Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 27
Vinte e Sete




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713389/chapter/27

Perdi a consciência assim que fiquei nos braços de Jimmy. Não sei o que aconteceu, mas apenas me lembro disso.

Não sei como me encontraram e nem mesmo como informaram meu pai que eu tinha sido espancada.

Acordei pouco mais das onze da manhã com a luz branca batendo diretamente nos meus olhos. Contorci-me na cama para que aquela dor angustiante e torturante parasse. Vi uma bota ortopédica no meu pé direito e uma faixa enrolada em cada uma das minhas mãos, por conta dos arranhões que o cascalho havia provocado.

Pisquei algumas vezes até ver a camisa xadrez de Jack.

— Que susto você nos deu. — Ele disse.

Eu o ouvi mais ou menos. Parecia que sua voz estava a 10 metros de distância, mas não estavam. Ele estava bem do meu lado.

— Não, Jack. Eu que levei um susto. — Tentei brincar com ele, mesmo com a visão nítida.

Jack deu um sorrisinho e passou a mão no meu rosto, acariciando-me.

— Cadê meu pai? — Perguntei.

— Ele ficou aqui a noite inteira. Te encontraram uma e pouca da madrugada e ele passou a noite aqui. Ele está em casa com Ana.

— Ah... — Respondi, desanimada. Eu queria tanto ver meu pai. — O que aconteceu?

— Bem... — Ele sentou-se na cama ao meu lado, e passou as mãos por seu cabelo encaracolado, encontrando palavras óbvias para que eu entendesse melhor, porque eu estava muito lesada.

 — Te encontraram na rodovia NY-7. Acho que você ainda estava acordada e indicou o seu celular. O cara que achou você ligou para Louise e contou. E quando encontraram você o cara não estava mais lá.

Estranhei. O único cara além de Harry que esteve comigo na noite passada foi Jimmy. E certamente, pelo que sei, Jimmy está morto e não tem a capacidade de falar com vivos.

— Esse cara disse o nome?

— Não.

— Jack, quando vou poder ir pra casa?

Ele me olhou cautelosamente, analisando os ferimentos do meu rosto.

— Você levou uma surra e tanto... O tal do cara fez um estrago em você. Mas você vai ficar bem e amanhã já irá receber alta.

— Como estou? — Perguntei a ele, mesmo sabendo o resultado.

— O tal cara fraturou o osso do seu pé direito, te sufocou, deixou seu rosto um pouco... Inchado e roxo. A sorte é que nenhum órgão seu foi perfurado.

—Droga. — Murmurei, analisando o curativo da minha mão esquerda. — E o cara que me espancou, já deram queixa na policia ou algo do tipo?

— Não temos pistas e nem provas de quem seja. Seu pai acha que foram os mesmos que bateram em você há uns meses atrás... Mas te pegaram na saída do colégio, não é?

— Foi. Nunca tive tanto medo na minha vida.

Jack sorriu pra mim.

— Não se preocupe. Você não vai passar mais por isso.

Bem, espero não passar por isso nunca mais. Nunca mais!

Jack continuou a olhar pra mim quando Louise surgiu perto da porta. Ao me ver, ela arregalou os olhos e abriu a boca em forma de “O” colocando as mãos na frente.

— Você está viva! — Ela me abraçou, apertando minhas costas.

Gemi.

— Lou, sem drama. — Tentei fazer minha voz parecer com censura, mas saiu toda esganiçada. — Estou quase inteira e meu coração ainda bate.

— Oh Meu Deus! Quando fui parar na rodovia com Jack na noite passada e te vi daquele estado, pensei que eu fosse perder minha melhor amiga!

Jack riu e fez um sinal dizendo que ia para o corredor ligar para meu pai.

— Lou, com quem você falou? Quem falou com você que eu estava na rodovia?

Ela se sentou na cama, olhando a parede verde atrás de mim.

— Ah, Belatriz, senti que eu estava falando com meu irmão. — Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Juro que era a voz dele, mas apenas disse onde você estava e o que tinha acontecido com você.

