Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

~Jimmy na capa~



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Em quatro horas dentro da sala de aula, ninguém falou comigo.

Nem mesmo no intervalo, quando fiquei sentada sozinha em uma das mesas do grande gramado lendo o catálogo de regras da escola.

Bom, mas teve uma hora que uma esquisitona que se senta bem atrás de mim esquisitona mesmo. Tipo, quando me virei para ver porque ela estava me cutucando, ela estava revirando os olhos sobre o óculos fundo de garrafa e girando um lápis dentro de uma de suas narinas. Quando perguntei o que ela queria, ela queria só meu apontador emprestado, já que tinha quebrado a ponta de seu lápis girando-o dentro do nariz.

Fora isso, ninguém. Ninguém mesmo.

Faltavam poucos minutos para a sineta do final da aula tocar e eu estava terrivelmente apavorada para sair dali, ignorando totalmente a explicação do Sr. Walter sobre Gregory Mendel.

E sabe, eu estava louca para ir para casa, e me esparramar no sofá enquanto assistia a um bom filme comendo pipoca.

Quando a sineta tocou, voei para fora da sala, ultrapassando todos os obstáculos a minha frente e quando avistei meu pai com um sorrisinho nos lábios acenando discretamente senti uma enorme felicidade.

Mas, quando vi onde ele estava encostado, quase tive um treco. Eu juro, quase caí durinha da silva ali mesmo.

Era uma picape amarela. Amarela! Igualzinha á aquela que Lady Gaga e Beyonce fogem no videoclipe de Telephone, mas sem as chamas, é claro.

— Que isso? — Perguntei, meio apatetada. — Roubou esse carro do circo?

Ele sorriu.

— Não, eu comprei.

Joguei minha bolsa sobre o banco, dando um longo suspiro.

— Como é!? Mas onde está nosso outro carro? O sedã prata?

— Está na garagem. Eu estava querendo variar um pouco. Mas, que tal?

— Nossa, é linda, pai —menti — essa cor amarela é tão viva!

Bom, já que estava querendo variar, porque ele não comprou um carro para a querida filha dele, tipo um New Beetle ou esses carrões que esses rappers costumam ter?

— Vamos, garota! — Ele quase gritou. — Vamos dar um giro por aí.

Entrei no carro, e junto com eles circulei por NY curtindo o equipamento de som que ele tinha colocado no carro.

Por mais cafona que fosse aquela cena, eu estava adorando o equipamento de som.

X X X

Fiz o que eu queria.

Fiquei esparramada no sofá a tarde inteira e acho que assisti uns quatro filmes enquanto cuidava de Ana. Depois, quando meu pai chegou, fui para meu quarto estudar sobre as leis de Mendel.

A noite estava muito estranha. Digo, em certos aspectos, é claro. Quando eu escrevia meu relatório, minhas mãos tremiam, mas nem estava frio. Minha cortina branca rendada estava balançando, serpenteando no ar com curvas rápidas e um barulho baixo. Senti uma tremenda vontade de vomitar e, ao mesmo tempo, milhares de fisgadas no estômago, como se uma formiga estivesse me mordido lá dentro.

O vento ficou mais forte. Levantei-me para fechar a janela quando de repente deu um baita pulo. Sério, não estou de brincadeira. Acho que eu pulei um metro quando vi um garoto que estava sentado no parapeito da minha janela.

— Olá! — Disse ele, sorrindo sombriamente.

Meu coração quase saiu pela boca. Juro. Como ele foi parar ali, afinal?

— Quem é você? — perguntei, com a voz trêmula.

Ele fixou seus olhos e continuou sorrindo.

Soltei um leve assovio quando vi seus olhos grudados aos meus. Apesar de ele ser um estranho ao entrar no meu quarto sem explicações, fiquei surpresa pelo jeito que ele sorria pra mim. Parecia que ia me comer com os olhos. E, vou te contar, aquela criatura ali sentada no parapeito da janela era um Deus Grego. Sério, seus dentes eram branquíssimos, e as covinhas então?

