Protegida por um Anjo escrita por Moolinha
Notas iniciais do capítulo
~Louise na capa~
Eu não estava louca. Sério, juro por tudo que é mais sagrado.
Aquele bonitão apareceu do nada no meu quarto. Ele nunca existiu. Deve ter sido fruto da minha imaginação. Claro que sim. Meu pai não o viu, e nem mesmo Ana — embora tenha me deixado com uma pulga atrás da orelha em relação ao seu comportamento conturbado.
— Senhorita Keaton? Quer que eu a peça para se retirar da sala? — O Sr. Walter perguntou, me cutucando.
Acordei totalmente, balançando-me na cadeira.
— Não. Desculpe-me. Irei prestar atenção na aula. Isso não vai mais acontecer. — Respondi nervosa.
— Pode dizer para nossa turma, por favor, Belatriz, qual a porcentagem na mistura entre seres homozigotos recessivos e dominantes? Pensei bem o que eu havia estudado antes daquele cara aparecer e ficar sorrindo pra mim...
Concentração, Belatriz!
— Cem por cento de heterozigotos. — Respondi, com uma voz triunfante.
Ele me olhou seriamente e depois sorriu.
— Muito bem, Senhorita Keaton. Muito bem, turma, abram suas apostilas na página sessenta.
A garota do meu lado me cutucou e me entregou um bilhete.
— O que é? — Perguntei, tentando fazer minha voz parecer simpática, mesmo num sussurro.
— Leia. — Ela deu um sorrisinho.
Novata,
“Da próxima vez em que você quiser sonhar na aula do Sr. Walter, é melhor olhar para ele (mesmo ele sendo feio) ou para os livros que ficam na mesa dele. Ele nunca percebe”.
P.S: Não olhe agora, mas o garoto que se senta ao seu lado não tira os olhos de você. Vai fundo, garota!
Louise.
Observei o garoto no qual Louise estava falando. Bem gato com o cabelo cor de cobre e um sorrisinho no canto dos lábios. E nossa, ele estava olhando pra mim. O que é um milagre, um garoto bonito olhar pra mim.
— Obrigada — agradeci, balançando a cabeça para o garoto que estava na fileira ao lado da minha.
No final da aula, enquanto eles não liberavam os alunos, Louise se sentou ao meu lado mecanicamente e começou a falar dos garotos da escola como se nos conhecêssemos há anos.
— Ah, e sabe do garoto que olhava pra você? — Tagarelava ela, sem parar — Então, ele se chama Harry Blunt, é novato também e muito calado. E garota, você foi a primeira no qual ele fez um contato visual mais avançado. Se é que você me entende.
— Bem, talvez ele estivesse olhando minha lição. — Murmurei, enrolando uma mecha do meu cabelo.
Ela riu.
— Claro que não. Ei, de onde você veio?
— De uma fazenda no interior.
Ela suspirou.
— Ah sei. A garota da fazenda. — Brincou, dando um leve soco nas minhas costas.
— Não exatamente.
— A garota da fazenda tem muito estilo, pode crer.
Nós rimos.
E, eu estava gostando daquilo.
Minha primeira amiga. E apesar de tagarelar demais e ficar mastigando chiclete o tempo todo, Louise é uma pessoa muito simpática, e companheira. E popular, devo dizer.
Nos trinta minutos que fiquei com ela, diversos garotos olharam a mini-saia dela, e, de vez enquanto Louise se agasalhava em seu casaco do time da escola e eles sorriam se oferecendo para aconchegá-la. Além de a cumprimentarem com dois beijinhos na bochecha, é claro.
E por mais estranho, também me cumprimentaram.
Lógico. Deve ser por causa da minha saia de cintura alta não muito longa e toda agarradinha no corpo. E o mais estranho ainda: um garoto disse “olá, linda”.
Nunca fui linda maravilhosa e nem nada. Até porque meu cabelo preto é bastante ondulado e cheio de volume e meu sorriso é apatetado. Nunca, em toda minha existência, um garoto me cumprimentou com dois beijinhos na bochecha. Nunca.
— Ah, olá, novata. — Ouvi uma voz vir por trás de nós.
— Olá, Elena. — Louise abriu espaço no banco em que estávamos sentadas.
