele palhaço me olhando até dentro da minha própria casa? E o que Elena e Louise tinham na cabeça? Ouviram-me reclamar do cara a semana toda e ainda trazem ele na minha casa. Vou te contar, não é brinquedo não.

— Então, Belatriz, Harry se ofereceu pra ajudar. Não tem problema, né? — Perguntou Louise, dando um sorrisinho convincente.

Fiz uma pequena careta e dei um risinho sem humor.

— Não, tudo bem. Sem problemas. Olá, Harry. — Acenei, com a palma da mão direita aberta.

— Oi. — Sua voz era meio fanha, mas muito grossa.

— Bem. Vamos nos apressar que ainda tenho que fazer umas comprinhas hoje. — Elena nos empurrou para a mesa de jantar, balançando sua cabeleira loira.

Em todos os raciocínios, Harry nos salvou. Sério, ele é inteiramente e absolutamente um nerd. Tipo, o sujeito não parava de falar nem um minuto, que nem uma metralhadora, e tinha resposta para tudo. O que pode ser mais impressionante? O cara parecia ser tão silencioso.

Ah claro, existe coisa mais impressionante.

Sabe o gato que me visita quase todas as noites, então, ele estava parado diante da parede amarela, nos olhando estudar e com o mesmo sorriso estampado em sua face. E ninguém o via. Nem mesmo quando Louise passou perto dele para ir até a cozinha e ele a seguiu, imitando o jeito dela andar, achando graça de tudo aquilo. E eu como fico? Simplesmente aterrorizada com essa coisa estranha e sobrenatural.
Jimmy Fields é fruto da minha imaginação ou real?

— Então... No próximo sábado você está livre? — Perguntou Harry, parando de fazer seu esquema.

Deixei meu lápis cair no chão quando vi que Jimmy Fields havia caído na gargalhada.

— Bom... Nesse domingo sim, mas na próxima semana não.

— O que você fará na próxima semana?

Estalei meus dedos da mão esquerda.

— Irei visitar minha tia. — Menti, de forma absolutamente visível, que até mesmo Ana perceberia minha mentira.

Ele apertou os lábios e fixou seus olhos aos meus de um jeito tão estranho, como se estivesse dizendo “eu sei que você está mentindo, garota”.

— Te pego as oito, pode ser? — Ele sorriu de modo convincente.

Tipo assim, Harry ficou me fuzilando de forma muito estranha a semana toda, nunca falou comigo direito, aparece na minha casa do nada e me convida para sair, tipo, qual é a dele? Ah, certamente, noventa por cento de chances de eu recusar o convite dele. Há também, dez por cento de chance de eu aceitar o convite dele.

E, bom...

— Claro. — Sorri, relaxando os ombros.

Tá, tudo bem. Certo.

Mal o conheço, mas conheço o povo dessa cidade, e fazer o quê? Todos os encontros que tive na minha fica foram verdadeiramente terríveis, e talvez agora em NY, com um cara bacana, gato, educado e um tremendo nerd pode ser bem diferente, sabe? E, eu sei que isso parece tema de novela ou título de uma música cafona, mas pode ser um novo começo.

—Ótimo. — Ele se levantou, esbarrando em Jimmy Fields e indo até a porta.

Lancei um olhar para Jimmy Fields, do tipo “já entendi que você está morto. E estou com medo. Ei, quer sair da minha casa”? Larguei Louise e Elena terminando o raciocínio delas e o acompanhei até a porta, totalmente sem graça.

— Tudo bem então. Já vai? — Perguntei.

É claro que ele iria. Ou talvez, ele fosse ajudar minha vizinha de 92 anos há descer as escadas. Ah, por favor.

— Já. Estou indo. — Respondeu de forma séria e saiu andando pelo corredor como se não tivesse uma garota na porta esperando pelo menos um abraço de despedida.

É, devo dizer que esse sujeito não parece ser normal. Digo, é tão reservado, tão calado e sério, diferente dos outros garotos. É, mas afinal, uma coisa que todos nós sabemos é que ninguém é perfeito.

Nem mesmo ele.


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