— Jimmy Fields. — Respondeu, ainda sorrindo.

— Deus do Céu! — Exclamei. — Pode, por favor, sair do meu quarto? Se meu pai te pegar aqui, meu filho, ficarei de castigo pelo resto da minha vida, com toda certeza.

— Ele não vai me ver — sua voz transmitiu uma certa confiança pra mim. Como se ele tivesse certeza absoluta que meu pai não iria vê-lo.

— Por favor.

— Estou falando sério, cara. Ele. Não. Vai me ver.

— Há-há. Como se você tivesse uma capa de invisibilidade como Harry Potter. Sério, por favor, saia do meu quarto.

— Não — ele cruzou os braços e se sentou na minha poltrona.

Ouvi passos do outro lado da minha porta.

— Olá, Belatriz. — Disse meu pai, sentando-se na cama.

Espera aí. Qual é a desse cara?

Encolhi-me perto do parapeito da janela e pisquei.

— Ei, ei? O que foi? — perguntou.

Olhei para o tal do Jimmy Fields na minha poltrona, folheando um de meus livros tranquilamente.

Meu pai está com problema de vista?

Balancei a cabeça.

— Não, nada, pai.

Ele me olhou de soslaio.

— Bom, acho que estou ficando velho, porque ouvi você conversar com alguém. Mas deve ser a Ana brincando com as bonecas dela. Você sabe, ela costuma falar sozinha.

Concordei com a cabeça, ainda observando Jimmy. Que agora olhava pra mim. E ria. Sério, eu ouvia a gargalhada eletrizante dele. Mas meu pai não?

— Bom, eu estava lendo em voz alta. Sabe, eu gosto — menti.

Ele sorriu e enquanto fazia um longo discurso sobre a importância de ler, comecei a reparar o tal do Jimmy.

Sério, quem era aquele sujeito sentado na minha poltrona com um moletom preto, um jeans surrando e tênis imundos? Como meu pai não podia vê-lo? Como meu pai não podia ouvi-lo? Tipo, fala sério. O cara estava bem atrás do meu pai, com um sorriso hipnotizante de orelha a orelha, olhos cor de azeitona, brilhantes como esmeraldas e um cabelo preto de plumas. Sério, dava pra perceber que ele tinha um cabelo macio quando passava a mão quase toda hora. E uns braços fortes.

Balancei a cabeça, voltando a Terra.

— Pai, eu estou cansada. — Grunhi, bocejando.

Ele me olhou com as sobrancelhas juntas.

— Oh. Boa noite então, minha filha. Eu te amo. — Ele aplicou um beijo em minha testa.

— Eu também te amo, pai.

Depois que meu pai fechou a porta, levantei-me da cama e me encaminhei para perto de Jimmy Fields, que ainda gargalhava.

— O que é você? Sério, você é alguma criatura de outro mundo, ou estou ficando louca?

Ele sorriu. Ele só sabia sorrir?

— Bom, mais ou menos.

— Você é real? — Encostei meu dedo indicador em sua bochecha.

— Não.

Pisquei.

— Tudo bem, bonitão. Que tal dar o fora do meu quarto agora? Sério, estou com muito sono e não quero nenhum sujeito desconhecido me olhando enquanto durmo, entendeu? — Suspirei. — Afinal de contas, eu nem te conheço.

— Você não está louca. — Sua voz era sincera.

— Bom saber disso. — Empurrei-o para a janela — Mas você não tem o direito de ficar aqui no meu quarto. Por favor, dá o fora.

Ele parou e ficou sério, olhando para a janela.

— Oi, Ana. — minha voz saiu toda esganiçada.

É, geralmente ela é assim.

Os olhinhos de Ana estavam arregalados, e no momento em que eu a cumprimentei, ela saiu correndo pelo corredor afora, como se eu corresse atrás dela com uma motosserra ligada.

— Crianças! — revirei os olhos.

Então... Percebi que aquele gatão não estava ali, e tinha ido embora.

O problema era que...

A janela estava fechada. Como ele saiu?


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