Percebi que a tal da Elena era da mesma turma que eu e se sentava junto com os nerds e nas horas vagas fazia debates sobre “Guerra nas Estrelas” com eles.
Ela balançou sua cabeleira loira e se sentou entre mim e Louise.
— Oi. — Sorri, enfiando minhas apostilas na minha bolsa de couro.
— Então, eu andei pensando — começou Louise, prendendo seu cabelo liso castanho em um rabo de cavalo — você sabe bastante sobre genética, não é?
— É. Sim.
— Ótimo. — Elena disse. — Porque estou totalmente perdida. Que tal você nos ajudar daqui a três finais de semana?
— Porque não nesses mais próximos Elena? — Perguntou Louise
— Tenho planos — Elena sorriu.
— Em nenhum final de semana não tenho nada para fazer, por mim, tudo bem ser daqui a três finais de semana. Será ótimo.
As duas suspiraram de alivio ao meu lado.
Tudo bem, nunca fui a Miss Inteligência e nem nada do tipo, mas eu estava estudando, sabe, minhas antigas notas eram um fracasso e já cheguei a levar advertência para casa por causa de minhas notas. E agora, duas meninas me pedem ajuda com biologia? Simplesmente fascinante. Dei meu endereço a elas, e iríamos estudar e depois assistir alguns filmes.
Mas, deixe-me dizer uma coisa: naquela terça-feira, uma coisa mais impressionante do que fazer amigas legais me deixou surpresa. De noite, quando eu estava debaixo dos meus cobertores, toda quentinha, senti a mesma coisa da noite passada acontecer.
E percebi que ele estava de volta.
— O que é? — perguntei num sussurro mal-humorado.
Desta vez, ele estava sentado de forma bem folgada na minha poltrona, olhando para mim.
— Olá, outra vez. — Respondeu ele, com um sorriso malicioso nos lábios. Seus olhos cor de azeitona pareciam brilhar no escuro.
Ele estava com a mesma roupa da noite passada e não parecia estar sujo, com aparência de morador de rua e nem nada.
— Como entrou aqui? — Perguntei, jogando minhas cobertas para o chão, levantando-me.
Ele passou sua mão pela nuca e gargalhou.
— Seu cabelo parece palha molhada. — Murmurou, mordendo seu lábio superior.
E, estava mesmo.
Juntei meu cabelo num rabo de cavalo mal feito e andei até ele, parando em sua frente.
— Como entrou aqui, Jimmy Fields? — perguntei outra vez.
— Fácil. — Ele ergueu as sobrancelhas. — Eu me materializei aqui. Sempre faço isso.
Confusa, comecei a andar de um lado para outro no quarto.
— Há-há. Muito engraçado, Garparzinho. — Tentei fazer a careta que Kathy faz quando encontra Gasparzinho pela primeira vez.
Ele riu, passando a mão pelo cabelo.
Qual é o problema dele, afinal?
— Só apareci aqui para me certificar de que você está bem. — Ele se esparramou mais na poltrona, espreguiçando-se.
— O que é agora? Vai ficar vindo aqui para saber se estou bem, assim como Edward Cullen? — Perguntei furiosa.
Ele deu um suspiro e balançou os ombros;
— Essa é a ideia. — Sorriu.
— Ei. Tenho uma ideia melhor para você. — Grunhi.
— O que é? — Ele se inclinou na poltrona.
— Porque você não vai balançar umas correntes e abrir e fechar portas por aí?
— Não, sua imbecil. — Ele se levantou da poltrona, andando atrás de mim — Eu tenho de ficar aqui.
— Escuta aqui, seu babaca, esse é meu quarto, minha casa e posso muito bem chamar a polícia. — Exaltei a ultima palavra, apontando meu dedo indicador em sua direção.
Ele balançou a cabeça, mantendo seus olhos fixos no meu e soltou uma gargalhada, abrindo seus braços.
— Vá em frente! Sabe o que eles vão dizer? Jimmy Fields está morto. Morto.
Que brincadeira era essa que esse palhaço estava fazendo comigo?
— O quê?
Ele sorriu sombriamente na escuridão.
— Ninguém pode me ver.
Logo depois disso, ele sumiu.
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