— Seu irmão está morto, Lou.

— Eu sei, mas por breves minutos eu pensei que estivesse falando com Jimmy, ouvindo sua voz grossa... Não paro de pensar nisso.

A questão é: como Jim, meu anjo da guarda e falecido irmão de Louise conseguiu falar com ela? Jim me disse que não consegue fazer isso. Que essa relação de morto com o mundo humano não existe. Há alguma coisa de diferente nisso e sei que preciso vê-lo.

Mudei de assunto porque vi que Louise estava ficando frustrada.

— Então... Acho que não vou poder sair na rua nessa situação, não é? — Eu disse, apontando para meu rosto.

Ele olhou para mim e pude ver sinais de empolgação estampados em seus olhos.

— Vai sim! Querida Belatriz, maquiagem é a solução de tudo. Por isso que eu trouxe um pouquinho na minha bolsa pra você...

— Tudo bem, mas, é melhor não mexer com maquiagem hoje e agora.

— Por quê?

— Porque eu ainda sinto as dores. Sinto que meu olho pode estar roxo e inchado e vou ficar como uma palhaça. Amanhã quando eu for embora, você pode me maquiar, certo?

Quando terminei de falar, antes que Louise pudesse bater palmas comemorando, meu pai surgiu na porta. Tinha olheiras, o cabelo todo desgrenhado e uma cara de cansado.

— Ah, oi, filha. — Disse, dando-me um beijo na testa. — Agradeça a Louise por você estar aqui agora. Foi ela que nos avisou sobre você.

— Já agradeci, pai.

— É, sim, tio Edward. — Louise respondeu, saindo do quarto.

Observei o rosto envelhecido do meu pai. É, ele devia ter ficado maluco quando soube o que havia acontecido comigo.

— Quero que tome cuidado, filha. É a segunda vez e as coisas ficam complicadas. Tem Ana, que ainda é nova, Jack, meu consultório e você já tem dezesseis anos. Acho que já tem cabeça para saber que não pode ficar por aí andando sozinha e nem pegando carona com estranhos. Sei que não foi culpa sua, mas quero que fique mais atenta.

Senti meu pescoço queimar.

— Pai, eu fui pega de surpresa, na saída do colégio. Não pude fazer nada.

— Eu sei, eu sei. — Ele parecia impaciente, louco para ter uma noite de bons sonhos. — Quando você chegar em casa podemos conversar mais. Vou ficar mais tempo com você, Ana e Jack e espero que isso tudo pare.

— Tudo bem, pai. — Sussurrei, bocejando.

— Durma bem. Não se levante, certo? Você ainda não está em condições para isto. Se precisar de alguma coisa, aperte a campainha e chame a enfermeira. Mais tarde eu volto. Jack irá ficar aqui com você. — Ele de meu outro beijo na testa e saiu do quarto.

Deitei-me um pouco, tentando encontrar Jim em algum canto do quarto.

— Jim?

Ele apareceu ao meu lado, sério. Ele usava sua jaqueta de moletom negra, seu jeans surrado e seu velho all star.

— Como se sente?

— Não muito bem.

— Me desculpe. — Ele se afastou. — Não vai acontecer nunca mais. Me perdoe. Eu falhei e me sinto um babaca por isso.

— Já aconteceu. Tudo bem. Não faça isso outra vez, certo? Não me faça passar por isso outra vez.

Ele se aproximou quando percebeu a doçura em minha voz e deu aquele sorrisinho no canto dos lábios que geralmente me deixa um pouco tonta.

— Nada vai acontecer com você enquanto eu estiver ao seu lado.

— Eu ainda confio em você. — Sorri pra ele.

Contorci-me na cama outra vez, encontrando uma justa forma para que eu ficasse confortável.

— Onde está doendo, Bells?

— Aqui. — Apontei para meu pescoço. — Está queimando.

Ele se moveu lentamente e conduziu seus lábios até meu pescoço, amenizando minha dor.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Protegida por um Anjo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.